sexta-feira, 27 de maio de 2011

EVANGELISMO CARNAL: O método utilizado pela igreja contemporânea.

MESQUITA NETO, Nelson Ávila (E. T. C. S.)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a refletir brevemente acerca dos modelos evangelísticos atualmente adotados pela maioria das denominações ditas evangélicas e compará-los ao modelo utilizado por Jesus.

O termo “carnal” aqui é empregado para evidenciar um caráter que busca apresentar-se atrativo aos não crentes, por assemelhar-se as suas práticas mundanas, de modo a persuadi-los a tornarem-se participantes da igreja. Este segmento visa trazer para a congregação os modismos da sociedade, no que diz respeito a entretenimento, sob um novo rótulo: o “gospel”, ou simplesmente se utiliza de técnicas e metodologias, que embora não possuam sustentabilidade escriturística, são adotadas, dado seus resultados aparentemente “eficientes”.

A pergunta a que nos propomos responder é: “os resultados justificam os meios no processo evangelístico, ou apenas os meios evidenciados na Palavra de Deus (os quais denominamos: espirituais) devem ser empregados?

2 CRENTES CARNAIS SÃO FRUTOS DE UM EVANGELISMO CARNAL

Há algumas décadas divulgou-se dentro dos círculos evangélicos uma ideia concernente à existência de crentes carnais, ou seja, pessoas que haviam sido salvas por meio da fé em Jesus Cristo, mas que permaneciam a viver sem nenhum tipo de mudança aparente em seu estilo de vida pregresso. Tais pessoas poderiam passar a vida inteira na Igreja, sem, contudo, abandonar suas práticas mundanas, e ainda assim seriam consideradas crentes genuínas.

Tal ideia talvez tenha sido fomentada, a princípio, em virtude do método evangelístico pragmático, de caráter avivalista, extremamente divulgado e popularizado pelo famoso pregador semi-pelagiano Charles Finney, que, por meio de persuasão emocionalista e técnicas que visavam influenciar e manipular as decisões das pessoas, como, por exemplo, o “Banco dos Aflitos” [1], supostamente conduzia multidões a Cristo e, embora muitos continuassem imersos numa vida cheia de pecaminosidade, devido ao alegado “poder” de suas decisões em atender aos apelos dramáticos dos pregadores, eram declarados salvos e crentes. Prova disso é que MacArthur (2009, p. 267), citando um contemporâneo de Finney [2], escreveu que ao longo de uma década, onde quer que se fosse, uma multidão de pessoas era considerada como convertida, embora fosse conhecido o fato de serem poucos os verdadeiros convertidos de Finney; o qual chegou a declarar posteriormente que “‘[...] um grande contingente deles é uma desgraça para a religião’; como resultado destas deserções, terríveis, inumeráveis e grandes males práticos estão invadindo a igreja em todos os lugares” (2009, p. 267).

Mesmo que hoje a teoria do crente carnal não seja muito defendida abertamente, o legado de Finney, o qual ele mesmo, no final de sua vida, chegou a lamentar “[...] que havia surgido um novo tipo de avivamento com o qual ele próprio não poderia concordar” (LOPES, 2007, p. 34), enraizou-se em nossa cultura de tal maneira, que, na prática, tudo o que uma pessoa necessita para ser considerada salva em muitas igrejas é levantar a mão e ir a frente durante um daqueles momentos de apelo. O resto não importa; a salvação delas foi garantida ali, afirmam os pregadores modernos à semelhança de Charles Finney.

Se uma pessoa é considerada crente tão somente por participar com regularidade de cultos públicos, poderemos concordar com os proponentes da teoria do “crente carnal”. Todavia, se considerarmos o claro ensino das Escrituras, onde uma pessoa é julgada pelos seus frutos (Mt. 7:16, 20), não importando se ela professa “Senhor, Senhor!” (Mt. 7:21), ou mesmo se é capaz de realizar coisas impressionantes, como curas, exorcismos e milagres (Mt. 7:22), mas é simplesmente reconhecida por fazer a vontade do “Pai que está nos céus” (Mt. 7:21), então nos opomos firmemente a esta teoria, e declaramos a plenos pulmões que um evangelismo apenas interessado em trazer pessoas para dentro de templos, não importando quais meios sejam utilizados para isso, produzirá “carnais”, sem dúvida, mas jamais “crentes”.

Ao contrário do ensino de Finney, que, segundo nos é dito por MacArthur, acreditava que os fins justificavam os meios, seguindo os moldes de Maquiavel, e que “Um avivamento (bem como uma conversão) é um resultado tão natural do uso de meios quanto uma colheita resulta da aplicação dos meios apropriados” (2009, p. 264) [3], asseveramos que o “evangelho” sim, não as capacidades humanas, “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rom. 1:16). Para que esta verdade se torne evidente, analisaremos brevemente o modelo evangelístico empregado por Jesus.

3 O MODELO EVANGELÍSTICO DE JESUS VERSUS O MODELO EVANGELÍSTICO DO ENTRETENIMENTO

Brown (2005, p. 16), sucessor no púlpito de Spurgeon, apontando para os perigos deste tipo de abordagem evangelística pragmática, a qual tem encontrado no entretenimento a chave para alcançar seus objetivos, declarou que “poucas vezes o diabo tem feito coisa mais esperta do que dar à igreja de Cristo a sugestão de que parte de sua missão é prover entretenimento, com o objetivo de atrair pessoas às suas fileiras”. Ainda acrescentando que “em nenhum lugar das Sagradas Escrituras é mencionado que uma das funções da igreja é prover entretenimento ao povo” (2005, p. 16).

Isto provavelmente chocará as mentes de muitos cristãos, visto que a mentalidade de nossa era está impregnada da cultura pragmática do entretenimento, e a influência de filosofias como o relativismo e o pluralismo só contribuem com a promoção de um pensamento contrário ao que foi exposto. Faz-se necessário, então, recriar dentro dos círculos evangélicos aquela antiga prática encontrada entre os Bereanos, que tinha por objetivo provar tudo pela Palavra de Deus. Sabendo que nenhum cristão se oporá ao fato de que devemos ser imitadores de Cristo, olharemos de perto, agora, o método evangelístico de Jesus, a fim de descobrirmos Sua disparidade para com o método pós-moderno.

Enquanto as pessoas nas igrejas de nossos dias parecem estar dispostas a “tudo” em nome do “ganhar almas”, haja vista a expressão corrente nos lábios de muitos ser a de que se deve fazer “loucuras por Jesus”, acreditamos ser sensato meditar um pouco mais nas palavras de Paul Washer (2008, p. 9), o qual nos adverte quanto à tentação de, com o propósito de atrair uma sociedade corrompida ou membros de igrejas carnais, adaptarmos o Evangelho aos modismos de nossa cultura e aos interesses de homens não regenerados, suavizando assim sua ofensa ou tentando civilizar suas exigências radicais. Ele declara que “nossas igrejas estão cheias de estratégias para torná-las mais amigáveis por meio de uma reembalagem do Evangelho, removendo a pedra de tropeço, e suavizando a navalha”, e acrescenta que se nos esforçamos para tornar nossas igrejas e mensagens “mais acomodáveis, que as acomodemos a Ele. Se estamos nos esforçando para construir uma igreja ou ministério, que o construamos sobre uma paixão por glorificar a Deus, e um desejo por não ofender Sua majestade”. Devemos almejar as honras do céu e não as da terra (2008, p. 9) [4].

É interessante que no ministério de Jesus a pedra de tropeço permaneceu exatamente em seu lugar e a mensagem jamais fora suavizada com o objetivo de tornar-se mais atrativa à mentalidade carnal.

Em lugar algum das escrituras encontramos qualquer encorajamento a um modelo evangelístico respaldado pelo entretenimento; a ordem de Cristo é: “ide por todo o mundo e pregai o evangelho” (Mc 16:15). Em seu ministério foi assim que Cristo agiu, e quando ascendeu ressurreto para a glória, seu legado a igreja fora aquilo que Paulo registrou em Efésios 4:11,12: “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo”

Brown (2005, p. 17) questiona quanto a esta passagem: “Onde os entretenedores do público entram? O Espírito Santo se cala a respeito deles; e o seu silêncio é eloqüente (sic)”. De fato, parece que Cristo seria categoricamente reprovado na disciplina de Evangelismo e Missões na maioria dos seminários teológicos de nossos dias, pois Sua ênfase era a pregação da Palavra e o ensino, nada de gracejos ou concessões para que Sua mensagem fosse mais facilmente aceita.

O apóstolo João nos conta a reação dos ouvintes após um dos sermões de Jesus: “Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (Jo 6:60) e “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele.” (Jo 6:66). Brown escreveu acerca disso:

“[...] não observamos que houve qualquer tentativa de aumentar o número daquela reduzida congregação, valendo-se de algo mais agradável para a carne. Tampouco o ouvimos dizer: Precisamos manter a audiência, de qualquer maneira. Então, Pedro, corre em busca daqueles amigos e diz-lhes que amanhã teremos um tipo diferente de culto – uma reunião muito breve e atrativa, com pouca ou talvez nenhuma pregação. Hoje o culto foi dedicado a Deus, mas amanhã teremos uma noite agradável ao povo. Diz-lhes que certamente irão gostar e terão momentos aprazíveis. Vai, rápido, Pedro! Precisamos ganhar o povo a qualquer custo. Se não for pelo evangelho, então que seja pela tolice. Não! Não foi assim que Ele argumentou.

Cristo não voltara atrás, ou amenizara Sua mensagem. A reposta aos doze é inimaginável aos proponentes do evangelismo pragmático contemporâneo: “Quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6:67).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Afirmamos, portanto, que se realmente somos discípulos de Cristo, devemos ser Seus imitadores em tudo, e assim andar conforme Ele andava.

Observando a postura de Jesus, é inegável o fato de não haver qualquer relação entre Seu método e o método moderno, e isto, por si só, já deveria ser motivo suficiente para nos afastarmos de tais práticas. Contudo, o principal problema com o evangelismo moderno, embora admitamos que existem muitas boas intenções por parte daqueles que o utilizam, é o fato de ele se fundamentar nas capacidades humanas (carnais) em trazer pecadores aos pés do Senhor, e assim, revelar-se ineficaz, visto ser o homem incapaz de operar a obra da regeneração na vida de quem quer que seja. Logo, o método de Jesus, que já se apresenta como “loucura para o mundo”, nos leva a depositar toda a nossa confiança em Seu poder e na Sua graça em chamar os que são Seus a Sua presença.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BROWN, Archibald. Entretenimento: Uma estratégia do inimigo. São José dos Campos: Fiel, Fé para Hoje, n° 27, 2005, pp. 15-24.

LOPES, Augustus Nicodemus. Cheios do Espírito. São Paulo: Vida, 2007.

MACARTHUR, John. Com Vergonha do Evangelho. São José dos Campos: Fiel, 2009.

SOUSA, Jadiel Martins. Charles Finney e a Secularização da Igreja. São Paulo: Edição Parakletos, 2002.

WASHER, Paul David. Scandalous Gospel. Muscle Shoals, Alabama: Heart Cry Magazine, n° 59, Nov – Dez, 2008, pp. 8-9 (tradução minha).



[1] “[...] um local reservado na parte da frente da congregação para onde iam as pessoas preocupadas com sua salvação, a fim de receberem oração ou serem orientadas de forma pessoal e direta” (SOUSA, 2002, pp. 137, 138).

[2] MacArthur retira esta citação do livro Perfeccionism, 2 vol. (Nova Iorque, Oxford, 1932), de B. B. Warfield, p. 23.

[3] Acréscimo nosso.

[4] “We must be careful to shun every temptation to conform our Gospel to the trends of the day or the desires of carnal men. We have no right to water down its offense or civilize its radical demands in order to make it more appealing to a fallen world or carnal church members. Our churches are filled with strategies to make them more seeker-friendly by repackaging the Gospel, removing the stumbling block, and taking the edge off the blade, so that it might be more acceptable to carnal men […] If we are striving to make our church and message accommodating, let us make them accommodating to Him. If we are striving to build a church or ministry, let us build it upon a passion to glorify God, and a desire not to offend His majesty. To the wind with what the world thinks about us. We are not to seek the honors of earth, but the honor of heaven should be our desire.”

segunda-feira, 16 de maio de 2011

POR QUE LER OS PURITANOS HOJE?


Escrito pelo Rev. Don Kistler e publicado pela Soli Deo Gloria Publications, Morgan, PA, 1999.

Título original: "Why Read the Puritans Today?"

(Tradução: Nelson Ávila)

Obs: São proibidas cópias ou reproduções deste material para fins lucrativos sem a expressa autorização do autor. Todos os direitos reservados a Copyrighted.

Para minha filha Michelle Anne, cujo semblante encantador é meramente o reflexo de uma arrebatadora beleza de espírito interior.

Há um encorajador ressurgimento do interesse nos Puritanos e seus escritos em nossos dias. Existem algumas razões para isto. Uma é que as pessoas estão se cansando da religião que oferece coisas que não pode dar. Promessas são feitas, mas as pessoas vêm para aquelas promessas com interesse próprio; e quando as coisas prometidas não se materializam elas ficam desapontadas. Segundo, algumas pessoas estão cansadas da fraca e superficial religião. A maioria das pessoas não louva a Deus porque o Deus do qual eles ouvem falar realmente não é digno de louvor. Ele não é o “alto e sublime.” Ele não é o “Senhor Deus onipotente que reina eternamente.” Ele é apenas “meu amigo,” e a familiaridade nesta área certamente gera desprezo!

Nos Puritanos, as pessoas encontram homens que foram apaixonados e obcecados com o conhecimento de Deus. Eu listei algumas razões do porque nós devemos ler os Puritanos hoje, e cada uma delas é derivada da visão Puritana de Deus e da Escritura.

1. Eles elevarão seu conceito de Deus a um nível que você provavelmente nunca pensou ser possível, e mostrarão a você um Deus que é verdadeiramente digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu livro clássico Gospel Worship, disse “A razão pela qual louvamos a Deus de forma negligente é porque nós não vemos Deus em Sua glória.” O homem moderno ouve sobre um deus que não é digno de louvor. Por que ele deveria louvar um Deus que quer fazer o bem, mas não pode fazê-lo só porque o homem não quer cooperar! Quem então é soberano? O homem é!

Talvez uma espécie de aviso seja necessário neste ponto. Uma vez que você começar a ler os Puritanos, você poderá sentir-se, em uma noção espiritual, um pouco solitário. Você começará a ser estimulado sobre o que está lendo e sentindo em seu coração, e então perceberá que não há muitos outros que sabem sobre o que você está falando. E isto pode ser realmente solitário! Quando você começar a ter a visão que Isaías tem de Deus em Isaías 6, e perceber que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que sua mente possa compreender plenamente, você perceberá que o homem comum não pensa muito sobre Deus de fato, muito menos no nível profundo em que você está pensando.

Uma das razões de pensarmos tão deficientemente é por lermos tão pouco. A leitura nos ajuda a pensar; e nós vivemos numa cultura fotográfica agora, ao invés de uma cultura tipográfica. A maior parte da comunicação é feita através de imagens, vídeos e filmes. O trabalho de pensar é todo feito para nós, e então não somos forçados a lutar com conceitos. Um outro alguém interpreta o que é importante para nós em imagens. Nos dias dos Puritanos, palavras eram congeladas em uma página e forçavam você a lidar com os pensamentos expressados.

O escritor moderno Neil Postman tem lidado com isto extensivamente em seu livro Amusing Ourselves to Death. Ele mostra a importante relação entre ler e pensar. Os puritanos eram, acima de tudo, grandes pensadores; e não é coincidência que eles também eram grandes leitores.

2. Os Puritanos tinham um “caso de amor”, se você preferir, com Cristo; eles escreveram bastante sobre a beleza de Cristo. Um dos maiores Puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo a respeito do céu, Goodwin disse, “Se eu estivesse indo para o céu, e descobrisse que Cristo não estava lá, eu iria embora imediatamente; pois um céu sem Cristo seria um inferno para mim.” Céu sem Cristo não é céu, disse Goodwin, e se Cristo não estivesse lá ele não desejava estar lá; pois é a presença de Cristo que fez o céu tão celestial.

James Dunhan escreveu isto sobre Cantares 5:16 (“Ele é totalmente desejável”) em sua aplicação do sermão: “Se Cristo é totalmente desejável, então tudo o mais é totalmente repugnante.” Nós não sentimos dessa maneira a respeito de Cristo, sentimos? Nós queremos um pouco de Cristo, e um pouco de muitas outras coisas. Mas os verdadeiros Cristãos desejam Cristo e nada mais além de Cristo.

Samuel Rutherford, o grande teólogo Escocês, escreveu isto sobre a beleza de Cristo numa carta a um amigo:

Eu ouso dizer que as canetas dos anjos, línguas dos anjos, ou melhor, em tantos mundos de anjos quanto existam gotas de água em todos os mares, fontes e rios da terra, não são capazes de descrevê-lO para você. Acho que Sua doçura tem crescido sobre mim com a grandeza de dois céus. Ó, pois uma alma precisaria ser tão vasta quanto o círculo máximo dos mais altos céus para conter Seu amor! E ainda assim eu agarraria muito pouco dele. Ó, que visão, ser arrebatado ao céu, naquele belo pomar do Novo Paraíso, e ver, e sentir o aroma, e tocar, e beijar aquele belo campo de flores, aquela perene árvore da vida! Sua simples sombra seria o bastante para mim; uma visão dEle seria o céu para mim.

Se houvessem dez mil milhares de milhões de mundos, assim como muitos céus, cheios de homens e anjos, Cristo não seria afligido para atender todas as nossas necessidades, e para nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem sabe quão profunda é sua parte mais funda? Coloque a beleza de dez milhares de milhares de paraísos, como o Jardim do Éden, em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os aromas, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os encantos e todas as doçuras em um. Ó, que bela e excelente coisa seria esta? E ainda assim seria menor que o mais belo e precioso bem-amado Cristo, tal qual seria uma gota de chuva para todos os mares, rios, lagos e fontes de dez mil planetas.

Este é alguém que ama a Cristo, não é?

3. Os Puritanos nos ajudarão a compreender a suficiência de Cristo. Isto está sob grande ataque em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas você precisa de psicologia para ajudá-lo com a vida, somos informados. Você pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com suas feridas espirituais, mas você precisa de algo mais para aquelas “profundas dores emocionais” que você está sentindo.

Há um título por Ralph Robinson, um contemporâneo de Thomas Watson em Londres, Christ All and In All [“Cristo é Tudo em Todos” – N. do T.]. Robinson escreveu cerca de 700 paginas sobre Colossenses 3:11, “Cristo é tudo e em todos.” É sobre nossa deficiência em compreender a suficiência de Cristo que trata a tiragem. Se Cristo é tudo em todos, como podemos procurar em algo ou alguém mais por respostas?

Em seu livro The Saints’ Treasury, Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre aquele mesmo versículo de Colossenses. Burroughs faz esta afirmação: “Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai.” Nenhum de nós questionaria isto, não é? Isaias nos diz que Deus verá o resultado da angústia de Sua alma e ficará satisfeito. Assim, Cristo é o bastante para satisfazer o Pai.

Em seguida, Burroughs continua: “Certamente, então, Cristo é um objeto suficiente para a satisfação de qualquer alma!” Você segue o raciocínio? Para aqueles Cristãos que gastam tanto tempo lamentando sobre sua sorte na vida como se Cristo não fosse o bastante, Burroughs diria, “Que blasfêmia dizer que Cristo é o bastante para satisfazer a Deus, mas Ele não é o bastante para satisfazer você!” Muito antes de haver um Freud, um Puritano tinha resolvido o problema da moderna psycho-babble que tanto tem encantado a igreja de hoje.

4. Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Pedro disse que a Escritura nos dá o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertencentes a vida e a piedade. Você já ouviu o grito de guerra da humanidade hoje, não ouviu? “Eu estou procurando por auto-estima,” ou, “Eu só quero me sentir bem comigo mesmo.” Deixem-me assegurá-los, meus amigos, que vocês não precisam de auto-estima; vocês precisam da estima de Cristo! Isaias descobriu quem Deus era e então Isaias soube quem Isaias era! O problema de Isaias foi que ele não gostou do que encontrou em si mesmo!

Em Saints’ Treasury de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado “A Incomparável Excelência e Santidade de Deus,” baseado em Êxodo 15:11: “Quem é como Tu, Ó Deus, entre as nações?” Burroughs escreve metade do sermão sobre o esplendor de Deus. Então, ele traz na segunda metade do verso: “e quem é como tu, Ó Israel?” Qual é o ponto? Desde que não há ninguém como o seu Deus, não há ninguém como você! Você não precisa ter auto-estima para se sentir bem consigo mesmo; você precisa ter a estima de Cristo ¾ você precisa se sentir bem com Deus!

Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como pode alguém sequer ter uma falta de auto-estima! Se você é um Cristão, Cristo trocou, uma pela outra, a vida dEle pela sua vida. Isto é o que realmente tem valor!

Os Puritanos eram verdadeiros conselheiros bíblicos, e entenderam que o melhor aconselhamento toma lugar no púlpito quando a Palavra de Deus é aberta, exposta e aplicada. Cerca de 300 anos atrás, Isaac Ambrose escreveu em seu livro The Christian Warrior sobre o perigo de aconselhar-se com homens que não estão mergulhados na Escritura:

A alma ferida, que está buscando por conforto, nunca deve procurar o conselho de homens não regenerados; esta não é a maneira designada por Deus. Ai de ti! Tais homens pensarão que você é louco, pois eles não sabem o que problemas por pecado significam. Por que, então, revelar sua doença para aqueles que não são médicos? Vá para Aquele que cura todo tipo de doenças, para que Deus o direcione. Quando Paulo se converteu pela graça divina, ele não consultou carne e sangue, mas instantaneamente obedeceu a Deus. É assim que você deve fazer. Deus, por Seu ministério, o convenceu do perigo dos maus caminhos e da sua obrigação de vir a Ele para ter segurança e conforto? Obedeça instantaneamente, e não se consulte com carne e sangue.

O que seus companheiros pecadores o oferecem não é adequado para a cura de sua alma triste e enferma de pecado. O que podem companheiros inúteis fazer para aquietar sua consciência, perdoar seu pecado, sustentar seu espírito, ou enchê-lo com alegria espiritual? Ai de ti! Todas as alegrias deles, “são apenas o crepitar de espinhos debaixo de uma panela;” sonhos e vaidades de suas mais altas alegrias. Que acordo há entre alegria carnal e tristeza espiritual? Não mais que entre a luz e as trevas. Dispense todos eles; afaste-se das tendas destes homens ímpios, e não toque em nada deles, para não ser consumido em todos os seus pecados.

Há uma riqueza de conselhos piedosos nos escritos destes homens. Os Puritanos entenderam que problemas espirituais necessitavam de soluções espirituais. Os conselheiros de hoje não pensam em termos de pecado ou problemas da alma, ainda que seja isso o que psicologia significa ¾ o estudo da alma. O problema é que hoje todo mundo é uma vítima do comportamento de alguma outra pessoa; mas isto não é novidade hoje ¾ o jogo da culpa começou no Jardim do Éden. Adão culpou Eva; Eva culpou a serpente. E nenhum deles poderia culpar sua família disfuncional!

Deus, que criou a alma, e que morreu para redimir a alma, sabe melhor como tratar a alma. E aqueles homens que estão mais familiarizados com Deus são mais capazes de proporcionar cura para a alma. De fato, os Puritanos eram chamados “médicos da alma.” Thomas Watson escreveu um tratado intitulado “Pecado é uma Doença da Alma ¾ Cristo é um Médico da Alma”, o qual está contido em The Sermons of Thomas Watson.

5. Os Puritanos podem nos ensinar acerca da hedionda natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro chamado The Sinfulness of Sin [A Malignidade do Pecado]; Jeremiah Burroughs escreveu The Evil of Evils [O Mal dos Males]. Não há doutrina que seja mais importante para a ortodoxia do que esta, porque se você estiver por fora da doutrina do pecado, estará por fora de qualquer outra doutrina. Este é o fio que desfiará o suéter teológico inteiro. Watson escreveu uma obra-prima em quatro curtos sermões intitulados The mischief of Sin [A Injúria do Pecado].

Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; mas as pessoas farão tudo o que podem para evitar o sofrimento, mas quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, contudo, porque o pecado dá origem ao sofrimento. Burroughs traça o ponto de que o pecado é pior que o inferno, porque o pecado originou o inferno. E a coisa que dá origem é maior do que a que é originada.

Obadiah Sedgwick, um proeminente presbiteriano de Londres que era membro da Assembléia de Westminster, escreveu um penetrante livro intitulado The Anatomy of Secret Sins [A Anatomia dos Pecados Ocultos], um tratado inteiro sobre a peleja de Davi para libertar-se dos pecados ocultos, daqueles pecados escondidos profundamente nos recantos de nossos corações que ninguém mais além de nós e Deus sabem que estão lá, mas que são tão perversos e condenáveis quanto qualquer outro pecado.

Jonathan Edwards disse isso sobre o pecado: “Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos hediondo, dependendo da honra da pessoa ofendida. Desde que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mal.” Isto é o porquê de não haver tal coisa como um pecadinho, pois o menor pecado é um ato de traição cósmica cometido contra um Deus infinitamente santo. Não se ouve mais muitas verdades como essa.

Este material, em seu puro valor literário, é simplesmente inestimável. Em “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” (contido em nosso livro The Wrath of Almighty God [A Ira do Deus Todo-Poderoso]), de Edwards, a imagem é sem igual. Ele compara Deus a um arqueiro com um arco firmemente esticado e com uma flecha apontada direto para o coração do pecador; os braços do arqueiro estão tremendo porque o arco está sendo puxado com muita força, e ele diz que a única coisa que impede Deus de deixar que a flecha voe e se afogue no sangue do pecador é a mera boa vontade de um Deus que está infinitamente irado com o pecado todos os dias. Um escritor secular que estava pesquisando sobre Edwards recebeu esta pergunta de um cristão: “Você sabe, se Edwards estiver certo, que a flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?” A resposta foi esta: “Algumas vezes eu não consigo! Eu só peço a Deus que ele esteja errado!”

6. Os Puritanos nos ajudarão com a vida prática. O Christian Directory de Richard Baxter tem sido considerado por Tim Keller “o maior manual sobre aconselhamento jamais produzido”. Antes deste século, a maior parte do aconselhamento era feita do púlpito ou durante a visita pastoral ao lar para catequizar a família. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. Curiosamente, a própria palavra “psicologia” significa estudo da alma. A palavra latina suke, da qual obtemos a palavra grega psyche, da qual temos “psicologia”, significa “alma.” Mas o que era usado para a cura de almas pecadoras tem se tornado a cura para mentes doentias. Isto tem sido tirado do pastor ¾ que deve conhecer a alma melhor ¾ e dado aos conselheiros, muitos dos quais nem sequer crêem em Deus. Eles não podem curar doenças espirituais. O Directory de Baxter demonstra a capacidade de um homem que poderia aplicar as Escrituras a todas as áreas da vida. J. I. Packer o chama de o maior livro cristão já escrito depois da Bíblia. Com endossos como estes, você pode perceber o porque deste livro ter vendido milhares de cópias.

Nessa mesma linha, considere A Prática da Piedade de Lewis Bayly como um modelo de um manual devocional Puritano. O popular autor e pregador Alistair Begg recomenda altamente este livro. A idéia era a de regular inteiramente a vida e o dia de uma pessoa pela Escritura. Dr. John Gerstner disse que este livro deu início ao movimento Puritano.

Não havia nenhuma área da vida que os Puritanos acreditassem que não necessitasse ser regulada pela Escritura. Mesmo seu tempo a sós deveria ser disponibilizado para uso piedoso. Nathanael Ranew escreveu uma boa obra intitulada Solitude Improved by Divine Meditation. Esta é a clássica obra Puritana sobre meditação espiritual. Sua premissa é a de que mesmo quando você está sozinho pode “melhorar” o tempo empregando sua mente em um bom uso, meditando sobre Deus e Seus atributos. Se houvesse um décimo primeiro mandamento para os Puritanos, seria: “Não desperdiceis tempo.”

Os Puritanos escreviam esses tipos de manuais freqüentemente. John Preston pregou 5 sermões em 1 Tessalonicenses 5:17 sobre oração, os quais ele deu o título de The Saint’s Daily Exercise [O Exercício Diário dos Santos]. Eles estão incluídos na compilação The Puritans on Prayer.

Dr. R. C. Sproul escreveu um prefácio para A Treatise on Earthly-Mindedness de Jeremiah Burroughs. Aqui está um livro inteiro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa ao invés de pensar os pensamentos de Deus diante dEle. Quantos confessaram este pecado noite passada antes de dormir?

Os Puritanos eram muito pastorais, além de serem muito teológicos. Há uma grande dose de conforto em seus escritos. Aqui está uma citação de meu pregador Puritano favorito, Christopher Love, a respeito de quem eu escrevi um livro intitulado A Spectacle Unto God. Muitas das obras de Love têm sido reimpressas. O seguinte excerto é de seu sermão sobre crescimento na graça, do livro intitulado simplesmente Grace:

Não olhe tanto para seus pecados, mas olhe para sua graça também, embora fraca. Cristãos fracos olham mais para seus pecados do que para suas graças; mas Deus olha para suas graças e não toma conhecimento de seus pecados e fraquezas. O Santo Espírito disse, “Ouvistes da paciência de Jó.” Ele poderia ter dito também, “Ouvistes da impaciência de Jó,” mas Deus avalia Seu povo não pelo que é ruim neles, mas pelo que é bom neles. Menção é feita do acolhimento de Raabe aos espias, mas nenhuma menção é feita de que ela contou uma mentira quando assim o fez. Aquilo que foi bem feito foi mencionado para louvor dela, e o que foi errado, está enterrado no silêncio, ou, pelo menos, não é registrado contra ela nem cobrado dela. Quem desenhou o retrato de Alexander, com sua cicatriz na face, o fez com o dedo sobre sua cicatriz. Deus coloca o dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Ó como é bom servir um Mestre tal, que está pronto para recompensar o bem que fazemos, e está pronto para perdoar e passar por aquilo que está errado. Portanto, você que tem tão pouca graça, lembre-se ainda que Deus terá Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não apagará o pavio que fumega, nem quebrará a cana trilhada.

7. Os Puritanos nos ajudarão com o evangelismo que é bíblico. A maioria do evangelismo de hoje é homocêntrico. O evangelismo Puritano era Teocêntrico. Os Puritanos tinham uma outra doutrina que tem sido largamente perdida hoje, e ela atende pelo nome de “busca” ou “preparação para a salvação”. Ela foi difundida entre os Puritanos ingleses e os Reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão “Pressing into the Kingdom”, mas antes disso, por seu avô, Solomon Stoddard em A Guide to Christ [Um Guia para Cristo], o qual o Dr. Gerstner chamou de o melhor manual sobre evangelismo Reformado que já conheceu. Considere também o livro Heaven Taken by Storm [O Céu Tomado de Assalto] de Thomas Watson, o qual lida com “a santa violência” necessária para conquistar os portões do céu.

A idéia principal desta doutrina de busca ou preparação é esta: Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve valer-se desses meios.

Deixe-me exemplificar: A fé vem pelo ouvir, certo? E os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus, e percebo que não tenho essa fé em mim para crer em Deus sabiamente, o que devo fazer?

Aqui é onde a “busca” se apresenta. Se a fé vem pelo ouvir então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus está indo me salvar, Seu meio normal é através da pregação do evangelho. Deus não está sob a obrigação de me salvar se eu ouvir um sermão, mas não é provável que Ele me salve sem que eu ouça um sermão sobre Cristo.

O pecador, portanto, deve fazer tudo em seu poder natural para tornar seu coração menos duro do que ele já é. Todo pecado endurece o coração para tudo mais. Esta busca ainda é pecado ¾ desde que o pecador não pode fazer nada além de pecar ¾ mas pelo menos não é tão pecaminoso quanto não fazê-lo! Ele não está tornando a si mesmo agradável a Deus por meio de sua busca (já que ele está fazendo isso por interesse próprio), mas ele está tornando a si mesmo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo. E mesmo que Deus não o salve, sua punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam, “Se você não pode ir a Deus com um coração justo, então vá a Deus por um coração justo.” Para ser preciso, isto não é buscar o Senhor, já que a Escritura deixa claro que ninguém busca o Senhor, mas isto é buscar a salvação. E ninguém obtém a salvação por buscar, mas eles provavelmente não serão salvos aparte disto.

8. Ler os Puritanos ajudará a estabelecer as prioridades certas. 2 Coríntios 5:9 diz, “Temos como nossa ambição sermos agradáveis ao Senhor.” Um Puritano disse isto dessa forma, “O sorriso de Deus é minha maior recompensa, e Seu franzir de sobrancelhas meu maior temor.” Se é verdade que nos tornamos como as pessoas com quem gastamos nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastar nosso tempo com os Puritanos. O livro Gospel Fear de Jeremiah Burroughs trata sobre ter a prioridade certa. Há sete sermões sobre Isaías 66:2, a respeito do que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus diz “Para ele olharei, aquele que treme da Minha Palavra”, então, seria melhor saber o que é tremer da Palavra de Deus!

9. Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é feito justo diante de Deus. Outro título de Solomon Stoddard que recomendo altamente é sua obra sobre a justiça imputada, intitulada The Safety of Appearing on the Day of Jugament in the Righteousness of Christ [A Segurança de Comparecer no Dia do Julgamento na Justiça de Cristo]. Não posso superenfatizar a importância de se examinar sobre esta questão de justiça imputada nestes dias, quando muitos não estão inquirindo sobre a diferença eterna entre justiça imputada e justiça infusa. A diferença entre estas duas posições não é simplesmente a distância entre Roma e Genebra; é a distância entre céu e inferno.

Gostaria de recomendar a você a leitura do título contemporâneo Justification by Faith ALONE! [“Justificação pela Fé SOMENTE!” ¾ Publicado pela editora Cultura Cristã ¾ N. do T.]. Se você quer especificamente um titulo Puritano, considere The Puritans on Conversion [“Os Puritanos e a Conversão” ¾ Publicado pela editora PES ¾ N. do T.]. Ou, se você acha que está preparado para as coisas “difíceis”, tente o livro de Matthew Mead, o título Puritano best-seller da Soli Deo Gloria, The Almost Christian Discovered. Mead apresenta 26 coisas que uma pessoa deve fazer como um cristão, mas fazê-las não prova que ele é um cristão de verdade ¾ apesar de que não fazê-las prova que ele não era um Cristão! Isto não é para os covardes!

10. Finalmente, vamos examinar os Puritanos e a autoridade da Palavra. Sabemos que a Escritura é Deus falando a nós. O clássico versículo em Timóteo nos diz que: “Toda a Escritura é dada por inspiração de Deus (literalmente, foi soprada por Deus)...” E sabemos que, o que quer que Deus diga, devemos obedecer. De fato, isto foi o que o povo de Deus do Antigo Testamento compreendeu. Em Êxodo 24:3-7 eles declaram, “Tudo o que o Senhor tem falado nós faremos, e seremos obedientes.” Não há algo que Deus diga que não devamos fazer.

Os teólogos Puritanos que compuseram a Confissão de Fé de Westminster escreveram, “A autoridade das Sagradas Escrituras, pela qual deve ser obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem, ou Igreja; mas inteiramente de Deus (que é a própria verdade) seu Autor; e por essa razão deve ser recebida por ser a Palavra de Deus.”

Sabemos que quando Deus fala devemos ouvir. De fato, uma grande parte da Grande Comissão é ensinar pessoas a se submeterem a autoridade da Palavra de Deus! Mateus 28:18-20, “... ensinando-os a observar tudo o que vos tenho mandado.”

Isto é o que admirava as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:28, 29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas se admiravam; e acho que isto faz dEle um pregador admirável. Qual era a base para a admiração deles? “Ele ensinava como tendo autoridade, e não como os Escribas e Fariseus.”

É exatamente assim que os pregadores devem pregar, com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. Tito 2:15: “Fala estas coisas, exorta e repreende com toda autoridade! Ninguém te despreze.” Enquanto a maioria de nós certamente afirmaria que se Deus dissesse algo o obedeceríamos, esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. A visão Reformada do ministério do púlpito é a de que quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo, não a de um homem; e isto significa que ela deve ser obedecida.

Mas, o que você ouve após o sermão? Na melhor das hipóteses você ouvirá, “Isto é interessante; terei que pensar a respeito.” Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para opinarmos ou pensarmos a respeito. Ele nos deu Sua Palavra para obedecermos.

O Puritano Thomas Taylor escreveu:

A Palavra de Deus deve ser entregue de uma maneira tal que a majestade e a autoridade dela seja preservada. Os embaixadores de Cristo devem comunicar Sua mensagem assim como Ele mesmo a pronunciaria. Um ministério bajulador é um inimigo desta autoridade; pois quando um ministro tem que cantar placebos e doces canções, é impossível para ele não trair a verdade. Resistir a esta autoridade, ou enfraquecê-la, é um pecado terrível, seja em homens de alta ou baixa posição; e o Senhor não permitirá que Sua mensagem seja removida. Os ouvintes devem (a) orar pelos seus mestres, para que eles possam entregar a Palavra com autoridade, ousadia e boca aberta; (b) não confunda essa autoridade nos ministros com raiva ou amargura, e muito menos com loucura; e (c) não se recuse a entregar-se em submissão a esta autoridade, nem fique zangado quando ela recair sobre alguma prática com a qual eles estiverem relutantes em tomar parte; pois é certo que Deus retira a luz daqueles que rejeitam a luz oferecida.

Deuteronômio 30:20 equipara amar a Deus com obedecer a Sua voz. De fato, ele diz que é como amamos a Deus. Foi assim que os Puritanos encararam a Escritura. E se quisermos conhecer a Deus da maneira como eles o fizeram, devemos amar Sua Palavra do modo como eles a amaram. Este amor só aumentará através de estudo diligente e intensivo. E ler os Puritanos é a próxima melhor coisa. Na verdade, é como ir para a escola com algumas das melhores mentes que a igreja sequer já teve. Alguém disse, “Você se torna como aqueles com quem gasta seu tempo.” Ler os Puritanos, então, seria o melhor uso possível do tempo. Oh, que possamos nos tornar como eles no modo como publicaram a Cristo para que todos o adorem e louvem.

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