sábado, 26 de fevereiro de 2011

A VERDADEIRA TEOLOGIA REFORMADA

Por Burk Parsons

Tradução: Nelson Ávila

Provavelmente não surpreenda você saber que ninguém me ensinou mais acerca da Bíblia e sua teologia do que R. C. Sproul. E não deve surpreendê-lo saber que ninguém me ensinou mais sobre o ministério da piedade do que R. C. Sproul. Tendo trabalhado para R. C. por doze anos, tenho testemunhado, em primeira mão, a própria fé de um homem trabalhando em amor. Como o testemunho de sua esposa e filhos revela, sua teologia da graça sustenta sua preocupação com o faminto, a viúva e o órfão. Apropriadamente, sua teologia informa sua prática, como deve a nossa fazer.

Em sua essência, a teologia cristã é uma teologia da graça. Uma das principais distinções da teologia cristã é a doutrina da graça, a qual permeia todas as áreas de nossa fé e vida. Ao longo de séculos de história os cristãos têm testemunhado esta verdade. Quando Paulo, no primeiro século, e os reformadores, no século dezesseis, batalharam severamente pela fé, não batalharam apenas para preservar a doutrina da justificação pela graça somente através da fé somente, mas para preservar a totalidade da religião evangélica da graça de Deus. Este evangelho informa tudo o que somos e, portanto, tudo o que fazemos, em palavras e atos, revela nossa fé, com o evangelho de Deus e a glória de Deus à frente de nossa missão, não com nosso próprio evangelho social ou nossa própria sociedade gloriosa.

Os puritanos do século dezessete eram pessoas de ações santas e piedosas, cujo ministério, em palavras e ações, era motivado pela teologia bíblica da graça, a qual liberta pecadores redimidos para dar sacrificialmente em resposta à oferta de Deus de Si mesmo na cruz. Em uma oração puritana de The Valley of Vision, lemos: “Dá-me uma avareza santa para remir o tempo, para despertar a cada chamado à caridade e piedade, afim de que eu possa então alimentar os famintos, vestir os despidos,... difundir o evangelho, mostrar o amor ao próximo a todos.” Semelhantemente, no século dezenove, Robert Murray M’Cheyne (1813 – 43) pregou para sua congregação sobre o chamado de Deus para cuidar dos pobres e necessitados: “Meus queridos amigos, eu estou preocupado com o pobre, mas mais com vocês. Eu não sei o que Cristo dirá a vocês naquele grande dia... Eu temo que muitos dos que estão me ouvindo agora possam muito bem saber que não são cristãos porque não amam dar. Para dar ampla e liberalmente, não de má vontade, deseje um novo coração. Um velho coração preferiria ter parte com o seu [do próprio coração – N. do T.] sangue que com seu dinheiro.”

O ministério evangélico em palavras e ações não é nada novo, mas tão velho quanto a queda do homem, quando Deus veio a nós em nossa maior necessidade, nos vestiu e nos deu fome de servi-lO, para que o mundo possa ver nossas boas obras e glorificar nosso Pai que está no céu.



Disponível originalmente no endereço eletrônico: http://www.ligonier.org/learn/articles/truly-reformed-theology/

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Qual Interpretação é a Correta?

Por R. C. Sproul1

Tradução: Nelson Ávila

Há tantas interpretações diferentes do que a Bíblia está dizendo. Como posso saber qual é a correta?

Este é um problema que aflige todos nós. Há algumas coisas teóricas que podemos dizer a respeito, mas eu preferiria gastar tempo na prática.

A Igreja Católica Romana acredita que uma função da igreja é ser a interprete autorizada da Escritura. Eles acreditam que não só temos uma Bíblia infalível, mas também temos uma interpretação infalível da Bíblia. Isto ameniza um pouco o problema, apesar de não eliminá-lo completamente. Você ainda tem aqueles de nós que têm que interpretar as infalíveis interpretações da Bíblia. Cedo ou tarde ela é resumida para aqueles de nós que não são infalíveis para colocá-la em ordem. Temos este dilema porque há inúmeras diferenças de interpretação entre o que os papas dizem e o que os concílios da igreja dizem, assim como existem inúmeras diferenças de interpretação acerca do que a Bíblia diz.

Algumas pessoas quase em desespero dizem que “se os teólogos não podem concordar sobre isto, como posso eu, um simples cristão, ser capaz de entender quem está dizendo a verdade?”

Encontramos estas mesmas diferenças de opinião na medicina. Um médico diz que você precisa de uma cirurgia e o outro diz que você não precisa. Como descobrirei qual médico está me dizendo a verdade? Neste momento, eu estou apostando minha vida naquele médico em quem confio. É incômodo ter experts discordando sobre questões importantes, e estas questões de interpretação bíblica são muito mais importantes do que se eu preciso ou não de meu apêndice. O que você faz quando tem um caso como esse de variação de opiniões apresentadas por médicos? Você vai a um terceiro médico. Você tenta investigar, tenta olhar suas credenciais para ver quem tem a melhor formação, quem é o médico mais confiável; então você ouve o caso que o médico apresenta sobre a posição dele e julga a respeito de qual você está persuadido de ser mais convincente. Eu diria que a mesma coisa acontece com as diferenças de interpretação.

A primeira coisa que eu quero saber é Quem está interpretando? Ele é instruído? Ligo a televisão e vejo todo tipo de ensino sendo apresentado por tele-pregadores que, francamente, não possuem formação em técnicas teológicas ou estudos bíblicos. Eles não têm qualificações acadêmicas. Eu sei que pessoas sem qualificações acadêmicas podem ter uma boa interpretação da Bíblia, mas eles não estão propensos a ser tão acurados como aqueles que gastaram anos e anos de cuidadosa investigação e instrução disciplinada para lidar com as difíceis questões da interpretação bíblica.

A Bíblia é um livro aberto para todos, e todos têm uma boa oportunidade de abordá-la com o que quer que desejem encontrar nela. Temos que ver as credenciais dos professores. Não só isso, mas nós não queremos depender da opinião de uma única pessoa apenas. É por isso que quando se trata de uma interpretação bíblica, eu freqüentemente aconselho as pessoas a verificar tantas boas fontes quanto elas possam, e não apenas fontes contemporâneas, mas as grandes mentes, as reconhecidas mentes da história do cristianismo. É incrível para mim a tremenda quantidade de concordância que há entre Agostinho, Aquino, Anselmo, Lutero, Calvino e Edwards — os reconhecidos titãs da história da igreja. Eu sempre os consulto porque são os melhores. Se você quer saber alguma coisa, vá aos profissionais.

1 Disponível originalmente in: nhttp://www.ligonier.org/blog/which-interpretation-right/ , acessado em 25 de fevereiro de 2011, as 17hs20min.

Como Saber se Você é um Cristão de Verdade

Por Jonathan Edwards (1703-1758)

Tradução: Nelson Ávila

Os Demônios Possuem um Conhecimento de Deus

“Tu crês que há um só Deus. Bom! Até os demônios crêem, e estremecem” (Tg 2.19).

Como você sabe se pertence a Deus? Nós vemos nestas palavras que algumas pessoas dependem de uma evidência de que são aceitas junto a Deus. Algumas pessoas pensam que estão em uma boa posição diante de Deus se não forem tão ruins como algumas pessoas más. Outras pessoas apontam para a história de suas famílias ou para a membresia da igreja para mostrar que Deus as aprova. Existe um programa evangelístico em uso comum que faz as pessoas algumas perguntas. Uma das perguntas é: “Suponha que você fosse morrer hoje. Por que Deus deveria deixar você entrar no paraíso?” Uma resposta muito comum é: “Eu creio em Deus”. Aparentemente o apóstolo Tiago conhecia pessoas que diziam a mesma coisa: Eu sei que estou no favor de Deus, porque eu conheço essas doutrinas religiosas.

É claro que Tiago admite que este conhecimento é bom. Não só é bom, mas também necessário. Ninguém que não crê em Deus pode ser um cristão; e mais do que isto, ninguém que não crê no Único Deus Verdadeiro. Isto é particularmente verdade para aqueles que tiveram a grande vantagem de conhecer pessoalmente o apóstolo, alguém que poderia contar-lhes em primeira mão das experiências que tivera com Jesus, o Filho de Deus. Imagine o grande pecado de uma pessoa que, tendo então conhecido Tiago, se recusou a crer em Deus! Certamente isto faria sua condenação ainda maior. Obviamente, todo cristão sabe que esta boa crença no Único Deus é somente o início, porque “qualquer um que dele se aproxima deve crer que ele existe e recompensa os que sinceramente o buscam” (Hb 11.6).

No entanto, Tiago é claro em destacar que embora esta crença seja uma coisa boa, ela não prova definitivamente que uma pessoa é salva. O que ele quer dizer é isto: “Você diz que é um cristão e está no favor de Deus. Você pensa que Deus o deixará entrar no paraíso, e a prova disto é que você crê em Deus. Mas isto não é evidência alguma, pois os demônios também crêem, e têm a certeza de que serão punidos no inferno”. Os demônios crêem em Deus, você pode ter certeza disto! Eles não somente acreditam que Ele existe, mas acreditam que Deus é um Deus santo, um Deus que odeia o pecado, um Deus de verdade, que prometeu julgamentos e realizará sua vingança sobre eles. Esta é a razão porque os demônios “estremecem” ou tremem – eles conhecem a Deus mais claramente que a maioria dos seres humanos, e eles estão apavorados. No entanto, nada na mente do homem é tão inexperenciável aos demônios, quanto qualquer sinal de certeza da graça de Deus em nossos corações.

Este raciocínio pode ser facilmente seguido. Suponha que os demônios pudessem ter, ou encontrar dentro de si, algo da graça salvadora de Deus – evidentemente eles iriam para o paraíso. Isto provaria que Tiago estava errado. Mas que absurdo! A Bíblia deixa claro que os demônios não têm esperança de salvação, e sua crença em Deus não elimina sua futura punição. Portanto, crer em Deus não é prova de salvação para os demônios, e é seguro dizer, que não o é para os homens também.

O Conhecimento de Deus Apenas, Não é Prova de Salvação

Isto é sempre visto mais claramente quando nós pensamos acerca do que são os demônios. Eles são profanos: qualquer de suas experiências, não pode ser uma experiência santa. O diabo é perfeitamente perverso. “Vocês pertencem ao seu pai, o Diabo, e querem realizar o desejo do vosso pai. Ele foi um assassino desde o princípio, não firmado na verdade, pois não há verdade nele. Quando ele mente, fala sua linguagem natural, porque ele é um mentiroso e o pai da mentira” (Jo 8.44). “Aquele que pratica o pecado é do Diabo, pois o Diabo tem pecado desde o princípio” (1 Jo 3.8). Portanto, os demônios são chamados de espíritos malignos, espíritos imundos, potestades das trevas, e assim por diante. “Porque nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os principados, contra as autoridades, contra os poderes deste mundo tenebroso e contra as forças espirituais do mal nos lugares celestiais” (Ef 6.12).

Por isso, é claro que qualquer coisa nas mentes dos demônios não pode ser santa, ou conduzir a verdadeira santidade por si mesma. Os demônios conhecem claramente muitas coisas sobre Deus e a religião, mas eles não possuem um conhecimento santo. As coisas que eles sabem em suas mentes podem fazer impressões em seus corações – sem dúvida nós vemos que os demônios têm fortes sentimentos a respeito de Deus; tão fortes, de fato, que eles “estremecem”. Mas não são sentimentos santos, pois eles nada têm a ver com a obra do Espírito Santo. Se isto é verdade acerca da experiência dos demônios, também é verdade sobre a experiência dos homens.

Note isto, que não importa quão genuínos, sinceros e poderosos estes pensamentos e sentimentos são. Demônios, sendo criaturas espirituais, conhecem Deus de uma maneira que os homens na terra não podem. Seu conhecimento sobre a existência de Deus é mais concreto que qualquer conhecimento humano possa ser. Porque eles estão presos na batalha com as forças do bem; o conhecimento deles é igualmente sincero. Em certa ocasião, Jesus expulsou alguns demônios. “O que queres conosco, Filho de Deus?” eles gritaram. “Viestes aqui para nos torturar antes do tempo?” (Mt 8.29). Qual experiência poderia ser mais clara do que esta? No entanto, embora seus pensamentos e sentimentos sejam genuínos e poderosos, eles não são santos.

Também podemos ver que os sagrados objetos de seus pensamentos não fazem destes pensamentos e sentimentos santos. Os demônios sabem que Deus existe! Mateus 8.29 mostra que eles sabem mais sobre Jesus do que muitas pessoas! Eles estão inteiramente certos de que Jesus os julgará algum dia, porque Ele é santo. Mas está claro que genuínos, sinceros e poderosos pensamentos e sentimentos acerca do sagrado, das coisas espirituais, não é prova da graça de Deus no coração. Os demônios possuem estas coisas, e olham prontamente para o castigo eterno no inferno. Se os homens não possuem mais do que aquilo que os demônios possuem, eles sofrerão da mesma forma.

Experiências Religiosas Não São Provas de Salvação

Nós podemos fazer diversas conclusões baseadas nestas verdades. Em primeiro lugar, não importa o quanto as pessoas possam conhecer acerca de Deus e da Bíblia, isto não é um sinal certo de salvação. O Diabo, antes de sua queda, foi uma das mais brilhantes estrelas da manhã, uma chama de fogo, uma excelência em força e sabedoria (Isaías 14.12, Ezequiel 28.12-19). Aparentemente, como um dos comandantes angelicais, Satanás conhecia muito sobre Deus. Agora que ele está caído, seu pecado não tem destruído suas memórias anteriores. O pecado destrói a natureza espiritual, não as habilidades naturais, tais como a memória. Que os anjos caídos possuem muitas habilidades naturais pode ser visto em muitos versículos bíblicos, por exemplo: Efésios 6:12 “Porque nossa luta não é contra carne e sangue, mas contra os principados, contra as autoridades, contra os poderes deste mundo tenebroso e contra as forças espirituais do mal nos lugares celestiais”. Do mesmo modo, a Bíblia diz que Satanás é “mais astuto” do que outros seres criados (Gn 3:1, 2 Cor 11:3, At 13:10). Portanto, podemos ver que o Diabo sempre teve grande habilidade mental e é capaz de saber muito acerca de Deus, do mundo visível e do invisível, e muitas outras coisas. Desde o princípio, seu trabalho foi ser um comandante angelical diante de Deus, e é natural que a compreensão destas coisas tenha sido sempre o primeiro de seus mais importantes interesses, e que todas as suas atividades têm a ver com estas áreas de pensamentos, sentimentos e conhecimentos.

Porque este era seu trabalho original, ser um dos anjos bem diante da face de Deus, e o pecado não destrói a memória, fica claro que Satanás sabe mais sobre Deus que qualquer outro ser criado. Depois da queda, nós podemos ver suas atividades como um tentador, etc. (Mt 4:3), que ele tem gasto seu tempo aumentando seu conhecimento e suas aplicações práticas. Que seu conhecimento é grande, pode ser visto no quão esperto ele é ao tentar as pessoas. A astúcia de suas mentiras mostra o quão inteligente ele é. Certamente ele não poderia manejar seus truques tão bem sem um efetivo e verdadeiro conhecimento dos fatos.

Esse conhecimento acerca de Deus e suas obras vem desde o princípio. Satanás estava lá desde a criação, como Jó 38:47 mostra: “Onde estava você quando eu lancei os fundamentos da terra? Diga-me, se você entende... enquanto as estrelas da manhã cantavam juntas e todos os anjos gritavam de alegria?” Assim, ele deve saber bastante sobre o modo como Deus criou o mundo, e como Ele governa todos os eventos no universo. Por outro lado, Satanás tem visto a maneira como Deus tem trabalhado seu plano de redenção no mundo; e não como um espectador inocente, mas como um ativo inimigo da graça de Deus. Ele viu a obra de Deus nas vidas de Adão e Eva, Noé, Abraão e Davi. Ele deve ter se interessado especialmente na vida de Jesus Cristo, o Salvador dos homens, a Palavra encarnada de Deus. Quão de perto ele observou Cristo? Quão atentamente ele observou seus milagres e ouviu suas palavras? Isso é porque Satanás se colocou em oposição a obra de Cristo, e para seu tormento e angústia é que Satanás assistiu o sucesso do desenrolar da obra de Cristo.

Satanás, então, conhece muito sobre Deus e Sua obra. Ele conhece o paraíso de primeira-mão. Ele conhece o inferno também, com conhecimento pessoal como seu primeiro morador, e tem experimentado seus tormentos por todos estes milhares de anos. Ele deve ter um grande conhecimento bíblico; ou pelo menos, podemos ver que ele conhecia o bastante para objetivar tentar nosso Salvador. Além disso, ele esteve por muitos anos estudando os corações dos homens, seu campo de batalha onde luta contra nosso Redentor. Quais trabalhos, esforços e cuidados o Diabo teve ao longo dos séculos para levar os homens ao engano. Só um ser com seu conhecimento e experiência da obra de Deus, e do coração humano, poderia imitar assim a verdadeira religião e transformar-se em um anjo de luz (2 Coríntios 11:14).

Portanto, podemos ver que não é por alguma quantidade de conhecimento acerca de Deus e da religião que podemos provar que uma pessoa foi salva dos seus pecados. Um homem pode falar sobre a Bíblia, Deus e a Trindade. Ele pode ser capaz de pregar um sermão sobre Jesus Cristo e tudo o que Ele tem feito. Imagine, alguém pode falar sobre o caminho da salvação e a obra do Espírito Santo nos corações dos pecadores, talvez até o suficiente para mostrar a outros como se tornarem Cristãos. Todas estas coisas podem edificar a igreja e iluminar o mundo, mas ainda assim não são uma prova segura da graça salvadora de Deus no coração de uma pessoa.

Também pode-se ver que o mero fato de uma pessoa concordar com a Bíblia não é um sinal seguro da salvação. Tiago 2:19 mostra que os demônios realmente, verdadeiramente, acreditam na verdade. Assim como eles crêem que há um só Deus, eles concordam com toda a verdade da Bíblia. O Diabo não é um herege: todos os artigos de sua fé estão firmemente estabelecidos na verdade.

Deve ser entendido que quando a Bíblia fala sobre crer que Jesus é o Filho de Deus, como uma prova da graça de Deus nos corações, não significa um mero assentimento da verdade, mas um outro tipo de crença. “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1 João 5:1). Este outro tipo de crença é chamado de “a fé dos eleitos de Deus e o conhecimento da verdade que conduz a santidade” (Tito 1.1). Há uma firmeza espiritual na verdade, a qual será explicada mais tarde.

Objeção #1 – As Pessoas São Diferentes dos Demônios

Algumas Pessoas têm fortes experiências religiosas e pensam nelas como uma prova da obra de Deus em seus corações. Freqüentemente tais experiências dão as pessoas uma noção da importância do mundo espiritual, e da realidade das coisas divinas. Todavia, estas também não são provas seguras da salvação. Demônios e seres humanos condenados possuem muitas experiências espirituais as quais produzem um grande efeito sobre as atitudes de seus corações. Eles vivem no mundo espiritual e vêem em primeira-mão como ele é. Seus sofrimentos os revelam o valor da salvação e de uma alma humana na forma mais poderosa imaginável. A parábola em Lucas capítulo 16 ensina isto claramente, o modo como o homem em sofrimento pede para que Lázaro seja enviado para contar aos seus irmãos que evitem este lugar de tormento. Sem dúvida as pessoas no inferno têm agora uma idéia distinta sobre a vastidão da eternidade e a brevidade da vida. Eles estão completamente convictos de que todas as coisas desta vida são totalmente sem importância quando comparadas as experiências do mundo eterno. As pessoas agora no inferno possuem um elevado senso da preciosidade do tempo, e das maravilhosas oportunidades que têm aqueles que possuem o privilégio de ouvir o Evangelho. Eles estão completamente conscientes da tolice de seus pecados, de negligenciar as oportunidades e ignorar os avisos de Deus. Quando os pecadores descobrem por experiência própria o resultado final de seus pecados, há “choro e ranger de dentes” (Mat 13:42). Assim, mesmo as mais poderosas experiências religiosas não são um sinal seguro da graça de Deus no coração.

Os demônios e as pessoas condenadas também possuem um forte senso da majestade e do poder de Deus. O poder de Deus é mais claramente apresentado através da execução da vingança divina sobre os Seus inimigos. “E se Deus, querendo mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os objetos de sua ira, preparados para a destruição?” (Rm 9:22). Estremecendo, os demônios aguardam sua punição final, sob o mais forte senso da majestade de Deus. Isto, eles o sentem agora, é claro, mas no futuro isto será mostrado no mais elevado grau, quando o Senhor Jesus “for revelado do céu no fogo ardente com seus anjos poderosos” (2 Tes 2:7). Naquele dia eles desejarão fugir para se esconderem da presença de Deus. “Olhe, ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele” (Ap 1:7). Então todos O verão na glória de Seu Pai. Mas, obviamente, nem todos os que o virem serão salvos.

Objeção #2 – As Pessoas Podem Ter Sentimentos Religiosos Que os Demônios Não Podem

Agora, é possível que algumas pessoas possam se opor a tudo isto, dizendo que os homens ímpios deste mundo são bastante diferentes dos demônios. Eles estão sob circunstâncias diferentes e são tipos diferentes de seres. Um objetor pode dizer: “Essas coisas que são visíveis e presentes para os demônios, são invisíveis e futuras para os homens. Além disso, as pessoas têm a desvantagem de possuírem corpos, os quais restringem a alma e as impedem de ver estas coisas espirituais em primeira-mão. Portanto, mesmo que os demônios tenham um grande conhecimento e uma experiência pessoal sobre as coisas de Deus, e não possuam graça, a conclusão não se aplica a mim”. Ou, dito de outra maneira: se as pessoas têm essas coisas nesta vida, isto pode muito bem ser um sinal claro da graça de Deus em seus corações.

Em resposta, foi acordado que o homem nesta vida jamais teve estas coisas no grau que os demônios as têm. Ninguém jamais estremeceu, com a mesma quantidade de medo, como estremecem os demônios. Nenhum homem, nesta vida, pode, sequer, ter o mesmo tipo de conhecimento que o Diabo possui. É evidente que os demônios e os homens condenados entendem a vastidão da eternidade e a importância do outro mundo mais do que qualquer pessoa viva, e assim, eles desejam a salvação e tudo mais.

Mas nós podemos ver que os homens neste mundo podem ter o mesmo tipo de experiências que os demônios e os homens condenados possuem. Eles têm a mesma atitude mental, as mesmas opiniões e emoções e os mesmos tipos de impressões em seus corações e mentes. Observe que, para o apóstolo Tiago, isto é um argumento convincente. Ele afirma que se as pessoas pensam que crer que há um só Deus é prova da graça de Deus, elas estão enganadas, pois os demônios crêem do mesmo jeito. Tiago não está se referindo ao ato de crer somente, mas às ações e emoções que também acompanham suas crenças. Estremecer é um exemplo das emoções do coração. Isto mostra que se as pessoas possuem a mesma atitude mental e respondem, de coração, da mesma maneira, isto não é um sinal seguro da graça.

A Bíblia não relaciona quantas pessoas neste mundo podem ver a gloria de Deus e não ter a graça de Deus em seus corações. Não nos é dito exatamente em qual grau Deus se revela a certas pessoas, e quantas delas responderão em seus corações. É muito tentador dizer que se uma pessoa tem certa quantidade de experiências religiosas, ou uma certa quantidade de verdade, ela deve ser salva. Talvez seja mesmo possível para algumas pessoas não salvas ter experiências maiores que alguns daqueles que possuem a graça em seus corações. Portanto, é errado olhar para a experiência ou conhecimento em termos de quantidade. Homens que possuem uma genuína obra do Espírito Santo em seus corações têm experiências e conhecimento de um tipo diferente.

Verdadeiras Experiências Espirituais Possuem uma Origem Diferente

Neste ponto, alguém poderia responder a estas reflexões dizendo: “Eu concordo com você. Eu vejo que crer em Deus, observar Sua majestade e santidade, e saber que Jesus morreu por pecadores não é prova da graça de Deus em meu coração. Eu concordo que demônios podem conhecer estas coisas também. Mas eu tenho algumas coisas que eles não têm. Eu tenho alegria, paz e amor. Demônios não podem tê-las, de modo que isto mostra que eu sou salvo”.

Sim, é verdade que você tem algumas coisas além das que um demônio pode ter, mas isso não significa que você tenha algo melhor do que um demônio poderia ter. Uma experiência pessoal de amor, alegria, etc., pode acontecer, não por haver neles qualquer causa que seja diferente da de um demônio, mas apenas por circunstâncias diferentes. As causas, ou origens, de seus sentimentos são as mesmas. É por isso que essas experiências não são melhores que as de um demônio. Para explicar melhor: Todas as coisas que foram discutidas anteriormente sobre demônios e pessoas condenadas, são levantadas por duas causas principais: o entendimento natural e o amor-próprio. Quando pensam sobre si mesmos, essas duas coisas são o que determinam seus sentimentos e respostas. O entendimento natural os mostra que Deus é santo, enquanto eles são pecaminosos. Deus é infinito, mas eles são limitados. Deus é poderoso, eles são fracos. O amor-próprio lhes dá um senso da importância da religião, do mundo eterno e um posterior desejo de salvação. Quando estas duas causas trabalham juntas, demônios e homens condenados se tornam conscientes da impressionante majestade de Deus, pelo qual eles sabem que serão julgados. Eles sabem que o julgamento de Deus será perfeito e que suas punições serão eternas. Portanto, essas duas coisas juntas ao senso que eles possuem, os conduz a angústia acerca do dia do julgamento, quando eles verão a aparente glória de Cristo e dos Seus santos.

A razão pela qual, hoje, muitas pessoas sentem alegria, paz e amor, enquanto os demônios não, podem estar mais ligada as suas circunstâncias do que a qualquer diferença em seus corações. As causas em seus corações são as mesmas. Por exemplo: o Espírito Santo está agora trabalhando no mundo, impedindo que toda a humanidade seja tão perversa quanto poderia ser (2 Tessalonicenses 2:17). Isto está em contraste com os demônios, os quais são sempre tão perversos quanto podem ser. Além disso, Deus em sua misericórdia concede dons a todas as pessoas, tais como a chuva para as lavouras (Mt 5:45), o calor do sol, etc. Não só isto, mas freqüentemente as pessoas recebem muitas coisas na vida que lhes traz felicidade, tais como relacionamentos pessoais, prazeres, música, boa saúde e assim por diante. Mais importante que tudo isto, muitas pessoas têm ouvido boas novas de esperança: Deus enviou um Salvador, Jesus Cristo, o qual morreu para salvar pecadores. Nestas circunstâncias, o entendimento natural das pessoas pode levá-las a sentirem coisas que os demônios jamais serão capazes.

Amor-próprio é uma força poderosa nos corações dos homens, forte o bastante para, mesmo sem a graça, levar as pessoas a amarem aqueles que as amam, “Mas se você ama aqueles que o amam, que mérito há nisso para você? Porque até pecadores amam aqueles que os amam” (Lucas 6:32). É uma coisa natural para uma pessoa que vê Deus sendo misericordioso, e que sabe que não é tão mal quanto poderia ser, concluir, por tanto, que o amor de Deus é para ele. Se seu amor por Deus vem apenas de seus sentimentos acerca de que Ele o ama, ou porque você tem ouvido que Cristo morreu por você, ou algo similar, a fonte de seu amor a Deus é apenas amor-próprio. Isto reina nos corações dos demônios também.

Imagine a situação dos demônios. Eles sabem que não há restrições a sua maldade. Eles sabem que Deus é seu inimigo e sempre será. Embora eles estejam sem qualquer esperança, eles continuam ativos e lutando. Apenas pense: e se eles tivessem algo da esperança que as pessoas têm? E se os demônios, com seus conhecimentos sobre Deus, tivessem sua maldade restringida? Imagine se um demônio, após todo o seu pavor acerca do julgamento de Deus, repentinamente fosse levado a imaginar que Deus pudesse ser seu amigo? Que Deus pudesse perdoá-lo e levá-lo, com pecado e tudo, para o céu? Oh que alegria, que maravilha, que gratidão nós veríamos! Não seria este demônio levado a amar grandemente a Deus, pois, afinal de contas, todos amam aqueles que lhes ajudam? O que mais poderia causar sentimentos tão poderosos e sinceros? É de se admirar que tantas pessoas estejam tão enganadas assim? Especialmente porque as pessoas têm os demônios para promoverem esta ilusão. Eles têm promovido isto por muitos séculos e, infelizmente, são muito bons nisso.

Uma Verdadeira Experiência Espiritual Transforma o Coração

Agora nós chegamos a questão: Se todas essas várias experiências e sentimentos provêm de nada além do que aos demônios é possível, quais os tipos de experiências que são verdadeiramente espirituais e santas? O que eu devo encontrar no meu coração como uma prova segura de que a graça de Deus está lá? Quais as diferenças que as mostram como sendo do Espírito Santo?

Esta é a resposta: Os sentimentos e experiências que se mostram como um bom sinal da graça de Deus no coração, diferem das experiências dos demônios em sua origem e em seus resultados.

Sua fonte é o senso da irresistível santidade, beleza e amabilidade das coisas de Deus. Quando uma pessoa agarra em sua mente, ou, melhor ainda, quando ela sente seu próprio coração mantido em cativeiro pela atratividade do Divino, este é um sinal inconfundível de que Deus está trabalhando.

Os demônios e os condenados no inferno não experimentam agora, nem jamais experimentarão um pouquinho sequer disso. Antes de sua queda, os demônios possuíam esse sentimento sobre Deus, mas em sua queda, eles o perderam, a única coisa que eles poderiam perder de seu conhecimento sobre Deus. Temos visto como os demônios têm idéias muito claras acerca de quão poderoso Deus é, Sua justiça, santidade e assim por diante. Eles conhecem um monte de fatos sobre Deus. Mas agora eles não têm um vestígio sobre como Deus é. Eles não podem saber como Deus é mais do que um homem cego pode saber sobre cores! Demônios podem ter um forte senso sobre a impressionante majestade de Deus, mas eles não vêem Seu encanto. Eles têm observado Sua obra entre a raça humana por estes milhares de anos, certamente com máxima atenção, mas eles nunca enxergam um vislumbre de Sua beleza. Não importa o quanto eles conheçam sobre Deus (e temos visto que eles realmente sabem muito), o conhecimento que eles possuem nunca os levará ao elevado conhecimento espiritual de como Deus é. Pelo contrário, quanto mais eles sabem sobre Deus, mais eles O odeiam. A beleza de Deus consiste primariamente em sua santidade, ou excelência moral, e isto é o que eles mais odeiam. É pelo fato de Deus ser santo que os demônios O odeiam. Alguém poderia supor que se Deus fosse menos santo, os demônios O odiariam menos. Não duvido que os demônios odiassem qualquer Ser santo, não importando o quão diferente Ele fosse. Mas, eles certamente odeiam este Ser, mais do que tudo, por sua infinita santidade, infinita sabedoria e infinito poder!

Pessoas perversas, incluindo as que estão vivas hoje, verão no dia do julgamento tudo o que se há para ver em Jesus Cristo, exceto Sua beleza e encanto. Não há nenhuma coisa sobre Cristo que nós possamos pensar que não será estabelecida diante deles na mais forte luz daquele dia brilhante. Os ímpios verão Jesus “vindo nas nuvens com grande poder e glória” (Marcos 13:26). Eles verão sua glória externa, a qual é muito, muito maior do que nós possamos imaginar agora. Você sabe que os ímpios serão totalmente convencidos de tudo o que Cristo é. Eles serão convencidos sobre Sua onisciência, quando virem seus pecados recapitulados e avaliados. Eles conhecerão em primeira-mão a justiça de Cristo, quando suas sentenças forem anunciadas. Sua autoridade se fará inteiramente convincente quando todo joelho se dobrar e toda língua confessar Jesus como Senhor (Filipenses 2:10,11). A divina majestade será impressa sobre eles de maneira completa e eficaz, quando os ímpios forem despejados no próprio inferno e entrarem em seu estado final de sofrimento e morte (Ap 20:14,14). Quando isto acontecer, todo seu conhecimento sobre Deus, tão verdadeiro e poderoso quanto possa ser, não valerá nada, e menos que nada, porque eles não verão a beleza de Cristo.

Portanto, é essa visão da beleza de Cristo que faz a diferença entre a graça salvadora e a experiência dos demônios. Esta visão ou percepção é o que torna a verdadeira experiência cristã diferente de tudo o mais. A fé do povo eleito de Deus é baseada nisto. Quando uma pessoa vê a excelência do Evangelho, ela percebe a beleza e o encanto do plano divino da salvação. Sua mente está convencida de que isto é de Deus, e ele crê nisto de todo o seu coração. Como o apóstolo Paulo diz em 2 Coríntios 4:34: “mesmo se nosso evangelho estiver encoberto, está encoberto para aqueles que estão perecendo. O deus desta era tem cegado o entendimento dos incrédulos, para que eles não possam ver a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus”. Ou seja, como foi explicado anteriormente, descrentes podem ver que há um evangelho, e compreender os fatos sobre ele, mas eles não verão a sua luz. A luz do evangelho é a glória de Cristo, Sua santidade e beleza. Logo após isto, lemos 2 Cor 4:6: “Pois Deus, que disse: ‘Deixe das trevas brilhar a luz’, fez Sua luz brilhar em nossos corações para nos dar a luz do conhecimento da gloria de Deus na face de Cristo”. Claramente, é esta luz divina, brilhando em nossos corações, que nos capacita a ver a beleza do evangelho e ter uma fé salvadora em Cristo. Esta luz sobrenatural nos mostra a superlativa beleza e amabilidade de Jesus, e nos convence de Sua suficiência como nosso Salvador. Somente um glorioso, majestoso Salvador pode ser nosso Mediador, permanecendo entre culpado, pecadores merecedores do inferno como nós, e um Deus infinitamente santo. Esta luz sobrenatural nos dá um senso de Cristo que nos convence de uma maneira que nada jamais poderia.

Genuínas Experiências Espirituais Têm Resultados Diferentes

Quando os mais vis pecadores são levados a ver a divina beleza de Cristo, já não especulam o porquê de Deus dever estar interessado neles, para salvá-los. Antes, eles não podiam entender como o sangue de Cristo podia pagar a penalidade por seus pecados. Mas agora eles podem ver a preciosidade do sangue de Cristo, e como ele é digno de ser aceito como resgate para o pior dos pecadores. Agora, a alma pode reconhecer que é aceita por Deus, não por causa de quem ela é, mas por causa do valor que Deus coloca no sangue, obediência e intercessão de Cristo. Vendo este valor e a importância dada a pobre alma culpada, o qual jamais poderá ser encontrado em qualquer sermão ou livreto.

Quando uma pessoa vem ver com seus próprios olhos o apropriado fundamento da fé e da confiança, isto é a fé salvadora. “Pois a vontade do meu Pai é que todo aquele que vê o Filho e crê nEle tenha a vida eterna” (João 6:40). “Eu o revelei aos homens que do mundo me deste. Eles eram teus, e tu os deste a mim, e eles têm obedecido a tua palavra. Agora eles sabem que tudo que tu tens me dado vem de ti. Pois Eu lhes dei as palavras que tu me deste e eles as aceitaram. Eles têm verdadeiramente conhecido que eu vim de ti, e creram que tu me enviaste” (João 17:6-8).

Esta é a visão da divina beleza de cristo que cativa a vontade e atrai os corações dos homens. Uma visão da aparente grandeza de Deus em Sua glória pode subjugar homens, e ser mais do que eles possam resistir. Isto será visto no dia do julgamento, quando os ímpios serão trazidos diante de Deus. Eles serão esmagados, sim, mas a hostilidade do coração permanecerá em plena força e a oposição da vontade continuará. Mas por outro lado, quando um único raio da moral e espiritual glória de Deus e da suprema beleza de Cristo brilha no coração, supera toda hostilidade. A alma é inclinada a amar a Deus como se por um poder onipotente, de modo que agora não apenas o entendimento, mas todo o ser recebe e abraça o amável Salvador.

Este senso da beleza de Cristo é o começo da verdadeira fé salvadora na vida do verdadeiro convertido. Isto é completamente diferente de qualquer sentimento vago de que Cristo o ama ou morreu por ele. Estes tipos de sentimentos indistintos podem causar uma espécie de amor e alegria, pois a pessoas sente uma gratidão por escapar da punição de seus pecados. Na realidade, estes sentimentos são baseados no amor próprio e não no amor a Cristo sobre todas as coisas. É triste que tantas pessoas estejam iludidas por esta falsa fé. Por outro lado, um vislumbre da glória de Deus na face de Jesus Cristo causa no coração um supremo e genuíno amor por Deus. Isso ocorre porque a luz divina mostra a excelência da beleza da natureza de Deus. Um amor baseado nisto está longe, muito acima de qualquer coisa que venha do amor-próprio, que os demônios podem ter tão bem quanto os homens. O verdadeiro amor de Deus, o qual vem desta visão de Sua beleza, causa uma espiritual e santa alegria na alma; a alegria em Deus e exultação nEle. Não há alegria em nós mesmo, mas somente em Deus.

A Visão da Beleza de Cristo – O Maior Dom de Deus!

A visão da beleza das coisas divinas causará verdadeiros desejos pelas coisas de Deus. Estes desejos são diferentes das aspirações dos demônios, as quais acontecem devido ao conhecimento que eles possuem acerca do destino que os aguarda, e que gostariam que de algum modo pudesse ser diferente. Os desejos que vêm desta visão da beleza de Cristo são desejos livres e naturais, como um bebê desejando por leite. Por esses desejos serem tão diferentes de suas imitações, eles ajudam a distinguir entre as genuínas experiências da graça de Deus e as falsas.

Falsas experiências espirituais têm a tendência de causar orgulho, o qual é o pecado especial do Diabo. “Ele não deve ser um novo convertido, ou poderá se tornar soberbo e cair sob a mesma condenação do Diabo” (1 Tm 3:6). O orgulho é o resultado inevitável da falsa experiência espiritual, ainda que esteja freqüentemente encoberto por um disfarce de grande humildade. A falsa experiência é apaixonada por si mesma e cresce em si mesma. Ela vive para se auto-promover de uma forma ou de outra. Uma pessoa pode ter grande amor por Deus e se orgulhar da grandiosidade de seu amor. Ela pode ser muito humilde e, entretanto, muito orgulhosa de sua humildade. Mas as emoções e experiências que vêm da graça de Deus são exatamente o oposto. A verdadeira obra de Deus no coração produz humildade. Ela não produz qualquer tipo de exibicionismo ou alto-exaltação. Esse senso da impressionante, santa e gloriosa beleza de Cristo mata o orgulho e humilha a alma. A visão da beleza de Deus, e isto somente, revela a alma sua própria feiúra. Quando uma pessoa realmente compreende isso, ela inevitavelmente começa um processo de fazer Deus maior e maior, e a si mesma menor e menor.

Outro resultado da obra da graça de Deus no coração é que a pessoa odiará o mal e responderá a Deus com coração e vida santificados. Falsas experiências podem gerar uma certa quantidade de zelo, e até mesmo uma grade porção do que comumente é chamado de religião. No entanto, não é um zelo pelas boas obras. Sua religião não é um serviço de Deus, mas sim um serviço de si mesmo. Este é o modo como o apóstolo Tiago o coloca no contexto: “Você crê que há um só Deus. Bom! Até os demônios crêem que estremecem. Você homem insensato, quer provas de que a fé sem obras é inútil?” (Tiago 2:19,20). Em outras palavras, as boas obras são a evidência da genuína experiência da graça de Deus no coração. “Sabemos que temos vindo a conhecê-lo se obedecemos os seus mandamentos. Aquele que diz: ‘Eu o conheço’, mas não faz o que ele manda é um mentiroso, e a verdade não está nele” (1 João 2:34). Quando o coração tem sido arrebatado pela beleza de Cristo, de que outra forma pode ele responder?

Parte Final

Quão excelente é esta bondade interna e verdadeira religião que vem desta visão da beleza de Cristo! Aqui você tem as mais maravilhosas experiências dos santos e anjos do céu. Aqui você tem a melhor experiência do próprio Jesus Cristo. Mesmo que sejamos meras criaturas, isto é um tipo de participação na própria beleza de Deus. “Pelas quais ele nos tem dado suas grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas vos torneis participantes da natureza divina” (2 Pe 1:4). “Deus nos disciplina para o nosso bem, para que possamos participar de sua santidade” (Hb 12:10). Devido ao poder desta obra divina, há uma habitação mutua de Deus e Seu povo. “Deus é amor. Quem vive em amor vive em Deus, e Deus nele” (1 Jo 4.16).

Esse relacionamento especial tem de fazer da pessoa envolvida tão feliz e abençoada quanto qualquer criatura na existência. Isto é uma dádiva especial de Deus, a qual Ele dá apenas, e especialmente, aos seus favoritos. Ouro, prata, diamantes, terras e reinos são dados por Deus a pessoas que a Bíblia chama de cães e porcos. Mas esta grande dádiva de contemplar a beleza de Cristo é a benção especial de Deus para seus mais queridos filhos. Carne e sangue não podem doá-la, somente Deus a pode conceder. Este foi o dom especial pelo qual Cristo morreu para obter em favor de Seus eleitos. Este é o mais alto símbolo do seu amor eterno, o melhor fruto de seus labores e a mais preciosa aquisição de seu sangue.

Por esta dádiva, mais do que por qualquer outra coisa, os santos brilham como luzes no mundo. Esta dádiva, mais do que qualquer outra coisa, é o conforto deles. É impossível que a alma que possua este dom, possa sequer perecer. Este é o dom da vida eterna. É o começo da vida eterna; aquele que o possui jamais poderá morrer. É a manifestação da luz da glória. Este dom vem do céu, ele tem uma qualidade celestial, e levará seu portador ao paraíso. Aqueles que possuem este dom podem vagar pelo deserto ou ser lançados nas ondas do oceano, mas alcançarão o paraíso no final. Lá a centelha celeste será aperfeiçoada e aumentada. No céu, as almas dos santos serão transformadas em uma chama brilhante e pura, e eles resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. Amém.

(Extraído do sermão: "How to Know if You Are A Real Christian" [Como Saber se Você é um Cristão de Verdade], originalmente intitulado: "True Grace Distinguished from the Experience of Devils" de 1752, modificado para o inglês moderno em 1994 por William Carson; Acessado em 23 de fevereiro de 2011, as 14hs13min, em: http://www.puritansermons.com/sermons/edwards1.htm#top ).

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O que é a Nadere Reformatie?

Este texto foi extraído do prefácio à série “Classics of Reformed Spirituality” (editada por Joel R. Beeke), presente no livro “The Path of True Godliness” de Willem Teellinck (TEELLINCK, Willem, The Path of True Godliness, Reformation Heritage Books, Leonard St., NE, 2006, p. 7 – 9. Classics of Reformed Spirituality Series).

Tradução por Nelson Ávila.


A Nadere Reformatie (um termo traduzido no inglês tanto como a “Segunda Reforma Holandesa” como a “Reforma Posterior”) é paralela ao desenvolvimento histórico e espiritual do Puritanismo Inglês nos séculos dezessete e dezoito. De seus professores veio o lema da piedade pós-Reforma: Ecclesia reformata semper reformanda (“A igreja sendo sempre reformada”).

Os proponentes da Nadere Reformatie usaram a frase para indicar seu comprometimento com as reformas doutrinárias e eclesiológicas da Reforma do século dezesseis, bem como ao avanço da reforma da igreja. Suas intenções não eram alterar a doutrina Reformada. Antes, eles propunham uma vida de piedade baseada sobre a doutrina das igrejas Reformadas que, em geral, impactaria todas as esferas da vida.

As escolas holandesas responsáveis por um periódico sobre a Nadere Reformatie recentemente formularam a seguinte definição do movimento:

A Segunda (ou “Posterior”) Reforma Holandesa é um movimento dentro da Igreja Reformada Holandesa durante os séculos dezessete e dezoito, o qual, como uma reação ao declínio ou ausência de uma fé viva, fez de ambas, a experiência pessoal da fé e da piedade, questões de importância central. A partir desta perspectiva, o movimento formulou substanciais e processuais iniciativas de reforma, submetendo-as aos órgãos competentes, eclesiástico, político e social, e perseguiram essas iniciativas através de uma reforma adicional da igreja, sociedade e estado tanto em palavra como em ação. 1

Para promover sua atividade pessoal, espiritual, eclesiástica e de reforma social, os escritores da Nadere Reformatie produziram algumas das mais refinadas e profundas literaturas da tradição Protestante. Ademais, pelo fato da piedade Reformada Holandesa ter surgido da ortodoxia Reformada e incluir entre seus fundadores e expoentes muitos teólogos ortodoxos eruditos ¾ tais como Gisbertus Voetius, Petrus van Mastricht e Johannes Hoornbeeck ¾ as obras da Nadere Reformatie não dão evidências do tipo de antagonismo entre teologia e piedade pertencentes à fase Pietista do Luteranismo Alemão. Em vez disso, os proponentes da Nadere Reformatie ofereceram um balanço de doutrina e piedade, bem como de teologia e vida, que raramente tem sido igualado na história da igreja.

A Nadere Reformatie tem sido geralmente negligenciada nos círculos de fala inglesa, devido à falta de fontes primárias em inglês. As obras de Jean Taffin e Willem Teellinck, dois dos primeiros autores da Nadere Reformatie, foram traduzidas para o inglês no fim do século dezesseis e início do século dezessete, mas essas traduções, agora antiquadas, não têm reaparecido em tempos mais recentes. Além disso, o conjunto maior das obras de dogmáticos famosos tais como Voetius e Hoornbeeck, ou de pastores tais como Theodorus à Brakel, Jacobus Koelman, Jodocus van Lodenstein, Wilhelmus Schortinghuis e Godefridus Udemans permanecem não traduzidas até agora. Duas exceções são o ABC of Faith de Alexander Comrie, primeira publicação em inglês em 1978, e Christian´s Reasonable Service de Wilhelmus à Brakel, traduzido para o inglês e publicado em quatro volumes em 1992 – 95.

A presente série aborda a necessidade de outras traduções desses “velhos escritores”, como são afetuosamente chamados, em holandês, por aqueles que os conhecem. Ela também contribui significativamente com insights bíblicos e históricos para a ênfase contemporânea sobre discipulado e espiritualidade.

Nesta série, os editores e tradutores apresentam uma amostra representativa dos escritos deste vibrante movimento, juntamente com introduções que abrem tanto os textos como as vidas dos vários autores para o leitor moderno. A série é destinada a leitores leigos bem como a pastores e estudiosos, todos os quais devem ser beneficiados com esta introdução a literatura do movimento da Nadere Reformatie, tanto quanto os Holandeses têm se beneficiado das traduções de numerosas obras de Puritanos Ingleses para sua língua.

Em nome da Dutch Reformed Translation Society,

Joel Beeke

James A. De Jong

Richard Muller

Eugene Osterhaven

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1 Documentatieblad Nadere Reformatie 19 (1995): 108.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A EDUCAÇÃO E VIDA FAMILIAR DE WILLEM TEELLINCK

Escrito por Joel R. Beeke como parte da introdução ao livro The Path of True Godliness (TEELLINCK, Willem, The Path of True Godliness, Reformation Heritage Books, Leonard St., NE, 2006, p. 12 – 15. Classics of Reformed Spirituality Series).

Tradução por Nelson Ávila.


Willem Teellinck nasceu em 04 de Janeiro de 1579 em Zerikzee, a principal cidade sobre a ilha de Duiveland, Zeeland, numa piedosa e proeminente família. Ele era o mais jovem de oito crianças. Seu pai, Joost Teellinck (1543 – 94), que serviu como prefeito de Zerikzee dois anos antes do nascimento de Willem, morreu quando Willem tinha quinze anos de idade. Sua mãe, Johanna de Jonge (1552 – 1609), viveu quinze anos após a morte de seu marido, mas estava freqüentemente enferma quando Willem era jovem. Willem foi bem educado em sua juventude; ele estudou Direito em St. Andrews na Escócia (1600) e na Universidade de Poitiers na França, onde obteve um doutorado em 1603.

Nos anos seguintes ele gastou nove meses com a comunidade Puritana na Inglaterra. Seu alojamento com uma piedosa família em Banbury e sua exposição à piedade Puritana ¾ vivida através de extensa adoração familiar, oração privada, discussões de sermões, observância do Sabbath, jejum, comunhão espiritual, auto-exame, piedade sincera e boas obras ¾ o impressionaram profundamente. Naquele tempo, o cântico de Salmos podia ser ouvido onde quer que uma pessoa caminhasse em Banbury, particularmente nos dias do Sabbath. Aqueles Puritanos não se sentiam em casa na igreja estabelecida; eles acreditavam que a Reforma havia trazido pouca mudança para a Inglaterra, e admiravam grandemente o modelo da Genebra de Calvino para a igreja, sociedade e vida familiar. Puritanos piedosos na Inglaterra tais como John Dod (falecido em 1645) e Arthur Hildersham (1563 – 1632) foram seus mentores, e as pessoas viviam o que estes teólogos ensinavam. Teellinck posteriormente escreveria sobre os frutos de suas vidas santas: “O caminhar cristão deles era tal que convencia até seus inimigos mais amargos da profunda1 sinceridade de sua fé e prática. Os inimigos viam a fé que atua poderosamente através do amor, demonstrada na honestidade de suas relações comerciais, obras de caridade para com os pobres, visitando e confortando os doentes e oprimidos, educando os ignorantes, convencendo os que erram, punindo o perverso, reprovando o preguiçoso e encorajando o devoto. E tudo isso era feito com diligência e sensibilidade, bem como com alegria, paz e felicidade, que ficava óbvio que o Senhor estava com eles.”

Teellinck acreditava que o Senhor o havia convertido na Inglaterra. Um zelo pela verdade de Deus e a piedade Puritana que jamais se extinguira nasceu em seu coração. Ele entregou sua vida ao Senhor e considerou mudar seu campo de estudos para a teologia. Após consultar alguns teólogos astutos na Inglaterra e passar um dia de oração e jejum com seus amigos, Teellinck decidiu estudar teologia em Leiden. Ele foi educado lá por dois anos sob Lucas Trelcatius (1542 – 1602), Franciscus Gomarus (1563 – 1641) e James Arminius2 (1560 – 1609). Ele se sentiu mais ligado a Trelcatius e tentou se manter neutro nas tensões que se desenvolveram entre Gomarus e Arminius.

Enquanto na Inglaterra, Teellinck conheceu Martha Greendon, uma jovem mulher Puritana de Derby, que se tornou sua esposa. Ela compartilhava o objetivo da vida de Teellinck de viver a praxis pietatis (“prática da piedade”) Puritana bem como no trabalho paroquial. Seu primeiro filho, Johannes, morreu na infância. Eles foram então abençoados com três filhos ¾ Maximiliaan, Theodorus e Johannes ¾ e todos eles se tornaram ministros Reformados com ênfases similares as de seu pai. Eles também tiveram duas filhas: Johanna, que casou com um ministro Inglês, e Maria, que casou com um político funcionário em Middelburg. O filho mais velho, Maximilliaan, se tornou pastor da igreja de língua inglesa em Vlissingen em 1627, e então serviu em Middelburg até sua morte em 1653. Willem Teellinck não viveu para ver seus jovens filhos ordenados ao Ministério. Nenhum de seus filhos se tornou tão renomado quanto seu pai, embora Johannes tenha atraído alguma atenção como pastor em Utrecht através de seu livro Den Vruchtbaarmakende Wijnstock (Cristo, a Videira Frutífica) e um sermão sobre as promessas de Deus. Em ambos ele tentou mover a Segunda Reforma numa direção mais objetiva.

Teellinck edificou sua família por seu exemplo piedoso. Ele era hospitaleiro e filantrópico, ainda ressaltou a simplicidade na mobília, vestuário e alimentação. Ele geralmente dirigia a conversa na hora das refeições numa direção espiritual. Conversa tola não era tolerada. A adoração familiar era escrupulosamente praticada à maneira Puritana. Uma vez por semana, Teellinck convidava alguns dos mais piedosos membros de sua congregação para se juntar à sua família nas devoções. Durante a noite, convidados eram sempre bem-vindos e esperados para participar da adoração familiar. Uma ou duas vezes por ano, os Teellincks observavam um dia em família de oração e jejum. Teellinck considerava esta prática como útil para levar a si mesmo e sua família à dedicarem-se inteiramente a Deus.


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1 A palavra traduzida aqui por “profunda” aparece como “wholeheartedness” no original, e foram descartadas as traduções mais óbvias (e corretas) como “sinceridade” e (literalmente/etimologicamente) “todo o coração” (whole/heart) para evitar redundância. Entendo que o objetivo do autor era a ênfase e por isso minha escolha por “profunda” (N. do T.).

2 James Arminius é o mesmo Jacobus Armínius, o pai do Arminianismo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O PROGRESSO DA REVELAÇÃO (Geral e Especial): Um novo olhar sobre o Capítulo 1 da CFW.


Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”.(CFW cap.1 seção1)

Esta seção da Confissão de Fé de Westminster (CFW) traça um paralelo digno de nota acerca da progressão da revelação de Deus no decurso da história. Os puritanos que a escreveram (sec. XVII), iniciaram seu texto abordando a questão da Revelação Geral e o modo como esta é capaz de manifestar “a bondade, a sabedoria e o poder de Deus” de modo que “os homens” fiquem “inescusáveis” diante dEle, “contudo”, esta revelação não é suficiente “para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação”, pois, como escreveu o pastor Kenneth D. Macleod, “o máximo que aprendemos sobre Deus por meio da criação é extremamente limitado [já que ela] não nos pode dar conhecimento sobre o livramento de nossa condição pecaminosa”1.

“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gen 1.1) e por meio desta criação, a primeira da qual temos relato nas Escrituras, Ele providenciou um meio pelo qual pudesse ser conhecido e adorado. Esta revelação (Geral) era suficiente para estabelecer um relacionamento correto entre criatura e Criador, de forma que tudo o que o homem precisava saber acerca de Deus encontrava-se bem diante de seus olhos.

Lemos no livro de Salmos que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sal 19.1); lemos ainda que “os céus proclamam a justiça dele” (Sal 50.6 a), de sorte que o simples ato de olhar para o céu já revela o Glorioso e Justo Deus, Criador de todas as coisas. O ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln (1809 – 1865) expressou essa realidade com as seguintes palavras: “Acho impossível que um indivíduo contemplando o céu possa dizer que não existe um Criador”.

Paulo, escrevendo aos romanos acerca da Revelação Geral de Deus, declara que “os Seus atributos invisíveis, Seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles [os homens] são inescusáveis” (Rom 1.20). Todavia, mesmo cercado por esta grande obra revelacional de Deus, desde a Queda o homem tem se tornado insensível e incapaz de, “mediante as coisas criadas” (Revelação Geral), aproximar-se do Criador que o formou, “por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade”. Devido a situação corrupta em que o homem encontrou-se após Adão (morto em delitos e pecados – Ef. 2.1; cego – 2 Pe. 1.9; inimigo de Deus – Rm. 5.10; Filho da ira – Ef. 2.3; etc.), fez-se necessário não só um Salvador, mas um meio mais claro pelo qual pudesse chegar ao conhecimento de sua própria situação lastimável e da necessidade deste Salvador.

Gostaria de observar que embora falando em termos de necessidade (da parte de Deus), ou seja, de fazer-se necessária uma revelação mais completa (Revelação Especial), o prof. Hermann Bavinck explicou: “Essa necessidade deve ser entendida corretamente. Ela não significa que Deus foi obrigado ou forçado, seja internamente pela razão de Seu ser, seja externamente pelas circunstâncias, a revelar-se de uma forma especial. Toda revelação, especialmente aquela que vem a nós em Cristo, através das Escrituras, é um ato da Graça de Deus, um livre uso da Sua vontade, e uma manifestação de Seu imerecido favor. Portanto, nós podemos falar da necessidade ou da indispensabilidade da revelação especial somente no sentido de que tal revelação está indissoluvelmente conectada com o propósito que Deus em Si mesmo designou para sua criação”2. Talvez para evitar qualquer má compreensão, os autores da CFW preferiram utilizar a expressão: foi o Senhor servido” ao invés de fazer qualquer referência a necessidades, o que esboça a idéia de maneira mais excelente.

O fato é que chegamos a um ponto em que devemos considerar que “Se o prazer de Deus é restaurar a criação devastada pelo pecado e recriar o homem à Sua imagem e fazê-lo viver definitivamente na eterna bem-aventurança dos céus, então uma revelação especial é necessária. Para esse propósito a revelação geral é inadequada (...) Na revelação geral (...) o que Deus quer fazer através dEle é incitar o homem a procurá-lo, senti-lo e encontrá-lo (At 17.27), e, não o encontrando, ser indesculpável (Rm 1.20). Mas em Sua revelação especial Deus tem compaixão do homem que está extraviado e que por isso não pode encontrá-lo. Nessa revelação Deus procura o homem e Ele mesmo fala ao homem quem e o que Ele é. Ele não permite que o homem nem deduza e infira de um grupo de fatos quem Deus é. Ele mesmo fala ao homem nessas palavras: ‘Eu sou Deus’”3. É exatamente sobre isso que a CFW passa a tratar, fazendo uma apresentação, agora, da progressão da Revelação Especial de Deus e Sua conclusão nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

No curso de Sua Revelação Especial, o Senhor revelou-se “em diversos tempos e diferentes modos”, como está escrito em Hebreus 1.1,2: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho...” Bavinck ensinou a esse respeito que “A primeira expressão, ‘muitas vezes’, significa que a revelação [não] nos foi dada de forma perfeita e completa em um momento, mas através de muitos eventos sucessivos e percorreu um longo período histórico. A segunda expressão, ‘de muitas maneiras’, significa que as várias revelações divinas não foram dadas todas da mesma forma, e sim que, acontecendo em várias épocas e lugares, ela aconteceu também em diversos modos e foi dada em diferentes formas.”4 Podemos perceber estas “diferentes formas” de Deus revelar-se (de maneira “Especial”), no fato de que em algumas partes da Escritura “Ele freqüentemente aparecia a Abraão, a Moisés, ao povo de Israel no Monte Sinai, sobre o tabernáculo e no Santo dos Santos e nas colunas de nuvem e de fogo. Em outros momentos Ele transmite Sua mensagem através de anjos, especialmente através do Anjo do pacto, que traz Seu nome (Ex 23.21). Posteriormente Ele faz uso de outros meios pedagógicos para revelar-se a Israel (Pv 16.33), o Urim e Tumim (Ex 28.30). Algumas vezes Ele fala com uma voz audível, ou Ele mesmo escreve Sua lei nas tábuas do testemunho (Ex 31.18; 25.16).”5 Todas estas foram formas legítimas de Deus se revelar, mas “nestes últimos dias” Deus se utilizou de algo superior a todas as outras formas de revelação, de sorte que chegamos ao ápice da revelação divina. Tendo abandonado o uso de anjos e profetas e, portanto, cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”, “nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho...”.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1.1,14). Jesus, o logos (lógos –Verbo/Palavra) de Deus é a própria Palavra encarda do Pai. Ele é a grande revelação por meio da qual devemos viver, de forma que Toda a Bíblia Sagrada fora escrita com o único objetivo de revelá-lO a nós, para a honra e glória do Seu próprio nome. Quando Cristo veio ao mundo, a revelação plena daquilo que Deus quis que soubéssemos a Seu respeito tornou-se acessível, porém, ao cumprir as exigências da lei em prol de nossa liberdade (da maldição da lei, da escravidão do pecado e da punição eterna), fez-se necessário que Ele voltasse para junto do Pai, todavia, precisávamos viver de acordo com Seus ensinamentos (a grande Revelação Especial de Deus) e por isso Ele nos deixou a promessa: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador... Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.16,26). Surge então o questionamento: como o Consolador tem nos ensinado “todas as coisas” e nos feito “lembrar de tudo” quanto Jesus nos havia dito?

A resposta que a CFW nos dá é que “para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja (...) foi igualmente servido fazê-la escrever toda.” Semelhantemente ao modo como no passado o Espírito Santo inspirou os profetas e os levou a escrever o Antigo Testamento, no N.T. Ele inspirou os Apóstolos para nos deixar Seu testemunho infalível, autoritativo e inerrante. Como Paulo escreveu: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” Ao inspirar a mensagem dos apóstolos, bem como a dos profetas no passado (as quais são o fundamento da igreja – Ef 2.20), o Espírito/Consolador nos deu o único meio autorizado pelo qual podemos nos dirigir em nossa maneira de adorar a Deus. Lembremos que a oração de Jesus foi: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Mas existem alguns ainda que, embora esteja o Canôn Sagrado fechado e completo, não acreditam ser a Escritura suficiente. Embora ela seja o meio pelo qual somos santificados, “e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.”, muitos em nossos dias insistem em que algo mais é necessário; novas revelações! A respeito destas novas revelações (presentes principalmente no movimento pentecostal/ neopentecostal/ carismático) cito agora a esclarecedora análise do prof. Moisés C. Bezerril:

“A pergunta à qual me disponho a responder é: Até que ponto as revelações pentecostais são verídicas, levando-se em conta que muitas “coisas” acontecem no meio pentecostal? É muito comum nós ouvirmos alguém contar certa história de adivinhação que um pentecostal realizou descobrindo “coisas ocultas” da vida de alguém. A reação mais comum de quem ouve tais histórias é acreditar sem ao menos desconfiar, por terem sido contadas por uma pessoa idosa, ou pastor, ou oficial, afinal “gente que não mente”. Devemos ter em mente que o “profetismo” pentecostal moderno difere do profetismo bíblico por este trata da história da redenção, e aquele trata da vida alheia. O profetismo bíblico fez surgir as Escrituras, o profetismo moderno a fofoca. O profetismo bíblico era autoritativo, o profetismo moderno é interesseiro. O profetismo bíblico era inspirado, o profetismo moderno é humano. O profetismo bíblico estava relacionado com o mistério da encarnação, o profetismo moderno manipula o social. O profetismo deu origem a todo o conhecimento de todo o mistério da encarnação de Cristo, o profetismo moderno deu origem à mais crassa ignorância que se abateu sobre a igreja cristã depois do catolicismo romano.

A VERDADEIRA BASE SOBRE A QUAL SE FUNDAMENTA AS REVELAÇÕES PENTECOSTAIS DOS NOSSOS DIAS.

1) A falsificação

Citarei aqui alguns casos interessantes, mesmo porque os pentecostais consideram válidas “histórias” em pé de igualdade com a Bíblia. Conheci um colega que estudava comigo, e começou a freqüentar a uma igreja pentecostal; esse rapaz teve uma mudança profunda em sua vida moral, e pelo o que pude acompanhar era uma pessoa sincera (no início) que estava em busca da verdade. Esse jovem nunca conseguiu até onde eu sei sua “a segunda bênção”. Ele me contava muito triste que não sabia mais o que fazer para obter seu batismo no Espírito Santo, aquilo que todo mundo recebia, menos ele. Freqüentei muito sua igreja e percebia que até as adúlteras da igreja falavam “línguas”, mas o meu amigo não conseguia. Ele se queixava disso, porque gente suspeita dentro do movimento era “abençoada” e ele não. Acompanhei seu drama viver freqüentando reuniões sete vezes por semana, e até três vezes por dia em certos dias. Como os dias iam passando, e a pressão era muita para que meu colega falasse em “línguas”, ele resolveu falsificar, imitando sons que já tinham dado para decorar e repetir; e assim, meu colega foi reconhecido como batizado pelo Espírito Santo. A realidade que acabei de citar acima é a realidade de milhares e milhares de pentecostais no mundo inteiro. Para eles serem considerados “espirituais” é questão de honra e sobrevivência de sua própria identidade manter uma falsidade a qualquer preço.

2) Histeria psíquica

Tive duas alunas pentecostais muito interessantes. Uma, a mais nova, tinha crises de “línguas” na igreja em que arrancava os cabelos com as mãos durante a sessão glossolálica; a outra falava em línguas à hora que bem quisesse, mas sempre precedida por uma boa crise de choro. Isso acontece com boa parte dos pentecostais.

3) Engano

Conheci duas pessoas que saíram do meio pentecostal, e que me asseguraram de terem passado certo tempo ali enganados, sem nenhum discernimento teológico, mas que abandonaram por perceberem mais tarde que o pentecostalismo é uma mistura explosiva de ignorância com fenomenologia psíquica humana. Algumas pessoas passam pouco tempo no pentecostalismo porque são sinceras e verdadeiras. Aos sinceros nada acontece; muitos, porém, ainda estão enganados achando que sua interpretação é verdadeira, mas seu conhecimento é muito limitado para descobrir a verdade.

4) A tradição

Em sua maioria os pentecostais se comportam como aquela lenda da roupa invisível do rei que somente conseguiam ver quem era sábio. Evidentemente, como ninguém queria ser taxado de ignorante, todos diziam que estavam vendo a roupa invisível do rei, que na verdade estava nu. Os Mórmons afirmam receber um ardor no peito para a confirmação de que Deus falou com eles testificando-lhes ser verdadeira a igreja mórmon. Nunca vi um mórmon dizer que não recebeu esse ardor no peito depois da oração pedindo tal confirmação. O que quero dizer é que essas religiões milagreiras criam tradições muito fortes, das quais ninguém quer se sentir fora delas porque tais tradições são marginalizadoras. Todas essas tradições rotulam, avaliam, e aferem todos os membros daquele determinado grupo. É evidente que para não ficar de fora do grupo dos “espirituais”, a tradição deverá ser mantida a preço de ignorância ou falsificação. A preço de ignorância, refiro-me àqueles anciãos e jovens menos estudados e menos conhecedores da bíblia (até porque eles condenam o estudo da Bíblia, dizendo que “a letra mata”), que sua interpretação é aquilo que eles querem (ou conseguem) ver. Para esses que não sabem que as línguas da Bíblia não são as mesmas do pentecostalismo moderno, eles estão condenados a continuar para sempre no erro. A preço de falsificação, refiro-me aos gritos dos famosos pregadores pentecostais da televisão e do rádio, e outros que repetem monossílabos decorados para fingir que estão falando línguas. Como esses mestres da mentira, muitos seguem imitando sons planejados e aprendidos, os quais já são considerados muito comuns no meio pentecostal como evidência de que o Espírito Santo está agindo no meio deles. Como tais modelos são estranhos às Escrituras, o fenômeno pentecostal é pura criação humana com intenção de enganar as pessoas. Um lingüista conhecido meu fez um estudo científico das línguas faladas no movimento pentecostal e chegou à seguinte conclusão: nenhuma “língua” pentecostal consiste de fato em um idioma; no máximo os sons pentecostais correspondem a monossílabos ou palavras soltas, desprovidas de sintaxe, repetidas muitas vezes, e sem nenhum sentido inteligível. Essa definição de um lingüista apenas confirma que as “línguas” pentecostais nada têm a ver com as línguas do Novo Testamento que eram idiomas (dialektô, At 2:11), sendo por esta razão que o dom de línguas era chamado de variedade de línguas (gene glossais, I Co 12:10). Como eram idiomas, as línguas de Atos e Corinto podiam ser interpretadas (hermeneuô, At 2:11; I Co 12:10). Como as línguas pentecostais modernas não correspondem a idiomas, não há e nunca haverá quem as interprete. Não conheço ninguém que tenha dito entender alguma coisa em uma sessão de línguas pentecostais dos nosso dias; aliás, nem mesmo existe entre eles o dom de interpretação porque não há nada para ser interpretado. A questão é que a ignorância já sacralizou o fenômeno como verdadeiro, e ninguém poderá fugir dele a menos que queira ficar fora da linha dos “espirituais”. Quem tentar mudar tal visão acabará por assinar sua própria certidão de apostasia.

O SUBJETIVISMO E A AUTO-SUGESTÃO: ARMAS PERIGOSAS DO ENGANO PENTECOSTAL

As duas armas mais perigosas dos pentecostais são o subjetivismo e a auto-sujestão. As histórias são contadas já com uma interpretação a priori concebida a partir da educação pentecostal que tiveram; as coisas que acontecem entre eles consistem daquilo que aprendem na tradição, aquilo que eles mesmos ensinam e acreditam; a auto-sugestão é o princípio regulador de seus “dons” espirituais. As profecias pentecostais não têm precisão. Eles não trabalham com datas nem com fatos comprováveis por todos. Nunca vi nenhum pentecostal profetizando coisas vistas por todos. O objeto da profecia pentecostal sempre é o oculto, aquilo que só eu sei, aquilo que pode ter várias interpretações; como tudo não passa de um chute no escuro, eles acabam acertando em algo sugerido por eles mesmos. O profetismo pentecostal nada mais é do que pronunciamentos subjetivos sobre questões inaveriguáveis ao público, dirigidos para um auditório que já foi preparado e está pronto para interpretar aquilo que eles querem ver. Essa é a principal razão por que é muito comum pentecostais abandonarem o pentecostalismo, mas é praticamente nulo um reformado se tornar pentecostal. Nunca um reformado deixou a fé em sola scriptura porque Deus revelou-se a ele, como dizem os pentecostais. As revelações só acontecem em ambiente pentecostal. Por que? Não é porque só eles crêem em Deus ou têm mais fé do que os reformados; e sim porque nada daquilo existe, os pentecostais não sabem o que é a profecia nem a revelação, bem como interpretam os fatos como eles querem ver. Um colega me perguntou como eu explicaria o fato de uma pessoa receber uma revelação de um pecado que só ele sabia. Eu não tinha palavras para o momento; porém mais tarde descobri que o pecado dele era algo que ele pensava que ninguém sabia, quando na verdade muita gente já sabia. A idéia que houve uma revelação de algo da vida de alguém que só ele conhecia é um dos grandes trotes pentecostais para enganar as pessoas. Na verdade o meio pentecostal é o meio onde as pessoas mais investigam a vida alheia para monopolizar o social por meio do religioso. Onde prevalece a mentira, sempre haverá a injustiça. Um outro elemento muito presente nessas revelações certeiras é que os “profetas” ou adivinhos pentecostais trabalham com sugestão a partir do quadro que eles vêem. Se um “profeta” pentecostal percebe uma jovem lá no canto da igreja, meio desanimada, ele dirá: “Minha serva, não desanimes! Estou contigo, e não te deixarei!” Se o “profeta pentecostal” tem pistas de que alguém está mal no casamento, ele dirá: “Filha minha, tenho grande vitória para o teu casamento”. Se uma “profetiza pentecostal” percebe que um rapaz está paquerando sua filha quarentona desejosa de um casamento, ela dirá: “Filho meu, eis que ponho no teu caminho jóia preciosa com quem te casarás.” Se um desses “profetas” percebe que alguém está doente, ansioso, aflito, deprimido, choroso, abatido, desanimado, desempregado, ou em qualquer outra situação crítica, suas profecias sempre serão interpretadas como certeiras por aqueles que receberam a palavra do tal profeta; isso porque já acreditam ser aquilo uma profecia ou revelação verdadeira. Profecia que tem sua origem numa sugestão não pode ser verdadeira. Podemos definir a sugestão humana como a verdadeira natureza do profetismo pentecostal moderno. Portanto, a garantia de ser verdade aquilo que é contado pelo próprio pentecostal é praticamente nula.

O VATICÍNIO É CONDENADO PELA PALAVRA DE DEUS

Como já discutimos a natureza da revelação pentecostal, é hora de perguntar-se se o modelo revelacional pentecostal é algo bíblico. Um único lugar no Novo Testamento onde encontramos uma pessoa revelando a vida dos outros é em Atos 16:16, quando uma mulher possessa por um espírito imundo fazia confirmação do ministério apostólico. Qual a garantia que eu tenho de que as pessoas que estão revelando os segredos alheios não sejam ministros de satanás para operar o erro dentro da igreja e no mundo, já que essa prática foi proibida tanto no Velho e quanto no Novo Testamento? “Porque estas nações que há de possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor, teu Deus, não permitiu tal coisa.” (Dt 18:14) “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos.” II Co 5:7 Algo constatado no pentecostalismo é que as “verdades” pentecostais nunca fazem parte da vida dos mais sinceros; estes vivem depressivos, discriminados, e rechaçados como menos espirituais. Na verdade todos sabem que tudo é uma farsa, mas ir de encontro à tradição pentecostal é grave pecado. Portanto, tomando por base essa minha idéia, chego à conclusão de que, verdadeiramente, os “abençoados” são os mentirosos, e os sinceros são depressivos. ”6

Fica aqui o meu apelo para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro” (Ef 4.14), mas apeguemo-nos fielmente a “palavra da cruz (...) loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Co 1.18)

Sola Scriptura!

Nelson Ávila.

1 MACLEOD, Kenneth D., Grande é o Senhor, Editora Fiel: São Paulo, 2010. (Texto traduzido por Wellington Ferreira; título original: “Great is the Lord”. Publicado originalmente no site da editora The Banner of Thruth. Todos os direitos reservados a Copyright.)

2 BAVINCK, Hermann, Teologia Sistemática, Editora Socep, Santa Bárbara d’Oeste: SP, 2001, p. 65.

3 Idem., p. 65, 70, 71.

4 Ibid., p. 71.

5 Ibid., p. 72.

6 Acessado em 12 de fevereiro de 2011 as 11h38min no endereço eletrônico: http://teologiaselecionada.blogspot.com/search/label/pentecostalismo?updated-max=2009-05-28T12:16:00-07:00&max-results=20 .

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