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sexta-feira, 8 de abril de 2011

O Estupro dos Cânticos de Salomão — Parte III

16 de Abril de 2009, por John MacArthur

(Tradução: Nelson Ávila)

[Nota do Editor: O leitores devem ser advertidos que este artigo contem material ofensivo. No entanto, ele está incluído aqui com o objetivo de fundamentar a tese deste artigo.]

Eu enfaticamente concordo com aqueles que dizem que os Cânticos de Salomão não são mera alegoria. Ele é melhor entendido quando o tomamos como de fato se propõe a ser, como qualquer outro texto da Escritura. Muitos intérpretes a quem, em outro caso, mantenho em alta estima (incluindo Spurgeon e a maioria dos Puritanos), infelizmente fizeram mais para confundir do que para esclarecer a mensagem dos Cânticos ao tratá-la de uma maneira puramente alegórica que acaba por eliminar seu sentido primário.

Os Cânticos de Salomão são, como tenho dito desde o princípio, um poema de amor entre Salomão e sua noiva, celebrando o amor mútuo de um pelo outro, incluindo os prazeres do leito conjugal. Interpretar esta ou qualquer outra porção da Escritura — de uma maneira puramente alegórica é tratar a própria imaginação do intérprete como mais autoritativa do que o sentido literal do texto.

De qualquer modo, aqueles que fingem saber o significado dos símbolos poéticos que não estão claramente identificados a partir do próprio texto cometem o mesmíssimo erro. Suas especulações são igualmente um modo de exaltar suas próprias imaginações a um nível de autoridade superior ao sentido literal do texto.

É um problema particular quando o interprete vê um mandato para sexo oral numa simples metáfora acerca do fruto de uma árvore, ou imagina que a melhor maneira de contextualizar e ilustrar porções do texto é despindo verbalmente sua própria esposa a fim de fazer o ponto tornar-se o mais vívido possível.

Num caso como este, o orador não apenas tem dado peso demasiado a sua própria imaginação especulativa; ele tem dado um sinal bastante claro de que sua imaginação não é totalmente pura (Lucas 6:45).

E este é um problema muito mais sério do que meramente alegorizar o texto.

De maneira alguma desejo minimizar os perigos de se alegorizar o texto. Essa aproximação hermenêutica é cheia de prejuízos, mesmo nas mãos de homens de mente pura, que geralmente são saudáveis em sua doutrina. Eu não aprovo os vôos da fantasia alegórica, especialmente com um texto como os Cânticos de Salomão, o qual impõe bastante dificuldade com as, obviamente embutidas, metáforas e linguagem poética que possui.

Alegorizadores dos Cânticos de Salomão geralmente o vêem como uma expressão de terno amor mútuo entre Cristo e Sua igreja. A maioria deles diria que Cristo é representado pela voz de Salomão; a igreja é representada pela voz de Sulamita. Alguns intérpretes vão ainda mais longe e dizem ouvir três ou mais vozes falando do texto. (Invariavelmente, aqueles que multiplicam as vozes tentam fazer com que os versículos se encaixem em algum libreto complexo que se levanta mais de suas próprias agendas pessoais do que do texto em si.)

Ainda assim, independentemente de quantas vozes sejam ouvidas e quem esteja supostamente falando, quase todos os que alegorizam este poema vêem-no como um cântico de amor entre Cristo e a igreja. É provavelmente adequado dizer que esta visão alegórica sobre Cristo e a igreja tem sido a interpretação dominante do poema através da história da igreja.

Isto, é claro, não é o certo a ser feito. Acontece que penso não ser esta a abordagem correta para interpretar este texto. Mas esta não é uma visão que deva ser rejeitada com desprezo vulgar especialmente com uma piada grosseira atribuindo comportamento homossexual a Cristo.

Se você já ouviu qualquer dos estudos de Mark Driscoll sobre os Cânticos de Salomão, certamente terá ouvido sua piada naquele sentido. Por exemplo, no sermão que me impulsionou a escrever estes artigos, Driscoll diz, “Alguns têm alegorizado este livro, e assim fazendo, eles o têm destruído. Eles dirão que ele é uma alegoria entre Jesus e sua noiva, a igreja. O que, se for verdade, é estranho. Porque Jesus está fazendo sexo comigo e pondo sua mão sobre minha camisa. E isto parece estranho. Eu amo Jesus, mas não desse jeito.”

Drsicoll disse quase exatamente a mesma coisa nos últimos três outros sermões. Por exemplo: “Jesus continua fazendo comigo e me tocando em locais impróprios”. “Agora eu sou gay, ou altamente perturbado, ou ambos”. “Como um cara, eu não me sinto confortável com Jesus, como você sabe, me beijando, me tocando e me levando para a cama. Ok? Acho que essa espécie de visão acerca dos Cânticos de Salomão é muito homo-erótica.”

Mesmo em sua série mais recente, Peasant Princess, ele repete uma versão daquela mesmíssima piada:

Agora, o que acontece é que alguns dizem “Bem, nós cremos no livro [dos Cânticos de Salomão], e o ensinaremos, mas o faremos alegoricamente.” E há então uma interpretação alegórica e uma literal. Eles dirão, “Bem, a interpretação alegórica não é entre um marido e sua esposa, Cânticos de Salomão, amor, romance e intimidade; do que ela trata? Sobre nós e Jesus.” Realmente? Eu espero que não. [Risos da platéia] Se eu chegar no céu e ele desabar, não sei o que farei. Quero dizer que este será um mau dia. Certo? Eu falo sério. Vocês caras, sabem do que eu estou falando. É como, “Não, eu não estou fazendo isto. Você sabe que eu não estou fazendo isto. Eu O amo [Jesus], mas não deste jeito.” [Risos da platéia].

Driscoll escapa da crítica a respeito deste tipo de piada alegando que não é blasfêmia pelo fato de não ter nada a ver com o “verdadeiro” Jesus. Ele diz que está simplesmente tirando sarro de uma falsa noção sobre Jesus. E ele continua fazendo a piada. Aqui está o problema com isto: a Escritura claramente ensina que o amor entre marido e mulher em todos os seus aspectos é uma metáfora de Cristo e a igreja (Efésios 5:31-32).

Assim, mesmo uma interpretação não alegórica dos Cânticos de Salomão (simplesmente tomando a canção de amor entre Salomão e Sulamita no sentido em que ela se propõe a ser), em última análise aponta-nos a Cristo e seu amor pela igreja. O texto deve ser manuseado pelo pregador, portanto, não como um pretexto para se banhar na sarjeta de nossa cultura obsessiva por descontração, com uma conversação grosseira acerca de sexo e descrição de imagens sexuais.

Alguns dos que tem comentado esses artigos sugeriram que eu deveria fazer uma exposição completa dos Cânticos de Salomão ao invés de simplesmente criticar os maus intérpretes e condenar a fixação da igreja contemporânea por sexo.

Isto exigiria uma série longa, e eu preferiria não devotar semanas de tempo neste blog a um tópico que levantei apenas com o objetivo de uma simples admoestação particular. Mas aqueles que desejam conhecer minha exposição dos Cânticos de Salomão ficarão felizes em encontrar notas completas sobre o texto na Bíblia de Estudo MacArthur.

Aquelas notas devem ser uma resposta suficiente àqueles que pretendem saber se o que estou falando é que seria melhor não comentar os Cânticos de Salomão de maneira alguma.

É claro que não é o que estou dizendo, nem pode alguém asseverar que tenho afirmado implicitamente qualquer coisa do tipo — sem torcer minhas palavras ou colocar suas palavras em minha boca. (Isto aconteceu literalmente numa série de comentários em outro blog onde este artigo estava em discussão. Um comentarista precipitadamente me acusou de oposição a exposição linha-por-linha dos Cânticos. Em metade dos comentários, as pessoas estavam pondo esta alegação entre aspas, atribuindo-a a mim.)

O que estou dizendo é que os limites da decência — especialmente quando se lida com temas como sexo — devem ser aplicados a qualquer texto com o qual estejamos lidando. Interpretar a bela poesia de modo a transformá-la num indecente pornô soft é corromper a intenção primordial do texto.

Isto está longe de ser tão difícil de entender como alguns estão imaginando, mas talvez um simples paralelo seja suficiente: Existem outras funções privadas do corpo e partes do corpo “menos honrosas” ou “indecorosas” (1 Coríntios 12:23). Encontramos estas mencionadas ou aludidas às vezes nas Escrituras sem, contudo, serem demasiadamente especificadas. Todos nós seriamos certamente ofendidos se o pregador fizesse um longo discurso descritivo, ou desse instruções do tipo “como-é”, no culto de Domingo, sublinhando aquelas coisas “indecorosas”.

Por razões mais fortes que a simples modéstia, certos atos envolvendo fornicação, auto-erotismo e outras coisas que as pessoas geralmente “fazem em segredo”, são vergonhosas para serem discutidas em qualquer contexto público (Efésios 5:12), muito menos num culto da igreja. Elas podem ser temas adequados para uma sessão de aconselhamento privado, para um consultório médico ou para uma aula de biologia da faculdade, mas não são temas apropriados para um culto onde Deus deve ser glorificado, onde Cristo deve ser exaltado, onde respeito deve ser mostrado para com as mulheres, onde a inocência das crianças deve ser resguardada e onde as curiosidades luxuriosas de pessoas solteiras não devem ser inflamadas desnecessariamente.

Quando um orador deliberadamente desperta desejos que não podem ser realizados com retidão em universitários solteiros, ou quando suas ilustrações pessoais deixam de preservar a privacidade e honra de sua própria esposa, isto já é algo bem pior do que meramente inapropriado. Quando feito repetidamente e com o comportamento de um bad boy imaturo, tal prática reflete um defeito de caráter maior, que é a desqualificação espiritual. Qualquer homem que faz tais coisas demonstra simplesmente que a marca registrada de seu estilo não está realmente acima de qualquer reprovação.

Tão recentemente como há uma década, este ponto de vista não teria levantado um pio de controvérsia.

O fato de que isto é tão controverso agora é simplesmente uma prova a mais de que os evangélicos têm se tornado parecidos demais com o mundo, e muito confortáveis com as características maléficas de nossa cultura.

Amanhã, se o Senhor quiser, postarei o capítulo final desta série. Várias perguntas têm chegado repetidamente de pessoas que têm comentado sobre estes artigos, e no capítulo final de amanhã quero responder o maior número delas possível.


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Disponível em: http://www.gty.org/Resources/Articles/A398_The-Rape-of-Solomons-Song-Part-3?q=driscoll Acesso In: 08 de Abril de 2011, as 16hs18 min.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Estupro dos Cânticos de Salomão — Parte II

15 de Abril, 2009, Por John MacArthur

(Tradução: Nelson Ávila)

Francamente, é difícil pensar em um abuso mais terrível da Escritura que transformar os Cânticos de Salomão em pornô soft. Quando pessoas não conseguem mais ler esta porção da Escritura sem que imagens pornográficas entrem em suas mentes, a beleza do livro já tem sido corrompida, sua descrição da justiça amorosa pervertida, e sua função na santificação e elevação do relacionamento matrimonial desviada. Que pregadores façam isso no culto público é inconcebível.

Os Cânticos de Salomão são deliberadamente velados em eufemismos que, em qualquer medida, mostram-se belos. Algumas das imagens são absolutamente óbvias, outras altamente discutíveis. Em muitos lugares o significado é indistinto o bastante para permitir uma grande dose de imaginação hermenêutica, e a sabedoria parece ensinar que aqui especialmente aqui — é melhor para o pregador não ser muito mais explícito do que o foi o Espírito Santo.

E encaremos isto: em geral, o Cântico está tão longe do explícito quanto pôde o escritor fazê-lo.

Além disso, desde que o simbolismo trata obviamente acerca de paixão, romance, amor, desejo e ternura, sua ambigüidade seve a um propósito deliberado: ela fala em termos secretos aquilo que deveria ser mantido em secreto. A linguagem é claramente concebida para comunicar afeições de privacidade íntima através de termos velados, confidenciais e quase clandestinos.

Este é um ponto vital: O estilo da comunicação entre aqueles dois amantes oculta belamente o significado mais essencial de suas canções de amor, de um modo que preserva a profundidade da privacidade pessoal (e divinamente pretendida) do leito conjugal.

O Cântico de Salomão é incrivelmente belo precisamente por ser tão cuidadosamente velado. É a perfeita descrição da maravilhosa e terna descoberta da intimidade que Deus designou que acontecesse entre um jovem homem e sua noiva num lugar de segredo. Nós não somos informados em termos vívidos o que todas as metáforas significam, porque a beleza da paixão conjugal está no olho do expectador — onde deve permanecer.

Tom Gledhill sabiamente resume este ponto em seu comentário sobre os Cânticos de Salomão (pp. 29-31):

Ao desempacotar metáforas e desembrulhar eufemismos [nos Cânticos de Salomão] pode acontecer que nossos pensamentos espiralem fora de controle, e acabemos por cometer adultério em nossas imaginações. E o que fazer então se a interpretação das Escrituras se mostrar ser uma pedra de tropeço, e uma causa de ofensa para alguns que crêem? ... Uma vez que uma linha particular de interpretação tem sido sugerida, é difícil não ver explícitas alusões sexuais em todos os lugares, até que todo o trabalho se torna saturado de referências a genitália, relações sexuais e sexo explícito.

... A resposta do Novo Testamento é muito clara e direta. Jesus disse, “Se teu olho direito te faz pecar, arranca-o... É melhor perder uma parte do corpo do que ter todo o corpo lançado no inferno”. Em outras palavras, não andemos em tentação de olhos abertos quando conhecemos nossas áreas específicas de fraqueza.

... A linguagem que usamos para descrever várias partes da anatomia humana (o que o apóstolo Paulo descreve como nossas ‘partes decorosas’) é um assunto para delicada sensibilidade... Quando [explicitadas inapropriadamente] palavras são usadas em discurso verbal, uma profunda desorientação toma lugar nos ouvintes, a qual tem uma tendência de bloquear, em grande medida, qualquer capacidade adicional para uma discussão racional. Eles agem, por assim dizer, como granadas de mão. Seu uso é uma atividade terrorista, causando destruição desenfreada.

Tremper Longman III diz o seguinte acerca dos pregadores e comentaristas que interpretam as imagens poéticas dos Cânticos em termos abertamente explícitos: “A livre associação [deles] com as imagens dos Cânticos é tão prevalecente que aprendemos muito mais sobre os interpretes que sobre o texto” (NICOT, p. 14).

Considere, por exemplo, a seguinte passagem de Cânticos de Salomão 4:12-16. Aqui Salomão descreve sua noiva com uma metáfora complexa empregando símbolos florais, e ela responde fazendo eco as imagens:

Jardim fechado é minha irmã, minha noiva,

Sim, jardim fechado, fonte selada.

Os teus renovos são um pomar de romãs,

Com frutos excelentes; a hena juntamente com nardo,

O nardo, e o açafrão, o cálamo, e o cinamomo,

Com toda sorte de árvores de incenso;

A mirra e o aloés, com todas as principais especiarias.

És fonte de jardim, poço de águas vivas,

correntes que manam do Líbano!

Levanta-te, vento norte,

E vem tu, vento sul;

Assopra no meu jardim, espalha os seus aromas.

Entre o meu amado no seu jardim,

E coma os seus frutos excelentes!

Salomão descreve assim sua noiva como um jardim fechado e selado. Para ele, ela é um lugar agradável, cheio de aromas encantadores e substâncias tranqüilizantes. A descrição desenhada por ele é bela em todos os níveis. Os detalhes (“frutas escolhidas, hena com nardo, o nardo e o açafrão, o cálamo e o cinamomo... árvores de incenso, mirra” etc.) podem ou não possuir significados específicos que teriam sido conhecidos pela noiva.

O que todo interprete cauteloso pode dizer com certeza é que Salomão considera sua noiva aprazível a todas as suas percepções sensoriais. Ele, então, a compara à imagem mais agradável e bela que pode imaginar — ungüentos, fragrâncias e deleites visuais — tudo concentrado em um único e bem cultivado local. Um jardim. O jardim está “fechado”, o que, novamente, enfatiza a privacidade íntima do amor conjugal puro. Nada requer que o exegeta vá além disto. A própria Escritura não vai além disto.

“É franco, mas não é grosseiro”, disse Mark Driscoll num Domingo, a uma congregação escocesa, a menos de 18 meses atrás. Mas então ele continuou a parafrasear Salomão de uma maneira que foi totalmente grosseira e nem remotamente próxima daquilo que o Espírito Santo pretendeu. (Uma cópia em CD desta mensagem chocante, intitulada Sexo: Um Estudo das Partes Boas dos Cânticos de Salomão, me foi enviada por alguns cristãos do Reino Unido, profundamente ofendidos e preocupados. Esta é a razão primária de eu estar fazendo esta série).

Na mente de Driscoll, não é a noiva em si que é um jardim, mas uma parte específica de sua anatomia. Da maneira que ele recria a passagem, não é um poema sobre o deleite da privacidade que os cônjuges usufruem entre si; é uma maneira sorrateira de expor abertamente essa intimidade para que todos possam ver.

Em essência, ele trata os Cânticos de Salomão como a velha lenda urbana acerca das letras de “Louie, Louie”. Apenas aqueles com um conhecimento secreto podem realmente entender; e, portanto, seu verdadeiro significado deve ser algo sujo.

Esta abordagem satisfaz ouvidos lascivos. É difícil vê-lo como algo diferente de mero exibicionismo. O pior de tudo é que isto inverte todo o propósito dos Cânticos de Salomão.

Tremper Longman estava certo: eisegesi como esta não revela nada acerca do livro, mas tudo acerca do interprete.


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Traduzido de: http://www.gty.org/Resources/Articles/A397_The-Rape-of-Solomons-Song-Part-2?q=driscoll acesso In: 06 de abril de 2011, as 17hs09min.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Estupro dos Cânticos de Salomão — Parte I

Pulpit Magazine, 14 de Abril de 2009.

(Por John MacArthur — tradução: Nelson Ávila)

Aparentemente, o caminho mais curto para a relevância no ministério da igreja atualmente é que o pastor fale sobre sexo em termos extravagantemente explícitos durante o culto matinal de domingo. Se ele puder chocar os paroquianos com palavras cruas e humor irreverente, tanto melhor. Os defensores desta tendência nos informam solenemente que sem tal estratégia é praticamente impossível se conectar com a “cultura” de hoje. (No evangelicalismo contemporâneo, este termo tem se tornado um rótulo conveniente para quase tudo que é inculto e grosseiro.)

Sermões sobre sexo têm repentinamente se tornado uma grande moda no mundo evangélico tal como a oração de Jabez jamais foi. Em todo lugar, ao que parece, igrejas estão apresentando séries especiais sobre o assunto. Algumas delas fazem propagandas com cartazes sugestivos, concebidos propositadamente para ofender a sensibilidade de suas comunidades conservadoras.

Realmente, alguns pastores têm ganhado ampla cobertura na mídia pela edição de “desafios sexuais” para membros de igrejas. Estes são esquemas que propõem sexo diário obrigatório para cônjuges durante um período de tempo específico — geralmente entre sete a quarenta dias. (Como as pessoas prestam conta disto é uma questão que tenho medo de levantar.)

Eu seria o último a sugerir que os pregadores evitassem totalmente o tema do sexo. A Escritura tem muito a dizer sobre o assunto, a começar com as primeiras palavras de Deus a Adão e Eva (“Frutificai e multiplicai-vos” — Gênesis 1:22). A lei de Deus possui numerosos mandamentos que regem o comportamento sexual, e o Novo Testamento reafirma repetidamente o padrão de pureza sexual do Antigo Testamento. Finalmente, nos capítulos finais da Escritura somos informados de que pessoas sexualmente imorais serão lançadas no lago de fogo (Apocalipse 21:8). Portanto, não há maneira de pregar todo o conselho de Deus sem mencionar o sexo.

Mas a linguagem que a Escritura emprega quando lida com o relacionamento físico entre marido e mulher é sempre cuidadosa — muitas vezes simples, algumas vezes poética, usualmente delicada, freqüentemente silenciada por eufemismos, mas nunca completamente explícita. Não há indício de lascívia irreverente na Bíblia, mesmo quando o claro propósito do profeta é chocar (como quando Ezequiel 23:20 compara a apostasia de Israel a um ato de fornicação grosseira motivada pelo desejo de bestialidade). Quando um ato de adultério é parte da narrativa (tal como o pecado de Davi com Bate-Seba), ele nunca é descrito de uma maneira que agradaria uma imaginação lasciva ou despertaria pensamentos luxuriosos.

A mensagem da Escritura a respeito do sexo é simples e consistente do começo ao fim: a total intimidade física dentro do casamento é pura e deve ser desfrutada (Hebreus 13:4); mas remova o pacto do casamento da equação e toda atividade sexual (incluindo aquela que ocorre apenas na imaginação) nada mais é que fornicação, um pecado grave que é especialmente profano e escandaloso — tanto que até falar inapropriadamente a respeito é vergonhoso (Efésios 5:12).

Acima de tudo, a Escritura nunca se rebaixa ao nível sensacionalista da educação sexual contemporânea. A Escritura não tem um correspondente ao Kama Sutra Hindu (um antigo manual de sexo sânscrito supostamente transmitido pelas deidades Hindus). Nada nas Escrituras dá qualquer vívida instrução, do tipo “como fazer”, a respeito da relação física dentro do casamento.

Isto inclui o Cantares de Salomão.

De fato, o poema amoroso de Salomão sintetiza a abordagem exatamente contrária. É, naturalmente, um longo poema sobre namoro e amor conjugal. Ele está cheio de eufemismos e imagens descritas. Todo o seu intuito é expressar gentilmente, sutilmente e elegantemente a intimidade emocional e física do amor conjugal — em linguagem adequada para qualquer público.

Mas tem se tornado popular em certos círculos empregar extremas descrições gráficas de intimidade física como um meio de expor os eufemismos do poema de Salomão. À medida que esta tendência se desenvolve, cada novo palestrante parece encontrar algo mais chocante nas metáforas que qualquer de seus predecessores jamais sequer imaginou.

Assim, somos informados que a linguagem poética de Sulamita ao invocar as delícias de uma macieira (Cânticos 2:3) é uma metáfora para sexo oral. O conforto e deleite de um simples abraço (2:6) não é nada do que parece ser. Aparentemente é impossível descrever o que este versículo realmente significa sem mencionar certas partes inomináveis do corpo.

Somos ainda assegurados de que os significados chocantes escondidos nesses textos não são meramente descritivos; eles são prescritivos. A gnose secreta dos Cânticos de Salomão retrata atos que as mulheres devem fazer obrigatoriamente se isto for o que satisfaz seus maridos, independentemente do desejo ou consciência da própria esposa. Foi-me dada recentemente uma gravação de uma dessas mensagens, onde o palestrante dizia: “Senhoras, deixem-me garantir-lhes isto: se você acha que está sendo suja, ele ficará muito feliz.”

Tais pronunciamentos são usualmente feitos em meio a gargalhadas ruidosas, mas evidentemente se espera que os levemos a sério. Quando a gargalhada se extinguiu, aquele palestrante acrescentou, “Jesus Cristo ordena que você faça isto.”

Essa abordagem não é exegese; é exploração. É contrária ao estilo literário do próprio livro. É espiritualmente equivalente a um ato de estupro. É rasgar o belo vestido poético dos Cânticos de Salomão, despir aquela porção da Escritura de sua dignidade, e apresentá-la para que seja ridicularizada e encarada com malícia de uma maneira carnal.

Mark Driscoll tem conduzido o desfile por este caminho carnal. Ele é de longe o proponente popular mais conhecido e mais prolífico desta maneira de lidar com os Cânticos de Salomão. Ele tem dito repetidamente que esta é sua passagem favorita da Escritura, e tem se voltado para ela mais e mais nos últimos anos, culminando em uma série altamente divulgada e lançada em vídeo ano passado via internet.

Continuo encontrando jovens pastores que estão seguindo agora este mesmo exemplo, e estou bastante surpreso de que esta tendência tenha sido tão bem aceita na igreja, sem praticamente nenhuma crítica significativa e sem levantar sérias objeções. Então, nos próximos dois dias vamos analisar e criticar esta abordagem dos Cânticos de Salomão, incluindo uma olhada em alguns exemplos específicos onde a linha da decência tem sido claramente ultrapassada.

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