quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Confissões Ministeriais


RPM, Volume 12, Number 50, December 12 to December 18, 2010

Confissões Ministeriais

Horatius Bonar

Temos sido carnais e não espirituais. O tom de nossas vidas tem sido baixo e terreno. Tão associados e tão intimamente ligados com o mundo, temos nos acostumado as suas formas. Conseqüentemente, nosso gosto espiritual tem sido viciado, nossas consciências embotadas, e aquela sensível ternura de sentimentos tem se desgastado e dado lugar a uma porção de insensibilidade da qual outrora, em dias mais frescos, acreditávamos sermos incapazes.

Temos sido egoístas. Temos recuado diante do trabalho árduo, das dificuldades e das resistências. Temos nos importado apenas com nossas próprias vidas, bem-estar temporal e conforto tão preciosos para nós. Temos procurado agradar a nós mesmos. Temos sido mundanos e avarentos. Não temos nos apresentado diante de Deus como “sacrifícios vivos”, depositando a nós mesmos, nossas vidas, nossos bens, nosso tempo, nossa força, nossas faculdades, nosso tudo, sobre Seu altar. Parece que temos perdido completamente de vista este principio de alto sacrifício sobre o qual, mesmo como Cristãos, mas muito mais como ministros, somos chamados a agir. Temos tido pouca noção do que quer que venha a ser sacrifício. Podemos ter estado dispostos a ir até o ponto onde o sacrifício foi exigido, mas lá paramos; calculando desnecessariamente, talvez chamando-o imprudente e precipitadamente, para prosseguir adiante. No entanto, não deveria a vida de cada Cristão, especialmente de cada ministro, ser uma vida de total auto-sacrifício e autonegação, tal como era a vida dAquele que “não agradou a si mesmo”?

Temos sido negligentes. Temos estado poupando em nossos labores. Não temos suportado as privações como bons soldados de Cristo. Não temos procurado recolher as migalhas de nosso tempo, de forma que nenhum momento possa ser usado a toa ou desperdiçado em alguma atividade sem proveito. Preciosas horas e dias têm sido gastos na preguiça, em companhias inúteis, em prazeres, em leituras inúteis ou imprestáveis, que poderiam ter sido dedicadas ao closet1, ao estudo, ao púlpito ou a reunião! Indolência, auto-indulgência, inconstância, prazer carnal, tem devorado por dentro nosso ministério como se fosse um câncer, prendendo a benção e estragando nosso sucesso. Temos manifestado muito pouco daquele incansável, abnegado amor com o qual, como pastores, deveríamos ter assistido aos rebanhos que estão comprometidos ao nosso cuidado. Temos alimentado a nós mesmos, e não o rebanho. Temos tratado de forma desleal para com Deus, aquele do qual professamos ser servos.

Temos sido frios. Mesmo enquanto diligentes, quão pouco calor e ardor! A alma inteira não está derramada em seus deveres, conseqüentemente, se reveste tão freqüentemente do repulsivo ar de “rotina” e “formalidade”. Nós não falamos e agimos como homens de verdade. Nossas palavras são débeis, mesmo quando soam verdadeiras; nossos olhares são desatentos, mesmo quando nossas palavras são pesadas; e nosso tom denuncia a apatia na qual ambos, palavras e olhares, estão mascarados. O amor está em falta, o profundo amor, o amor forte como a morte, amor como o que fez Jeremias chorar em lugares secretos. Na pregação e nas visitas, em conselhos e repreensões, quão formais, quão frios, quão pouco carinho e afeto!

Temos sido tímidos. O medo tem, freqüentemente, nos levado a suavizar ou generalizar verdades, as quais, se declaradas abertamente, devem trazer ódio e censura sobre nós. Temos, assim, muitas vezes falhado em declarar ao nosso povo todo o conselho de Deus. Temos nos esquivado de repreender, reprovar e exortar com toda paciência e doutrina. Temos temido indispor amigos, ou despertar a ira dos inimigos.

Temos faltado em solenidade. Quão profundamente devemos ser humilhados por nossa leviandade, frivolidade, irreverência, alegria vã, conversas tolas e gracejos, pelos quais graves danos têm sido feitos as almas, retardando o progresso dos santos, e aprovando o mundo em suas vaidades infames.

Temos pregado a nós mesmos, não a Cristo. Temos buscado aplausos, cortejado a honra, sido avarentos por fama e ciumentos de nossas reputações. Temos pregado muitas vezes, de modo a exaltar a nós mesmos ao invés de magnificar a Cristo; de modo a atrair os olhos dos homens para nós mesmos ao invés de fixá-los sobre Ele e Sua cruz. Não temos por muitas vezes pregado a Cristo com o único propósito de obter honra para nós mesmos? Cristo, nos sofrimentos de Sua primeira vinda e na glória de Sua segunda, não tem sido o Alpha e o Omega, o primeiro e o último, de todos os nossos sermões.

Não temos estudado e honrado devidamente a Palavra de Deus. Temos dado maior proeminência aos escritos do homem, opiniões do homem e sistemas do homem em nossos estudos, do que à Palavra. Temos bebido mais das cisternas humanas do que da divina. Temos nos apegado mais a comunhão com o homem do que com Deus. Conseqüentemente, a forma e a moda de nossos espíritos, nossas vidas, nossas palavras, têm sido derivadas mais dos homens que de Deus. Devemos estudar mais a Bíblia. Devemos mergulhar nossas almas nela. Não devemos apenas colocá-la dentro de nós, mas fazê-la passar através de toda a estrutura da alma. O estudo da verdade em sua forma acadêmica mais que em sua forma devocional, rouba-a de seu frescor e poder, gerando formalidade e frieza.

Não temos sido homens de oração. O espírito de oração tem estado adormecido entre nós. O closet (“quarto reservado para oração” – N. do T.) tem sido tão pouco freqüentado e deleitável. Temos permitido que os negócios, estudo ou atividade laboral interfira em nossas horas no closet. Uma atmosfera febril tem encontrado seu caminho em nosso closet, perturbando a doce calma de sua abençoada solidão. Sono, empresa, visitas inúteis, conversas tolas e gracejos, leituras inúteis, ocupações sem proveito, gastando tempo com o que poderia ser separado para oração. Por que há tão pouco interesse em se tirar tempo para orar? Por que há tanto falatório, mas tão pouca oração? Por que há tanta correria pra lá e pra cá e, todavia, tão pouca oração? Por que há tanta agitação e negócios, porém tão pouca oração? Por que há tantos encontros com nossos semelhantes, mas tão poucos encontros com Deus? Por que tão poucos ficam sozinhos, tão pouca sede das almas por calma, doces horas de inquebrável solidão, quando Deus e Seu filho mantêm comunhão juntos, como se jamais pudessem se separar? É a falta destas horas solitárias que não somente fere nosso próprio crescimento na graça, mas nos faz membros improdutivos da igreja de Cristo, e que torna nossas vidas inúteis. Para crescermos na graça, precisamos muito de estar a sós com Deus. Não é na sociedade, mesmo na sociedade Cristã, que a alma cresce mais rápida e vigorosamente. Em uma única hora de oração silenciosa, elas freqüentemente farão mais progresso que em dias inteiros na companhia de outros. É no “deserto” que o orvalho cai mais fresco e o ar é mais puro. Assim também é com a alma. É quando ninguém, mas apenas Deus está perto; Quando somente a Sua presença, como o ar do deserto no qual não há mistura com a respiração nociva do homem, envolve e permeia a alma; é então que o olho recebe a mais clara e simples visão das certezas eternas; é então que se reúne na alma maravilhoso refrigério e poder e energia. Proximidade com Deus, comunhão com Deus, esperar em Deus, descansar em Deus, têm sido características tão pequenas em nossa caminhada, seja particular ou ministerial. Daí nosso exemplo estar sendo tão impotente, nossos labores tão fracassados, nossos sermões tão fracos2 e todo o nosso ministério tão infrutífero e medíocre.

Não temos honrado o Espírito Santo. Não temos buscado Seu ensino ou Sua unção. “Mas, vós tendes uma unção da parte do Santo, e todos vós conheceis a verdade.” (1 João 2:20). Nem no estudo da Palavra, nem na pregação dela a outros, temos reconhecido devidamente Seu oficio como o Iluminador do entendimento, o Revelador da verdade, Aquele que testifica e glorifica Cristo. Temos entristecido-O por não darmos devida importância ao fato de Ele ser apresentado como o Professor, Aquele que convence, o Consolador e o Santificador. Daí Ele ter quase se afastado de nós, e nos deixado a colher os frutos de nossa perversidade e descrença. Além disso, temos entristecido-O por nosso andar inconsistente, pela nossa falta de prudência, por nossa mentalidade mundana, por nossa falta de santidade, por nossa falta de oração, por nossa infidelidade, por nossa falta de solenidade, por uma vida e conversão em tão pouca conformidade com o caráter de um discípulo ou o oficio de um embaixador.

Temos tido pouco da mente de Cristo. Temos estado tão distantes do exemplo de Cristo. Temos tido pouco da graça, compaixão, mansidão, humildade e do amor de Jesus. Seu choro sobre Jerusalém é um sentimento do qual temos a menor simpatia sincera. Sua busca pelos perdidos é pouco imitada por nós. Diante de Seu incansável ensinamento as multidões, nos retraímos, pela demasia da carne e sangue. Seus dias de jejuns, suas noites de vigílias e orações, não são percebidos por nós como um modelo completo a ser copiado. Ele não levou em conta Sua própria vida preciosa, com a qual Ele pôde glorificar a Deus e completar a obra dada a Ele para realizar, mas quão pouco nós a recordamos como o principio sobre o qual devemos agir. Mas certamente estamos a seguir Seus passos; o servo deve andar onde seu Mestre apontou o caminho; o pastor menor deve ser aquilo que o Supremo Pastor foi. Não devemos buscar descanso ou facilidade em um mundo onde Aquele que amamos não teve nenhum.

Temos sido incrédulos. É a incredulidade que nos faz tão frios em nossa pregação, tão preguiçosos em visitar, e tão omissos em todos os nossos deveres sagrados. É a incredulidade que traz frieza as nossas vidas e restringe nosso coração. É a incredulidade que nos faz lidar com realidades eternas com tal irreverência. É a incredulidade que nos faz ascender com tanta luz e dar um passo para o púlpito para lidar com seres imortais sobre céu e inferno.

Não temos sido sinceros em nossa pregação. Se fôssemos, poderíamos ser tão frios, tão sem oração, tão inconsistentes, tão preguiçosos, tão mundanos, tão diferentes dos homens dos quais todos os negócios são sobre a eternidade? Precisamos ser mais determinados se quisermos ganhar almas. Devemos ser mais determinados se quisermos andar nos passos de nosso amado Senhor, ou se quisermos cumprir os votos que estão sobre nós. Precisamos ser mais determinados se quisermos ser menos hipócritas. Devemos ser mais determinados se quisermos terminar nossa carreira com alegria, e obter a coroa na vinda do Mestre. Devemos trabalhar enquanto é dia; a noite vem, quando nenhum homem pode trabalhar.

Temos sido infiéis. O medo do homem e o amor por seus aplausos, freqüentemente nos faz receosos. Temos sido infiéis para com nossas próprias almas, nossos rebanhos e nossos irmãos; infiéis no púlpito, nas visitas e na disciplina na igreja. No desempenho de cada um dos deveres de nossa mordomia, tem havido grave infidelidade. Em vez de especial e particular repreensão do pecado, tem havido vaga alusão. Ao invés de reprovação corajosa, tem havido tímido indício. Em vez de firme condenação, tem havido fraca desaprovação. Ao invés de inabalável coerência de uma vida santa, cujo teor uniforme deveria ser um protesto contra o mundo e uma censura ao pecado, tem havido tão somente um amontoado de infidelidade em nosso andar e conversação, em nossa conduta diária e diálogo com os outros, que qualquer grau de fidelidade que tenhamos obtido para manifestar no dia do Senhor, é quase neutralizado pela falta de prudência exibida em nossas vidas durante a semana.

Precisamos de homens que gastem e sejam gastos, que trabalhem e orem, que assistam e chorem pelas almas!

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1 A palavra “closet”, aqui, faz referência a um cômodo reservado para oração [N. do T.].

2 A palavra aqui traduzida por “fracos” (“meager” – no original), talvez fosse melhor traduzida por “magros”, que traria a idéia de sermões “sem alimento” ou “desnutridos”; no entanto, não soaria tão familiar ao contexto brasileiro [N. do T.].

Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!



Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “Ministerial Confessions”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim


Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

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