MESQUITA NETO, Nelson
Ávila (E. T. C. S.)
1 CONSIDERAÇÕES
INICIAIS
O prólogo de Hebreus é de extrema importância para qualquer discussão
cristológica. Nele encontramos a dignidade de Jesus elevada a sua mais alta
posição na cristandadede: a posição do Deus-Homem.
Iniciaremos este trabalho com uma breve discussão da problemática em
torno do autor e da audiência de Hebreus. Posteriormente falaremos rapidamente
da estrutura e forma literária constituintes do prólogo. Nas linhas que se
seguirão, estaremos expondo esta visão exaltada do Filho de Deus tal qual
apresentada pelo autor inspirado, ou seja, trataremos do contraste entre o
Filho, os profetas e os anjos; de Seu papel como herdeiro e rei messiânico; de
sua obra criadora e redentora, concluindo com sua função de triplo mediador de
Deus. Esta estrutura foi adaptada da proposta quiástica de Ebert (apud O’BRIEN,
2010, p. 46), a qual também será brevemente ventilada adiante.
Desde o séc. XVIII, várias têm sido as tentativas de diminuir a pessoa de
Jesus a um grande mestre da moral, ou um homem comum obscurecido por mitos
sobrenaturalistas. Esperamos que este estudo no prólogo de Hebreus coloque
diante de nossos olhos um conceito adequado da pessoa de Jesus, do qual depende
completamente todo aquele que se intitula cristão.
2 O ENIGMA DE HEBREUS
Algo um tanto quanto frustrante em qualquer análise de Hebreus é a
impossibilidade de determinar seu autor, bem como os leitores iniciais para quem
a carta fora endereçada. Ao longo da história eclesiástica, muitas foram as
propostas e teorias, todavia o enigma de Hebreus permanece: Quem a escreveu?
Para quem fora escrita? O silêncio jaz desconcertante nas mentes curiosas e
ávidas por ter sempre à mão todas as respostas, e este silêncio, se gera
incômodo por um lado, por outro infunde humildade nos corações de exegetas
piedosos ao longo de quase 2000 anos, os quais aprenderam a recitar com Moisés:
“As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos
pertencem...” (Deuteronômio 29:29). [1]
Porém, como sempre, o espírito inquiridor dos homens tem sugerido algumas
possibilidades com vistas a satisfazer o mistério. Acerca da autoria, Guthrie
(1983, p. 19) afirma que, desde que a maioria das sugestões “são puramente
conjecturais, não é proveitoso devotar muito espaço a sua discussão.” [2]
Este conselho será levado em conta aqui, e, portanto, daremos um breve panorama
dos principais candidatos.
Calvino (1997, p. 22) escreveu: “Há quem pense que seu autor foi Paulo; outros, Lucas; outros, Barnabé; e
ainda outros, Clemente – no dizer de
Jerônimo.” Além dessa variada gama de pretendentes, Calvino destaca ainda que
“Eusébio, [...] no sexto livro de sua História
Eclesiástica, faz menção somente de Lucas e Clemente”, e acrescenta que
“nos dias de Crisóstomo ela foi recebida por toda parte, pelos gregos, entre as
epístolas paulinas”, embora os latinos tivessem opinião contrária. Além das
opções supracitadas, Guthrie (1983, p. 21) registra que, entre os julgamentos
mais modernos, “Apolo tem tido a maioria de defensores, principalmente sob a
suposição de que, como um alexandrino, ele teria estado familiarizado com os
modos de pensar de seu conterrâneo alexandrino, Filo, o qual se supõe estar
refletido na epístola.” [3]
Guthrie nos informa ainda que esta visão foi proposta inicialmente por Martinho
Lutero, e que “tem sido fortemente defendida por aqueles desejosos em reter
alguma conexão paulina com a epístola” (1983, p. 21).[4]
MacDonald (2008, p. 825) destaca que “um argumento contra Apolo é a constatação
de que nenhuma tradição de Alexandria preserva tal teoria. Situação improvável
se uma pessoa natural de Alexandria o tivesse escrito.” Outras alternativas
mencionadas por Guthrie são “Priscila, Filipe, Pedro, Silvano (Silas), Ariston
e Judas” (1983, p. 21). [5]
Desde que nosso propósito não é aprofundar-nos nesta discussão, basta no
momento dizer que nenhuma destas opções, por mais bem engendradas que pareçam,
deve ser assumida dogmaticamente, e isto pelo simples fato de não haver
evidências suficientes, sejam internas ou externas, que apóiem qualquer uma
delas, sendo preferível o anonimato autoral. Como bem escreveu MacDonald (2008,
p. 825): “as antigas palavras de Orígenes não podem ser descartadas: ‘Apenas
Deus sabe com certeza quem escreveu a epístola’.”
Sobre a audiência para a qual fora endereçada esta carta também não é
possível precisar, embora possa ser dito que dentre o vasto número de teorias
que se têm levantado, as que mais se destacam são: (1) Um grupo específico de
judeus. Em virtude do próprio título tradicional, alguns têm sugerido que a
palavra Hebreus “[...] poderia ser usada
especificamente para judeus que falavam hebraico (ou então aramaico), em
tal caso ela os distinguiria dos judeus de fala grega” GUTHRIE, 1983, p. 22). [6]
Guthrie diz que “esta sugestão tem algum outro suporte no Novo Testamento (cf. Atos 6:1; 2 Cor. 11:22; Fil. 3:5),
mas não há meios de saber se o título tradicional desta epístola foi pretendido
neste sentido” (1983, p. 22). [7]
(2) Outra opção é a de que o título deveria ser descartado para que leitores
gentios fossem tomados como os destinatários originais. Nas palavras de Guthrie
(1983, p. 25), “poderia racionalmente ser mantido que gentios se ajustariam ao
contexto aqui melhor que judeus, mas dificilmente poderia ser alegado que as
palavras jamais poderiam ser aplicadas a judeus.” [8] Guthrie ainda argumenta que em virtude do
intricado estilo do argumento e de suas exigências a respeito de um amplo
conhecimento do Velho Testamento, “parece que a visão tradicional é mais
provável estar correta” (1983, p. 25) [9],
ou seja, a de que um grupo de judeus cristãos estava em mente.
3 O PRÓLOGO
3.1 Forma literária e estrutura
Tem sido debatido se Hebreus seria de fato uma epístola ou uma pregação.
O’Brien (2010, p. 44) escreve:
Diferente de outras cartas do Novo Testamento (exceto
1 João), Hebreus não menciona um remetente, destinatários, ou palavras de
sudação, e isto tem levado muitos a concluir, particularmente à luz da descrição
do autor de seu escrito como uma ‘palavra de exortação’ (13:22), que é um
sermão escrito ao invés de uma carta. [10]
Todavia, “o documento termina como uma carta, com sua menção da esperança
do autor de ser restituído aos leitores (13:19), notícias de Timóteo (v. 23),
uma troca de saudações (v. 24), e sua oração final (v. 25)” (O’BRIEN, 2010, p.
45). [11]
Portanto, conforme O’Brien, “parece apropriado falar de Hebreus como uma
‘epístola’ ou ‘carta’ desde que esta foi uma categoria muito ampla no período
do Novo Testamento, e porque ela tem sido classificada como uma carta na maior
parte de sua história” (2010, p. 45). [12]
O parágrafo de abertura, nas palavras de O’Brien (2010, p. 45), “é uma
sentença cuidadosamente habilidosa que encapsula muitos dos temas chave que
serão desenvolvidos nos capítulos seguintes.” [13]
Assim, podemos dizer que o prólogo nos apresenta uma espécie de resumo temático
do qual serão pinçados os tópicos ampliados adiante.
Estudos recentes têm sugerido que a estrutura do prólogo, simetricamente
distribuída, parece conter em si elementos quiásticos. Outros acreditam que o
autor teria valido-se de uma fonte poética – “[...] um hino a Cristo conhecido
na comunidade para a qual Hebreus foi endereçada” (O’BRIEN, 2010, p. 47). [14]
Ebert (apud O’BRIEN, 2010, p. 46)
acredita que uma norma quiástica precisa pode ser identificada nos vv. 1-4 como
se segue:
A vv. 1-2a O Filho contrastado com profetas
B v.
2b O Filho como herdeiro messiânico
C v.
2c A obra criadora do Filho
D vv. 3a-b O triplo relacionamento
mediador do Filho com Deus
C’ v.
3c A obra redentora do Filho
B’ v.
3d O Filho como rei messiânico
A’ v. 4 O Filho contrastado com anjos. [15]
Embora, aparentemente, não seja gramaticalmente possível estabelecer esta
estrutura, a tomaremos aqui em vista do valioso recurso didático que ela
oferece; os tópicos seguintes deste trabalho seguirão este esquema.
Quanto à teoria de que Hebreus 1:1-4 teria sido extraído de um hino
popular entre os recipientes da carta, O’Brien (2010, p. 47) escreve que “a
mudança no sujeito de Deus (v. 2) para Cristo (v. 3) e o estilo mais elevado
sugerem isto.” [16] A
utilização do pronome relativo “quem” (ὅν e οὗ
– Heb. 1:2; e ὅς – Heb. 1:3) para introduzir
clausulas equilibradas que descrevem o Filho, tipicamente presentes em passagens/hinos
(cf. Fil. 2:6; Col. 1:15; 1 Tim. 3:16), acrescentada à vocabulário incomum,
“[...] tais como resplendor, expressão exata, purificação e sustentando”,
na opinião de O’Brien, “têm sugerido que o autor estava citando uma fonte”
(2010, p. 47). [17] “Além
disso”, acrescenta O’Brien, “a passagem descreve o movimento do Filho de sua
preexistência para seu compartilhar na humanidade e exaltação, um progresso
similar aquele em outras assim chamadas passagens/hinos” (2010, p. 47). [18]
Não obstante, O’Brien afirma que “há boas razões para se pensar que o
parágrafo tem raiz no autor” (2010, p. 47). [19]
As duas seguintes apresentadas por ele (2010, p. 47) são: A) “Não há uma quebra
da forma entre os vv. 2 e 3”; e B) “enquanto algo do vocabulário é distintivo,
nada dele aparece em outros textos/hinos do Novo Testamento, tornando menos
provável que o autor estivesse citando uma fonte.” [20] A
conclusão de O’Brien é simples: “Talvez seja mais acurado falar do v. 3 como
incluindo elementos tradicionais dentro dele” (2010, p. 47). [21]
Passemos agora à análise do que o autor de Hebreus tem a dizer sobre a
pessoa e obra do Filho nestes versículos de abertura de sua epístola,
encabeçando cada uma das seções seguintes conforme a estrutura quiástica
supramencionada.
3.2 O Filho contrastado com os profetas e
os anjos (Heb. 1:1-2a, 4)
A carta aos Hebreus tem início com a seguinte declaração: “Havendo Deus,
outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Heb. 1:1-2a). Já a frase de
encerramento do prólogo apresenta o Filho que se tem tornado “tão superior aos
anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles” (Heb. 1:4). O’Brien,
seguindo o quiasmo proposto por Ebert, afirma:
[...] a estrutura dos membros do parágrafo (A e A’)
contrasta o Filho com os outros membros da revelação divina: ‘a palavra [de
Deus] no Filho é comparada com sua palavra anterior através dos profetas’ (vv.
1-2a), e ‘o Filho é declarado ser superior aos anjos, os supremos mensageiros
do AT’ (v. 4). (2010, pp. 46-47). [22]
Quanto à sentença de abertura, Calvino (1997, p. 29) escreve que “o propósito desta introdução consiste no
enaltecimento da doutrina de Cristo.” Em sua opinião, “aprendemos [aqui] não só
que devemos receber essa doutrina com reverência, mas também que devemos
repousar exclusivamente nela” (CALVINO, 1997, p. 29). A antítese apresentada
por Calvino para tornar claro este fato é a seguinte: Primeiramente, “[...] o
Filho de Deus é contrastado com os profetas; em segundo lugar, nós, com os
patriarcas; em terceiro lugar, as variadas e múltiplas formas de expressão que
Deus adotou em relação aos pais, até chegar à última revelação que nos é
comunicada por Cristo” (1997, p. 29). O esboço então oferecido por ele (1997,
p. 30) é:
Deus falou
Outrora, pelos profetas: Agora, pelo Filho.
Então, aos pais: Agora, a nós.
Antes, diversas vezes: Agora, nestes últimos dias
Com relação a estas antíteses, O’Brien entende que há quatro contrastes
paralelos aqui: “As eras: no passado
e nestes últimos dias; os
recipientes: a nossos ancestrais e a nós; os agentes: através dos profetas e por
seu Filho; e os modos: de muitas
maneiras e ‘de uma maneira’ (implícito)” (2010, p. 47). [23]
MacDonald (2008, p. 827) argumenta que ao contrastar “a revelação de Deus pelos profetas com a revelação em seu
Filho”, fica evidente que “as profecias periódicas, parciais e diferenciadas do
AT agora são ofuscadas pela revelação preeminente e final de Deus na pessoa de
seu Filho.” Enquanto a verdade
revelada por Deus através dos profetas no AT se deu de muitas maneiras
distintas, tais como “lei, história, poesia e profecia. [...] Às vezes por
visões, sonhos, símbolos e pantomima” (MACDONALD, 2008, p. 827), sendo, em
algumas ocasiões, transmitida de forma oral e, em outras, escrita; MacDonald
assevera que “os profetas eram apenas canais por meio de quem a palavra divina
era comunicada. O Senhor Jesus Cristo é, em si, a revelação final de Deus aos
homens” (2008, p. 827).
O’Brien (2010, pp. 47-48) defende que “os contrastes [...] não são
absolutos” [24], e que
“eles chamam a atenção para os dois estágios da revelação divina que
correspondem respectivamente ao Antigo e o Novo Testamento.” [25]
Citando Hagner, O’Brien estabelece a mensagem central dos contrastes nas
seguintes palavras: “O que Deus tem feito em Cristo é o clímax do que ele tinha
começado a fazer nos tempos antigos” (2010, p. 48). [26]
Assim, visto ser “[...] o mesmo Deus que fala em ambos e a mesma mensagem de
salvação que ele oferece [...], há continuidade dentro dos contrastes”
(O’BRIEN, 2010, p. 48). [27]
Destarte, a palavra de Deus expressa no Filho “nestes últimos dias”,
marca a inauguração de uma nova era onde as palavras anunciadas anteriormente
pelos profetas encontrariam seu cumprimento. Esta revelação final e decisiva
traz à plena luz o que antes estava envolto em sombras (Col. 2:17; 1 Cor.
2:6-10; Efé. 1:3-10; 3:1-6 etc.) e
apresenta Deus aos homens de uma maneira nunca antes conhecida, nem mesmo pela
mediação de seres celestiais como os anjos – o Deus invisível se faz visível na
face do Filho (v. 3; João 1:18; 14:9, etc.).
O tema da superioridade aos anjos mencionado no final do prólogo serve de
gancho para o que o autor pretende comunicar nos vv. 5-14. Não é um problema
referente a uma espécie de culto indevido a anjos que o autor busca resolver,
mas estabelecer a supremacia do Filho e da palavra de Deus revelada nEle. Os
anjos, criaturas superiores aos homens (2:7), foram os mais elevados
mensageiros de Deus. “No Antigo Testamento os anjos desempenharam um papel na
revelação e redenção (Exo. 3:2; Isa. 63:9)” (O’BRIEN, 2010, p. 62). A crença de
que “a lei havia sido mediada a Moisés através de anjos (Atos 7:38-39; Gal.
3:19)”, também era “compartilhada pelo autor de Hebreus e seus leitores: a lei
era ‘a mensagem falada através de anjos’ (2:2)” (O’BRIEN, 2010, p. 62). [28]
Todavia, a Jesus, feito por um pouco “menor do que os anjos” (2:9) em sua
encarnação, é que foi dado o mais excelente nome de “Filho” (1:4-5), e não a
qualquer anjo (v. 5). O ponto aqui não é estabelecer quando o Senhor Jesus veio
a herdar o nome de Filho, como se Ele não o fosse antes da exaltação. Os
versículos precedentes (1-3) deixam claro que Ele é o Filho desde toda a
eternidade. “Além do mais [...], este foi seu título eras antes da encarnação –
uma clara implicação da afirmação em 1:2 de que Deus tem falado a nós em ‘seu
Filho... através de quem ele fez os mundos’” (O’BRIEN, 2010, p. 61). [29]
“O foco aqui”, como bem esclarece O’Brien, é apenas asseverar “a superioridade
de sua presente posição” (2010, p. 61) [30] –
o Filho glorioso, participante da própria essência divina e entronizado à
direita do Pai, de onde sustenta todo o universo. De fato, uma mensagem
anunciada por um Ser tão majestoso como o próprio Deus Filho, era incomparável
e não deveria ser ignorada. É este contexto que estabelece a base para a
advertência que vem adiante: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão
grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos
depois confirmada pelos que a ouviram” (Heb. 2:3).
3.3 O Filho como herdeiro e rei messiânico
(Heb. 1:2b, 3d)
Duas figuras emergem da descrição do autor de Hebreus acerca do Filho e
auxiliam na composição de sua magnificente dignidade: o Filho é herdeiro e rei.
O’Brien (2010, p. 46) nos informa que B e B’ aqui “[...] aludem aos salmos
messiânicos do Antigo Testamento: a quem
constituiu herdeiro de todas as coisas (v. 2b) é uma referência ao Salmo
2:8, enquanto assentou-se a direita da
Majestade, nas alturas (v. 3d) se refere ao Salmo 110:1.” [31]
Quanto ao fato de o Filho ser herdeiro, Calvino (1997, pp. 32, 33)
declara: “O título ‘herdeiro’ é atribuído a Cristo em sua manifestação na
carne. Pois, ao fazer-se homem e revestir-se de nossa própria natureza, ele
recebeu para si essa herança a fim de restaurar para nós o que fora perdido em
Adão.” Calvino explica isto da seguinte maneira:
No princípio Deus estabelecera o homem como seu filho,
para ser ele o herdeiro de todas as coisas; mas o primeiro homem, por meio de
seu pecado, alienou-se de Deus, tanto ele próprio como também sua posteridade,
e privou a todos tanto da bênção divina quanto de todas as demais coisas. (1997,
p. 33).
Sua conclusão é simples: “Só começaremos a desfrutar as boas coisas de
Deus, por direito, quando Cristo, que é o herdeiro de todas as coisas, nos
admitir em sua comunhão. Ele tornou-se herdeiro para poder fazer-nos ricos por
meio de suas riquezas.” (CALVINO, 1997, p. 33). Em suas palavras, “o apóstolo
lhe atribui esse título para que pudéssemos saber que sem ele somos destituídos
de todas as coisas.” (CALVINO, 1997, p. 33).
O’Brien diz que não é imediatamente aparente o tempo em que “o Filho foi
constituído herdeiro” (2010, p. 52). [32]
Segundo ele (O’BRIEN, 2010, p. 52), “O verbo constituído (ethēken) não
sugere que qualquer tempo particular seja pretendido, enquanto não existem
marcadores temporais na própria cláusula.” [33]
Todavia, O’Brien entende ser melhor entender “a constituição do Filho como
herdeiro quando ele foi exaltado à mão direita, isto é, depois que ele fez
purificação pelos pecados” (2010, p. 52). [34] O
motivo apresentado para tal entendimento é o fato de o v. 4 descrever Jesus
“herdando o nome que é mais excelente do que aqueles dos anjos”, o que, segundo
O’Brien (2010, p. 52), “está conectado com sua exaltação (vv. 3d-4).” [35]
Assim, conectando o que fora dito agora com a interpretação anterior proposta
por Calvino, em Sua exaltação, após cumprir todo o propósito de Sua encarnação,
isto é, Sua obediência ativa e passiva, bem como Sua morte e ressurreição,
fazendo “purificação pelos pecados” (v. 3c), Cristo foi constituído herdeiro de
todas as coisas, afim de que possa compartilhá-las com aqueles que, por adoção,
são feitos Seus irmãos e aceitos em Sua comunhão.
Ainda tratando da exaltação de Cristo, ao declarar que Ele “assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas” (v. 3d), o autor de Hebreus o retrata como o
rei messiânico entronizado a destra de Deus. O’Brien afirma que “as duas
declarações, que o Filho fez purificação pelos pecados de seu povo e foi
entronizado no lugar de honra, jazem no centro da Cristologia do autor, e são
completamente elaboradas no restante de Hebreus.” (2010, pp. 58, 59). [36]
Esta alusão ao Salmo 110:1, de acordo com O’Brien (2010, p. 59), “serve como
uma chave para o desenvolvimento estrutural do livro, e é citada em 1:13 e
aludida em 8:1; 10:12; 12:2”. [37]
As palavras deste Salmo – “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha
direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” – foram
aplicadas por Jesus a si mesmo quando foi levado diante do Sinédrio em
Jerusalém (Mat. 26:64; Mar. 12:36; Luc. 20:41-44). Além de apontar para o
cumprimento da promessa de um herdeiro de Davi assentado num trono eterno (Sal.
89:3-4), a referência ao Salmo 110 aqui aponta para o ato poderoso de Deus em
exaltar Seu Filho a “uma posição de autoridade universal e honra sem paralelo”
(HARRIS apud O’BRIEN, 2010, p. 59). [38]
Conforme a Bíblia de Estudo MacArthur (2010, p. 1689), “Isso retrata um
Salvador vitorioso, e não um mártir derrotado.” Assim, o autor de Hebreus descreve
Jesus como aquele que reina Soberano em Seu trono sobre o universo à destra de
Deus Pai.
3.4 A obra criadora e redentora do Filho
(Heb. 1:2c, 3c)
Este Jesus, portador em Si mesmo da Revelação Final de Deus, Herdeiro de
todas as coisas e Rei sobre o universo, é descrito ainda como Criador e
sumo-sacerdote. É dito que o Filho criou o αἰῶνας, que literalmente se traduziria por
“séculos”, o que Ladd (2009, p. 779) diz significar “tudo o que está contido no
tempo.”
Guthrie (1983, p. 65) escreve que “não há negação de que Deus poderia ter
feito o universo aparte de seu Filho, mas o Novo Testamento está em aflição
para mostrar que ele não fez assim.” [39]
Guthrie ainda acrescenta que “os cristãos estavam convencidos de que a mesma
pessoa que tinha vivido entre os homens era aquele que criou os homens” (1983,
p. 65). [40] Nesta
mesma linha de argumentação, O’Brien (2010, p. 52) escreve que “a afirmação de
que o Filho era o agente do Pai na criação é consistente com o que é dito por
outros escritores do Novo Testamento (1:10; veja João 1:3; Col. 1:16)” [41],
o que corrobora com o expresso por Guthrie anteriormente, de que a idéia do
Filho como Criador do universo era, de fato, o entendimento da igreja
primitiva. Desta maneira, uma carta tal como esta de Hebreus, escrita sob esta
convicção, “não poderia falhar em apresentar uma figura mais que humana de
Jesus Cristo” (GUTHRIE, 1983, p. 65). [42]
O’Brien (2010, p. 53) nos chama ainda a atenção para o fato de que “a
afirmação acerca do papel de Cristo na criação segue o que tinha sido dito
acerca de ele ter sido feito herdeiro.” [43]
Em suas palavras (O’BRIEN, 2010, p. 53): “Cristo é o herdeiro de tudo [...]
porque [...] ele foi o mediador da criação. O universo do tempo e espaço sempre
pertenceu ao Filho desde que foi através de sua agência que ele veio a
existência.” [44] A
conclusão é que “como o Filho exaltado e herdeiro, ele governa sobre o que foi
criado através dele no princípio” (O’BRIEN, 2010, p. 53). [45]
Através desta descrição de Jesus, o autor de Hebreus parece demonstrar uma
estreita relação entre suas próprias idéias acerca do Filho e a apresentação
joanina de Cristo como o Lógos de Deus (João 1:1-3). De acordo com Cullmann, “É
verdade que o termo mesmo λόγος não
aparece aí; porém, o falar de Deus em seu Filho está associado com a criação do
mundo e ligado a uma definição da relação eterna entre o Filho e Deus o Pai”
(2008, p. 342). O Verbo por intermédio do qual foram feitas todas as coisas e,
sem o qual, “nada do que foi feito se fez” (João 1:3), encontra mais um claro paralelo
no Filho retratado em Hebreus, sobre o qual lemos que “fez o universo” (Heb
1:2) e sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Heb 1:3). Não é
possível determinar se há qualquer dependência de fontes aqui, todavia, fato é
que tal visão elevada da pessoa de Jesus Cristo – o Filho de Deus que criou o
mundo – era comum na comunidade cristã primitiva.
Segundo O’Brien (2010, p. 57), este Filho “que foi agente da atividade
criativa de Deus é aquele que também tem efetuado sua obra salvadora.” [46]
Cristo é apresentado como aquele que fez “a purificação dos pecados”, e isto
aponta para seu papel como “sumo-sacerdote”, temática esta que será mencionada
rapidamente em Heb. 2:17 e 4:14, e desenvolvida plenamente nos capítulos de
7-10, especialmente o cap. 7. O autor de Hebreus exalta o ofício sacerdotal de
Cristo como acima de qualquer outro já existente no universo. Cristo não é
apenas um sumo-sacerdote, Ele é um sumo-sacerdote incomparável. A obra de
“purificação dos pecados” que Ele desempenhou não necessita ser repetida, como
aquela realizada pelos demais sacerdotes, mas pelo contrário, foi feita de uma
vez por todas, tendo a Si mesmo como sacrifício perfeito numa morte de cruz,
atingindo, assim, absolutamente o seu objetivo (7:27; 10:12; 12:2). Ao sentar-se
no trono celeste à destra de Deus, Cristo nos mostra que sua obra está
consumada. É por isso que O’Brien escreve:
Ao fazer purificação pelos pecados o Filho concluiu
algo que ninguém mais poderia concretizar. O perdão que ele tem conquistado é
permanente, e, porque a barreira entre Deus e a humanidade foi removida, isto
resulta em entrar na presença do próprio Deus. Uma provisão tal em nosso favor,
a qual lidou perfeitamente com a corrupção do pecado, nos chama a uma resposta
pública de gratidão com todo o coração. (2010, p. 58). [47]
Cristo, o Criador do universo, se fez sumo-sacerdote e sacrifico,
ofertando-se a Si mesmo para ser moído pelos nossos pecados, afim de pagar uma
dívida que jamais seríamos capazes de pagar, e nos comprar do maldito mercado de
escravos onde éramos vendidos ao pecado.
3.5 O triplo relacionamento mediador do
Filho com Deus (Heb. 1:3a-b)
Por fim, vemos nesta
epístola o que de mais majestoso se poderia conceber acerca deste Filho,
Criador, Sumo-sacerdote e Rei. Conforme Ladd, (2009, p. 767) “Hebreus traz uma
alta cristologia explícita.” É impressionante o elevado conceito cristológico
mantido por seu autor desde as primeiras linhas. “A preexistência de Cristo é
mencionada já no seu início. Foi por intermédio de Cristo que Deus criou o
mundo (1:2). Cristo também, pela palavra do seu poder, sustenta o Universo
(1:3). Ele reflete a glória de Deus e expressa a própria imagem de sua natureza
(1:3)” (LADD, 2009, p. 767, 768). Para o autor de Hebreus, o homem perfeito,
Jesus, participante de “carne e sangue” (Heb. 2:14), em todas as coisas
“semelhante aos irmãos” (Heb. 2:17), “mas sem pecado” (Heb. 4:15), é igualmente
Deus (Heb. 1:8), ou, para usar as palavras da tradição cristã, Jesus Cristo é o
Deus-Homem.
Mais uma vez ressalta aos
olhos aqui a relação entre a carta aos Hebreus e o prólogo joanino. O Verbo
apresentado como Deus em João (1:1c), é descrito pelo autor aos Hebreus como “o
esplendor da glória e a expressão exata do seu [de Deus] Ser.” Na verdade, os
anjos de Deus o adoram (Heb. 1:6), e Ladd (2009, p. 768) nos lembra que “o
livro de Hebreus refere-se a Jesus chamando-o de Deus, e aplica a ele o Salmo
45: ‘O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos’ (1:8).”
Retomando a questão da
estrutura quiástica apresentada no início deste trabalho, O’Brien (2010, p. 46)
afirma: “Ebert alega que essas afirmações chave no centro do quiasmo ‘provêm a
base teológica para a habilidade singular do Filho de ser o supremo revelador
de Deus e o mediador da nova aliança’.” [48]
Assim, a ênfase do prólogo recairia sobre “[...] ‘o Filho como a suprema
auto-expressão de Deus’, retratando-o ‘em seu relacionamento fundamental com
ambos o Pai e o universo’” (O’BRIEN, 2010, p. 46). [49]
É muitíssimo interessante
que, “significativamente, nos vv. 1-4 os quatro versos que conduzem ao centro
do quiasmo” – λαλήσας, ἑλάλησεν, ἔθηκεν e ἐποίησεν (havendo Deus [...] “falado”, “falou”,
“constituiu” e “fez”) – “possuem Deus como seu sujeito; deste ponto até o fim
da sentença há uma mudança para o Filho como sujeito. Além do mais”, acrescenta
O’Brien (2010, p. 46), “no centro há uma mudança na ênfase do cosmológico para
o soteriológico: compare vv. 2b-c com vv. 3c-d (note a mudança similar em Col.
1:15-20 no v. 18).” [50]
Desta maneira, se estabelece o que fora mencionado supra como “o triplo
relacionamento mediador do Filho com Deus”.
O Filho atua como mediador
entre Deus e os homens de duas maneiras distintas: como “o resplendor da glória
e a expressão exata do seu Ser”. Esta é a ênfase soteriológica. Na Bíblia de
Estudo MacArthur (2010, p. 1688) lemos que o termo resplendor “expressa o
conceito de emitir luz ou brilhar (cf. Jo 8.12; 2Co 4.4,6).” Sendo assim, “o
significado de ‘reflexo’ não é apropriado aqui”, visto que, “o Filho não está
somente refletindo a glória de Deus, mas ele é Deus e irradia a sua própria
glória essencial.” Para O’Brien (2010, p. 54), não é tão fácil assim
“determinar com certeza a nuança precisa” [51],
desde que “apaugasma”, uma palavra
que não aparece em nenhum outro lugar do Novo Testamento, nem na Septuaginta,
“pode ser entendida tanto num sentido ativo, ‘radiância ou fulgência’, isto é,
da luz irradiando de uma fonte, ou no sentido passivo de ‘reflexão’, isto é, de
brilho reluzindo de volta.” [52]
Ainda assim, O’Brien acredita que “o [sentido] ativo parece mais apropriado neste
contexto de Hebreus” (2010, p. 54). [53] Sobre a questão de o Filho ser a “expressão
exata” do Ser de Deus, na Bíblia de Estudo MacArthur (2010, p. 1688) encontramos
que na literatura extra-bíblica, o termo charactēr
“era usado como referência a um entalhe em madeira, uma gravação em metal, uma
marca em pele de animal, uma impressão em barro e uma imagem estampada em
moedas”, e o termo “‘Ser’ é uma palavra que expressa natureza, pessoa ou
essência.” Assim, “o Filho é a impressão perfeita, a representação exata da
natureza e da essência de Deus no tempo e no espaço (cf. Jo 14.9; Cl 1.15;
2.9)” (BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR, 2010, p. 1688). Em consonância com isso
O’Brien declara: “O Filho é a exata representação, a encarnação de Deus, como
ele realmente é. Seu ser é manifestado em Cristo, tanto que ver o Filho é ver
como é o Pai” (2010, p. 55). [54] É
possível perceber claramente, então, o porquê de o Filho ser a mais exaltada
revelação de Deus. Sendo a própria essência de Deus encarnada, Ele poderia
revelar o Pai como nenhum dos profetas de Deus no passado jamais conseguiu.
Desempenhando o papel de
mediador entre Deus e o universo (a criação de modo geral), Jesus é aquele que
sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder”. Esta é a ênfase
cosmológica. “Jesus Cristo não é apenas o agente da criação (v. 2c); ele também
sustenta o universo que ele fez” (O’BRIEN, 2010, p. 56). [55]
Calvino (1997, p. 36) diz que “sustentar” aqui “é usado no sentido de cuidar e
de conservar toda a criação em seu próprio estado.” O’Brien (2010, p. 56)
entende que “o contexto imediato [...] sugere a nuança adicional da ação do
Filho de carregar todas as coisas para seu fim ou alvo designado. A noção de
direção ou propósito parece estar incluída.” [56]
Deste modo, o Filho é apresentado “não como aquele deus dos deistas, que, tendo
criado o mundo , então procedeu para deixá-lo correr por si mesmo. Ele está
pessoalmente e continuamente envolvido em sustentá-lo” (O’BRIEN, 2010, p. 56). [57] Portanto,
aqueles que descansam Sua fé neste Jesus – o Deus/Filho – podem encontrar paz e
alegria mesmo diante de um mundo hostil. Ao que tudo indica, os leitores
originais da carta aos Hebreus estavam se afastando da fé cristã em virtude de
grande perseguição que os ameaçava. Ao descrever o Filho como este Senhor
Soberano que preserva e conduz todo o universo ao seu fim apropriado, o autor
propõe que sua audiência lance fora os medos e temores confiando naquele que
está no controle de absolutamente todas as coisas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como dissemos no início, nos últimos séculos diversas correntes têm se
levantado buscando resguardar Jesus como um sábio, mestre, bom conselheiro,
guru, idealista ou a maior das criaturas de Deus. Não é assim que o autor de
Hebreus o apresenta, nem deve ser esta a imagem concebida em nossas mentes. Se
cremos na Bíblia como a inerrante e infalível Palavra de Deus, devemos declarar
com o autor de Hebreus: Jesus, o Filho, Herdeiro, Sacerdote, Rei, Criador e
Sustentador do universo, supremo Revelador do Pai, infinitamente superior a
todas as miríades celestiais, é também o Deus-Homem, cujo trono “é para todo o
sempre” (Heb. 1:8).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A BÍBLIA SAGRADA.
Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993.
BÍBLIA DE ESTUDO
MACARTHUR. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
CALVINO, J. Hebreus. São Bernardo do Campo: Edições Paracletos, 1997.
CULLMANN,
O. Cristologia do Novo Testamento. São
Paulo : Hagnos, 2008.
GUTHRIE, D. Hebrews: an introduction and commentary. Downers
Grove: InterVarsity Press, 1983.
LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2009.
MACDONALD, W. Comentário bíblico popular: Novo
Testamento. São Paulo : Mundo Cristão, 2008.
O’BRIEN, P. T. The letter to the Hebrews: the pillar New Testament commentary. Grand Rapids : Wm. B.
Eerdmans Publishing Co., 2010.
[1] Todas
as citações bíblicas, com exceção daquelas devidamente identificadas, foram
extraídas de A BÍBLIA SAGRADA.
Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1993.
[2] “Since most of them are purely
conjectural it is not profitable to devote much space to their discussion.”
[3] Apollos has had the most supporters,
mainly on the supposition that as an Alexandrian He would have been familiar
with the ways of thought of his fellow Alexandrian, Philo, which are supposed
to be reflected in the epistle.
[4] This view, which was first
proposed by Martin Luther, has been strongly supported by those wishing to
retain some Pauline connection with the epistle.
[5] Other proposals are
Priscilla, Philip, Peter, Silvanus (Silas), Aristion and Jude.
[6] It could be used specifically
of Jews who spoke Hebrew (or rather Aramaic), in which case it would
distinguish them from Greek-speaking Jews.
[7] This suggestion has some
other New Testament support (cf. Acts
6:1; 2 Cor. 11:22 ; Phil.
3:5), but there is no means of knowing whether the traditional title to this
epistle was intended in this sense.
[8] It could reasonably be
maintained that Gentiles would fit the context here better than Jews, but it
can hardly be claimed that the words could never be applicable to Jews.
[9] […] it seems that the
traditional view is more likely to be correct.
[10] Unlike other New Testament letters
(except 1 John), Hebrews does not mention a sender, addressees, or words of
greeting, and this had led many to conclude, particularly in the light of the
author’s description of his writing as a ‘word of exhortation’ (13:22), that it
is a written sermon rather than a letter.
[11] [...] the document ends like a
letter, with its mention of the author’s hope of being restored to the readers
(13:19 ), news of Timothy
(v. 23), an exchange of greetings (v. 24), and its final prayer (v. 25).
[12] It seems appropriate to speak of
Hebrews as an ‘epistle’ or ‘letter’ since this was a very broad category in the
New Testament period, and because it has been classified as a letter for most
of its history.
[13] The opening paragraph is a
carefully crafted sentence that encapsulates many of the key themes that will
be developed in the following chapters.
[14] […] a hymn to Christ known in
the community to which Hebrews was addressed.
[15] A vv.
1-2a The Son contrasted with prophets
B v. 2b The Son as
messianic heir
C v. 2c The Son’s creative work
D vv.
3a-b The Son’s threefold mediatorial relationship to God
C’ v. 3c The Son’s redemptive work
B’ v. 3d The Son as
messianic king
A’ v. 4 The Son contrasted with angels.
[16] The shift in subject from God (v. 2)
to Christ (v. 3) and the more elevated style suggest this.
[17] [...] unusual vocabulary, such as radiance, exact representation, purification,
and sustaining, have suggested that
the author was citing a source.
[18] Further, the passage describes the
movimento f the Son from his preexistence to his sharing in humanity and
exaltation, a progress similar to that on other so-called hymnic passages.
[19] [...] there are good reasons for
thinking that this paragraph stems from the author.
[20] There is not a sharp break between
vv. 2 and 3, and while some of the vocabulary is distinctive, none of it
appears in other New Testament hymnic texts, making it less likely that the
author was quoting a source.
[21] It is perhaps more accurate to
speak of v. 3 as including traditional elements within it.
[22] […] the framing members of
the paragraph (A and A’) contrast the Son with other members of divine
revelation: God’s ‘word in the Son is compared with his former word through the
prophets’ (vv. 1-2a), and ‘the Son is declared to be superior to the angels,
the supreme messengers of the OT’ (v. 4).
[23] The eras: in the past and in these last
days; the recipients: to our
ancestors and to us; the agents: through the prophets and by his Son; and the ways: in various ways and ‘in one way’
(implied).
[24] These contrasts [...] are not
absolute.
[25] They draw attention to two stages
of the divine revelation that correspond to the Old and New Testaments
respectively.
[26] ‘What God hás done in Christ is the
climax of what he had begun to do in earlier times’.
[27] It is the same God Who speaks in
both and the same message of salvation that He offers […], there is continuity
within the contrasts.
[28] In the Old Testament angels
played a role in revelation and redemption (Exod. 3:2, Isa. 63:9). Further, it
was believed that the law had been mediated to Moses through angels (Acts 7:38 -39; Gal. 3:19 ), a notion shared by the writer of Hebrews
and his readers: the law was ‘the message spoken through angels’ (2:2).
[29] Further, […] it was his title
ages before the incarnation – a clear implication of the statement in 1:2 that
God has spoken to us in ‘his Son… through whom he made the worlds’.
[30] […] the focus here, […] is on
the superiority of his present position.
[31] The next lines (B and B’) allude to
Old Testament messianic psalms: whom he
appointed heir of all things (v. 2b) is a reference to Psalm 2:8, while he sat down at the right had of the majesty
in heaven (v. 3d) refers to Psalm 110:1.
[32] Precisely when the Son was
appointed the heir is not immediately apparent.
[33] The verb appointed (ethēken) does
not suggest that any particular time is intended, while there are no temporal
markers in the clause itself.
[34] […] it seems best to
understand the Son’s appointment as heir when he was exalted at the right hand,
that is, after he made purification for sins.
[35] […] it is connected with his
exaltation (vv. 3d-4).
[36] The two declarations, that
the Son has made purification for his people’s sins and been enthroned in the
place of honour, lie at the centre of the author’s Christology, and are fully
elaborated in the rest of Hebrews.
[37] It serves as a key to the
structural development of the book, and is cited at 1:13 and alluded to at 8:1; 10:12 ; 12:2 as well as here.
[38] ‘[…] a position of
unparalleled honour and universal authority’.
[39] There is no denying that God could
have made the universe apart from his Son, but the New Testament is at pains to
show that He did not do so.
[40] The Christians were convinced that
the same person who had lived among men was the one who created men.
[41] […] the statement that the
Son was the Father’s agent in the creation of the universe is consistent with
what is said by other New Testament writers (1:10 ; see John 1:3; Col. 1:16).
[42] A letter such as Hebrews, written
from this conviction, could not fail to present a more than human picture of
Jesus Christ.
[43] The statement about Christ’s role
in creation follows what has been said about his being made the heir.
[44] Christ is the heir of everything
[...] because […] he was the mediator of creation. The universe of time and
space has always belonged to the Son since it was through his agency that it
came into being.
[45] As the exalted Son and heir He
rules over what was created through him in the beginning.
[46] The Son who was the agent of God’s
creative activity is the one who has also effected his saving work.
[47] By making purification for sins the
Son accomplished something which no one else could achieve. The forgiveness he
has won is permanent, and, because the barrier between God and humanity has
been removed, it results in entry into the presence of God himself. Such a
provision on our behalf, which has perfectly dealt with the defilement of sin,
calls forth from us a response of wholehearted gratitude.
[48] Ebert claims that these key
statements at the centre of the chiasmus provide ‘the theological basis for the
Son’s unique ability to be the supreme revealer of God and mediator of the new
covenant’.
[49] [...] ‘the Son as God’s supreme
self-expression’, portray him ‘in his fundamental relationship to both the
Father and the universe’.
[50] Significantly, in vv. 1-4 the four
verbs that lead to the centre of the chiasmus have God as their subject; from
this point to the end of the sentence there is a change to the Son as subject. Moreover,
at the centre there is a shift in emphasis from the cosmological to
soteriological: compare vv. 2b-c com vv. 3c-d (note the similar shift in Col.
1:15-20 no v. 18).
[51] It is difficult to determine the
precise nuance with certainty.
[52] The Word may be understood in
either an active sense, ‘radiance or effulgence’, that is, of light radiating
from a source, or the passive sense of ‘reflection’, that is, of brightness
shining back.
[53] [...] the active seems more
appropriate in this context of Hebrews.
[54] The Son is the exact
representation, the embodiment of God, as He really is. His being is made
manifest in Christ, so that to see the Son is to see what the Father is like.
[55] Not only is Jesus Christ the agent
of creation (v. 2c); he also sustains the universe he has made.
[56] The immediate context [...]
suggests the additional nuance of the Son’s ‘carrying’ all things to their
appointed end or goal.
[57] This Lord is not like the god of
the deists, who, having created the world, then proceeded to let it run on its
own. He is personally and continually involved in sustaining it.