segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O PRÓLOGO DE HEBREUS: Uma visão exaltada do Filho de Deus (Heb. 1:1-4).


MESQUITA NETO, Nelson Ávila (E. T. C. S.)

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O prólogo de Hebreus é de extrema importância para qualquer discussão cristológica. Nele encontramos a dignidade de Jesus elevada a sua mais alta posição na cristandadede: a posição do Deus-Homem.
Iniciaremos este trabalho com uma breve discussão da problemática em torno do autor e da audiência de Hebreus. Posteriormente falaremos rapidamente da estrutura e forma literária constituintes do prólogo. Nas linhas que se seguirão, estaremos expondo esta visão exaltada do Filho de Deus tal qual apresentada pelo autor inspirado, ou seja, trataremos do contraste entre o Filho, os profetas e os anjos; de Seu papel como herdeiro e rei messiânico; de sua obra criadora e redentora, concluindo com sua função de triplo mediador de Deus. Esta estrutura foi adaptada da proposta quiástica de Ebert (apud O’BRIEN, 2010, p. 46), a qual também será brevemente ventilada adiante.
Desde o séc. XVIII, várias têm sido as tentativas de diminuir a pessoa de Jesus a um grande mestre da moral, ou um homem comum obscurecido por mitos sobrenaturalistas. Esperamos que este estudo no prólogo de Hebreus coloque diante de nossos olhos um conceito adequado da pessoa de Jesus, do qual depende completamente todo aquele que se intitula cristão.

2 O ENIGMA DE HEBREUS

Algo um tanto quanto frustrante em qualquer análise de Hebreus é a impossibilidade de determinar seu autor, bem como os leitores iniciais para quem a carta fora endereçada. Ao longo da história eclesiástica, muitas foram as propostas e teorias, todavia o enigma de Hebreus permanece: Quem a escreveu? Para quem fora escrita? O silêncio jaz desconcertante nas mentes curiosas e ávidas por ter sempre à mão todas as respostas, e este silêncio, se gera incômodo por um lado, por outro infunde humildade nos corações de exegetas piedosos ao longo de quase 2000 anos, os quais aprenderam a recitar com Moisés: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem...” (Deuteronômio 29:29). [1]
Porém, como sempre, o espírito inquiridor dos homens tem sugerido algumas possibilidades com vistas a satisfazer o mistério. Acerca da autoria, Guthrie (1983, p. 19) afirma que, desde que a maioria das sugestões “são puramente conjecturais, não é proveitoso devotar muito espaço a sua discussão.” [2] Este conselho será levado em conta aqui, e, portanto, daremos um breve panorama dos principais candidatos.
Calvino (1997, p. 22) escreveu: “Há quem pense que seu autor foi Paulo; outros, Lucas; outros, Barnabé; e ainda outros, Clemente – no dizer de Jerônimo.” Além dessa variada gama de pretendentes, Calvino destaca ainda que “Eusébio, [...] no sexto livro de sua História Eclesiástica, faz menção somente de Lucas e Clemente”, e acrescenta que “nos dias de Crisóstomo ela foi recebida por toda parte, pelos gregos, entre as epístolas paulinas”, embora os latinos tivessem opinião contrária. Além das opções supracitadas, Guthrie (1983, p. 21) registra que, entre os julgamentos mais modernos, “Apolo tem tido a maioria de defensores, principalmente sob a suposição de que, como um alexandrino, ele teria estado familiarizado com os modos de pensar de seu conterrâneo alexandrino, Filo, o qual se supõe estar refletido na epístola.” [3] Guthrie nos informa ainda que esta visão foi proposta inicialmente por Martinho Lutero, e que “tem sido fortemente defendida por aqueles desejosos em reter alguma conexão paulina com a epístola” (1983, p. 21).[4] MacDonald (2008, p. 825) destaca que “um argumento contra Apolo é a constatação de que nenhuma tradição de Alexandria preserva tal teoria. Situação improvável se uma pessoa natural de Alexandria o tivesse escrito.” Outras alternativas mencionadas por Guthrie são “Priscila, Filipe, Pedro, Silvano (Silas), Ariston e Judas” (1983, p. 21). [5]
Desde que nosso propósito não é aprofundar-nos nesta discussão, basta no momento dizer que nenhuma destas opções, por mais bem engendradas que pareçam, deve ser assumida dogmaticamente, e isto pelo simples fato de não haver evidências suficientes, sejam internas ou externas, que apóiem qualquer uma delas, sendo preferível o anonimato autoral. Como bem escreveu MacDonald (2008, p. 825): “as antigas palavras de Orígenes não podem ser descartadas: ‘Apenas Deus sabe com certeza quem escreveu a epístola’.”
Sobre a audiência para a qual fora endereçada esta carta também não é possível precisar, embora possa ser dito que dentre o vasto número de teorias que se têm levantado, as que mais se destacam são: (1) Um grupo específico de judeus. Em virtude do próprio título tradicional, alguns têm sugerido que a palavra Hebreus “[...] poderia ser usada  especificamente para judeus que falavam hebraico (ou então aramaico), em tal caso ela os distinguiria dos judeus de fala grega” GUTHRIE, 1983, p. 22). [6] Guthrie diz que “esta sugestão tem algum outro suporte no Novo Testamento (cf. Atos 6:1; 2 Cor. 11:22; Fil. 3:5), mas não há meios de saber se o título tradicional desta epístola foi pretendido neste sentido” (1983, p. 22). [7] (2) Outra opção é a de que o título deveria ser descartado para que leitores gentios fossem tomados como os destinatários originais. Nas palavras de Guthrie (1983, p. 25), “poderia racionalmente ser mantido que gentios se ajustariam ao contexto aqui melhor que judeus, mas dificilmente poderia ser alegado que as palavras jamais poderiam ser aplicadas a judeus.” [8]  Guthrie ainda argumenta que em virtude do intricado estilo do argumento e de suas exigências a respeito de um amplo conhecimento do Velho Testamento, “parece que a visão tradicional é mais provável estar correta” (1983, p. 25) [9], ou seja, a de que um grupo de judeus cristãos estava em mente.

3 O PRÓLOGO

3.1 Forma literária e estrutura

Tem sido debatido se Hebreus seria de fato uma epístola ou uma pregação. O’Brien (2010, p. 44) escreve:
Diferente de outras cartas do Novo Testamento (exceto 1 João), Hebreus não menciona um remetente, destinatários, ou palavras de sudação, e isto tem levado muitos a concluir, particularmente à luz da descrição do autor de seu escrito como uma ‘palavra de exortação’ (13:22), que é um sermão escrito ao invés de uma carta. [10]

Todavia, “o documento termina como uma carta, com sua menção da esperança do autor de ser restituído aos leitores (13:19), notícias de Timóteo (v. 23), uma troca de saudações (v. 24), e sua oração final (v. 25)” (O’BRIEN, 2010, p. 45). [11] Portanto, conforme O’Brien, “parece apropriado falar de Hebreus como uma ‘epístola’ ou ‘carta’ desde que esta foi uma categoria muito ampla no período do Novo Testamento, e porque ela tem sido classificada como uma carta na maior parte de sua história” (2010, p. 45). [12]
O parágrafo de abertura, nas palavras de O’Brien (2010, p. 45), “é uma sentença cuidadosamente habilidosa que encapsula muitos dos temas chave que serão desenvolvidos nos capítulos seguintes.” [13] Assim, podemos dizer que o prólogo nos apresenta uma espécie de resumo temático do qual serão pinçados os tópicos ampliados adiante.
Estudos recentes têm sugerido que a estrutura do prólogo, simetricamente distribuída, parece conter em si elementos quiásticos. Outros acreditam que o autor teria valido-se de uma fonte poética – “[...] um hino a Cristo conhecido na comunidade para a qual Hebreus foi endereçada” (O’BRIEN, 2010, p. 47). [14] Ebert (apud O’BRIEN, 2010, p. 46) acredita que uma norma quiástica precisa pode ser identificada nos vv. 1-4 como se segue:
A             vv. 1-2a O Filho contrastado com profetas
                B             v. 2b O Filho como herdeiro messiânico
                               C             v. 2c A obra criadora do Filho
D             vv. 3a-b O triplo relacionamento mediador do Filho com Deus
                               C’           v. 3c A obra redentora do Filho
                B’           v. 3d O Filho como rei messiânico
A’           v. 4 O Filho contrastado com anjos. [15]
Embora, aparentemente, não seja gramaticalmente possível estabelecer esta estrutura, a tomaremos aqui em vista do valioso recurso didático que ela oferece; os tópicos seguintes deste trabalho seguirão este esquema.
Quanto à teoria de que Hebreus 1:1-4 teria sido extraído de um hino popular entre os recipientes da carta, O’Brien (2010, p. 47) escreve que “a mudança no sujeito de Deus (v. 2) para Cristo (v. 3) e o estilo mais elevado sugerem isto.” [16] A utilização do pronome relativo “quem” (ν e ο – Heb. 1:2; e ς – Heb. 1:3) para introduzir clausulas equilibradas que descrevem o Filho, tipicamente presentes em passagens/hinos (cf. Fil. 2:6; Col. 1:15; 1 Tim. 3:16), acrescentada à vocabulário incomum, “[...] tais como resplendor, expressão exata, purificação e sustentando”, na opinião de O’Brien, “têm sugerido que o autor estava citando uma fonte” (2010, p. 47). [17] “Além disso”, acrescenta O’Brien, “a passagem descreve o movimento do Filho de sua preexistência para seu compartilhar na humanidade e exaltação, um progresso similar aquele em outras assim chamadas passagens/hinos” (2010, p. 47). [18]
Não obstante, O’Brien afirma que “há boas razões para se pensar que o parágrafo tem raiz no autor” (2010, p. 47). [19] As duas seguintes apresentadas por ele (2010, p. 47) são: A) “Não há uma quebra da forma entre os vv. 2 e 3”; e B) “enquanto algo do vocabulário é distintivo, nada dele aparece em outros textos/hinos do Novo Testamento, tornando menos provável que o autor estivesse citando uma fonte.” [20] A conclusão de O’Brien é simples: “Talvez seja mais acurado falar do v. 3 como incluindo elementos tradicionais dentro dele” (2010, p. 47). [21]
Passemos agora à análise do que o autor de Hebreus tem a dizer sobre a pessoa e obra do Filho nestes versículos de abertura de sua epístola, encabeçando cada uma das seções seguintes conforme a estrutura quiástica supramencionada.

3.2 O Filho contrastado com os profetas e os anjos (Heb. 1:1-2a, 4)

A carta aos Hebreus tem início com a seguinte declaração: “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho” (Heb. 1:1-2a). Já a frase de encerramento do prólogo apresenta o Filho que se tem tornado “tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles” (Heb. 1:4). O’Brien, seguindo o quiasmo proposto por Ebert, afirma:
[...] a estrutura dos membros do parágrafo (A e A’) contrasta o Filho com os outros membros da revelação divina: ‘a palavra [de Deus] no Filho é comparada com sua palavra anterior através dos profetas’ (vv. 1-2a), e ‘o Filho é declarado ser superior aos anjos, os supremos mensageiros do AT’ (v. 4). (2010, pp. 46-47). [22]

Quanto à sentença de abertura, Calvino (1997, p. 29) escreve que “o propósito desta introdução consiste no enaltecimento da doutrina de Cristo.” Em sua opinião, “aprendemos [aqui] não só que devemos receber essa doutrina com reverência, mas também que devemos repousar exclusivamente nela” (CALVINO, 1997, p. 29). A antítese apresentada por Calvino para tornar claro este fato é a seguinte: Primeiramente, “[...] o Filho de Deus é contrastado com os profetas; em segundo lugar, nós, com os patriarcas; em terceiro lugar, as variadas e múltiplas formas de expressão que Deus adotou em relação aos pais, até chegar à última revelação que nos é comunicada por Cristo” (1997, p. 29). O esboço então oferecido por ele (1997, p. 30) é:
Deus falou
Outrora, pelos profetas:        Agora, pelo Filho.
Então, aos pais:                     Agora, a nós.
Antes, diversas vezes:            Agora, nestes últimos dias
Com relação a estas antíteses, O’Brien entende que há quatro contrastes paralelos aqui: “As eras: no passado e nestes últimos dias; os recipientes: a nossos ancestrais e a nós; os agentes: através dos profetas e por seu Filho; e os modos: de muitas maneiras e ‘de uma maneira’ (implícito)” (2010, p. 47). [23] MacDonald (2008, p. 827) argumenta que ao contrastar “a revelação de Deus pelos profetas com a revelação em seu Filho”, fica evidente que “as profecias periódicas, parciais e diferenciadas do AT agora são ofuscadas pela revelação preeminente e final de Deus na pessoa de seu Filho.” Enquanto a verdade revelada por Deus através dos profetas no AT se deu de muitas maneiras distintas, tais como “lei, história, poesia e profecia. [...] Às vezes por visões, sonhos, símbolos e pantomima” (MACDONALD, 2008, p. 827), sendo, em algumas ocasiões, transmitida de forma oral e, em outras, escrita; MacDonald assevera que “os profetas eram apenas canais por meio de quem a palavra divina era comunicada. O Senhor Jesus Cristo é, em si, a revelação final de Deus aos homens” (2008, p. 827).
O’Brien (2010, pp. 47-48) defende que “os contrastes [...] não são absolutos” [24], e que “eles chamam a atenção para os dois estágios da revelação divina que correspondem respectivamente ao Antigo e o Novo Testamento.” [25] Citando Hagner, O’Brien estabelece a mensagem central dos contrastes nas seguintes palavras: “O que Deus tem feito em Cristo é o clímax do que ele tinha começado a fazer nos tempos antigos” (2010, p. 48). [26] Assim, visto ser “[...] o mesmo Deus que fala em ambos e a mesma mensagem de salvação que ele oferece [...], há continuidade dentro dos contrastes” (O’BRIEN, 2010, p. 48). [27]
Destarte, a palavra de Deus expressa no Filho “nestes últimos dias”, marca a inauguração de uma nova era onde as palavras anunciadas anteriormente pelos profetas encontrariam seu cumprimento. Esta revelação final e decisiva traz à plena luz o que antes estava envolto em sombras (Col. 2:17; 1 Cor. 2:6-10; Efé. 1:3-10; 3:1-6 etc.) e apresenta Deus aos homens de uma maneira nunca antes conhecida, nem mesmo pela mediação de seres celestiais como os anjos – o Deus invisível se faz visível na face do Filho (v. 3; João 1:18; 14:9, etc.).
O tema da superioridade aos anjos mencionado no final do prólogo serve de gancho para o que o autor pretende comunicar nos vv. 5-14. Não é um problema referente a uma espécie de culto indevido a anjos que o autor busca resolver, mas estabelecer a supremacia do Filho e da palavra de Deus revelada nEle. Os anjos, criaturas superiores aos homens (2:7), foram os mais elevados mensageiros de Deus. “No Antigo Testamento os anjos desempenharam um papel na revelação e redenção (Exo. 3:2; Isa. 63:9)” (O’BRIEN, 2010, p. 62). A crença de que “a lei havia sido mediada a Moisés através de anjos (Atos 7:38-39; Gal. 3:19)”, também era “compartilhada pelo autor de Hebreus e seus leitores: a lei era ‘a mensagem falada através de anjos’ (2:2)” (O’BRIEN, 2010, p. 62). [28] Todavia, a Jesus, feito por um pouco “menor do que os anjos” (2:9) em sua encarnação, é que foi dado o mais excelente nome de “Filho” (1:4-5), e não a qualquer anjo (v. 5). O ponto aqui não é estabelecer quando o Senhor Jesus veio a herdar o nome de Filho, como se Ele não o fosse antes da exaltação. Os versículos precedentes (1-3) deixam claro que Ele é o Filho desde toda a eternidade. “Além do mais [...], este foi seu título eras antes da encarnação – uma clara implicação da afirmação em 1:2 de que Deus tem falado a nós em ‘seu Filho... através de quem ele fez os mundos’” (O’BRIEN, 2010, p. 61). [29] “O foco aqui”, como bem esclarece O’Brien, é apenas asseverar “a superioridade de sua presente posição” (2010, p. 61) [30] – o Filho glorioso, participante da própria essência divina e entronizado à direita do Pai, de onde sustenta todo o universo. De fato, uma mensagem anunciada por um Ser tão majestoso como o próprio Deus Filho, era incomparável e não deveria ser ignorada. É este contexto que estabelece a base para a advertência que vem adiante: “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram” (Heb. 2:3).

3.3 O Filho como herdeiro e rei messiânico (Heb. 1:2b, 3d)

Duas figuras emergem da descrição do autor de Hebreus acerca do Filho e auxiliam na composição de sua magnificente dignidade: o Filho é herdeiro e rei. O’Brien (2010, p. 46) nos informa que B e B’ aqui “[...] aludem aos salmos messiânicos do Antigo Testamento: a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (v. 2b) é uma referência ao Salmo 2:8, enquanto assentou-se a direita da Majestade, nas alturas (v. 3d) se refere ao Salmo 110:1.” [31]
Quanto ao fato de o Filho ser herdeiro, Calvino (1997, pp. 32, 33) declara: “O título ‘herdeiro’ é atribuído a Cristo em sua manifestação na carne. Pois, ao fazer-se homem e revestir-se de nossa própria natureza, ele recebeu para si essa herança a fim de restaurar para nós o que fora perdido em Adão.” Calvino explica isto da seguinte maneira:
No princípio Deus estabelecera o homem como seu filho, para ser ele o herdeiro de todas as coisas; mas o primeiro homem, por meio de seu pecado, alienou-se de Deus, tanto ele próprio como também sua posteridade, e privou a todos tanto da bênção divina quanto de todas as demais coisas. (1997, p. 33).

Sua conclusão é simples: “Só começaremos a desfrutar as boas coisas de Deus, por direito, quando Cristo, que é o herdeiro de todas as coisas, nos admitir em sua comunhão. Ele tornou-se herdeiro para poder fazer-nos ricos por meio de suas riquezas.” (CALVINO, 1997, p. 33). Em suas palavras, “o apóstolo lhe atribui esse título para que pudéssemos saber que sem ele somos destituídos de todas as coisas.” (CALVINO, 1997, p. 33).
O’Brien diz que não é imediatamente aparente o tempo em que “o Filho foi constituído herdeiro” (2010, p. 52). [32] Segundo ele (O’BRIEN, 2010, p. 52), “O verbo constituído (ethēken) não sugere que qualquer tempo particular seja pretendido, enquanto não existem marcadores temporais na própria cláusula.” [33] Todavia, O’Brien entende ser melhor entender “a constituição do Filho como herdeiro quando ele foi exaltado à mão direita, isto é, depois que ele fez purificação pelos pecados” (2010, p. 52). [34] O motivo apresentado para tal entendimento é o fato de o v. 4 descrever Jesus “herdando o nome que é mais excelente do que aqueles dos anjos”, o que, segundo O’Brien (2010, p. 52), “está conectado com sua exaltação (vv. 3d-4).” [35] Assim, conectando o que fora dito agora com a interpretação anterior proposta por Calvino, em Sua exaltação, após cumprir todo o propósito de Sua encarnação, isto é, Sua obediência ativa e passiva, bem como Sua morte e ressurreição, fazendo “purificação pelos pecados” (v. 3c), Cristo foi constituído herdeiro de todas as coisas, afim de que possa compartilhá-las com aqueles que, por adoção, são feitos Seus irmãos e aceitos em Sua comunhão.
Ainda tratando da exaltação de Cristo, ao declarar que Ele “assentou-se à direita da Majestade, nas alturas” (v. 3d), o autor de Hebreus o retrata como o rei messiânico entronizado a destra de Deus. O’Brien afirma que “as duas declarações, que o Filho fez purificação pelos pecados de seu povo e foi entronizado no lugar de honra, jazem no centro da Cristologia do autor, e são completamente elaboradas no restante de Hebreus.” (2010, pp. 58, 59). [36] Esta alusão ao Salmo 110:1, de acordo com O’Brien (2010, p. 59), “serve como uma chave para o desenvolvimento estrutural do livro, e é citada em 1:13 e aludida em 8:1; 10:12; 12:2”. [37] As palavras deste Salmo – “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” – foram aplicadas por Jesus a si mesmo quando foi levado diante do Sinédrio em Jerusalém (Mat. 26:64; Mar. 12:36; Luc. 20:41-44). Além de apontar para o cumprimento da promessa de um herdeiro de Davi assentado num trono eterno (Sal. 89:3-4), a referência ao Salmo 110 aqui aponta para o ato poderoso de Deus em exaltar Seu Filho a “uma posição de autoridade universal e honra sem paralelo” (HARRIS apud O’BRIEN, 2010, p. 59). [38] Conforme a Bíblia de Estudo MacArthur (2010, p. 1689), “Isso retrata um Salvador vitorioso, e não um mártir derrotado.” Assim, o autor de Hebreus descreve Jesus como aquele que reina Soberano em Seu trono sobre o universo à destra de Deus Pai.

3.4 A obra criadora e redentora do Filho (Heb. 1:2c, 3c)

Este Jesus, portador em Si mesmo da Revelação Final de Deus, Herdeiro de todas as coisas e Rei sobre o universo, é descrito ainda como Criador e sumo-sacerdote. É dito que o Filho criou o αἰῶνας, que literalmente se traduziria por “séculos”, o que Ladd (2009, p. 779) diz significar “tudo o que está contido no tempo.”
Guthrie (1983, p. 65) escreve que “não há negação de que Deus poderia ter feito o universo aparte de seu Filho, mas o Novo Testamento está em aflição para mostrar que ele não fez assim.” [39] Guthrie ainda acrescenta que “os cristãos estavam convencidos de que a mesma pessoa que tinha vivido entre os homens era aquele que criou os homens” (1983, p. 65). [40] Nesta mesma linha de argumentação, O’Brien (2010, p. 52) escreve que “a afirmação de que o Filho era o agente do Pai na criação é consistente com o que é dito por outros escritores do Novo Testamento (1:10; veja João 1:3; Col. 1:16)” [41], o que corrobora com o expresso por Guthrie anteriormente, de que a idéia do Filho como Criador do universo era, de fato, o entendimento da igreja primitiva. Desta maneira, uma carta tal como esta de Hebreus, escrita sob esta convicção, “não poderia falhar em apresentar uma figura mais que humana de Jesus Cristo” (GUTHRIE, 1983, p. 65). [42]
O’Brien (2010, p. 53) nos chama ainda a atenção para o fato de que “a afirmação acerca do papel de Cristo na criação segue o que tinha sido dito acerca de ele ter sido feito herdeiro.” [43] Em suas palavras (O’BRIEN, 2010, p. 53): “Cristo é o herdeiro de tudo [...] porque [...] ele foi o mediador da criação. O universo do tempo e espaço sempre pertenceu ao Filho desde que foi através de sua agência que ele veio a existência.” [44] A conclusão é que “como o Filho exaltado e herdeiro, ele governa sobre o que foi criado através dele no princípio” (O’BRIEN, 2010, p. 53). [45]
Através desta descrição de Jesus, o autor de Hebreus parece demonstrar uma estreita relação entre suas próprias idéias acerca do Filho e a apresentação joanina de Cristo como o Lógos de Deus (João 1:1-3). De acordo com Cullmann, “É verdade que o termo mesmo λόγος não aparece aí; porém, o falar de Deus em seu Filho está associado com a criação do mundo e ligado a uma definição da relação eterna entre o Filho e Deus o Pai” (2008, p. 342). O Verbo por intermédio do qual foram feitas todas as coisas e, sem o qual, “nada do que foi feito se fez” (João 1:3), encontra mais um claro paralelo no Filho retratado em Hebreus, sobre o qual lemos que “fez o universo” (Heb 1:2) e sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder” (Heb 1:3). Não é possível determinar se há qualquer dependência de fontes aqui, todavia, fato é que tal visão elevada da pessoa de Jesus Cristo – o Filho de Deus que criou o mundo – era comum na comunidade cristã primitiva.
Segundo O’Brien (2010, p. 57), este Filho “que foi agente da atividade criativa de Deus é aquele que também tem efetuado sua obra salvadora.” [46] Cristo é apresentado como aquele que fez “a purificação dos pecados”, e isto aponta para seu papel como “sumo-sacerdote”, temática esta que será mencionada rapidamente em Heb. 2:17 e 4:14, e desenvolvida plenamente nos capítulos de 7-10, especialmente o cap. 7. O autor de Hebreus exalta o ofício sacerdotal de Cristo como acima de qualquer outro já existente no universo. Cristo não é apenas um sumo-sacerdote, Ele é um sumo-sacerdote incomparável. A obra de “purificação dos pecados” que Ele desempenhou não necessita ser repetida, como aquela realizada pelos demais sacerdotes, mas pelo contrário, foi feita de uma vez por todas, tendo a Si mesmo como sacrifício perfeito numa morte de cruz, atingindo, assim, absolutamente o seu objetivo (7:27; 10:12; 12:2). Ao sentar-se no trono celeste à destra de Deus, Cristo nos mostra que sua obra está consumada. É por isso que O’Brien escreve:
Ao fazer purificação pelos pecados o Filho concluiu algo que ninguém mais poderia concretizar. O perdão que ele tem conquistado é permanente, e, porque a barreira entre Deus e a humanidade foi removida, isto resulta em entrar na presença do próprio Deus. Uma provisão tal em nosso favor, a qual lidou perfeitamente com a corrupção do pecado, nos chama a uma resposta pública de gratidão com todo o coração. (2010, p. 58). [47]

Cristo, o Criador do universo, se fez sumo-sacerdote e sacrifico, ofertando-se a Si mesmo para ser moído pelos nossos pecados, afim de pagar uma dívida que jamais seríamos capazes de pagar, e nos comprar do maldito mercado de escravos onde éramos vendidos ao pecado.

3.5 O triplo relacionamento mediador do Filho com Deus (Heb. 1:3a-b)

Por fim, vemos nesta epístola o que de mais majestoso se poderia conceber acerca deste Filho, Criador, Sumo-sacerdote e Rei. Conforme Ladd, (2009, p. 767) “Hebreus traz uma alta cristologia explícita.” É impressionante o elevado conceito cristológico mantido por seu autor desde as primeiras linhas. “A preexistência de Cristo é mencionada já no seu início. Foi por intermédio de Cristo que Deus criou o mundo (1:2). Cristo também, pela palavra do seu poder, sustenta o Universo (1:3). Ele reflete a glória de Deus e expressa a própria imagem de sua natureza (1:3)” (LADD, 2009, p. 767, 768). Para o autor de Hebreus, o homem perfeito, Jesus, participante de “carne e sangue” (Heb. 2:14), em todas as coisas “semelhante aos irmãos” (Heb. 2:17), “mas sem pecado” (Heb. 4:15), é igualmente Deus (Heb. 1:8), ou, para usar as palavras da tradição cristã, Jesus Cristo é o Deus-Homem.
Mais uma vez ressalta aos olhos aqui a relação entre a carta aos Hebreus e o prólogo joanino. O Verbo apresentado como Deus em João (1:1c), é descrito pelo autor aos Hebreus como “o esplendor da glória e a expressão exata do seu [de Deus] Ser.” Na verdade, os anjos de Deus o adoram (Heb. 1:6), e Ladd (2009, p. 768) nos lembra que “o livro de Hebreus refere-se a Jesus chamando-o de Deus, e aplica a ele o Salmo 45: ‘O teu trono, ó Deus, subsiste pelos séculos dos séculos’ (1:8).”
Retomando a questão da estrutura quiástica apresentada no início deste trabalho, O’Brien (2010, p. 46) afirma: “Ebert alega que essas afirmações chave no centro do quiasmo ‘provêm a base teológica para a habilidade singular do Filho de ser o supremo revelador de Deus e o mediador da nova aliança’.” [48] Assim, a ênfase do prólogo recairia sobre “[...] ‘o Filho como a suprema auto-expressão de Deus’, retratando-o ‘em seu relacionamento fundamental com ambos o Pai e o universo’” (O’BRIEN, 2010, p. 46). [49]
É muitíssimo interessante que, “significativamente, nos vv. 1-4 os quatro versos que conduzem ao centro do quiasmo” – λαλήσας, λάλησεν, θηκεν e ποίησεν (havendo Deus [...] “falado”, “falou”, “constituiu” e “fez”) – “possuem Deus como seu sujeito; deste ponto até o fim da sentença há uma mudança para o Filho como sujeito. Além do mais”, acrescenta O’Brien (2010, p. 46), “no centro há uma mudança na ênfase do cosmológico para o soteriológico: compare vv. 2b-c com vv. 3c-d (note a mudança similar em Col. 1:15-20 no v. 18).” [50] Desta maneira, se estabelece o que fora mencionado supra como “o triplo relacionamento mediador do Filho com Deus”.
O Filho atua como mediador entre Deus e os homens de duas maneiras distintas: como “o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser”. Esta é a ênfase soteriológica. Na Bíblia de Estudo MacArthur (2010, p. 1688) lemos que o termo resplendor “expressa o conceito de emitir luz ou brilhar (cf. Jo 8.12; 2Co 4.4,6).” Sendo assim, “o significado de ‘reflexo’ não é apropriado aqui”, visto que, “o Filho não está somente refletindo a glória de Deus, mas ele é Deus e irradia a sua própria glória essencial.” Para O’Brien (2010, p. 54), não é tão fácil assim “determinar com certeza a nuança precisa” [51], desde que “apaugasma”, uma palavra que não aparece em nenhum outro lugar do Novo Testamento, nem na Septuaginta, “pode ser entendida tanto num sentido ativo, ‘radiância ou fulgência’, isto é, da luz irradiando de uma fonte, ou no sentido passivo de ‘reflexão’, isto é, de brilho reluzindo de volta.” [52] Ainda assim, O’Brien acredita que “o [sentido] ativo parece mais apropriado neste contexto de Hebreus” (2010, p. 54). [53]  Sobre a questão de o Filho ser a “expressão exata” do Ser de Deus, na Bíblia de Estudo MacArthur (2010, p. 1688) encontramos que na literatura extra-bíblica, o termo charactēr “era usado como referência a um entalhe em madeira, uma gravação em metal, uma marca em pele de animal, uma impressão em barro e uma imagem estampada em moedas”, e o termo “‘Ser’ é uma palavra que expressa natureza, pessoa ou essência.” Assim, “o Filho é a impressão perfeita, a representação exata da natureza e da essência de Deus no tempo e no espaço (cf. Jo 14.9; Cl 1.15; 2.9)” (BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR, 2010, p. 1688). Em consonância com isso O’Brien declara: “O Filho é a exata representação, a encarnação de Deus, como ele realmente é. Seu ser é manifestado em Cristo, tanto que ver o Filho é ver como é o Pai” (2010, p. 55). [54] É possível perceber claramente, então, o porquê de o Filho ser a mais exaltada revelação de Deus. Sendo a própria essência de Deus encarnada, Ele poderia revelar o Pai como nenhum dos profetas de Deus no passado jamais conseguiu.
Desempenhando o papel de mediador entre Deus e o universo (a criação de modo geral), Jesus é aquele que sustenta “todas as coisas pela palavra do seu poder”. Esta é a ênfase cosmológica. “Jesus Cristo não é apenas o agente da criação (v. 2c); ele também sustenta o universo que ele fez” (O’BRIEN, 2010, p. 56). [55] Calvino (1997, p. 36) diz que “sustentar” aqui “é usado no sentido de cuidar e de conservar toda a criação em seu próprio estado.” O’Brien (2010, p. 56) entende que “o contexto imediato [...] sugere a nuança adicional da ação do Filho de carregar todas as coisas para seu fim ou alvo designado. A noção de direção ou propósito parece estar incluída.” [56] Deste modo, o Filho é apresentado “não como aquele deus dos deistas, que, tendo criado o mundo , então procedeu para deixá-lo correr por si mesmo. Ele está pessoalmente e continuamente envolvido em sustentá-lo” (O’BRIEN, 2010, p. 56). [57] Portanto, aqueles que descansam Sua fé neste Jesus – o Deus/Filho – podem encontrar paz e alegria mesmo diante de um mundo hostil. Ao que tudo indica, os leitores originais da carta aos Hebreus estavam se afastando da fé cristã em virtude de grande perseguição que os ameaçava. Ao descrever o Filho como este Senhor Soberano que preserva e conduz todo o universo ao seu fim apropriado, o autor propõe que sua audiência lance fora os medos e temores confiando naquele que está no controle de absolutamente todas as coisas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como dissemos no início, nos últimos séculos diversas correntes têm se levantado buscando resguardar Jesus como um sábio, mestre, bom conselheiro, guru, idealista ou a maior das criaturas de Deus. Não é assim que o autor de Hebreus o apresenta, nem deve ser esta a imagem concebida em nossas mentes. Se cremos na Bíblia como a inerrante e infalível Palavra de Deus, devemos declarar com o autor de Hebreus: Jesus, o Filho, Herdeiro, Sacerdote, Rei, Criador e Sustentador do universo, supremo Revelador do Pai, infinitamente superior a todas as miríades celestiais, é também o Deus-Homem, cujo trono “é para todo o sempre” (Heb. 1:8).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.

CALVINO, J. Hebreus. São Bernardo do Campo: Edições Paracletos, 1997.

CULLMANN, O. Cristologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2008.

GUTHRIE, D. Hebrews: an introduction and commentary. Downers Grove: InterVarsity Press, 1983.

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2009.

MACDONALD, W. Comentário bíblico popular: Novo Testamento. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.

O’BRIEN, P. T. The letter to the Hebrews: the pillar New Testament commentary. Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 2010.

















[1] Todas as citações bíblicas, com exceção daquelas devidamente identificadas, foram extraídas de A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
[2] “Since most of them are purely conjectural it is not profitable to devote much space to their discussion.”
[3] Apollos has had the most supporters, mainly on the supposition that as an Alexandrian He would have been familiar with the ways of thought of his fellow Alexandrian, Philo, which are supposed to be reflected in the epistle.
[4] This view, which was first proposed by Martin Luther, has been strongly supported by those wishing to retain some Pauline connection with the epistle.
[5] Other proposals are Priscilla, Philip, Peter, Silvanus (Silas), Aristion and Jude.
[6] It could be used specifically of Jews who spoke Hebrew (or rather Aramaic), in which case it would distinguish them from Greek-speaking Jews. 
[7] This suggestion has some other New Testament support (cf. Acts 6:1; 2 Cor. 11:22; Phil. 3:5), but there is no means of knowing whether the traditional title to this epistle was intended in this sense.
[8] It could reasonably be maintained that Gentiles would fit the context here better than Jews, but it can hardly be claimed that the words could never be applicable to Jews.
[9] […] it seems that the traditional view is more likely to be correct.
[10] Unlike other New Testament letters (except 1 John), Hebrews does not mention a sender, addressees, or words of greeting, and this had led many to conclude, particularly in the light of the author’s description of his writing as a ‘word of exhortation’ (13:22), that it is a written sermon rather than a letter.
[11] [...] the document ends like a letter, with its mention of the author’s hope of being restored to the readers (13:19), news of Timothy (v. 23), an exchange of greetings (v. 24), and its final prayer (v. 25).
[12] It seems appropriate to speak of Hebrews as an ‘epistle’ or ‘letter’ since this was a very broad category in the New Testament period, and because it has been classified as a letter for most of its history.
[13] The opening paragraph is a carefully crafted sentence that encapsulates many of the key themes that will be developed in the following chapters.
[14] […] a hymn to Christ known in the community to which Hebrews was addressed.
[15] A        vv. 1-2a The Son contrasted with prophets
B             v. 2b The Son as messianic heir
                C             v. 2c The Son’s creative work
D            vv. 3a-b The Son’s threefold mediatorial relationship to God
                C’           v. 3c The Son’s redemptive work
B’           v. 3d The Son as messianic king
A’           v. 4 The Son contrasted with angels.
[16] The shift in subject from God (v. 2) to Christ (v. 3) and the more elevated style suggest this.
[17] [...] unusual vocabulary, such as radiance, exact representation, purification, and sustaining, have suggested that the author was citing a source.
[18] Further, the passage describes the movimento f the Son from his preexistence to his sharing in humanity and exaltation, a progress similar to that on other so-called hymnic passages.
[19] [...] there are good reasons for thinking that this paragraph stems from the author.
[20] There is not a sharp break between vv. 2 and 3, and while some of the vocabulary is distinctive, none of it appears in other New Testament hymnic texts, making it less likely that the author was quoting a source. 
[21] It is perhaps more accurate to speak of v. 3 as including traditional elements within it.
[22] […] the framing members of the paragraph (A and A’) contrast the Son with other members of divine revelation: God’s ‘word in the Son is compared with his former word through the prophets’ (vv. 1-2a), and ‘the Son is declared to be superior to the angels, the supreme messengers of the OT’ (v. 4).
[23] The eras: in the past and in these last days; the recipients: to our ancestors and to us; the agents: through the prophets and by his Son; and the ways: in various ways and ‘in one way’ (implied).
[24] These contrasts [...] are not absolute.
[25] They draw attention to two stages of the divine revelation that correspond to the Old and New Testaments respectively.
[26] ‘What God hás done in Christ is the climax of what he had begun to do in earlier times’.
[27] It is the same God Who speaks in both and the same message of salvation that He offers […], there is continuity within the contrasts.
[28] In the Old Testament angels played a role in revelation and redemption (Exod. 3:2, Isa. 63:9). Further, it was believed that the law had been mediated to Moses through angels (Acts 7:38-39; Gal. 3:19), a notion shared by the writer of Hebrews and his readers: the law was ‘the message spoken through angels’ (2:2).
[29] Further, […] it was his title ages before the incarnation – a clear implication of the statement in 1:2 that God has spoken to us in ‘his Son… through whom he made the worlds’.
[30] […] the focus here, […] is on the superiority of his present position.
[31] The next lines (B and B’) allude to Old Testament messianic psalms: whom he appointed heir of all things (v. 2b) is a reference to Psalm 2:8, while he sat down at the right had of the majesty in heaven (v. 3d) refers to Psalm 110:1.
[32] Precisely when the Son was appointed the heir is not immediately apparent.
[33] The verb appointed (ethēken) does not suggest that any particular time is intended, while there are no temporal markers in the clause itself.
[34] […] it seems best to understand the Son’s appointment as heir when he was exalted at the right hand, that is, after he made purification for sins.
[35] […] it is connected with his exaltation (vv. 3d-4).
[36] The two declarations, that the Son has made purification for his people’s sins and been enthroned in the place of honour, lie at the centre of the author’s Christology, and are fully elaborated in the rest of Hebrews.
[37] It serves as a key to the structural development of the book, and is cited at 1:13 and alluded to at 8:1; 10:12; 12:2 as well as here.
[38] ‘[…] a position of unparalleled honour and universal authority’.
[39] There is no denying that God could have made the universe apart from his Son, but the New Testament is at pains to show that He did not do so.
[40] The Christians were convinced that the same person who had lived among men was the one who created men.
[41] […] the statement that the Son was the Father’s agent in the creation of the universe is consistent with what is said by other New Testament writers (1:10; see John 1:3; Col. 1:16).
[42] A letter such as Hebrews, written from this conviction, could not fail to present a more than human picture of Jesus Christ.
[43] The statement about Christ’s role in creation follows what has been said about his being made the heir.
[44] Christ is the heir of everything [...] because […] he was the mediator of creation. The universe of time and space has always belonged to the Son since it was through his agency that it came into being.
[45] As the exalted Son and heir He rules over what was created through him in the beginning.
[46] The Son who was the agent of God’s creative activity is the one who has also effected his saving work.
[47] By making purification for sins the Son accomplished something which no one else could achieve. The forgiveness he has won is permanent, and, because the barrier between God and humanity has been removed, it results in entry into the presence of God himself. Such a provision on our behalf, which has perfectly dealt with the defilement of sin, calls forth from us a response of wholehearted gratitude.
[48] Ebert claims that these key statements at the centre of the chiasmus provide ‘the theological basis for the Son’s unique ability to be the supreme revealer of God and mediator of the new covenant’.
[49] [...] ‘the Son as God’s supreme self-expression’, portray him ‘in his fundamental relationship to both the Father and the universe’.
[50] Significantly, in vv. 1-4 the four verbs that lead to the centre of the chiasmus have God as their subject; from this point to the end of the sentence there is a change to the Son as subject. Moreover, at the centre there is a shift in emphasis from the cosmological to soteriological: compare vv. 2b-c com vv. 3c-d (note the similar shift in Col. 1:15-20 no v. 18).
[51] It is difficult to determine the precise nuance with certainty.
[52] The Word may be understood in either an active sense, ‘radiance or effulgence’, that is, of light radiating from a source, or the passive sense of ‘reflection’, that is, of brightness shining back.
[53] [...] the active seems more appropriate in this context of Hebrews.
[54] The Son is the exact representation, the embodiment of God, as He really is. His being is made manifest in Christ, so that to see the Son is to see what the Father is like.
[55] Not only is Jesus Christ the agent of creation (v. 2c); he also sustains the universe he has made.
[56] The immediate context [...] suggests the additional nuance of the Son’s ‘carrying’ all things to their appointed end or goal.
[57] This Lord is not like the god of the deists, who, having created the world, then proceeded to let it run on its own. He is personally and continually involved in sustaining it.
 

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