quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Justificação pela Fé — Fora de Moda?



RPM, Volume 12, Número 51, De 19 a 25 de Dezembro, 2010

Justificação pela Fé,
Fora de Moda?

Benjamin B. Warfield
(1851-1921)

O seguinte ensaio foi originalmente publicado no The Christian Irishman (O Cristão Irlandês — N. do T.), Dublin, Maio de 1911, p. 71. A edição eletrônica deste artigo foi escaneada e editada por Shane Rosenthal para Reformation Ink. É de domínio público e pode ser livremente copiado e distribuído.

Às vezes nos é dito que a Justificação pela Fé está “fora de moda”. Que seria uma pena se isso fosse verdade. Que significaria que o caminho da salvação estaria fechado, com um “não trafegável” cravado sobre as barreiras. Não há justificação para pecadores exceto pela fé. As obras de um pecador serão, é claro, tão pecaminosas quanto ele mesmo é, e nada além de condenação poderá ser edificado sobre ele. Onde ele pode conseguir obras sobre as quais possa encontrar sua esperança de justificação, exceto a partir de um Outro? Sua esperança de justificação, lembre-se — é esta, de ser declarado justo por Deus. Pode Deus declará-lo justo exceto sobre a base de obras que sejam justas? Onde pode um pecador conseguir obras que sejam justas? Certamente, não nele mesmo; pois, não é ele um pecador e todas as suas obras tão pecaminosas quanto ele? Ele deve sair de si mesmo, e então, achar obras as quais possa oferecer a Deus como justas. E onde encontrará ele tais obras exceto em Cristo? E como fará delas suas próprias exceto pela fé em Cristo?

Justificação pela Fé, como vemos, não é posta em contradição com a justificação pelas Obras. É posta em contradição apenas com a justificação por nossas Próprias Obras. É justificação pelas Obras de Cristo. Toda a questão, por tanto, é saber se podemos esperar ser aceitos no favor de Deus em razão do que fazemos por nós mesmos, ou somente em razão do que Cristo faz por nós. Se esperarmos ser aceitos em razão do que fazemos por nós mesmos — isto é chamado justificação pelas Obras. Se em razão do que Cristo fez por nós — é o que se entende por Justificação pela Fé. Justificação pela Fé significa, quer dizer, que olhamos para Cristo e para ele somente por salvação, e vamos a Deus suplicando pela morte de Cristo e Sua justiça como a base de nossa esperança de sermos aceitos em seu favor. Se a Justificação pela Fé está fora de moda, significa, então, que a salvação por Cristo está fora de moda. Não há nada, neste caso, deixado para nós, além de que cada homem deve apenas fazer o melhor que possa para salvar a si mesmo.

Justificação pela Fé não significa, por tanto, salvação por acreditar em coisas ao invés de por fazer o que é certo. Significa suplicar pelos méritos de Cristo diante do trono da graça ao invés de nossos próprios méritos. Pode ser correto acreditar em coisas, e fazer o que é correto é com certeza acertado. O problema de rogar por nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis para Deus. O problema é que não temos qualquer mérito em nós mesmos pelo qual possamos rogar diante de Deus. Adão, antes de sua queda, tinha méritos em si mesmo, e porque ele possuía méritos era, em sua própria pessoa, aceitável a Deus. Não precisava de um Outro que ficasse entre ele e Deus, cujos méritos ele poderia suplicar. E, por essa razão, não havia conversa sobre ser Justificado pela Fé. Mas não somos como Adão antes da queda; somos pecadores e não possuímos méritos em nós mesmos. Se, em todo o caso, vamos ser justificados, deve ser em razão dos méritos de Outro, cujos méritos podem ser feitos nossos pela fé. E essa é a razão pela qual Deus enviou seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Se não crermos nele, obviamente pereceremos. Mas se crermos nele não pereceremos, mas teremos vida eterna. Isto é apenas Justificação pela Fé. Justificação pela Fé não é nada mais do que obter vida eterna por crer em Cristo. Se a Justificação pela Fé está fora de moda, então a salvação em Cristo está fora de moda. E como nenhum outro nome há debaixo do céu, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos, se a salvação em Cristo está fora de moda, então é a própria salvação que está fora de moda. Certamente, num mundo de pecadores, precisando de salvação, isto seria uma grande pena.


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Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!



Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “Justification by Faith — Fora de Moda?”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim

Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Justificação e Santificação — Como elas Diferem?

RPM, Volume 12, Número 46, De 14 a 20 de Novembro, 2010


Justificação e Santificação
Como elas Diferem?

J. C. Ryle

Eu agora proponho considerar, em ultimo lugar, a distinção entre justificação e santificação. Onde elas concordam, e onde elas diferem?

Esta seção de nosso tema é de uma grande importância, embora eu tema que não parecerá assim a todos os meus leitores. Devo abordá-la brevemente, mas não me atrevo passar por ela completamente. Muitos são incapazes de olhar para algo além das coisas superficiais na religião, e dão importância a belas distinções teológicas como questões de “palavras e nomes”, os quais são muito pouco valor real. Eu alerto aqueles que estão a considerar sobre suas almas, que o desconforto que resulta de não “fazer distinção entre coisas que diferem” na doutrina Cristã é certamente muito grande; e eu os aconselho especialmente, se eles amam a paz, buscar uma visão clara sobre o assunto diante de nós. Devemos sempre lembrar que justificação e santificação são duas coisas distintas. No entanto, há pontos nos quais concordam e pontos nos quais diferem. Tentemos descobrir quais são eles.

No que, então, justificação e santificação são iguais?

(a) Ambas procedem originalmente da livre graça de Deus. É tão somente pelo Seu dom que os crentes podem ser justificados e santificados.

(b) Ambas são parte daquela grande obra a qual Cristo, no pacto eterno, tem se comprometido em favor de Seu povo. Cristo é a fonte da vida, da qual ambos, perdão e santidade, fluem. A raiz de cada é Cristo.

(c) Ambas são encontradas nas mesmas pessoas. Aqueles que são justificados são sempre santificados, e aqueles que são santificados são sempre justificados. Deus as têm posto juntas, e elas não podem ser desassociadas.

(d) Ambas se iniciam ao mesmo tempo. No momento em que alguém passa a ser uma pessoa justificada; também passa a ser uma pessoa santificada. Ela pode não sentir, mas isto é um fato.

(e) Ambas são igualmente necessárias a salvação. Ninguém jamais chegou ao céu sem um coração tão renovado quanto perdoado, sem a graça do Espírito bem como o sangue de Cristo, sem um encontro deste grau com a glória eterna. Uma é tão necessária quanto a outra.

Estes são os pontos sobre os quais justificação e santificação estão em acordo. Vamos agora inverter o quadro e ver onde diferem.

(a) Justificação é o parecer e a contagem de um homem com sendo justo por causa de um outro, sendo este último Jesus Cristo, o Senhor. Santificação é tornar realmente um homem interiormente justo, embora possa estar em um nível muito fraco.

(b) A justiça que temos por nossa justificação não é a nossa própria, mas a eternamente perfeita justiça de nosso grande Mediador, o Cristo, imputada a nós, e feita nossa pela fé. A justiça que temos pela santificação é nossa própria justiça, concedida, inerente e operada em nós pelo Espírito Santo, mas misturada com muita fragilidade e imperfeição.

(c) Na justificação nossas próprias obras não têm lugar em nada, e simples fé em Cristo é a única coisa necessária.

(d) Na santificação nossas próprias obras são de vasta importância e Deus nos faz lutar, e vigiar, e orar, e se esforçar, e suportar dores, e o labor da justificação é uma obra completa e acabada, e um homem é perfeitamente justificado no momento em que crê. Santificação é uma obra imperfeita, comparativamente, e jamais será perfeita até alcançarmos o céu.

(e) A justificação não admite crescimento ou aumento: um homem é tão plenamente justificado na primeira hora em que vem a Cristo pela fé, como o será por toda a eternidade. A santificação é uma obra eminentemente progressiva, e admite contínuo crescimento e aumento por tanto tempo quanto possa um homem viver.

(f) Justificação faz referência especial a nossa pessoa, nossa condição aos olhos de Deus e nossa libertação da culpa. Santificação faz referência especial a nossa natureza, e a renovação moral de nossos corações.

(g) Justificação nos dá nosso passaporte para o céu e a ousadia para adentrá-lo. Santificação nos dá nosso encontro com o céu e nos prepara para apreciá-lo quando formos morar lá.

(h) Justificação é um ato de Deus a respeito de nós e não é facilmente discernido pelos outros. Santificação é um ato de Deus dentro de nós e não pode ser escondido em sua manifestação externa perante os olhos dos homens.

Recomendo estas distinções à atenção de todos os meus leitores e peço-lhes que as ponderem bem. Estou convencido de que um grande motivo da escuridão e dos sentimentos desconfortáveis de muitas pessoas bem intencionadas em matéria de religião é o habito de confundir, e não distinguir, justificação e santificação. Nunca será possível imprimir tão fortemente em nossas mentes que elas são duas coisas separadas. Não há dúvidas de que não podem ser divididas, e todos os que participam de qualquer delas, participam de ambas. Mas nunca, nunca devem ser confundidas, e a distinção entre elas nunca deve ser esquecida. Só me resta agora concluir este assunto com algumas poucas, e claras, palavras de aplicação. A natureza e as marcas visíveis da santificação tem sido trazidas diante de nós. Quais reflexões práticas, acerca de toda esta matéria, devem se levantar em nossas mentes?

(1) Para exemplificar, vamos todos nos despertar para uma sensação do perigoso estado de muitos Cristão professos.Sem santidade nenhum homem verá o Senhor”; sem santificação não há salvação. (Heb. XII. 14)1. Então, uma enorme quantidade do que há na assim chamada religião, é perfeitamente inútil! Uma imensa parte dos freqüentadores de igreja e freqüentadores de capelas estão na estrada larga que conduz a perdição! O pensamento é terrível, impactante e esmagador. Oh, que pregadores e professores possam abrir os olhos e perceber a condição das almas ao seu redor! Oh, que o homem pudesse ser persuadido a “fugir da ira vindoura”! Se as almas não-santificadas puderem ser salvas e ir para o céu, a Bíblia não é verdadeira. No entanto, a Bíblia é verdadeira e não pode mentir! Qual deve ser o fim!

(2) Outro exemplo: Vamos trabalhar corretamente dentro de nossa própria condição, e não descansar até sentirmos e sabermos que estamos realmente “santificados”. Quais são os nossos gostos, e escolhas, e preferências, e inclinações? Esta é a pergunta do grande teste. Pouco importa o que desejamos, e o que esperamos, e o que queremos ser antes de morrermos. Onde estamos agora? O que estamos fazendo? Estamos santificados ou não? Se não, a culpa é toda nossa.

(3) Outro exemplo: Se quisermos ser santificados, nosso caminho é claro e simples — devemos começar com Cristo. Devemos ir a Ele como pecadores, sem contestação, mas com aquela absoluta necessidade, e lançar nossas almas sobre Ele pela fé, para alcançarmos paz e reconciliação com Deus. Devemos nos colocar em Suas mãos, como nas mãos de um bom médico, e clamar a Ele por misericórdia e graça. Não devemos esperar por algo para levarmos conosco, como uma recomendação. O primeiro passo para a santificação, como também para a justificação, é vir a Cristo com fé. Precisamos primeiro viver e então trabalhar.

(4) Outro exemplo: se quisermos crescer em santidade e nos tornarmos mais santificados, devemos continuamente prosseguir como começamos, e estar sempre fazendo novas petições a Cristo. Ele é a Cabeça da qual todo membro deve ser suprido. (Ef. IV.16.) Viver a vida de fé diária no Filho de Deus, e estar diariamente esboçando o cumprimento de Sua graça e força prometidas, as quais Ele tem preparado para Seu povo — este é o grande segredo da santificação progressiva. Crentes que parecem estar em um estado de paralisação, estão geralmente negligenciando uma comunhão mais intima com Jesus, e, assim, entristecendo o Espírito. Aquele que orou: “Santifica-os”, na última noite antes de Sua crucificação, está infinitamente disposto a ajudar todos os que pela fé suplicam a Ele por ajuda, e têm o desejo de serem feitos mais santos.

(5) Outro exemplo: não vamos esperar muito de nossos corações aqui em baixo. Em nosso melhor, devemos encontrar em nós mesmos diariamente motivo para humilhação, e descobrir que somos devedores necessitados de misericórdia e graça a cada hora. Quanto mais luz tenhamos, mais devemos ver nossa própria imperfeição. Pecadores éramos quando começamos, pecadores devemos encontrar em nós mesmos enquanto prosseguimos; renovados, perdoados, justificados — ainda assim pecadores até o final. Nossa absoluta perfeição ainda está por vir, e a expectativa disto é uma razão pela qual devemos ansiar pelo céu.

(6) Finalmente, nunca nos envergonhemos de esforçar-nos por mais santificação, e contender por um alto padrão de santidade. Enquanto uns estão satisfeitos com um nível miseravelmente baixo de resultados, outros não se envergonham de viver sem santidade alguma — contentes com um mero ciclo de freqüentar igrejas e capelas, sem nunca firmar-se, como um cavalo num moinho — Permaneçamos firmes nos velhos caminhos, seguindo um elevado nível de santidade para nós mesmos, e recomendando-o corajosamente a outros. Esta é a única maneira de ser realmente feliz.

Sintamo-nos convencidos, não importando o que outros possam dizer, que santidade é felicidade, e que o homem que atravessa a vida mais confortavelmente é o homem santificado. Não há dúvida de que existem verdadeiro Cristãos que por motivos de saúde, provações familiares, ou outras causas secretas, desfrutam de pouca noção de conforto, e vão pranteando todos os seus dias no caminho para o céu. Mas estes são casos excepcionais. Em regra geral, ao longo da vida, será constatada a verdade de que “as pessoas santificadas são as mais felizes da terra.” Elas tem um conforto sólido, o qual o mundo não pode dar nem tirar. “Os caminhos da sabedoria são caminhos de delícias.” — “Grande paz têm aqueles que amam Tua lei.” — Isto foi dito por Alguém que não pode mentir. “Meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” — Mas também está escrito: “Não há paz para os ímpios.” (Prov. III.17; Sal. CXIX.165; Mat. XI.30; Isa. XLVIII.22)


P. S. O tema da santificação é de uma importância tão profunda, e os erros cometidos sobre ele são tantos e tão grandes, que não me desculpo por recomendar vigorosamente “Owen sobre o Espírito Santo” a todos que queiram estudar mais detalhadamente a doutrina inteira da santificação. Um simples ensaio como este não pode abarcá-lo completamente. Estou perfeitamente consciente que os escritos de Owen não estão na moda nos dias atuais, e que muitos pensam ser apropriado negligenciá-lo e desdenhá-lo como um Puritano! No entanto, o grande clérigo que nos tempos da República foi Deão da Igreja Cristã, Oxford, não merece ser tratado deste jeito. Ele tinha mais ensinamento e profundo conhecimento da Escritura em seu dedo mindinho do que muitos que o depreciam possuem em todo o seu corpo. Eu afirmo indubitavelmente que o homem que deseja estudar teologia experimental não encontrará livros iguais aqueles de Owen e alguns de seus contemporâneos, pelo completo, Bíblico, e exaustivo tratamento dos temas que eles abordam.

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1 No original (inglês), os capítulos são citados pelo autor na forma de algarismos romanos e aqui serão mantidos como tais. As passagens citadas, na ordem em que aparecem no texto, são: Hebreus 12.14; Efésios 4.16; Provérbios 3.17; Salmo 119.165; Mateus 11.30; Isaías 48.22 [N. do T.].

Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!


Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “Justification and Santification — How do they Differ?”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

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Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Confissões Ministeriais


RPM, Volume 12, Number 50, December 12 to December 18, 2010

Confissões Ministeriais

Horatius Bonar

Temos sido carnais e não espirituais. O tom de nossas vidas tem sido baixo e terreno. Tão associados e tão intimamente ligados com o mundo, temos nos acostumado as suas formas. Conseqüentemente, nosso gosto espiritual tem sido viciado, nossas consciências embotadas, e aquela sensível ternura de sentimentos tem se desgastado e dado lugar a uma porção de insensibilidade da qual outrora, em dias mais frescos, acreditávamos sermos incapazes.

Temos sido egoístas. Temos recuado diante do trabalho árduo, das dificuldades e das resistências. Temos nos importado apenas com nossas próprias vidas, bem-estar temporal e conforto tão preciosos para nós. Temos procurado agradar a nós mesmos. Temos sido mundanos e avarentos. Não temos nos apresentado diante de Deus como “sacrifícios vivos”, depositando a nós mesmos, nossas vidas, nossos bens, nosso tempo, nossa força, nossas faculdades, nosso tudo, sobre Seu altar. Parece que temos perdido completamente de vista este principio de alto sacrifício sobre o qual, mesmo como Cristãos, mas muito mais como ministros, somos chamados a agir. Temos tido pouca noção do que quer que venha a ser sacrifício. Podemos ter estado dispostos a ir até o ponto onde o sacrifício foi exigido, mas lá paramos; calculando desnecessariamente, talvez chamando-o imprudente e precipitadamente, para prosseguir adiante. No entanto, não deveria a vida de cada Cristão, especialmente de cada ministro, ser uma vida de total auto-sacrifício e autonegação, tal como era a vida dAquele que “não agradou a si mesmo”?

Temos sido negligentes. Temos estado poupando em nossos labores. Não temos suportado as privações como bons soldados de Cristo. Não temos procurado recolher as migalhas de nosso tempo, de forma que nenhum momento possa ser usado a toa ou desperdiçado em alguma atividade sem proveito. Preciosas horas e dias têm sido gastos na preguiça, em companhias inúteis, em prazeres, em leituras inúteis ou imprestáveis, que poderiam ter sido dedicadas ao closet1, ao estudo, ao púlpito ou a reunião! Indolência, auto-indulgência, inconstância, prazer carnal, tem devorado por dentro nosso ministério como se fosse um câncer, prendendo a benção e estragando nosso sucesso. Temos manifestado muito pouco daquele incansável, abnegado amor com o qual, como pastores, deveríamos ter assistido aos rebanhos que estão comprometidos ao nosso cuidado. Temos alimentado a nós mesmos, e não o rebanho. Temos tratado de forma desleal para com Deus, aquele do qual professamos ser servos.

Temos sido frios. Mesmo enquanto diligentes, quão pouco calor e ardor! A alma inteira não está derramada em seus deveres, conseqüentemente, se reveste tão freqüentemente do repulsivo ar de “rotina” e “formalidade”. Nós não falamos e agimos como homens de verdade. Nossas palavras são débeis, mesmo quando soam verdadeiras; nossos olhares são desatentos, mesmo quando nossas palavras são pesadas; e nosso tom denuncia a apatia na qual ambos, palavras e olhares, estão mascarados. O amor está em falta, o profundo amor, o amor forte como a morte, amor como o que fez Jeremias chorar em lugares secretos. Na pregação e nas visitas, em conselhos e repreensões, quão formais, quão frios, quão pouco carinho e afeto!

Temos sido tímidos. O medo tem, freqüentemente, nos levado a suavizar ou generalizar verdades, as quais, se declaradas abertamente, devem trazer ódio e censura sobre nós. Temos, assim, muitas vezes falhado em declarar ao nosso povo todo o conselho de Deus. Temos nos esquivado de repreender, reprovar e exortar com toda paciência e doutrina. Temos temido indispor amigos, ou despertar a ira dos inimigos.

Temos faltado em solenidade. Quão profundamente devemos ser humilhados por nossa leviandade, frivolidade, irreverência, alegria vã, conversas tolas e gracejos, pelos quais graves danos têm sido feitos as almas, retardando o progresso dos santos, e aprovando o mundo em suas vaidades infames.

Temos pregado a nós mesmos, não a Cristo. Temos buscado aplausos, cortejado a honra, sido avarentos por fama e ciumentos de nossas reputações. Temos pregado muitas vezes, de modo a exaltar a nós mesmos ao invés de magnificar a Cristo; de modo a atrair os olhos dos homens para nós mesmos ao invés de fixá-los sobre Ele e Sua cruz. Não temos por muitas vezes pregado a Cristo com o único propósito de obter honra para nós mesmos? Cristo, nos sofrimentos de Sua primeira vinda e na glória de Sua segunda, não tem sido o Alpha e o Omega, o primeiro e o último, de todos os nossos sermões.

Não temos estudado e honrado devidamente a Palavra de Deus. Temos dado maior proeminência aos escritos do homem, opiniões do homem e sistemas do homem em nossos estudos, do que à Palavra. Temos bebido mais das cisternas humanas do que da divina. Temos nos apegado mais a comunhão com o homem do que com Deus. Conseqüentemente, a forma e a moda de nossos espíritos, nossas vidas, nossas palavras, têm sido derivadas mais dos homens que de Deus. Devemos estudar mais a Bíblia. Devemos mergulhar nossas almas nela. Não devemos apenas colocá-la dentro de nós, mas fazê-la passar através de toda a estrutura da alma. O estudo da verdade em sua forma acadêmica mais que em sua forma devocional, rouba-a de seu frescor e poder, gerando formalidade e frieza.

Não temos sido homens de oração. O espírito de oração tem estado adormecido entre nós. O closet (“quarto reservado para oração” – N. do T.) tem sido tão pouco freqüentado e deleitável. Temos permitido que os negócios, estudo ou atividade laboral interfira em nossas horas no closet. Uma atmosfera febril tem encontrado seu caminho em nosso closet, perturbando a doce calma de sua abençoada solidão. Sono, empresa, visitas inúteis, conversas tolas e gracejos, leituras inúteis, ocupações sem proveito, gastando tempo com o que poderia ser separado para oração. Por que há tão pouco interesse em se tirar tempo para orar? Por que há tanto falatório, mas tão pouca oração? Por que há tanta correria pra lá e pra cá e, todavia, tão pouca oração? Por que há tanta agitação e negócios, porém tão pouca oração? Por que há tantos encontros com nossos semelhantes, mas tão poucos encontros com Deus? Por que tão poucos ficam sozinhos, tão pouca sede das almas por calma, doces horas de inquebrável solidão, quando Deus e Seu filho mantêm comunhão juntos, como se jamais pudessem se separar? É a falta destas horas solitárias que não somente fere nosso próprio crescimento na graça, mas nos faz membros improdutivos da igreja de Cristo, e que torna nossas vidas inúteis. Para crescermos na graça, precisamos muito de estar a sós com Deus. Não é na sociedade, mesmo na sociedade Cristã, que a alma cresce mais rápida e vigorosamente. Em uma única hora de oração silenciosa, elas freqüentemente farão mais progresso que em dias inteiros na companhia de outros. É no “deserto” que o orvalho cai mais fresco e o ar é mais puro. Assim também é com a alma. É quando ninguém, mas apenas Deus está perto; Quando somente a Sua presença, como o ar do deserto no qual não há mistura com a respiração nociva do homem, envolve e permeia a alma; é então que o olho recebe a mais clara e simples visão das certezas eternas; é então que se reúne na alma maravilhoso refrigério e poder e energia. Proximidade com Deus, comunhão com Deus, esperar em Deus, descansar em Deus, têm sido características tão pequenas em nossa caminhada, seja particular ou ministerial. Daí nosso exemplo estar sendo tão impotente, nossos labores tão fracassados, nossos sermões tão fracos2 e todo o nosso ministério tão infrutífero e medíocre.

Não temos honrado o Espírito Santo. Não temos buscado Seu ensino ou Sua unção. “Mas, vós tendes uma unção da parte do Santo, e todos vós conheceis a verdade.” (1 João 2:20). Nem no estudo da Palavra, nem na pregação dela a outros, temos reconhecido devidamente Seu oficio como o Iluminador do entendimento, o Revelador da verdade, Aquele que testifica e glorifica Cristo. Temos entristecido-O por não darmos devida importância ao fato de Ele ser apresentado como o Professor, Aquele que convence, o Consolador e o Santificador. Daí Ele ter quase se afastado de nós, e nos deixado a colher os frutos de nossa perversidade e descrença. Além disso, temos entristecido-O por nosso andar inconsistente, pela nossa falta de prudência, por nossa mentalidade mundana, por nossa falta de santidade, por nossa falta de oração, por nossa infidelidade, por nossa falta de solenidade, por uma vida e conversão em tão pouca conformidade com o caráter de um discípulo ou o oficio de um embaixador.

Temos tido pouco da mente de Cristo. Temos estado tão distantes do exemplo de Cristo. Temos tido pouco da graça, compaixão, mansidão, humildade e do amor de Jesus. Seu choro sobre Jerusalém é um sentimento do qual temos a menor simpatia sincera. Sua busca pelos perdidos é pouco imitada por nós. Diante de Seu incansável ensinamento as multidões, nos retraímos, pela demasia da carne e sangue. Seus dias de jejuns, suas noites de vigílias e orações, não são percebidos por nós como um modelo completo a ser copiado. Ele não levou em conta Sua própria vida preciosa, com a qual Ele pôde glorificar a Deus e completar a obra dada a Ele para realizar, mas quão pouco nós a recordamos como o principio sobre o qual devemos agir. Mas certamente estamos a seguir Seus passos; o servo deve andar onde seu Mestre apontou o caminho; o pastor menor deve ser aquilo que o Supremo Pastor foi. Não devemos buscar descanso ou facilidade em um mundo onde Aquele que amamos não teve nenhum.

Temos sido incrédulos. É a incredulidade que nos faz tão frios em nossa pregação, tão preguiçosos em visitar, e tão omissos em todos os nossos deveres sagrados. É a incredulidade que traz frieza as nossas vidas e restringe nosso coração. É a incredulidade que nos faz lidar com realidades eternas com tal irreverência. É a incredulidade que nos faz ascender com tanta luz e dar um passo para o púlpito para lidar com seres imortais sobre céu e inferno.

Não temos sido sinceros em nossa pregação. Se fôssemos, poderíamos ser tão frios, tão sem oração, tão inconsistentes, tão preguiçosos, tão mundanos, tão diferentes dos homens dos quais todos os negócios são sobre a eternidade? Precisamos ser mais determinados se quisermos ganhar almas. Devemos ser mais determinados se quisermos andar nos passos de nosso amado Senhor, ou se quisermos cumprir os votos que estão sobre nós. Precisamos ser mais determinados se quisermos ser menos hipócritas. Devemos ser mais determinados se quisermos terminar nossa carreira com alegria, e obter a coroa na vinda do Mestre. Devemos trabalhar enquanto é dia; a noite vem, quando nenhum homem pode trabalhar.

Temos sido infiéis. O medo do homem e o amor por seus aplausos, freqüentemente nos faz receosos. Temos sido infiéis para com nossas próprias almas, nossos rebanhos e nossos irmãos; infiéis no púlpito, nas visitas e na disciplina na igreja. No desempenho de cada um dos deveres de nossa mordomia, tem havido grave infidelidade. Em vez de especial e particular repreensão do pecado, tem havido vaga alusão. Ao invés de reprovação corajosa, tem havido tímido indício. Em vez de firme condenação, tem havido fraca desaprovação. Ao invés de inabalável coerência de uma vida santa, cujo teor uniforme deveria ser um protesto contra o mundo e uma censura ao pecado, tem havido tão somente um amontoado de infidelidade em nosso andar e conversação, em nossa conduta diária e diálogo com os outros, que qualquer grau de fidelidade que tenhamos obtido para manifestar no dia do Senhor, é quase neutralizado pela falta de prudência exibida em nossas vidas durante a semana.

Precisamos de homens que gastem e sejam gastos, que trabalhem e orem, que assistam e chorem pelas almas!

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1 A palavra “closet”, aqui, faz referência a um cômodo reservado para oração [N. do T.].

2 A palavra aqui traduzida por “fracos” (“meager” – no original), talvez fosse melhor traduzida por “magros”, que traria a idéia de sermões “sem alimento” ou “desnutridos”; no entanto, não soaria tão familiar ao contexto brasileiro [N. do T.].

Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!



Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “Ministerial Confessions”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim


Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Mal do Pecado


RPM, Volume 12, Número 48, de 28 de Novembro a 04 de Dezembro, 2010

O Mal do Pecado

John Flavel

Se a morte de Cristo foi o que satisfez a Deus por nossos pecados, há um mal infinito no pecado, desde que não seria expiado a não ser por uma satisfação infinita. Os tolos zombam do pecado, e há poucos no mundo que são totalmente conscientes de sua maldade – mas, certamente, se Deus deve exigir de ti a pena completa, teus sofrimentos eternos não poderiam satisfazer nem ao menos o mal que há em um único pensamento vão. Você pode achar isto severo, que Deus deva submeter suas criaturas ao sofrimento eterno por causa do pecado, e, de qualquer modo, nunca estar satisfeito com eles. Mas quando você tiver considerado bem, que o Ser contra quem você peca é o infinitamente bendito Deus, e como Deus lidou com os anjos que caíram, você mudará de idéia. Oh, a profundidade da malignidade do pecado! Se alguma vez você quiser ver quão grande e repugnante é um maldito pecado, meça-o em seus pensamentos, quer pela infinita santidade e excelência de Deus, que é injustiçado por ele; ou pelos infinitos sofrimentos de Cristo, que morreu para satisfazê-lo; e então você terá uma profunda compreensão de sua enormidade.

Se a morte de Cristo satisfez a Deus, e assim nos redimiu da maldição; então, é cara a redenção de almas; almas são preciosas e de grande valor para Deus. “Sabendo que não fostes redimidos com coisas corruptíveis, como prata e ouro, da vossa vã maneira de viver que receberam pela tradição; mas com o precioso sangue do Filho de Deus, como de um cordeiro sem mácula.” (I Pedro 1: 18,19).1 Somente o sangue de Deus é um equivalente para a redenção de almas. Ouro e prata podem resgatar (redimir – N. do T.) dos humanos, mas não da escravidão infernal. A criação inteira não é valor suficiente para a redenção de uma única alma. Almas são de um preço muito elevado; aquele que pagou por elas sabe o quanto: no entanto, quão baixo é o preço pelo qual os pecadores vendem suas almas.

Se a morte de Cristo satisfez a Deus pelos nossos pecados, quão incomparável é o amor de Deus para com pobres pecadores! Se Cristo, por sua morte, trouxe satisfação completa, então Deus pode sempre perdoar os maiores dos pecadores que crêem em Jesus.


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1 A expressão aqui traduzida por “modo de viver” aparece na versão do autor como “conversation”, que seria melhor traduzida pela palavra “conversação”. No entanto, tanto a versão “Almeida, Revista e Atualizada” (ARA), quanto a “Almeida, Corrigida e Revisada, Fiel” (ACRF) apresentam o termo “modo de viver”. A Nova Versão Internacional traz uma expressão semelhante: “maneira vazia de viver” [N. do T.].


Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!


Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “The Evil of Sin”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim

Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

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