sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Um Povo em Declínio: A Busca por "Novas Revelações” – Parte I.

Ao longo da história da igreja, não são poucos os que se têm levantado como possuidores de novas “revelações” vindas diretamente da parte de Deus. A igreja Católica Romana, em seu catecismo (Capítulo II, Artigo 1, § 67)1, declara:

No decurso dos séculos houve revelações denominadas ‘privadas’, e algumas delas têm sido reconhecidas pela autoridade da Igreja. Elas não pertencem, contudo, ao depósito da fé. A função delas não é ‘melhorar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a viver dela com mais plenitude em determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o senso dos fiéis sabe discernir e acolher o que nessas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou de seus santos à Igreja.”

Entre estas “revelações” estão as “aparições marianas”, das quais se originaram algumas das “crenças” católicas, como a instituição do “Santo Rosário”, onde em 1208, na França, São Domingos de Gusmão declarou ter recebido das mãos de Maria (que a partir de então passou a ser chamada “Nossa Senhora do Rosário”) o tal objeto símbolo desta “revelação”. Há também a instituição do “Escapulário de Nossa Senhora do Carmo”, a qual teria aparecido a São Simão Stock (Inglaterra, 1251) trazendo-o na mão e dizendo: “Hoc tibi et tuis privilegium: in hoc moriens salvabitur”, significando que aquele que participasse da Ordem (dos Carmelitas) e utilizasse o tal símbolo, seria salvo definitivamente. Muitas outras “revelações” são aceitas pelo Romanismo como legítimas, um exemplo, são as de Santa Teresa D’Ávila, onde numa delas declara:

Havia muito tempo que o Senhor me fazia muitas graças já referidas e outras ainda maiores, quando um dia, estando em oração, achei-me subitamente, ao que me parecia, metida corpo e alma no inferno. Entendi que o Senhor queria fazer-me ver o lugar que os demônios aí me haviam preparado, e eu merecera por meus pecados. Durou brevíssimo tempo. Contudo ainda que vivesse muitos anos, acho impossível esquecê-lo (..) A entrada pareceu-me um túnel longo e estreito, semelhante a um forno muito baixo, escuro e apertado. O chão tinha aparência de uma água, ou antes, de um lodo sujíssimo e de odor pestilencial, cheio de répteis venenosos. No fundo havia uma concavidade aberta numa parede, como um armário, onde me vi, encerrada de maneira muito apertada.”

Daí prossegue descrevendo as aflições do inferno. Sobre Teresa, que expressava o desejo de casar-se com Jesus, Padre Antônio Vieira disse: "... a união entre Jesus e Teresa foi tão íntima que, passando de união a unidade, Teresa e Jesus não eram dois e distintos, senão um só e o mesmo."

Ainda no século II, por volta de 156-157 (ou 172) d. C., surgiu um movimento conhecido como Montanismo, que se organizou e difundiu em comunidades na Ásia Menor, em Roma e no Norte da África. Montano (fundador do movimento), nascido na Frígia (Ásia Menor Romana, hoje Turquia), afirmava possuir o dom da profecia, e ter sido enviado por Jesus Cristo para inaugurar a era do Paráclito2, o Espírito Santo prometido em João 14.16 e 16.7, que, segundo ele, havia se encarnado em sua própria pessoa, fazendo dele Seu porta-voz. Como Montano e as duas mulheres que o acompanhavam, Priscila e Maximila, pretendiam ser a voz de Cristo e do Espírito Santo, falavam com a “suposta” autoridade deste Espírito e exigiam fé incondicional e obediência absoluta as suas ordens, negando toda autoridade eclesiástica; de fato, Montano, com esta pretensão de que nele falava o Paráclito, afirmava estar acima da própria autoridade das Sagradas Escrituras.

Hipólito escreveu sobre os Montanistas:


“Eles têm sido enganados por duas mulheres, Priscila e Maximila, a quem consideram profetisas, asseverando que o espírito Paracleto penetrou nelas... Exaltam essas mulheres acima dos apóstolos e de todo dom da graça, de modo que alguns deles chegam a dizer que há nelas algo superior a Cristo... Introduziram novidades como jejuns e festas, abstinências e dietas de raízes, transformando essas mulheres em autoridades.”3

Acerca de Montano, Eusébio declarou:

“Montano, dizem, expôs-se inicialmente aos ataques do adversário, por causa do desejo desenfreado de liderança. Ele era um neófito e foi possuído por um espírito; repentinamente, começou a entrar em um tipo de transe extático, a falar palavras ininteligíveis, profetizando de forma contrária ao costume da igreja – a tradição mantida desde os tempos primitivos (...) Alguns dos que ouviram essas afirmações espúrias repreenderam-no como a alguém possuído por um demônio... relembrando a advertência do Senhor de se guardarem, com vigilância, da vinda e do surgimento de falsos profetas; outros, no entanto, foram arrebatados, e não poucos se ensoberbeceram, considerando-se possuídos pelo Espírito Santo e detentores do dom de profecia.”4

As “novas revelações” do Montanismo, tais como “o fim do mundo” (temática principal do movimento, profetizado por Maximila para o período imediatamente posterior à sua morte – 179 d. C.) e a “Nova Jerusalém decida do céu” (referência a Apocalipse 21.1,10) que deveria localizar-se em Pepuza ou Tymion (Frígia), onde os crentes deveriam encontrar-se por ocasião da chegada do Senhor, não se verificaram, todavia, embora a frenética expectativa do fim tenha diminuído entre os montanistas, e o próprio movimento tenha sido rebaixado ao patamar de seita, continuou a expandir-se.

Outro movimento que contou com a influência de supostas “novas revelações”, fora o Anabatísmo Revolucionário. Oriundo do século XVI, diferentemente da primeira geração anabatista (onde muitos dos seus primeiros líderes eram eruditos e quase todos eles pacifistas), esta nova geração foi se fazendo cada vez mais radical, “mesclando-se com o ressentimento popular que havia dado lugar diante da rebelião dos camponeses. Pouco a pouco, o pacifismo original foi esquecido e o movimento tornou-se violento.” 5

“Em Estrasburgom onde o anabatismo era relativamente forte e havia uma certa medida de tolerância” 6, um homem chamado Melchor Hoffman, “correeiro que tinha sido pregador leigo luterano na Dinamarca, mas que, mais tarde, tinha deixado as doutrinas de Lutero a respeito da ceia, transformando-se num seguidor de Zwínglio” 7, abraçou o anabatismo.

“Pouco depois começou a anunciar que o dia do Senhor estava próximo. Sua pregação inflamou as multidões, que correram para Estrasburgo, onde segundo ele seria estabelecida a Nova Jerusalém. O próprio Hoffman predisse que seria encarcerado por seis meses e que então viria o fim. Além disso, abandonou o pacifismo inicial dos anabatistas, declarando que ao aproximar-se o fim seria necessário que os filhos de Deus pegassem em armas contra os filhos das trevas. Quando foi encarcerado e se cumpriu assim a primeira parte de sua profecia, foram muitos os que correram para Estrasburgo na espera do sinal do alto para tomar as armas” 8

Com o aumento constante de anabatistas em Estrasburgo, a cidade teve de tomar medidas cada vez mais repressivas. Enquanto isso Hoffman permanecia encarcerado.

“Então alguém disse que na realidade a Nova Jerusalém seria estabelecida, não em Estrasburgo, mas sim em Münster (...) Para lá foram os visionários e o povo cuja crescente opressão havia levado ao desespero. O reino viria logo. Viria em Münster. E então os pobres receberiam as terras por herança.” 9

Os anabatistas tomaram a cidade e os católicos foram expulsos. “Os protestantes moderados foram também considerados ímpios (...) Diariamente havia aqueles que criam receber visões do alto” 10. Sob a liderança de um padeiro holandês, João Matthys, e seu principal discípulo, João de Leiden (o qual, devido uma vitória militar foi, mais tarde, proclamado “rei da Nova Jerusalém”, e, posteriormente, por ocasião da “guerra constante e o êxodo de muitos varões”, decretou na cidade “a poligamia, usada pelos patriarcas do Antigo Testamento” 11.), os anabatistas foram vitoriosos em algumas batalhas, todavia, acabaram sendo arrasados pelas tropas do bispo de Münster. “Assim terminou o principal broto do anabatismo revolucionário. Melchor Hoffman continuou encarcerado e esquecido, ao que parece, até a sua morte.” 12

Neste mesmo período histórico (século XVI), “apareceram em Wittemberg três leigos procedentes da vizinha Zwickau, que diziam ser profetas. Segundo eles, Deus lhes falava diretamente, e não tinham necessidade das Escrituras” 13. Foi “Devido sua insistência na possessão de dons sobrenaturais”, que segundo Ricardo Cerni, “Se lhes chamou ‘os profetas de Wittenberg’”14, ou Profetas de Zwickau, como mais freqüentemente se pode encontrar nos livros de história. Lutero, que durante seu exílio em Wartburg havia sido cauteloso, aconselhando Melanchthon a tratá-los bem e testar-lhes os espíritos, ao regressar os entrevistou, desdenhou os seus "espíritos", proibiu-lhes a estadia na cidade e ordenou aos seus seguidores que deixassem Zwickau e Erfurt.

Segundo o que tenho relatado até aqui, gostaria de, por hora, apenas alertar aos irmãos em Cristo sobre o perigo de práticas semelhantes que vêm acontecendo em nossos dias. Tais desequilíbrios teológicos não são questões relegadas ao passado; estão bem presentes hoje! O legado místico/espiritualista de movimentos tais como “Romanismo”, “Montanismo” e “Anabatismo Radical” (incluindo os “Profetas de Zwikcau” neste último segmento) continuam, após séculos, a influenciar o evangelicalismo moderno. As bases destes movimentos foram a “experiência” e não a “Palavra de Deus revelada nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento”, que segundo o Breve Catecismo de Westminster nos ensina, “é a única regra [que] Deus nos deu para nos dirigir na maneira de o glorificar e gozar”.15 O “Sola Scriptura” (Somente a Escritura) fora o grande princípio sobre o qual os reformadores se apoiaram para refutar as trevas do pensamento medieval e purificar a igreja da heresia. Comentando a este respeito, John Piper escreve:

“Uma das grandes descobertas da Reforma – especialmente de Martinho Lutero – foi que a Palavra de Deus chega até nós na forma de livro. Em outras palavras, Lutero compreendeu este fato poderoso: Deus preserva a experiência da salvação e da santidade de geração para geração por meio de um livro de revelação, não por meio de um bispo em Roma e não pelos êxtases de Thomas Muenzer e os profetas de Zwickau. A Palavra de Deus chega até nós em um livro.”16

O Catolicismo Romano (semelhantemente aos demais grupos e por mais ortodoxos que qualquer daqueles possa parecer em sua doutrina), ao reconhecer como autênticas tais “revelações”, mesmo declarando que não é função destas “‘melhorar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo”, acaba por acrescentar em sua prática o que não é prescrito pelas Sagradas Escrituras (para não dizer contrário a elas), relegando seus fiéis ao mar da ignorância e superstição.

Estas supostas “novas revelações” caminham na contramão da “Revelação Especial de Deus” e quanto mais alguém se aproxima daquelas, mais distante se encontrará da verdade revelada de Deus em Seu Livro.

Aproximemo-nos do Livro de Deus e apeguemo-nos somente a ele, para que Sua luz ilumine nosso entendimento e possa resplandecer em nós, afim de que sejamos fiéis testemunhas daquele que nos “chamou das trevas para Sua maravilhosa luz” (1Pe. 2.9).

Sola Escriptura!

Nelson Ávila

CONTINUA...

___________________________________

1 O Catecismo da Igreja Católica (CIC) pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://www.catequista.net/catecismo/conteudo/1a.html .

2 Paráclito (do grego: Parakletos) faz referência ao Espírito Santo. O termo era popularmente utilizado nos tribunais sendo compreendido por “aquele que fica ao lado”. Durante um julgamento, uma pessoa que possuísse fama irrepreensível, considerada totalmente verdadeira e honesta, isenta de qualquer erro, poderia, em silêncio, caminhar até o acusado e “colocar-se ao lado” dele. Isto bastaria, pela presença e fama inviolável da pessoa em questão, para inocentar o réu.

3 Citado em MAcARTHUR, John, O Caos Carismático, São José dos Campos – SP: Editora Fiel, p. 91 (disponível em e-book).

4 Idem, p. 92.

5 GONZALES, Justos L., Uma História Ilustrada do Cristianismo: A Era dos Reformadores – Vol. 6, São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 102.

6 Idem

7 Ibid.

8 Ibid.

9 Ibid., p. 102, 103.

10 Ibid., p. 103.

11 Ibid.

12 Ibid. p. 104.

13 Ibid. p. 76.

14 CERNI, Ricardo, Historia del Protestantismo, Capellades – Barcelona: El Estandarte de la Verdad, 1995, p.47.

15 O Breve Catecismo/ Assembléia de Westminster (1643 a 1652); [tradução Igreja Presbiteriana do Brasil]. – 2. Ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 8.

16 PIPER, John, O Legado da Alegria Soberana: A graça triunfante de Deus na vida de Agostinho, Lutero e Calvino, São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 83.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Um menino do Rio


Do cume da serra desce o rio caudaloso e veloz. Como o carvão alimenta a caldeira, elevando suas chamas em fúria a alturas perigosas, assim também o faz a pesada chuva que, de nuvens escuras e carregadas, despenca em abundância sobre as águas do rio, dando-lhe ímpeto ainda mais feroz. Vem como o cavalo que tem o chicote a estalar em seus lombos...

O menino tem seus olhos no rio. Suas lágrimas escorrem com a chuva e se perdem entre as águas do próprio rio. O mundo inteiro tem seus olhos no Rio e não são poucos os que fazem coro ao pranto do menino.

Ele parece suspenso no ar, como se flutuasse por sobre o rio, mas isto não lhe causa estranheza; de fato, aquelas águas que a poucos dias lhe pareciam tão calmas, nas quais, por vezes sem conta, se divertira entre amigos, passam sob seus pés agora como uma cachoeira imensa; como um caminhão desenfreado arrastando tudo em seu caminho. O menino permanece imóvel, apático! Não se importa nem mesmo que seu corpo esteja coberto de lama. Não sente frio, nem fome, nem dor. Não sabe nem ao menos o motivo das lágrimas, tudo o que sente é uma leve sensação de dormência e grande vazio, como se coisa alguma fizesse sentido ou valesse a pena.

O rio continua a encharcar a terra e a serra vai ganhando nova forma; é como se ela possuísse agora grandes chagas abertas. Névoa, névoa e mais névoa! O ambiente se torna cada vez mais cinzento e, aos olhos do menino, o mundo inteiro parece ser constituído de chuva, lama e névoa! Casas grandes e pequenas, ricas e pobres, belas e nem tanto assim, já não estão mais no lugar onde outrora estiveram. Tudo é ruína e grande parte daquelas construções, bem como o conteúdo que havia dentro delas, seguem no curso do rio, como barquinhos de papel levados pela correnteza.

O menino tenta se mover, mas não pode; é um ponto fixo e paralisado no espaço e no tempo. Tudo é como uma grande tela de cinema que se projeta por todos os lados, envolvendo-o sem, contudo, possibilitar-lhe qualquer alteração no ambiente ao redor. Lá em baixo, em meio a lama, vegetação e entulho, algo chama sua atenção: Há pessoas sendo violentamente atiradas de um lado para o outro, subindo e descendo entre as turvas águas do rio. Ele se sente inquieto, sente-se como se estivesse às portas de deparar-se com algo terrível do qual jamais deveria aproximar-se. Percebe que está suando bastante; as águas da chuva, embora incessantes, parecem não tocar-lhe a face enquanto o suor escorre abundantemente por todo seu corpo. De repente alguém é arremessado para uma das margens. Aqueles olhos – tão vazios, distantes e sem vida – demorou um pouco para perceber de quem eram. Vozes, passos e sons de grande agitação vão aumentando paulatinamente em seus ouvidos. É como se estivesse se afastando de tudo. Tudo escurecendo para clarear-se lentamente de novo e, antes que as coisas desvanecessem de vez, tentou gritar com toda a força que tinha, seus olhos naqueles olhos: “Mamãããe...!!!”

Acabou-se! Estava agora em um dos diversos abrigos improvisados em sua região; parecia um outro mundo. Os olhos não saiam-lhe do pensamento. Sabia que havia chorado mas não se importava (muita coisa já não importava mais...). Perto dali uma menina, numa cena que parecia refletir algo de ironicamente malévolo ou, quem sabe numa outra circunstância, algo que poderia ser caracterizado como uma piada de mal gosto, brincava, inocentemente, de “casinha” no meio de toda aquela gente desesperada.

Todos naquele abrigo sabiam na prática o significado da palavra milagre. Diante de tantas histórias comoventes e lamentáveis, bastava olhar na face do outro o testemunho palpável do milagre, mas frente a tanta dor, por vezes, o milagre passa desapercebido, quase que sem importância. Enquanto enterramos nossos mortos, quantos de nós imaginamos ser a vida um verdadeiro castigo ao invés de uma benção? Quão difícil será para muitos prosseguir numa existência sem esposa (ou marido), filhos, pais, irmãos, amigos... Quão difícil será encontrar uma razão para seguir em frente, quando nenhum daqueles a quem mais amávamos restou; quando nada do que construímos ficou de pé!

O menino sabia quem o salvara: “Deus!” – Responderia a qualquer que o indagasse, mas o “por que?” ou “para quê?” não saberia responder. Quem poderia??? “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” (Rom. 11.33). Sabemos que Deus está no controle de tudo, mesmo quando não entendemos Seus motivos. É Ele que “pode salvar e destruir” (Tia. 4.12), “Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações.” (Sal. 22.28) “Deus reina sobre as nações; Deus está sentado sobre seu santo trono.” (Sal. 47.8) Esta deve ser sempre nossa resposta frente as incertezas dos homens, que freqüentemente nos apresentam o “acaso” como grande legislador do universo, ou questionamentos que diminuam o poder, controle e autoridade do Deus soberano.

Deus tem seu plano e muitas vezes inclui o sofrimento neste. Fora assim no caso do apóstolo Paulo, que após todo seu sofrimento declarou ter aprendido a não confiar nele mesmo e sim “em Deus, que ressuscita os mortos” (2 Cor. 1.9). Fora assim também com Jó que após uma tragédia na qual perdera tudo (inclusive seus filhos e filhas), pôde declarar: “O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21). E mesmo com todo seu sofrimento, incitado por sua esposa a blasfemar contra Deus, repreendeu-a: “Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos de Deus o bem, e não receberemos o mal?” (Jó 2.10). Jó não obteve uma explicação do “por quê?” da tragédia em sua vida, mas depois de todo aquele sofrimento pôde dizer: “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti [Deus]; mas agora te vêem os meus olhos” (Jó 42.5).

Somos limitados demais para compreender os propósitos de Deus e quando confrontados com situações como estas, devemos nos apegar e confiar nos bons propósitos de Deus que muitas vezes se escondem além do que nossos olhos podem ver. Deus não tem “prazer na morte de ninguém” (Ez 18.32) nem mesmo na morte do “ímpio” (Ez 18:23; Ez 33:11), portanto, confiemos na sabedoria de Deus em conduzir a história quando algo de ruim acontecer.

Quanto a nós, em nossos limites, estejamos sempre prontos a socorrer nosso próximo, a demonstrar compaixão, a andar nas “boas obras, as quais Deus antes preparou para que andássemos nelas.” (Ef. 2.10) Choremos pelos que tiveram suas vidas ceifadas nesta tragédia e busquemos em Deus o consolo, mas ainda há muitos outros meninos como o desta história (sem falar nos jovens e idosos) precisando de nossa mão amiga. Àqueles que sobreviveram, peço que aproveitem esta nova oportunidade para dedicarem suas vidas em louvor ao Criador, para a glória de nosso bom Deus, pois, como nos ensina o breve catecismo de Westminster, este é o fim para o qual fomos criados: “Glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”! Esta vida é breve e um dia todos nos encontraremos diante do trono do grande Juiz, o Deus Todo-Podero; há eterna alegria preparada para os que O buscam e depositam nEle sua confiança.

Deus faça resplandecer a Sua glória sobre o Rio!

“Post tenebras lux” (Após as trevas Luz).

Nelson Ávila

Paul Washer Testimony (testemunho legendado)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Faça como Armínio, leia Calvino!

"Depois da leitura das Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino ... Pois afirmo que na interpretação das Escrituras Calvino é incomparável, e que seus Comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais — tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual ele se encontra em uma posição distinta acima de outros, acima da maioria, na verdade, acima de todos."

(Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae (Amsterdam, 1704), nº 101).








Evandro C.S Junior
Fortaleza, 14 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Testemunho de Deus Acerca do Homem


RPM, Volume 12, Número 44, de 31 de Outubro a 06 de Novembro, 2010

O Testemunho de Deus Acerca do Homem

Horatius Bonar

O Caminho da Paz de Deus (God´s Way Of Peace). Horatius Bonar. Evangelical Press. 12 Wooler Street, Darlington, Co. Durham, DL1 1Rq, Inglaterra. 1968. Paginas 11-14.


Deus nos conhece. Ele sabe o que somos; Ele sabe também o que Ele pretendeu que fôssemos; e, sobre a diferença entre estes dois estados, Ele fundamenta Seu testemunho acerca de nós.

Ele é amoroso demais para dizer algo desnecessariamente severo; verdadeiro demais para dizer qualquer inverdade; nem pode ter, Ele, qualquer motivo para nos caluniar; porque Ele adora contar do bem, não do mal, que pode ser encontrado em qualquer das obras de Suas mãos. Ele as declarou boas, “muito boas”, no princípio; e se Ele não o faz agora, não é porque Ele não queira, mas porque Ele não pode; pois “toda a carne tem corrompido o seu caminho sobre a terra” (Gen. 6:12).

O divino testemunho acerca do homem é que ele é um pecador. Deus testemunha contra ele, não por ele; e testifica que “não há justo, nem sequer um”; que “não há quem faça o bem”; nenhum “que entenda”; nenhum que sequer busque a Deus, e, ainda mais, nenhum que O ame (Sal. 14:1-3; Rom. 3:10-12). Deus fala ternamente do homem, mas severamente; como alguém com um forte sentimento pelas crianças perdidas, que, todavia, não fará acordos com o pecado, e “de maneira alguma suavizará a culpa”. Ele declara que o homem é um ser perdido, desgarrado, rebelde, “inimigo de Deus” (Rom. 1:30); não um pecador ocasional, mas sempre um pecador; não um pecador em parte, com muitas coisas boas a seu respeito; mas inteiramente pecador, sem qualquer bondade para compensar; tão mal no coração quanto na vida, “morto em delitos e pecados” (Ef. 2:1); um malfeitor, e portanto sob condenação; um inimigo de Deus, e portanto “debaixo da ira”; um transgressor da justa lei, e portanto sob “a maldição da lei” (Gal. 3:10).

O homem caiu! Não este homem nem aquele homem, mas a raça inteira. Em Adão todos temos pecado; em Adão, todos temos morrido. Não é que algumas folhas têm desaparecido ou sido sacudidas ao chão, mas a árvore tem se tornado corrupta, raiz e ramo. A “carne”, ou o “velho homem” – isto é, cada homem que nasce nesse mundo, um filho de homem, um fragmento de humanidade, uma unidade no corpo caído de Adão – é “corrupto”. O pecador não leva meramente o pecado a diante, mas o carrega consigo, como seu segundo eu; ele é um “corpo” ou massa de pecado (Rom. 6:6), um “corpo de morte” (Rom. 7:24), não sujeito a lei de Deus, mas a “lei do pecado” (Rom. 7:23). O judeu educado sob a mais perfeita das leis, e nas mais favoráveis circunstâncias, foi o melhor tipo de humanidade; de civilizada, polida e educada humanidade; a melhor espécie dos filhos de Adão; no entanto, o testemunho de Deus acerca dele é que ele está “debaixo do pecado”, que ele tem se extraviado e que ele está “destituído da glória de Deus”.

A vida exterior de um homem não é o homem, assim como a pintura em um pedaço de madeira não é a madeira, e como o verde musgo sobre a rocha sólida não é a própria rocha. A pintura de um homem não é o homem; é apenas um habilidoso arranjo de cores que se parece com o homem. Portanto, é a capacidade da alma de se voltar para Deus que é o verdadeiro estado do homem. O homem que ama a Deus com todo o seu coração está no estado correto; os homens que não O amam, conseqüentemente estão no errado. Ele é um pecador, porque seu coração não é justo diante de Deus. Ele pode achar que sua vida está muito boa, e outros podem pensar o mesmo; mas Deus o considera culpado, merecedor da morte e do inferno. A bondade externa não pode compensar a maldade interna. As boas obras feitas aos seus companheiros não podem destacar-se de seus maus pensamentos sobre Deus. E ele deve estar cheio destes maus pensamentos, desde que ele não ama este infinitamente amável e infinitamente glorioso Ser, com todas as suas forças.

O testemunho de Deus acerca do homem é que ele não ama a Deus com todo o seu coração, na verdade, que ele não O ama de maneira alguma. Não amar nosso próximo é pecado; não amar nossos pais é um pecado maior; mas não amar a Deus é um pecado maior ainda.

O homem não precisa tentar dizer uma palavra por si mesmo, ou advogar “não ser culpado”, a menos que ele possa mostrar que ama, e que sempre amou, a Deus com todo o seu coração e alma. Se ele puder dizer verdadeiramente isto, ele será totalmente justo, não um pecador, e não precisará de perdão. Ele encontrará seu caminho para o reino sem a cruz ou sem um Salvador. Mas, se ele não puder dizer isto, que “cale a boca”, e seja “culpado diante de Deus”. Em todo o caso, favoravelmente, um bom modo de vida (externamente) pode dispô-lo, e a outros, a apenas olhar para seu caso agora, o veredicto contra ele virá a seguir. Este é o dia do homem, quando os julgamentos dos homens prevalecem; mas o dia de Deus está chegando, quando o caso será julgado em seus reais méritos. Então, o Juiz de toda a terra fará justiça, e o pecador será envergonhado.

Há ainda outra sentença pior contra ele. Ele não crê no nome do Filho de Deus, nem ama o Cristo de Deus. Que seu coração não seja justo diante do Filho de Deus é o segundo. E é este segundo que é coroado como o pecado esmagador, que carrega consigo a condenação mais terrível que todos os outros pecados juntos. “mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3:18). “Quem não crê em Deus, o faz mentiroso; porque não crê no testemunho que Deus de seu Filho deu” (1 João 5:10). “Quem não crer será condenado” (Marcos 16:16). E daí é que o primeiro pecado, o qual o Espírito Santo leva para casa, de um homem é a incredulidade; “quando ele (o Espírito Santo) vier, convencerá o mundo do pecado, porque não creram em mim” (João 16: 8-9).

Tal é a condenação de Deus para o homem. A Bíblia toda está cheia disto. Que o grande amor de Deus, o qual Sua Palavra revela, está baseado nesta condenação. É o amor ao condenado. O testemunho de Deus acerca de Sua própria graça não tem sentido, salvo se repousar sobre, ou tomar como certo Seu testemunho acerca da culpa e ruína do homem. Não é contra o homem, como simplesmente um ser moralmente enfermo ou lamentavelmente desafortunado que Ele testemunha, mas como culpado de morte, sob a ira, sentenciado a maldição eterna, pelo crime dos crimes, um coração não justo diante de Deus, e não verdadeiro diante de Seu Filho encarnado.

Este é um veredicto divino, não um humano. É Deus, não o homem, que condena, e Deus não é homem para que minta. Este é o testemunho de Deus acerca do homem, e sabemos que esta testemunha é verdadeira. Isto nos é preocupante demais para recebê-lo como tal e agir a respeito.

______________________________________

Este texto foi publicado com a autorização de Len Hardison, Diretor de Desenvolvimento do Third Millennium Ministries. Agradecemos a forma carinhosa com que acolheu nossa petição. Deus abençoe este ministério!



Tradução por Nelson Ávila; publicado originalmente com o título “God´s Testimony Concerning Man”, na RPM Magazine, no site da Third Millennium Ministries:

http://old.thirdmill.org/magazine/current.asp/category/current/site/iiim



Este artigo é fornecido como um ministério de Third Millennium Ministries.Se você tiver alguma pergunta sobre este artigo, por favor email nosso Editor Teológico. Se você quiser discutir este artigo em nossa comunidade online, por favor visite nosso RPM Forum.

Inscrever-se na RPM

Assinantes RPM recebem uma notificação por e-mail cada vez que uma nova edição é publicada. As notificações incluem o título, autor, e a descrição de cada artículo na edição, bem como links diretos para os artigos. Como a própria RPM, as inscrições são gratuitas. Para inscrever-se na RPM, por favor, selecione este link.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...