1 INTRODUÇÃO
Sabendo da importância que a teologia
bíblica possui para determinar o modo de viver de todo cristão, propomos uma
análise de uma perspectiva não muito popular, mas extremamente voltada a
assuntos relevantes.
A Teologia da Nova
Aliança será esboçada nesse ensaio de uma maioria histórica, pois sempre é
importante verificar o desenrolar de uma doutrina em tempos passados. Essa
análise histórica passeará desde o período patrístico até a maneira moderna
estruturada que hoje a Teologia da Nova Aliança possui.
Depois disso,
definiremos o que é a Nova Aliança e o seu breve relacionamento com outros
sistemas, como a Teologia do Pacto e o Dispensacionalismo; a hermenêutica
aliancista, e o seu entendimento em relação às promessas a Israel e a questão escatológica
nesse sistema.
Como o tema demanda uma
analise exegética bem extensa e complexa, não nos aprofundaremos em expressões
mais técnicas ou de extrema complexidade. Pois, acreditamos que uma visão panorâmica
desse sistema sempre será útil, seja em que nível for. Porém, por motivos de
simplicidade, observaremos a ideia básica da Teologia da Nova Aliança e como
ele se relaciona com a Bíblia.
2
A HISTÓRIA DA TEOLOGIA DA NOVA ALIANÇA
A Teologia da Nova
Aliança como um sistema completo, tem sua inauguração em anos bem recentes. Porém,
suas bases têm sido rastreadas até o período patrístico. Ponderando com extrema
cautela o fato de que os pais da igreja não possuíam uma perspectiva moderna de
neo-aliacismo, mas algumas afirmativas apenas.
Assim, Irineu (d.C.130-202) demostrava
um extremo contraste entre a Antiga Aliança e a Nova (uma característica bem
peculiar do neo-aliacismo) provando a superioridade desta ultima, como
inaugurada por Cristo:
Jesus quer dizer com essas
coisas que são trazidas do tesouro novo e do velho, duas alianças, a velha, que
foi a lei dada anteriormente, e, aponta como nova, dessa forma fora de vida exigida
pelo Evangelho. ...E Jeremias diz:"Eis que farei uma nova aliança, não
como eu fiz com seus pais" no Monte Horebe. Mas um só e o mesmo o dono da
casa produziu ambas as alianças, a Palavra de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, que
falou com Abraão e Moisés, e que restituiu-nos de novo à liberdade....
(Irenaeus apud WELLS; ZASPEL, 2002,
p.p 23,24)2
Nessa declaração,
Irineu demostra a superioridade da Nova Aliança em relação a aliança mosaica e
abraâmica, insistindo que essa transição ocorreu mediante o sacrifício de
Cristo. Todavia, isso não anularia o plano da redenção divina, pois, tanto a
antiga aliança quanto a nova foram instituídas por Deus, “o dono da casa”.
Quando o neo-aliancismo
percebeu esse claro contraste que os pais da igreja faziam entre Antiga e Nova Aliança,
observaram que a Antiga na maioria das vezes mencionadas pela bíblia referia-se
a Aliança mosaica, o pacto da lei.
Justino Mártir
asseverou que os cristãos:
[...]
não confiam por meio de Moisés ou através da lei... Agora, a lei colocado
contra a lei revogou o que está antes dele, e uma aliança que veio depois de
uma maneira que pôs fim a anterior, e uma lei eterna e final , ou seja, por
Cristo foi dada a nós, e o pacto é de confiança, depois dessa não haverá mais
nenhuma lei, mandamento e
ordenança." (apud PETTEGREW ,2007,p.193).
Com isso, ele deixou
claro que base para o comportamento e a confiança do crente na Nova Aliança
repousa em uma lei que Cristo entregou; não uma repetição do que fora dito
antes, mas uma nova lei.
Orígenes (d.C.185-254) também
manteve essa ênfase em duas alianças distintas, uma com a igreja (a nova
aliança) e outra com Moisés, comentando Efésios 2.12 afirmava que os gentios
eram “estranhos as alianças de Deus dada
por Moisés e por Jesus, nosso Salvador, e que não tinham parte nas promessas
que Ele fez por eles [..]” e, então, não seria apenas uma questão de ênfase ou
abrangência de uma só aliança, mas porque “Ao dizer isso, ele parece limitar as
alianças [...] (apud WELLS; ZASPEL,
2002, p. 25). Essa dicotomia é fundamental para a Teologia da Nova Aliança, é
sobre ela que a perspectiva se sustenta ou rui.
Contudo, a ideia de
continuidade da lei/decálogo mosaico permaneceu vigente na idade média através
de Tomás de Aquino (d.C.1227-1274) que influenciou o pensamento medieval
através da sua Suma Teológica. Assim, Ele observava que segundo a passagem de
Hebreus 1.1-2, aquela revelação dada por Deus “[...] prova a excelência da Nova
Lei sobre a Antiga; porque no Novo Testamento Deus falou-nos pelo Seu Filho, enquanto que no Antigo Testamento a palavra foi falada por anjos (ii.2)”(apud
WELLS; ZASPEL, 2002, p. 25). Isso é apresentado como uma e a mesma substância
(lei?) asseverada em ambos os Testamentos com uma diferença, apenas, de
mensageiros. No Antigo Testamento essa lei foi exposta por meios diferentes
daqueles da Nova Aliança, mas permanece a mesma mensagem, sem descontinuidade.
Mais adiante, durante o
período da Reforma Protestante, algumas características do neo-aliancismo foram
encontradas nas afirmações do Anabatismo. Essas peculiaridades na Reforma Radical
mantinham elementos de uma “Nova Lei”, estava em oposição a lei de Moisés, asseverando
que o Novo Testamento possuía autoridade hermenêutica sobre todo o Antigo Testamento.
Algo ainda muito comum
nesse grupo era a sua tipologia bem semelhante ao neo-aliancismo moderno. Como
bem expressou o anabatista Hans Betz martirizado em (1537):
Cristo
nos mostra a lei de Deus para o homem: "Faça aos outros o que gostaria que
fizessem com você. "Ele nos mostra o que é bom e o que é ruim para que
possamos viver de uma maneira diferente. Cristo é o cumprimento da lei que foi
dada em figuras a Moisés. Todos as figuras da
lei finalizam em Cristo, porque Cristo é a lei. [sic] pois obedecer a lei, diz Cristo, é amar a Deus com toda a
força da nossa almas, e amar o nosso próximo como a nós mesmos. Nestes breves
mandamentos a lei é recolhida em Cristo (apud
HOOVER, 2008, p. 107).
Essa era uma declaração
típica de um anabatista do séc. XVI, os radicais, como eram conhecidos,
enfatizavam a ética do amor, pois a “Fé e amor de um coração puro, diz Paulo, é
a soma de todos mandamentos [...] e, “é assim que a lei e os profetas são
cumpridos em Cristo, nosso Senhor. Esta é a maneira que ele tem nos mostrado
que conduz ao Pai e a vida eterna [...]”(BETZ apud HOOVER, 2008, pp. 107,108).
No período pós-reforma,
a Teologia da Nova Aliança foi identificada “especialmente entre os puritanos, como
John Bunyan”(FERREIRA;MYATT, 2007,p.1155). Muitas expressões de Bunyan
apontavam para uma visão de lei bem parecida com o neo-aliancismo. Um exemplo
claro estava em seus escritos que revelavam fortes críticas a observância do
quarto mandamento:
[...]
e se Deus nunca ordenou que este sábado fosse santificado por sua igreja: e, como já disse antes, se estas
cerimônias foram longas uma vez que
morta e enterrada, como deve este sábado ser mantido? Que os homens observem-no, para que enquanto eles pleiteiam pela lei, finjam
ser os únicos que cumprem a
vontade de Deus, para que fazendo assim eles não sejam achados como os maiores
transgressores da mesma. E por que eles não podem manter os outro sábados? Como
o sábados de meses, de anos, e o jubileu?
Pois isso, como eu já apresentei, não é nenhum preceito moral, é apenas
um ramo do ministério da morte e condenação.( BUNYAN, 1685,
pp.13,14)
Essa proposição feita
por Bunyan trazia uma conotação de lei de Cristo bem semelhante àquelas que
seriam posteriormente afirmadas pelos adeptos da Teologia da Nova Aliança. Contudo, a expressão maior do pensamento
puritano nesse período era a Teologia do Pacto, pois a forte influência da
Confissão de Fé de Westminster (e suas variações entre congregacionais e
batistas) não permitia que a lei de Moisés/decálogo fosse examinada de maneira
diferente do que o pensamento predominante confessava.
Após algum tempo de
exames e polêmicas (as mais variadas possíveis!), a questão da lei, alianças,
Israel e Igreja continuou sendo discutida, o assunto ganhou mais abrangência
entre o meio batista calvinista, pois tanto a Teologia do Pacto quanto o
neo-aliancismo expressam sua soteriologia tipicamente calvinista, e em relação
a essa última, o pensamento batista é predominante.
Com o crescimento da
teologia reformada em meios batistas, descobriram-se também fortes tendências
do neo-aliancismo na “Confissão de Fé Batista de 1644, afirmada atualmente por
muitas igrejas que seguem a Teologia da Nova Aliança” (FERREIRA; MYATT, 2007,
p. 1111). Como essa confissão foi revisada e adaptada posteriormente, se tornou
a Confissão de Fé Batista de 1689, uma adaptação da Confissão de Fé de
Westminster com forte ênfase na Teologia do Pacto.
Nessa peregrinação
hermenêutica, a busca exegética por uma perspectiva bíblica no cenário histórico-redentivo da
humanidade, precisava ser definida em termos de equilíbrio entre o
Dispensacionalismo e suas nuanças descontinuidade, e, a Teologia da Aliança com
seus traços de continuidade.
Portanto, em longa
pesquisa e interesse sincero por uma teologia bíblica que reconheça a
dificuldade exigida pelo assunto, a Teologia da Nova Aliança tem sua estrutura
já formada e “Atualmente, seus principais representantes incluem John
Reisinger, Tom Wells, Fred Zaspel e Geoff Volker, atraindo a atenção de
eruditos como D. A. Carson, John Armstrong e Douglas Moo”( FERREIRA; MYATT,
2007, p. 1112).
Hoje, a Teologia da
Nova Aliança é ainda bem desconhecida em comparação ao Aliancismo e o
Dispensacionalismo, contudo, tem investido muito nas mídias sociais/sites; em
uma editora própria, como a New Covenant Media; e em conferências anuais, como
a John Bunyan Conference.
Com
esse pano de fundo histórico bem extenso, a Teologia da Nova Aliança mostra-se
promissora em seu futuro, tanto pelos seus adeptos e simpatizantes, como pela
sua proposta e rápida expansão. Nesses passos largos que essa perspectiva vem
tomando, não demorará muito para que se torne possivelmente uma teologia bem
aceita e bastante popular nos próximos anos.
3.
A DEFINIÇÃO DE NOVA ALIANÇA
Muita controvérsia tem
sido levanta quando se trata de definir o que é a Nova Aliança, portanto, a
conceituação realizada será determinante, também, para definir outros assuntos,
como: batismo, igreja composta por regenerados somente etc.
Por isso, a tônica da Nova
Aliança é o tema central para esse sistema, pois ao estabelecer a promessa de
Jeremias 31.31-34, é logo percebido que não pode ser algo apenas apontando para
um fim milenar. Assim, os teólogos neo-aliancistas observam que essa Nova
aliança já está em plena operação através da obra de Cristo. O que faz essa
Aliança ser altamente cristocêntrica, não apenas como uma administração
diferente, mas uma Aliança completamente Nova, em substancia e administração na
história da salvação.
Um conceito bem
estruturado e simples foi afirmado por Wells:
A
Nova Aliança é o vínculo entre Deus e o Homem estabelecida pela morte
sacrificial de Jesus Cristo, sob o qual todos os que foram eficazmente chamados
por Deus em todas os tempos formam no único corpo de Cristo nos tempos do NT, a
fim de estar sob sua lei durante esta era e permanecer debaixo da sua
autoridade para sempre. (WELLS; ZASPEL,
2002, p. 75,76)
Essa declaração mostra
a cumplicidade da Nova Aliança que Deus estabeleceu com o verdadeiro crente, e
as exigências que Ele coloca como lei nesse Novo Pacto. Logo, se esse único corpo
foi formado por Cristo a partir do Novo Testamento, então, a igreja é uma
novidade nesse plano histórico-redentivo.
A Nova Aliança foi uma
promessa àquele povo vetero-testamentário, isso, incluía alguns elementos
próprios dessa nova era, como por exemplo, “ um novo coração (Ez 11: 19-20);
permanente perdão dos pecados (Jr.33:8); a perene habitação do Espirito Santo
em todos os crentes (Ez.36:27) [...]”(PETTEGREW
,2007,p.185), e, isso faz o neo-aliancismo rejeitar toda ideia de batismo
infantil e enfatizar a igreja composta apenas por regenerados.
Por outro lado, a
antiga aliança é exposta como expirando no surgimento da Nova Aliança, ambas não andariam juntas em
substância, mas, uma substituiria a outra e faria que a anterior se tornasse
antiquada (Hb 8.6-13). A Antiga
Aliança, essencialmente ligada a lei mosaica, “era o pacto divino estabelecido
exclusivamente com a nação de Israel. Os termos dessa aliança eram os “dez
mandamentos” ou “tábuas de pedra”( VOLKER;
KNAUB; ADAMS, p.2).
Dessa maneira, fica claro que a Nova Aliança contrasta agudamente essa
expressão judaico-sinaítica aos crentes da nossa era. De uma maneira negativa,
a Nova Aliança é a Negação daquela Aliança Mosaica, tanto relacionada à lei,
como na forma e na pessoa que a faz ser completamente superior a antiga.
4.
LEI MOSAICA OU LEI DE CRISTO ?
As demandas da Antiga
Aliança eram exigências à observância da lei, dadas àquele povo no Sinai. Todo
pecado contra Deus, naquela dispensação, era uma quebra do Pacto sinaítico
(Ex.20.1-26).
Essa lei foi dada “por
causa da transgressão até que viesse o descendente
a quem se fez a promessa” (Gl 3.18,19), por isso, essa lei
expressava-se com um caráter extremamente temporário.
No Antigo Testamento
essa demanda legal estava vinculada a elementos civis/religiosos/morais, não
como uma necessidade de serem distinguidos assim, mas, porque sua aplicação e
entrega era holística e inseparável àquela nação (Ex. 20-23).
Portanto, quando Deus
entregou leis a nação de Israel, Ele aplicou naquela lei elementos de Sua própria
moralidade, aliás, uma lei intrínseca ao caráter do próprio Deus era uma
realidade latente naquelas exigências pactuais. Por conseguinte, a lei mosaica
não foi essencialmente a lei de Deus, mas apenas continha fragmentos desta. Por
norma divina (lei eterna), queremos dizer que:
Lei
moral é a que tem sua origem no caráter moral imutável de Deus com o resultado
que é intrinsecamente certo e, portanto, liga todos os homens de todos os
tempos e todas as terras a quem se trata. (WELLS; ZASPEL,
2002, p. 162)
Esse era o motivo que trazia punição para
aqueles que a violassem, porque, embora a sua aplicabilidade trouxesse luz a
questões meramente temporais realmente, contudo, ela não era completamente
temporária. Havia elementos do caráter moral de Deus ali presentes, e, em sua
quebra a esses termos contratuais (a lei), deveriam estar cientes que não estavam
rompendo apenas com estatutos civis, mas com a revelação moral de Deus.
Ao longo do progresso
da revelação divina, vemos a profecia de Jeremias acerca de uma Torá escrita no
coração do povo de Iaveh (Jr 31.33). Logo, essa lei era uma dádiva ao povo da
Nova aliança (v.31).
Como tal, essa norma deveria
ser continuada em alguns termos conforme a anterior, porem expressaria o
advento de uma Aliança que suplantaria a anterior, pois Deus disse que era “não conforme a aliança que fiz com seus pais”(v.32), indicando assim uma
descontinuidade aliancística, um rompimento. A Antiga Aliança tinha seus termos
contratuais (por ex. a lei mosaica), e a Nova Aliança autenticará a sua
validade mediante seus próprios contratos (uma nova lei).
O ministério
de Cristo na terra foi eficaz em toda a sua obra e ética, seus ensinamentos
foram bem mais excelentes, e reveladores, “assim como também a
aliança da qual ele é mediador é superior à antiga, sendo baseada em promessas
superiores” (Hb 8.6), logo, sua lei como
uma parte pactual dessa nova era, também deveria ser superior a antiga.
O desenvolvimento dessa nova ética (lei) se tornou tão latente no Novo
Testamento que Paulo, após escrever sobre a escravidão da lei, através de uma
alegoria (Gl. 4. 1-31), começou a falar da liberdade dessa lei que tornava-o
escravo (4.31-5.1), e, explicou como aconteceu
a substituição dessa lei de escravidão (Agar/Antiga Aliança/Lei mosaica). Depois
disso, chegou até mesmo a exortar aqueles cristãos a cumprirem a Lei de Cristo
(6.2).
Portanto, a Nova Aliança demanda um novo código de conduta. Esse novo
código (lei), não é apenas uma reedição daquele entregue no Sinai, mas algo que
foi trazido mediante o sacerdócio de Cristo, porquanto o sacerdócio de Arão e
Melquisedeque teve o seu papel apenas de maneira transitória, mas “Certo
é que, quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei” (Hb 7.11,12).
Agora, se a lei mosaica não estabelece mais obrigatoriedade a um crente
da Nova Aliança, isso significará que ele é antinomiano? Porque se for essa a conclusão
do pensamento paulino, então não significaria isso uma progressão ética, mas
uma moralidade subjetiva e perigosa. E, quanto as advertências contra a
imoralidade sexual, a adoração a ídolos, assassinato etc., ficará sem
obrigatoriedade para um cristão? Não seria melhor fazer como os gálatas e
sugerir um retorno a Agar/Antiga Aliança?
Esse é o ponto crucial na lei da Nova Aliança, pois, a superioridade
ética também diz respeito a essa nova era. O padrão para o crente da Nova
Aliança é bem mais exigente do que a anterior, a qual punia e culpava o
infrator que transgredia visivelmente aquele preceito. Porem, agora, não
somente os atos, mas as próprias intenções do coração são colocadas sob
julgamento (Mt.5.22,28;1 Jo 3.15).
Os ensinamentos e a pessoa de
Cristo formam o mais alto padrão de ética, porque se alguma objeção de viver
sem lei (mosaica) fosse levantada contra Paulo, ele mesmo respondia que não era
como alguém que permanecia “estando sem lei para com Deus, mas debaixo
da lei de Cristo” (1 Co 9.21).
Outra observação se faz necessária.
Também é importante analisar a seriedade da acusação que é feita àqueles que
aderem as implicações do ensino bíblico da Nova Aliança, pois esse são chamados
de antinomianos, o que é incorreto, pois
“ a posição esboçada aqui mantem que os Cristãos não estão debaixo da Lei
Mosaica, não que eles estão livres de toda
lei” (MOO in FEINBERG, 1988, p.218). Dessa
maneira, percebemos que o problema é afirmar que se alguém não segue a lei de
Moisés, não segue lei nenhuma.
4.
A HERMENEUTICA NEO-ALIANCISTA
Outro fator muito
importante na Teologia da Nova Aliança é a sua hermenêutica, pois, nesse ponto,
ela se identifica muito com o aliancismo.
A sua maneira de
relacionar ambos os testamentos, tem como método, o Novo Testamento
interpretando o Antigo, quer seja em cumprimento de promessas e profecias, na
tipologia etc., isso torna esse sistema bem cristocêntrico em sua teologia
bíblica.
Para a Teologia da Nova Aliança, Cristo
é o cerne de toda a revelação bíblica comunicando-Se de maneira mais clara nos escritos
do Novo Testamento. Porem, esse aspecto interpretativo só se torna mais evidente
quando são avaliadas algumas nuanças do aspecto profético nas escrituras.
4.1
A nação de Israel e a Nova Aliança
Como o povo de Israel
recebeu várias promessas de restauração, Deus deveria cumprir de maneira fiel
aquilo que prometeu, porem para a Teologia da Nova Aliança, isso é descrito em
termos de remanescentes no Novo Testamento (Rm.11.5).
Para a Teologia da Nova
Aliança, a nação de Israel era o povo incrédulo de Deus na antiga Antiga
Aliança, e a sua função naquela revelação anterior, era de servir como figura
para o verdadeiro povo de Deus, ainda que entre eles houvesse remanescentes.
Dessa maneira, a
Teologia da Nova Aliança se afasta tanto do dispensacionalismo clássico, que
espera o cumprimento da Aliança Davidica e Abraamica em seu aspecto
acentuadamente escatológico. Pois, teólogos neo-aliancistas, não acham razoável
a repetição de cumprimento dessas alianças, porque tanto a epístola aos Hebreus
quanto a de Gálatas mostrou a transitoriedade daquelas alianças, daquela antiga
lei que regulamentava aquele povo.
Então, se o cumprimento
da Nova Aliança acontece de modo cabal em Cristo e sua Igreja e “Tais são as
bênçãos do novo pacto”, logo, seria necessário que o elemento da qual a figura apontava,
expressa-se uma realidade eterna e superior (definitiva). Pois, aquela figura
deveria ser vista como própria de sua função, ou seja, que " Os tipos e as promessas da antiga
aliança foram todas preenchidas em e por Cristo. A nova era raiou. Por que
voltar para as sombras?”(Randal).
Por outro lado, a
Teologia da Nova Aliança não sustenta a ideia de que a igreja já existia no
Antigo Testamento, ainda que existissem eleitos dentro da nação israelita. Assim, todas aquelas promessas de
expansão e promessa de uma Terra para Israel (Gn 15.4,5), são interpretadas à luz de seu
próprio cumprimento na chegada a terra
de Canaã (Sl. 105.4-11).
Se lêssemos apenas essas
passagens, sem uma revelação complementar (o Novo Testamento), não haveria
progressão no aspecto de seu cumprimento e aquela promessa indicaria somente um
caráter físico e genealógico. Contudo, em Romanos 9.6-8, Paulo mostra que essa descendência
é aquela que está ligada a Abraão pela fé, os filhos da Promessa. A mesma ênfase no caráter transcendente da
Promessa Abraâmica é abordada novamente em Gálatas, no qual é dito que o
descendente a quem foi feito a promessa é Cristo (3.16), e também, a todos que
estão unidos a Ele também são descendência de
Abraão e herdeiros segundo a promessa (v.19).
Por isso, “Os
israelitas na era da Nova Aliança foram removidos como povo de Deus porque a
aliança estabelecida com eles, a Antiga Aliança, chegou ao fim”[...], conforme
é relatado em Hebreus 8.6-8, inaugurada pela obra de Cristo, o qual trouxe uma
Nova Aliança, uma nova lei e um novo povo. Pois, “O povo de Deus, que cumpre a promessa feita
a Abraão, é constituído por quem foi salvo pela obra de Jesus Cristo na cruz —
a Nova Aliança”(VOLKER, p.3).
Com esse pano de
fundo em mente, é necessário deixar claro que, agora, para israelitas receberem
os privilégios da Nova Aliança, eles têm que serem incluídos na igreja formada por judeus e gentios
(Ef.2.14-18).
4.2
A Teologia da Nova Aliança e a escatologia
No que se refere a
escatologia, as posições dos adeptos da Teologia da Nova Aliança são bastante
diversificadas. Porém, um consenso entre eles é a negação de um arrebatamento
pré-tribulacional, pois esse conceito estaria carregado de uma série de
pressupostos do dispensacionalismo clássico.
Assim, como o seu
tratamento de profecias vetero-testamentárias são aquelas que se referem no
cumprimento da igreja, logo, torna-se comum entre esses teólogos o Amilenismo.
Por sua escatologia
do Novo Testamento ser bastante simplificada, o mais longe que a Teologia da
Nova Aliança pode desenvolver em termo
de um sistema escatológico que reconheça algum privilegio futuro para Israel, é
o Pré-milenismo histórico. Isso não significa que haverá uma primazia do
reinado israelita naquele período, e isso serve para esclarecer muitas coisas,
pois, é importante deixar bem definido que a Teologia da Nova Aliança:
[...]
não é a teologia da substituição, se com isso você quer dizer que Deus substituiu
as primeiras pessoas verdadeiras de Deus pelo povo de Deus número dois. Mas NCT
é uma teologia da substituição, se com isso você quer dizer que o foco da
atenção de Deus não é mais em uma determinada nação (Israel), mas sim a
preocupação de Deus é com [...] o verdadeiro povo de Deus, que é composto de
judeus e gentios. (LEHRER apud
MAYHUE, 2007, p.224)
Por isso, sua interpretação
escatológica está sempre voltada para a primazia de Cristo sobre a igreja, os
judeus seriam uma grande inclusão durante o período do milênio, no qual Deus
realizaria a promessa de Romanos 11. No entanto, o Pós-milenismo também é
possível nesse sistema escatológico, tanto pela profecia cumprida já na igreja,
quanto na conversão de judeus esperada pelos pós-milenistas que marcará o
grande avanço no evangelho de Cristo por toda a terra.
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois de analisar nos
moldes históricos e teológicos da Teologia da Nova Aliança, percebemos que a
sua preocupação é bem pastoral também. Pois, investindo numa teologia que
produza uma forte ênfase em uma igreja
de convertidos apenas, o neo-aliancismo exorta ao teólogo de erudição que
mantenha sua perspectiva da maneira mais coerente com a vida sua congregação.
È algo notório que essa
perspectiva aliancistica de uma nova lei, foi muito explorada no calor da
perseguição anabatista. Com toda a passividade que o Novo Testamento exige,
esses crentes mantinham sua sua vida em comunidade com bastante simplicidade e
reflexão nessas verdades. O que é algo bem incomum em nosso tempo, pois a
teologia geralmente é “fabricada” em grandes instituições acadêmicas, mas não
trazem sangue na verdade que foi defendida, apenas o crescimento encefálico e
soberbo é o que se torna visível nesse academicismo hodierno.
Outro fator bem
importante para uma boa teologia bíblia é a definição que a lei possui para os
crentes. É bastante confuso a compreensão de norma divina que é imprimida na
mente dos cristãos hoje, algo extremamente subjetivo, uma emoção como o
critério do certo e/ou errado. Isso é muito perigoso, pois um tema extremamente
sério com esse, não pode ser tratado de maneira tão simplista, muitas vezes até
negligenciado.
A análise é necessária para se definir
qual será a norma para o cristão viver de maneira bíblica e santificada,
negligenciar isso, é abrir mão do tesouro de mandamentos deleitosos que existe
em toda a Bíblia.
Por
conseguinte, a escatologia será apenas uma consequência obvia do padrão hermenêutico
utilizado em toda a interpretação de lei, dispensação, aliança Igreja/ Israel
etc., essa deve flui da chave hermenêutica, não ser esquematizada primeiramente
para depois se feito outros ajustes. Por
outro lado, não seria prudente negligenciar o estudo da doutrina das ultimas
coisas, porque ela é determinante para a esperança que o cristão alimentará
enquanto a história humana se desenrola.
Considerando
a abrangência que o assunto exige, sabemos que o tema não se esgotará nos
próximos anos. E oxalá que continue dessa forma, pois a profundidade da lei de
Deus e do Seu relacionamento com o homem só pode gerar doutrinas profundas
demais para se precisar com toda competência o que ela significaria de modo
pleno. Contudo, a reflexão trará firmeza nas convicções de alguém sobre o tema,
ou até mesmo uma variação dentro dos limites bíblicos.
REFERÊNCIAS:
1.WELLS,
Tom; ZASPEL, Fred G. New Covenant Theology: Description, Definition, Defense. Frederick, Md.: New Covenant Media, 2002. (Tradução minha)
2.HOOVER,
Peter; The Secret of the Strength: What Would the Anabaptists Tell This
Generation?. Disponível em:. <http://www.elcristianismoprimitivo.com/pdf/the-secret-of-the-strength-.pdf> Acesso em: 07 junho 2012. (Tradução
minha)
3. BUNYAN, John. Questions
About the Nature and Perpetuity of the Seventh-Day Sabbath. Disponível
em:. <http://www.chapellibrary.org/johnbunyan/text/bun-sabbath.pdf> Acesso em: 12 junho 2012. (Tradução minha)
4. VOLKER, Geoff; KNAUB, Bill; ADAMS, Mike. Que é Teologia da Nova Aliança?. Disponível em: <www.ids.org/pdf/portuguese/wnct.doc> Acesso em: 13 junho 2012. (Tradução minha)
5. VOLKER, Geoff. Israel na Teologia da Nova Aliança. Disponível em<www.ids.org/pdf/portuguese/israel.pdf> Acesso em: 13 junho 2012. (Tradução minha)
6. PETTEGREW, Larry D. The New Covenant and New Covenant
Theology. TMSJ, 18/1, p.181-199, 2007. (Tradução
minha)
7. FEINBERG, John S. Continuity and Descontinuity: Perspectives on the
Relationship Between the Old and New Testaments 1ª edição. Wheaton, Illinois:
Crossway Books, 1988. (Tradução minha)
8.FERREIRA,
Franklin; MYATT, Alan. Teologia
Sistemática: Uma análise histórica, bíblica e apologética
para o contexto atual. 1ª edição. São Paulo: Edições Vida Nova, 2007.
8. MAYHUE, Richard L. New Covenant Theology and Futuristic
Premillennialism. TMSJ, 18/1, p.221-232, 2007. (Tradução minha)
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