A primeira questão a ser considerada aqui é a de que o Calvinismo não desenvolveu um estilo próprio de arte, e isso se deve ao fato de a aliança entre Religião e Arte apresentar uma forma baixa de religiosidade.
Enquanto estando em um nível inferior o povo derivava sua adoração do símbolo (como o fez Israel no Antigo Testamento), o Calvinismo, alicerçado na plenitude da revelação que nos foi dada no Novo Testamento, “[...] abandonou a forma simbólica de adoração e rejeitou encarnar seu espírito religioso em monumentos de esplendor, conforme a exigência da arte” (KUYPER, 2003, p. 154), pois, desde que o propósito das sombras e símbolos tiveram seu comprimento, não é mais possível encontrar na literatura apostólica nenhum vestígio ou sombra de arte com propósito de adoração. Portanto, podemos concluir que o fato do Calvinismo abster-se da busca por um estilo artístico próprio se deve principalmente a sua consciência de maturidade e superioridade religiosa.
Entretanto, não se deve inferir daí que não haja qualquer espaço para arte no pensamento calvinista, ou mesmo um desprezo por esta. Calvino levantou-se contra o uso indevido da arte, até onde este divertia-se impiamente com a honra da mulher ou estendia-se ao campo da imoralidade, contudo, em seu uso legítimo, ele considerou a arte como um dom do Espírito Santo e declarou que “[...] todas as artes vêm de Deus e devem ser consideradas como invenções divinas” (KUYPER, 2003, p. 160).
O Calvinismo, com seu dogma da graça comum, trouxe verdadeira liberdade a expressão artística, pois, já que seu ponto de partida encontra-se na firme convicção da soberania de Deus, atestou categoricamente que “[...] a arte não pode originar-se do Diabo; pois Satanás é destituído de poder criativo. Tudo o que ele pode fazer é abusar das boas dádivas de Deus” (KUYPER, 2003, p. 163).
Se por um lado o Calvinismo distanciou-se dos símbolos constituintes das artes objetivas, por outro, ele teve grande influência na promoção das artes subjetivas como a pintura e a música.
Ao apresentar sua doutrina da eleição, o Calvinismo apresentou ao meio artístico um novo pano de fundo sobre o qual produzir. Ao mostrar que Deus escolhe para si tanto grandes como pequenos, e que o povo comum, por Sua eleição, também partilha da atenção e cuidado de Deus, o artista pôde mover seus olhos do alto, sublime e celeste descrito pela ordem eclesiástica e voltá-los para o simples, humilde e discreto. O pintor pôde encontrar nova inspiração nos dramas do homem comum e seus detalhes.
Na música, o Calvinismo foi além e introduziu algumas modificações. Deve-se reconhecer aqui a inegável atuação de Loys Bourgeois (trazido por Calvino a Genebra para dar expressão musical a adoração do povo) na composição do saltério de Genebra, e Claude Goudimel que, dentre outras coisas, foi responsável por dar proeminência a soprano, que substituiu o tenor na condução da melodia (mudança que é preservada até hoje), tendo sido assassinado na Noite de São Bartolomeu, na França, por ter abraçado a fé reformada.
Nelson Ávila
_____________________________________________
REFERÊNCIA
KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
Quem dera os evangélicos daqui exercessem efetiva influência na cultura brasileira, grandemente paganizada. Nesse sentido, a redescoberta do calvinismo os ajudaria bastante no cumprimento de sua missão de "sal da terra" e "luz do mundo" (Mt 5.13,14).
ResponderExcluirObrigado por nos trazer esse texto, Ir. Nelson!
Vanderson M. da Silva
Pois é irmão Vanderson, parece que ainda vivemos o dualismo medieval, onde tudo que não está dentro da igreja é do Diabo. Os evangélicos fazem esse tipo de separação e entregam a política, a ciência, a arte etc. nas mãos dos ímpios. Os evangélicos que ousam envolver-se, também não têm muito do Evangelho e acabam por produzir escândalos e nada mais. Que Deus levante trabalhadores para a Sua seara.
ResponderExcluirDeus o abençoe!
Nelson Ávila.