Na última de suas Palestras Stone, na Universidade e Seminário de Princeton, Kuyper (2003) apresentou o panorama social, político, histórico, cultural e religioso no qual, principalmente por influência do modernismo, sua própria época (final do séc. XIX) encontrava-se submersa. É válido ressaltar que, conquanto estejamos mais de cem anos adiante na escala do tempo (início do séc. XXI), em princípios, não diferimos tanto assim.
Embora as expectativas científicas fossem grandemente esperadas e os círculos modernistas profetizassem a grande evolução da humanidade, o homem vivia um vazio existencial, que para nós ficou ainda mais perceptível após o advento das duas grandes guerras mundiais (o colapso da esperança modernista!). Todo este vazio culminava em materialismo e vulgaridade; o homem encontrava-se a girar num mundo controlado por forças impessoais (como o acaso, por exemplo) e, aferrado como estava a sua esperança de evolução, sentia-se cada vez mais desamparado pela ausência de propósitos.
O misticismo, ou a luta da Igreja por modernizar-se, numa tentativa de tornar-se relevante, não trouxeram verdadeira transformação e resposta satisfatória a seus inquiridores, pois, negligenciar, ou fazer concessões em pontos fundamentais das verdades reveladas nas Escrituras, jamais trará ao homem o real preenchimento do qual sua alma necessita. Por isso, a nova religião que se desenvolvera, mesmo que a partir de boas intenções e esforços sinceros, ao despir-se da autoridade fundamental da qual derivam seus princípios (colocando assim sua própria cosmovisão em conflito) e seu poder – a saber, a Bíblia – veio a apresentar-se completamente impotente.
Portanto, os esforços do Catolicismo, com sua cosmovisão retrógrada; do Luteranismo, amarrado a seu imperador; e do Modernismo, tão aclamado como intelectual e superior, mas que na realidade, como o próprio Dr. Kuyper (2003, p. 195) fez saber: “[...] não tem avançado um único passo no estabelecimento de princípios, de modo algum tem dado um conceito mais elevado da vida, nem tem produzido para nós maior estabilidade e solidez em nossa existência religiosa e ética, isto é, existência verdadeiramente humana”. Por tais motivos, tais empreendimentos têm se revelado ineficazes, ou melhor, incapazes de conduzir o homem a um nível mais elevado de existência. Apenas o Calvinismo, dotado de sua própria biocosmovisão, “[...] fundada tão firmemente sobre a base de seu próprio princípio, elaborada com a mesma clareza e brilhante numa lógica igualmente consistente” (Kuyper, 2003, p. 198), é capaz de trazer verdadeira dignidade e esperança a vida humana, justamente por apresentar-se totalmente superior as demais cosmovisões.
Para que o Calvinismo alcance o efeito a que se propõe, isto é, elevar a existência humana a um nível verdadeiramente desenvolvido, Kuyper apresenta quatro pontos sobre os quais se deve refletir:
1) que o Calvinismo não seja mais ignorado onde ele existe, mas que seja fortalecido onde sua influência continua; 2) que o Calvinismo seja feito novamente um objeto de estudo a fim de que o mundo exterior possa vir a conhecê-lo; 3) que seus princípios sejam novamente desenvolvidos de acordo com as necessidades de nosso tempo, e consistentemente aplicados aos vários campos da vida; 4) que as Igrejas que ainda reivindicam confessá-lo, deixem de sentir vergonha de sua própria confissão (2003, p. 201).
Ele acredita que os objetivos do Calvinismo em prol da humanidade serão alcançados a partir do desenvolvimento destes pontos, e sua confiança, apesar da triste decadência de seus dias, repousa na convicção inabalável de que “[...] o avivamento não vem de homens; é a prerrogativa de Deus e é devido somente à sua soberana vontade [...]” (KUYPER, 2003, p. 208).
A missão da Igreja neste mundo é lutar com todas as suas forças, orar com todo o seu coração e esperar com santo fervor que Deus envie o sopro do Seu Espírito vivificante, o qual tem poder para modificar o conceito dos homens.
Nelson Ávila
_________________________________________________
REFERÊNCIA
KUYPER, Abraham. Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
Não tenho como garantir isso, mas a impressão que tenho é a de que, pelo menos no Brasil, a lealdade de muitos membros de igrejas calvinistas locais às doutrinas da graça soberana é bastante duvidosa, o que seria constrangedor. Alguns amigos meus de Facebook ligado a uma denominação historicamente calvinista lamentavam o fato de que, em algumas de suas igrejas, faziam-se apelos por conversão no final dos cultos (!), o que me deixou bastante surpreso.
ResponderExcluirPrecisamos de uma nova Reforma no cristianismo pátrio.
Vanderson M. da Silva.
Infelizmente, o teologia e principalmente a práxis pentecostal-arminiana-semi-pelagiana fincou raizes muito fortes no evangelicalismo brasileiro. Hoje você vai a uma igreja Presbiteriana ou Batista e não sabe ais o que encontrar lá. É lamentável, mas é verdade que a maioria destas igrejas no meu Estado se parecem com qualquer coisa menos com a tradição reformada.
ResponderExcluirDeus o abençoe irmão Vanderson.
Nelson Ávila