sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A supremacia da Palavra de Deus e as outras opções...



Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”. (CFW cap.1 seção1)

Essa declaração demonstra o profícuo exame e cautela que os teólogos de Westminster tinham com relação a doutrina das escrituras. É uma lástima saber que nesses últimos tempos essa doutrina tem sido cada vez mais abandonada. A causa de tal negligencia e irreverência para com a autoridade bíblica nem sempre se dá no âmbito da teologia liberal (embora seja extremamente explícita na mesma), mas também acontece de modo sorrateiro nas mais variadas facetas do evangelicalismo moderno. Estudemos então a atualidade desse penoso trabalho puritano para os nossos dias.

“Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação...”.

Observamos a perspicácia bíblica quando foram escritas essas palavras! Lembremos sempre que a doutrina das escrituras não está desvinculada de outros temas importantes da teologia cristã como, por exemplo, a doutrina da providencia e a cosmologia. Entendamos também que a contemplação da própria natureza demonstra a sua fluência e importância sobre as nossas considerações nas escrituras sagradas. A assembléia de Westminster já introduz sua defesa da legitimidade à suficiência bíblica com uma afirmação categórica: Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem...

Nessa declaração não foi realizada nenhuma tentativa de se comprovar a existência de uma providencia divina,exatamente porque essa é a premissa básica para se crer na autoridade das escrituras, acreditar em Deus, no sentido mais pleno da palavra. A luz da natureza e as obras da criação também gritam de forma avassaladora aos ouvidos de todos os homens. A natureza, criação e providencia testificam indiscretamente a existência do Deus auto-existente! O mundo encontra-se encharcado do testemunho de Deus. Essa é a revelação geral. A obra prima denunciando a identidade do seu Autor.

Analisando mais profundamente o assunto da revelação geral na visão bíblica, observamos algumas características: 1º.anunciar a gloria de Deus e mostrar que existe um arquiteto para esse universo.(Sl 19.1); 2º. falar do seu poder como Sua divindade (Rm 1.20) 3º. e que para os homens, essa lei foi escrita em seus corações (Rm 2.15). O que aprendemos nessas passagens bíblicas são verdades que confortam ao homem de Deus!

Deus sempre falou aos homens e a revelação geral é prova disso. Porem mesmo com tantas provas irrefutáveis que a bíblia nos dá desses fatos, ainda assim existe uma tremenda falta de reflexão e esclarecimento! A grande maioria dos teólogos neo-ortodoxos e pentecostais se perdem nesse assunto.

Alguns dizem que amam ouvir Deus falar, seja na musica do Raul Seixas ou nas Escrituras Sagradas. Para esses, acreditar que Deus fala-nos especifica, única e exclusivamente (em todo o nosso procedimento cristão, social e relacional) pela bíblia, se trataria de limitar a operação “dialética” do Todo Poderoso. Esse daí é o pessoal da teologia moderna.

E quanto ao outro grupo. São pessoas bem mais tementes ao Senhor, crêem que a bíblia é a palavra de Deus e procuram (na medida do possível) viver uma vida consagrada a Ele. Mas o conceito sobre revelação é de caráter extremamente contraditório. Crêem que Deus de maneira “menos autoritativa”, se revela aos homens sem haver necessariamente a escritura para isso. Questioná-los dizendo que Deus nos guia, transforma, edifica e literalmente fala com seu povo somente através da bíblia, é ser taxado de frio e que servimos a um Deus limitado, que fica calado nos céus comunicando-se aos homens através de um “papel” apenas e que isso seria igual ao deísmo.

É triste a conclusão que ambos os grupos chegam, mas quando não se há uma autoridade proposicional absoluta(a bíblia somente) sendo o juiz sobre os deveres morais do homem, então, deve-se procurar uma outra base de vida (quer sejam experiências ou qualquer outra coisa). Quando declaramos a supremacia da bíblia em todos os ramos de nossa vida, estes grupos que dizem amar e defender essa palavra, se dirigem a nós com palavras mais ou menos assim: Deus fala através da bíblia, mas também... E daí prosseguem seu argumento validando suas experiências e diminuindo cada vez mais a suficiência plena das sagradas escrituras.

Certa vez conversei com um estimado amigo e ele sendo a favor desse conceito de revelação continua, argumentou comigo com a seguinte dedução lógica:

(1) Deus se revela através da sua criação (REVELAÇÃO GERAL)

(2) Os homem também são sua criação (incluindo principalmente o crente)

(3) Logo a criatura humana pode trazer uma revelação da parte de Deus

A clareza de Rm.1 e 2 sobre esse assunto é estonteante. Com muita simplicidade todo o contexto dessa passagem explica-nos que a revelação geral se manifesta para que eles fiquem inescusáveis. Assim, notamos, que a revelação geral não serve de argumento para se trocar a bíblia pelas musicas do Raul Seixas ou para motivar alguma revelação contemporânea no meio da igreja com características proféticas. A revelação geral empurra os homens para a necessidade de se buscar a Deus, que por sua vez, se comunica especificamente na revelação especial. A bíblia não mostra a revelação geral como um fim em si mesma, mas apontando para a especial (a bíblia sagrada).

...por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade...

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas é um fato inegável. Sabemos que Iavé se comunicou no Antigo e Novo Testamento em sonhos, visões, anjos, teofanias e profecias, seu propósito era bem maior do que a satisfação do homem pela a experiência do momento. A finalidade era de mostrar Sua própria vontade revelada. O povo de Deus nos dois períodos da aliança ainda não tinha a bíblia. Era assim, no antigo testamento os sonhos tinham seu caráter profético e também mostravam decisões corretas que precisavam ser tomadas (Gn 37.9), essa comunicação também se dava através de anjos (Gn 24.7), teofanias (Deus aparecendo em forma humana Gn 16.7,9, 10; Ex 3.2) e em profetas que Deus também falou durante muito tempo na historia do povo de Israel.

No novo testamento era da mesma forma e Ágabo, as filhas de Felipe, Judas e Silas, ( At 11.27; 13.1; 15.32; 21.10) exemplificam muito bem essa dinâmica da comunicação divina entre os cristãos do século 1 através da profecia. A igreja precisava ser consolada em meio às muitas perseguições, necessitavam de doutrina firme e apoio vindo de Deus; então como ainda não tinham a bíblia completa, Deus lhes mostrava sua vontade revelada através dos profetas e eles de forma inerrante, comunicavam ao povo.

...tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”.

O autor da epistola aos Hebreus faz a seguinte afirmação: Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos, pelos profetas (Hb 1.1 RA). Observamos aqui o autor anunciando esse evento (de Deus falar pelos profetas) como uma coisa de outrora, ou seja, algo que não estava em funcionamento em seus dias. O autor diz que Deus verdadeiramente falou através de profetas e isso muitas vezes (profetas desde Moises até o inicio do período neotestamentário), mas isso ocorreu antigamente (RC). Sim Ele falou de muitas formas (KJA), essas formas (gr. morfe), incluindo até mesmo teofanias, mesmo sendo contemplações maravilhosas de Deus entre os homens, ficaram limitadas apenas ao “outrora” do autor da epistola.

Mas nestes dias falou-nos por meio do filho (NVI). Repare bem a importância da conjunção adversativa em relação ao versículo anterior. A função dessa oração é fazer uma adversidade e um contraste explícito a idéia anterior. É como se o autor de Hebreus estivesse dizendo: Deus falou através de profetas? Sim! Mas agora (nestes últimos dias - no seu tempo é claro!) é diferente, Ele fala de uma outra maneira.

Existem alguns cristãos bem intencionados almejando viver mais intensamente a santidade prometida nas escrituras, e isso é digno de elogio, porém, desejam que esse outrora dessa epístola, seja a norma nesses últimos dias!

Quando mostramos nessa passagem bíblica a importância que esses eventos (profecias, sonhos e revelações) tiveram, mas, cumprindo seu propósito cessaram, rapidamente ouvimos a seguinte afirmação: a bíblia diz que nestes últimos dias nos falou pelo seu filho e não somente através da bíblia! Portanto como esse texto não proíbe profecias, sonhos e visões, então é nos permitido o exercício desses dons.

Meus irmãos, observemos bem a maneira bastante cativante que o autor se inclui nessa comunicação que foi feita a ele próprio dizendo que: nos falou pelo filho(v.2). Sabemos, de acordo com os maiores eruditos do novo testamento, que a epistola de Hebreus foi escrita por volta do ano 64.dc., antes de Jerusalém ser sitiada pelos romanos. O autor dessa epistola também nos mostra que ele era alguém que viveu num período bem mais tardio à época de pentecostes e dos proeminentes apóstolos (cf. 2.3-5) e ao identificá-los nestes termos - dando testemunho juntamente com eles (os apóstolos)- nos faz perceber sua distancia e a falta de intimidade com os apóstolos e discípulos primitivos. Mas se o autor não foi contemporâneo dos apóstolos e nem muito menos de Cristo, então, como assim ele afirma que falou-nos pelo filho?

Logicamente o autor sabia reverentemente o lugar que já no seu tempo o Filho falava. Ou seja, exatamente nas Sagradas Escrituras! O Filho falou-lhe pelos relatos escritos (manuscritos) que ele tinha em sua época. Os evangelhos e algumas cartas de Paulo que circulavam na Ásia e possivelmente em partes de Roma, lhes era o próprio Jesus Cristo comunicado e comunicando-se, o próprio Filho falando diretamente a esse autor da epístola!

Não pretendo prolongar mais este assunto examinando exegeticamente muitos outros textos que comprovariam a certeza desses fatos que estamos afirmando. Farei isso, mas em outra ocasião. Contudo, pretendo deixar uma advertência para aqueles homens e mulheres, meus irmãos em Cristo, pessoas com quem passarei toda a eternidade amando-os na glória eterna, a esse eu me dirijo com uns poucos conselhos:

1.Não continuem insistindo em novas revelações, profecias, sonhos e visões, como se ainda houvesse necessidade do Senhor nos falar dessa maneira. Aquele que adota uma outra autoridade para direcionar sua vida que não é a palavra de Deus, cai em sérios prejuízos com sua alma. Ele falou por profetas somente outrora, mas agora é pela a palavra.

2 ...e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda... Amados, Satanás sabe como somos criativos para interpretarmos os sonhos em suas riquezas de detalhes. O inimigo de nossas almas conhece mais do que eu e você, a autoridade que essa palavra de Deus tem e ele pode, e o faz freqüentemente, embaraçar-nos da maneira que pareça ser mais “espiritual”, “piedosa” e sutil possível. A bíblia é um livro muito perigoso e o diabo sabe muito bem.

3. Os homens mais piedosos da historia (incluindo os pais da igreja, reformadores, puritanos, Edwards, Spurgeon e etc), não andavam por aí ouvindo vozes e tendo visões. E esse é um contraste ao que dizem muitos“prega-dor-es” dos nossos dias. È algo muito serio. Analise a doutrina desses homens e você verá que são teólogos da prosperidade, místicos e desnutridos teologicamente. Uma boa parte desses são hereges e nos melhor das hipóteses sinceros, mas errados.

4. A solenidade desse tema é de nos fazer rever os conceitos e/ou experiências. Como você acha que Deus tratará alguém que nunca leu sua carta de amor toda, mas se entregou aos devaneios do misticismo histérico? Alguém que conhece mais os sonhos e pseudas revelações do que até mesmo a própria vida do profeta Habacuque? Certamente o juízo eterno será seu capataz e o tormento lhe causará muitos êxtases, mas de dor e desespero somente!

5. Aos ministros reformados que um dia juraram fidelidade aos padrões de Westminster no ato da ordenação ao ministério. Do que posso lhe chamar se não de um mentiroso, desonesto e imprudente? Alguém que jura um fato, mas depois quebra o juramento, entrega suas ovelhas ao matadouro do neo-montanismo e depois relega sua vida inteira tentando reinterpretar esta afirmação explicita de que ...tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo, cessou e pronto, o que devo dizer senão que você é alguém que não tem palavra de homem? Reconsidere o seu caminho e volte às antigas veredas. Seja franco consigo mesmo e talvez assim sua congregação o verá novamente como um homem de Deus.

6. Aos ortodoxos. Recomendo aquela admoestação do Senhor que diz ser verdadeiro o amar a Deus de todo ocoração, de toda alma e não somente pelo entendimento. Defendo que um culto aceitável a Deus é aquele que Paulo o chama de racional. Mas não concebo como alguém pode entender as verdades do evangelho e ficar apático a isso. Como um homem pode pregar sobre o fervor do Espírito e parecer que está sentado numiceberg. Falar as verdades do evangelho com muita erudição e nenhum calor na alma. Pregar sobre o inferno sem lágrimas. Acredito que muitos reformados dos nossos dias possuem cérebros inchados e olhos secos. Alguém professa um cristianismo erudito, mas sem vida. Um insulto ao terceiro mandamento (Ex 20)! Alguém que não merece o titulo de pregador do evangelho.

Reflitamos nas palavras de Baxter e sua própria vida de devoção:

"E quanto a mim, eu estou envergonhado por causa do meu cora ção estúpido e negligente, pela vagarosidade e inutilidade da minha exis tência; o Senhor me conhece e sabe, eu estou envergonhado de cada ser mão que eu prego; quando eu penso no fato de que a salvação ou conde nação dos homens podem estar profundamente relacionadas com aqui lo que eu prego, a única coisa que posso fazer é tremer receando que Deus possa me julgar como um barateador das Suas Verdades e das al­mas dos homens, ou que no meu melhor sermão eu tenho sido culpado do sangue de muitos.

Não é sem lágrimas que devemos nos dirigir aos homens sobre um assunto de tão drásticas conseqüências; não deve ser sem o maior cuida do de nossa parte; poderia sim, ser, sem o mais intenso zelo ou sem lágri mas, se nós não fôssemos ser tidos como culpados do pecado que nós tan to reprovamos."

Rogo a Deus para que a vida dos cristãos de nossa época seja de fervor nas palavras do evangelho de Cristo. Que o Senhor nos ajude a avaliarmos nossas experiências e as canalize num caminho correto de Sua palavra bendita. Com muita sinceridade eu suplico ao Onipotente que nos leve pela fé, por aquele caminho de Emaús em que diziam: Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?

Que a Sua palavra venha arder em nosso coração e nos constranger em Sua santa presença para fazer-nos amantes do seu precioso conteúdo. Aconselho a você, por amor a sua própria saúde espiritual, que primeiro venha a palavra e depois a experiência. Nunca a ordem inversa!

A expectativa e a reverencia de David Brainerd no seu leito de morte, quando entraram com a bíblia na mão e em delírios de morte gritava, pode nos servir de um bom exemplo:

"Oh! o querido Livro! Breve hei de vê-lo aberto. Os seus mistérios me serão então desvendados!"

Evandro.C.S.Junior

26 de Novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O “deus” de amor dos “Teístas Abertos” (“Teólogos Relacionais”) e “Teólogos Liberais”


Deus é AMOR!!! Este tem sido o maior slogan cristão dos nossos tempos. Sem dúvida, Deus É AMOR!!! É maravilhoso saber que entre Seus atributos encontra-se o Amor. Assim como Deus é imutável (“Pois Eu, o Senhor, não mudo” [Ml 3.6]) e Eterno (Gn 21.33; Dt 33.27; Jr 10.10), Ele “é amor” (1 jo 4.8), e por isso podemos confiar e nos alegrar na palavra que diz: “com AMOR ETERNO te amei”(Jr 31.30). Desde o princípio Deus era e continuará sendo pelos séculos dos séculos o “DEUS DE AMOR” (2 Cor 13.11); Ele não ama hoje e amanhã deixa de amar1. Seu amor permanece inabalável a preencher os recipientes de Sua misericórdia.

Deus é perfeito e o amor é uma das perfeições do caráter de Deus. Deus não pode ser mais amoroso (ou menos amoroso), pois de outra forma Ele não seria perfeito; haveria algo ainda a ser melhorado (ou acrescentado) ao Ser de Deus. Portanto, Deus ama na medida certa. Contudo, quanta confusão se tem levantado sempre que se eleva um dos atributos de Deus acima dos demais. Por exemplo: Através da ênfase na Onipresença e na Imanência de Deus, chegou-se ao Panteísmo2; do mesmo modo, através da ênfase na Transcendência de Deus, chegou-se ao agnosticismo3; da ênfase na Onipotência e Onisciência, originou-se o Fatalismo mórbido, que coloca o homem na condição de um ser passivo e inerte, negando-lhe qualquer tipo de responsabilidades. Mesmo que seja o amor, um dos considerados mais sublimes atributos de Deus, este também não pode ser colocado acima, como gerenciador, dos demais atributos do Ser de Deus, pois todos eles coexistem igualmente. No entanto, a ênfase no amor de Deus tem sido marca registrada desta geração e tem trazido drásticas consequências para a igreja, como por exemplo, o surgimento do “Teísmo Aberto” (ou “Teologia Relacional”, como é conhecido no Brasil).

O “Teísmo Aberto” (ou “Teologia Relacional”) que tem suas origens na Filisofia Grega4, Arminianismo5, Socinianismo6 e Teologia do Processo7, ensina que, por amor, Deus criou criaturas e quis relacionar-se com elas, mas, para que este relacionamento fosse verdadeiro, estas pessoas precisavam ser totalmente livres; por isso, Deus, em amor a este relacionamento, abriu mão de Sua soberania, erguendo-se do trono do universo e unindo-se aos agentes livres que criou, para juntamente com Eles construir o futuro. Deus também deixou de lado Sua Onisciência, pois, não haveria um relacionamento de fato livre se ele soubesse o que faríamos amanhã, por isso, Deus poderia saber tudo acerca do passado e do presente, mas não do futuro. Este relacionamento também continuaria não sendo livre se Deus interferisse nas atitudes livres de Suas criaturas sempre que algo não saísse de acordo com Seus planos, por isso Deus multilou Sua Onipotência, podendo tudo, mas nada fazendo sem consentimento prévio de todos os agentes livres envolvidos na situação.

Veja o Deus de amor do teísmo aberto em ação: Imagine a cena: um homem viciado em crak sai pelas ruas com uma arma na mão. Ele quer mais dinheiro para sustentar seu vício. Numa rua sem movimento e mal iluminada, uma jovem caminha rumo a estação de metrô. Ela se atrasou no trabalho e saiu mais tarde que o habitual. O encontro é inevitável e Deus assiste tudo... O homem saca a arma. Ela tenta fugir e ele dispara. Ela cai morta e ele vai embora com o dinheiro... Segundo o teísmo aberto, Deus nada podia fazer, pois, se o fizesse, violaria a liberdade (livre-arbítrio) daqueles agentes livres. Deus não sabia o que aconteceria, pois haviam muitas ações livres implícitas na questão e tudo o que Deus conhece são as possibilidades. Aquilo machucou profundamente o coração de Deus e ele certamente estava torcendo para que nada de mal acontecesse, mas não havia nada que Ele pudesse fazer, se não lamentar angustiadamente. E quanto ao propósito? Deve haver algum propósito em todo este caso lamentável... O deus do Teísmo Aberto diz: NÃO! Foi tudo uma fatalidade...

Bruce A. Ware, ilustrando a visão do “Teísmo Aberto” acerca do sofrimento escreve: “Quando a tragédia entrar em sua vida, por favor, não pense que Deus tem algo a ver com isso! Deus não deseja que a dor e o sofrimento ocorram e, quando isso acontece, ele se sente tão mal com a situação como aqueles que estão sofrendo. Não pense que, de alguma maneira, essa tragédia deva cumprir algum propósito final. É bem possível que não seja assim! O mal que Deus não deseja acontece a todo momento e, com frequência, não serve para nenhum bom propósito. Porém, quando sobrevém a tragédia, podemos confiar que Deus está conosco e nos ajuda a reconstruir o que se perdeu. Afinal, de uma coisa temos certeza, a saber: Deus é amor. Então, embora não possa evitar que uma boa parcela de coisas ruins aconteça, ele sempre estará conosco quando elas acontecerem”8.

Será que a Bíblia se engana ao relatar o episódio de Atos 4.27,28? “De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com o povo de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse” (NVI – ênfase acrescentada). Não lemos aqui que todo o sofrimento que sobreviera sobre Jesus fora determinado por Deus? Deus estava por trás de tudo isso (inclusive das ações, supostamente “livres”, dos ímpios) e não era sem propósito; foi por meio deste sofrimento que recebemos a salvação! E o que dizer sobre o diálogo entre Deus e Ananias a respeito do apóstolo Paulo? Atos 9.15,16: “Mas o Senhor disse a Ananias: ‘Vá! Este homem é meu instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e seus reis, e perante o povo de Israel. Mostrarei a ele o quanto deve sofrer pelo meu nome” (NVI – ênfase acrescentada). Como, pela visão do “Teísmo Aberto”, responder a passagens como essas sem desrespeitar (ou até mesmo violentar) o texto bíblico? Só podemos dizer que “A visão aberta rebaixa Deus, pura e simplesmente falando. Tenta tornar mais significativa a escolha e ação humanas, a custa da própria grandeza e glória de Deus. O Deus do teísmo aberto é muito limitado, simplesmente por ser menos que o majestoso, pleno conhecedor, todo-sábio Deus da Bíblia” 9. O deus do Teísmo Aberto não sabe e não pode; está cego quanto ao futuro; tem a boca fechada e as mãos amarradas para não interferir nas livres escolhas (livre-arbítrio) de seus agentes livres; está limitado pelo poder das suas criaturas.

O Teísmo aberto tira o controle remoto do mundo das mãos de Deus e o coloca nas mãos dos homens. É o antropocentrismo entronizado. É um deus estremamente debilitado e não o Deus das Escrituras, sobre o qual lemos: “Porque o domínio é do Senhor, e ele reina sobre as nações” (Sl 22.28); “Mas o nosso Deus está nos céus; ele faz tudo o que lhe apraz” (Sl 115.03). Sobre Sua onisciência: “...Eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho subsistirá, e farei toda a minha vontade” ( Is 46. 9,10). Como disse C. S. Lewis: “Todo aquele que realmente crê em Deus acredita que Ele sabe o que você e eu vamos fazer amanhã”10. O deus do Teísmo aberto só nos deixa o desespero, pois um deus que não seja o “Todo-Poderoso” que “reina” (Ap 19.6; 15.3 [ó Rei dos séculos]) e conhecedor de “todas as coisas” (1 Jo 3.20 [inclusive “as coisas que ainda não sucederam” - Isaías 9.10]) não é digno de confiança nem tem autoridade para fazer cumprir suas promessas. “Quanto à visão aberta, só se pode dizer o seguinte: ‘O Deus deles é limitado demais!’”11.

Há, ainda, um outro deus, cuja matéria-prima constituinte de seu ser é tão somente o amor; um deus que está mais preocupado com as misérias do povo do que com suas crenças; um deus que no final das contas perdoará a todos e lhes dará lugar junto dele no paraíso. Alguns poderiam questionar: “E o inferno?”, “Inferno?! Isto não existe!”, responderiam os seguidores deste deus, “pois um deus que é amor não poderia lançar as pobres e imperfeitas criaturas que idealizou em qualquer tipo de tormento sem fim. Isto feriria o caráter do amor divino, ao passo que o sofrimento eterno de suas criaturas seria o seu próprio sofrimento eterno”, e, indo além dos aniquilacionistas: “O amor de Deus não tem fim, e esse amor perdoa TUDO!”, argumentariam ainda.

Semelhantemente ao Teísmo aberto, este também não é o Deus da Bíblia. Este é o deus que os liberais e nossa cultura secularizada e sentimentalista criaram para si mesmos. É muito agradável, para alguns, levar uma vida sem sensuras; fazer tudo o que quiser sem ter que se preocupar de um dia prestar contas do que quer que seja, e mais do que isso, é muito agradável acreditar em um “deus” que vive somente para o bem-estar do ser-humano; um “deus” cujo principal obejetivo é a felicidade de suas criaturas e a realização dos desejos destas. Mas, onde foi parar a glória de Deus? No Breve Catecismo de Westminster lemos que: “O fim principal do homem é GLORIFICAR a Deus e gozá-lo para sempre”12 e não o contrário. Deus não existe por causa de nós; Ele “existe desde a eternidade” (Sl 93.2) e não precisava de nós lá, pois se fôssemos necessários, também existiríamos desde a eternidade. Deus não é este senhor senil e benevolente, que passa a mão na cabeça de suas criaturas rebeldes, sendo conivente com suas iniquidades. Ele exige SANTIDADE! (Hb 12.14 - “sem a qual ninguém verá o Senhor”). Deus “ODEIA a todos os que praticam a maldade” (Sl 5.5). Mas alguém me dirá: “Não! O meu deus não odeia, ele é só amor!” Sinto muito informar-lhe, mas não é isso que as Escrituras afirmam. Deus “ODEIA” e como Diz Paul Washer: “Deus é amor portanto Ele DEVE odiar... [e, exemplificando acerca disto, ele continua] ...Se eu amo bebês eu devo odiar aborto. Você ama judeus? Deve odiar o Holocausto. Você ama Afro-Americanos? Você deve odiar a escravidão deles... Percebe? Se você realmente ama o que é certo, o que é perfeito, o que é bom, então também odiará, e se oporá contra tudo que contradiz aquele padrão. Deus ama tudo o que é certo, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é bom, todas as virtudes, mas Escritura após Escritura, a Bíblia nos diz que Sua Ira é manifesta contra toda impiedade! (Rm 1.18)”13. Você lerá sobre a ira de Deus em Números 22.22; Deuteronômio 4.25; 6.15; 9.7; 31.17; Josué 23.16; Juízes 2.12; 2 Samuel 6.7; Jó 4.9; Salmo 27.9; 77.9; 78.31; 85.4; Jeremias 42.18; Ezequiel 13.13; 25.14; Oséias 11.9; Jonas 3.9; Naum 1.2; João 3.36; Romanos 1.18; 2.5; 3.5; Efésios 5.6; Colossenses 3.6; 1 Tessalinissenses 2.16; Apocalipse 14.10,19; 15.1, 7; 16.1; 19.15... Só para citar alguns textos. E o que dizer de Jesus? Jesus foi o mais amoroso e manso homem do qual se tem notícia, todavia, o vemos revirando mesas e cadeiras, expulsando os mercadores do templo (Mr 11.15); o vemos também, em confronto com os fariseus, a declarar: “Vós tendes por pai o diabo” (Jo 8.44) e ainda: “Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?” (Mt 23.36). Estaria Jesus sendo desamoroso aqui, ou esta seria uma mancha no caráter do Mestre? Jesus, aquele homem que era todo amor, falando palavras tão ásperas, inclusive sobre inferno? D. Eryl Davies diz que “A maior parte das referências diretas do Novo Testamento ao inferno vem dos lábios do Senhor Jesus Cristo e se encontra predominantemente nos Evangelhos sinóticos”14; Jesus, o “Filho amado”, não aliviou sua mensagem para ser mais aceito ou estimado, Ele pregou a verdade e esta verdade inclui algumas realidades que são extremamente desagradáveis à mente carnal, mas devem ser aceitas por aqueles que se denominam seguidores e adoradores do Cristo. “W. G. T. Shedd está certo quando afirma: ‘O apoio mais forte dado a doutrina da punição eterna está no ensino de Cristo (...) Jesus Cristo é a pessoa responsável pela doutrina da punição eterna. Ele é o ser contra quem todos os oponentes deste dogma teológico estão em conflito’”15.

Deus disse a Moisés: “Eu Sou o que Sou” (Ex 3.14) e é assim que devemos adorá-LO, não tentando fazer de Deus aquilo que Ele não é ou o que queremos que Ele seja. Aquele que adora outros deuses (por mais amorosos que possam parecer estes outros deuses), está sujeito ao juizo do Senhor, que diz: “Certamente perecerá” (Dt 8.19) e o “profeta que tiver a presunção de falar [...] em nome de outros deuses, esse profeta morrerá” (Dt 18.20).

“Não terás outros deuses diante de mim” (Ex 20.3). Este é o mandamento mais quebrado e o pecado mais cometido em nossa geração!

Soli Deo Gloria!


Nelson Ávila.

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1 Richard Baxter (1615-1691) em seu sermão “Directitions Against Inordinate Man-pleasing”, na “Direction XI” (“The Advantages of Pleasing God Rather than Men”) disponível em português no endereço eletrônico: http://emdefesadagraca.blogspot.com/2010/10/as-vantagens-de-agradar-deus-ao-inves.html e originalmente em: http://www.puritansermons.com/baxter/baxter10.htm) diz que “Ele é constante e imutável, e não está satisfeito com uma coisa hoje e outra oposta amanhã; nem com uma pessoa este ano da qual se cansará no próximo”.

2 Na enciclopédia eletrônica livre Wikipédia, encontra-se um breve resumo sobre o panteísmo onde lê-se:

“A principal convicção é que Deus, ou força divina, está presente no mundo e permeia tudo o que nele existe. O divino também pode ser experimentado como algo impessoal, como a alma do mundo, ou um sistema do mundo. O panteísmo costuma ser associado ao misticismo, no qual o objetivo do mortal é alcançar a união com o divino” (Acessado em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pante%C3%ADsmo, em 11 de novembro de 2010 as 11:08 hs.).

Em suma, Deus é tudo e tudo é Deus (em grego: pan, tudo; theos, Deus).

3 “Agnosticismo” deriva-se da palavra grega “agnostos”, sendo “a” um prefixo de privação (ou de negação) e “gnostos” (conhecimento).

O agnosticismo separa aqueles que acreditam que a razão não pode penetrar o reino do sobrenatural daqueles que defendem a capacidade da razão de afirmar ou negar a veracidade da crença teística (...) Alguém que admita ser impossível ter o conhecimento objetivo sobre a questão — portanto agnóstico — pode com base nisso não ver motivos para crer em qualquer deus (ateísmo fraco), ou pode, apesar disso, ainda crer em algum deus por fé (fideísmo). Nesse caso pode ser ainda um teísta, caso acredite em conceitos sobrenaturais como propostos por alguma religião ou revelação, ou um deísta, caso acredite na existência de algo consideravelmente mais vago” (Acesso in: http://pt.wikipedia.org/wiki/Agnosticismo, em 11 de novembro de 2010, as 14:50 hs).

Em suma, o agnóstico admite a possibilidade de um Deus, mas não admite a possibilidade de se chegar a qualquer definição acerca deste Deus, por Ele estar infinitamente distante da compreenção humana.

4 Segundo o Rev. Augustus N. Lopes, “Algumas das idéias da Teologia Relacional têm uma impressionante semelhança com as especulações dos filósofos gregos”, como por exemplo, “o livre-arbítrio libertário” que traz “a idéia de que o arbítrio humano é completamente independente de forças externas e internas e, portanto, totalmente livre em tomar decisões. Isso ocorre porque o mundo e a história são governados pelo acaso.” Há também o conceito da “limitação de Deus”. “Os deuses da mitologia grega, cantados na Odisséia e na Ilíada de Homero, são concebidos como seres finitos e limitados, que não governam o mundo de acordo com sua vontade, mas espreitam os homens e suas decisões, intervindo algumas vezes”. Por fim, ele cita “o conceito de um futuro aberto e indeterminado” onde “encontramos a idéia de um mundo autônomo, funcionando por si mesmo, já que não havia deuses que determinassem seu curso, e visto que as decisões humanas eram imprevisíveis”. “Essas idéias acima podem ser encontradas em filósofos como Tales, Epicuro, Platão e Aristóteles, para mencionar alguns.” (LOPES, Augustos N., Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências, São Paulo, ed. PES, 2008, pgs. 12, 13.)

5 O Rev. Augustus N. Lopes em seu livro Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências declara:

“A maior influência na Teologia Relacional, sem dúvida é o arminianismo. Podemos afirmar inclusive que ela é um desenvolvimento lógico do arminianismo, ou ainda, o arminianismo levado às suas últimas consequências (...) O ponto central do arminianismo é que a salvação depende da decisão humana. É o homem, com seu livre-arbítrio, quem decide o seu futuro e, portanto, o futuro da raça humana. A salvação foi dada por Deus mas ela só é eficaz se o homem decidir aceitá-la.” (LOPES, Augustos N., Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências, São Paulo, ed. PES, 2008, pg. 13)

Em seu livreto “Os cinco pontos do calvinismo”, W. J. Seaton faz distinção entre a visão calvinista e a arminiana, relacionando os cinco pontos do arminianismo da seguinte maneira: “1. Livre-arbítrio, ou capacidade humana (...) 2. Eleição condicional (...) 3. Redenção universal, ou expiação geral (...) 4. A obra do Espírito Santo na regeneração limitada pela vontade humana (...) 5. Cair da graça” (SEATON, W. J., Os Cinco Pontos do Calvinismo”, São Paulo, SP, editora PES, pgs. 3, 4.). Sobre estes cinco pontos o Rev. Nicodemus escreve: “A Teologia Relaconal concorda com praticamente todos os pontos da interpretação arminiana da salvação com exceção daquele que fala da presciência de Deus [eleição condicional], que Deus anteviu a escolha dos que haveriam de ser salvos. (LOPES, Augustos N., Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências, São Paulo, ed. PES, 2008, pg. 15.).

6 “Este é o nome que se dá a outra corrente teológica do século XVI originada nas idéias dos italianos Lélio Socínio (1525-1562) e seu sobrinho Fausto Socínio (1539-1604). Esses teólogos negavam em seus escritos a deidade de Cristo, Sua morte vicária na cruz e a imputação da Sua justiça aos pecadores arrependidos. Suas idéias eram tão heréticas que foram condenadas pelos católicos e pelos protestantes”. Declarou o Rev. Augustus N. Lopes; ao abordar o assunto acerca da visão sociniana da onisciência de deus, prosseguiu:

“O ponto que nos interessa aqui é a aquilo que os teólogos relacionais acreditam (...) Lélio e Fausto argumentaram que os calvinistas estavam, a princípio, logicamente corretos em dizer que o conhecimento que Deus tem do futuro se baseia no fato que o próprio Deus havia determinado tudo o que vai acontecer. Deus sabe as coisas que vão acontecer porque Ele mesmo determinou essas coisas. Todavia, eles prosseguiram a argumentar que os arminianos estão corretos quando dizem que é inadmissível pensar que Deus determinou tudo que vai acontecer, pois isso anula a liberdade humana. Logo, para que se possa preservar a plena liberdade do homem, é preciso negar não somente que Deus preordenou as decisões livres de agentes livres, mas também que Deus conhece de antemão quais serão tais decisões. E assim, os socinianos foram além do calvinismo e do arminianismo, negando a soberania de Deus (calvinistas) e também a Sua presciência (arminianos) (...) É exatamente esse o ensino da Teologia Relacional quanto à presciência de Deus (... ) A semelhança é notável, até mesmo nos detalhes. Os socinianos diziam que a onisciência de Deus significava que Deus conhecia tudo o que era possível de ser conhecido. Como as decisões livres dos seres humanos eram impossíveis de serem conhecidas – exatamente porque eram livres – Deus não podia ter conhecimento delas. Os teólogos relacionais argumentam da mesma forma, redefinindo a onisciência de Deus de maneira similar.” (LOPES, Augustos N., Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências, São Paulo, SP, editora PES, 2008, pgs. 16, 17, 18.).

7 Nas palavras do Rev. Augustus N. Lopes:

“Existe também uma semelhança visível entre a relação de Deus com o tempo defendida pela Teologia Relacional e aquela da Teologia do Processo. É verdade que os teólogos relacionais criticam a Teologia do Processo; todavia, não conseguiram se distanciar o suficiente para evitar a sua influência (...) De acordo com o cristianismo clássico, o Deus eterno criou o tempo e vive fora dele. Dessa forma, ele pode contemplar simultaneamente o passado, o presente e o futuro, como se fossem janelas ou telas abertas diante dEle. A Teologia do Processo nega esse conceito e defende que a realidade está em processo de mudança constante e que Deus evolui e progride dentro dessa realidade. Os teólogos relacionais admitem que Deus vive no tempo, mas discordam que isso faça parte essencial da Sua existência. Afirmam que ele optou por viver no tempo para poder Se relacionar de forma amorosa e significativa com Suas criaturas (...) apesar das críticas à Teologia do Processo, a Teologia Relacional afirma que Deus vive dentro do tempo, sujeito ao passar do tempo e às mudanças que isso proporciona. Ao final, temos de lidar com um Deus que, à nossa semelhança, aprende e evolui com o passar do tempo e não pode saber com exatidão o que nos aguarda no futuro. (LOPES, Augustos N., Teologia Relacional: Suas origens, seus ensinos, suas consequências, São Paulo, SP, editora PES, 2008, pgs. 19,20).

Outras semelhanças são: “a crítica de que a teologia cristã clássica foi influenciada por idéias da filosofia grega quanto a formulação da doutrina de Deus” (Ibid, p. 21); ambas defendem também:

“uma reformulação da doutrina clássica a respeito de Deus. A onisciência de Deus deve ser entendida como Seu conhecimento de tudo que pode ser conhecido – menos o futuro que ainda não aconteceu. A onipotência é entendida como poder perfeito, mas Deus não tem monopólio dele. Ele tem todo o poder possível a um ser. Não que Seu poder seja ilimitado. Ele é somente o maior. Portanto, Deus nunca pode determinar um evento, ou que alguma coisa aconteça irreversivelmente. Seu poder é coercivo, nunca determinativo. Todas essas idéias são também defendidas pelos teólogos relacionais” (Ibid, pgs. 21, 22).

8 WARE, Bruce A., Teísmo Aberto: A teologia de um deus limitado, São Paulo, SP, Vida Nova, pgs. 13,14 (ênfase acrescentada).

9 Ibid., pg. 21.

10 Citado na capa do livro “Teísmo Aberto: Uma teologia além dos limites Bíblicos” (PIPER, John; TAYLOR, Justin; HELSETH, Paul K., Teísmo Aberto: Uma teologia além dos limites bíblicos, São Paulo, SP, Vida, 2006).

11 WARE, Bruce A., Teísmo Aberto: A teologia de um deus limitado, São Paulo, SP, Vida Nova, pg. 20.

12 O Breve Catecismo/ Assembléia de Westminster (1643 a 1652); [tradução Igreja Presbiteriana do Brasil]. – 2.ed. – São Paulo: Cultura Cristã, 2005, pg. 7.

13 Vídeo disponível em: http://emdefesadagraca.blogspot.com/2010/05/deus-odeia-pecadores-e-nao-somente-o.html . (acesso em 16 de novembro de 2010, as 14:05 hs.).

14 DAVIES, Eryl D., Um Deus Irado: O lugar do inferno na pregação, São Paulo, SP, editora PES, p. 9.

15 Ibid, pgs. 9, 10.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Justificação é somente pela Graça


Por João Calvino (1509-1564)

Nós que somos Judeus por natureza, e não pecadores dentre os Gentios, sabendo que um homem não é justificado pelas obras da Lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo, e não por obras da Lei, pois por obras da carne nenhuma obra será justificada.

Gal. 2: 15-16

Até agora, temos exposto o porquê de Paulo, abordando o tema das cerimônias, tipos e sombras, os quais eram praticados antes da vinda do Senhor Jesus Cristo, chegar a conclusão geral de que um homem não pode ser justificado ou aceito as vistas de Deus a menos que ele observe toda a Lei. Agora, num primeiro momento, nós podemos considerar que essas coisas são duas questões distintas; todavia, como temos vindo a dizer, Paulo tem que nos atrair de volta ao básico a fim de expor a tolice de acreditar que podemos obter favor aos olhos de Deus através de nossos próprios méritos. Agora, nós já temos discutido a razão porque Paulo acrescenta a palavra “lei”. Por mais que seja comumente aceito que um bom homem possa obter favor e aceitação diante de Deus, os homens estão muito seriamente enganados a respeito desta matéria. Na verdade, o que quer que possamos ter feito, não poderá conquistar o favor de Deus, porque ele merece o melhor de tudo o que esteja em nosso poder. Portanto, não há nenhum mérito possível de nossa parte (se é que possamos chamá-lo assim), a menos que cumpramos os temos do pacto que ele fez conosco, quando ele disse que aquele que guarda a lei obterá vida e salvação (Lev 18:5). Quando Deus pronunciou estas palavras, ele estava preparado para aceitar nossa total obediência como digna de salvação, mas isso não implica, de fato, que possamos, por tanto, merecer o favor, pois nenhum de nós tem cumprido com nosso dever (como veremos a seguir). Assim, a promessa teria sido perdida, ou no mínimo sem efeito, em razão de que jamais seria aplicada a qualquer pessoa, não tivesse Deus enviado o remédio – ou seja, a menos que, apesar da nossa injustiça, ele nos perdoasse os pecados e nos aceitasse como justos. Quando Paulo diz que não podemos ser justificados pelas obras da lei, ele quer dizer que se reivindicarmos merecer graça e salvação por Deus ter prometido que aqueles que observassem a lei seriam contados como justos, estaríamos completamente enganados, pois ninguém guarda a lei perfeitamente. Devemos entender que todos nós somos tidos como culpados diante de Deus e temos a sentença de condenação pairando sobre nossas cabeças.

Para expressar esse fato com mais clareza, Paulo faz uma comparação entre os Judeus e os Gentios. Ele diz que apesar de serem “Judeus por natureza e não pecadores dentre os Gentios”, perceberam que só poderiam ser aceitos por Deus pela fé no Senhor Jesus Cristo. Pois, embora todos os homens tenham caído em Adão e, portanto, não haja nenhum mérito individual, parecia que os Judeus tinham um privilégio especial, na medida em que Deus os havia adotado como seus próprios filhos e os chamado servos seus. No entanto, este é o ponto onde os Judeus estavam errados. Pois, quando as Escrituras falam da “incircuncisão”, referem-se a poluição que habita em nós por meio de Adão, e nos coloca a todos debaixo da condenação desde o ventre de nossas mães. Mas os Judeus acreditavam que Deus os havia libertado desta maldição sobre a humanidade e, portanto, vangloriavam-se. Embora seja verdade que grande honra lhes fora conferida, a qual deveriam ter valorizado acima de todo bem terrestre – por Deus tê-los escolhido para serem o seu povo e a sua herança – ainda assim, eles tinham a obrigação de reconhecer humildemente que em si mesmos não eram dignos. Na verdade, nós também temos adotado tal atitude presunçosa quando experimentamos a graça de Deus; do mesmo modo que os Judeus, em sua maioria, erroneamente acreditavam ser superiores a todos os demais. Eles achavam que Deus havia encontrado algo sobre eles que O havia levado a preferí-los ao invés daqueles que Ele havia rejeitado. Essa arrogância trouxe consigo uma ingratidão pecaminosa, por não atribuírem a Deus todas as boas coisas que haviam recebido de Suas mãos, encheram-se de soberba, como se Deus os achasse melhores ou mais dignos da salvação eterna do que os Gentios.

Para extinguir toda esta presunção, Paulo inicia seu argumento assim: “Nós que somos Judeus por natureza...” Parece que ele está dizendo: “Sim, é verdade que a nós tem sido mostrada maior graça que aos Gentios, a quem Deus não aceitou em Sua igreja”. Mas quando ele fala assim, não pretende, de fato, dar aos Judeus ocasião para orgulho; pelo contrário, ele está espalhando diante deles as coisas que eles tem recebido gratuitamente de Deus para ensinar-lhes que não possuem motivos para se gabar. Na Epístola aos Romanos, Paulo faz duas afirmações que à primeira vista parecem contraditórias, mas que estão em perfeita harmonia. Por um lado, ele pergunta: “Não temos nós mais privilégios que os Gentios? E ele responde: “Sim, pois fomos escolhidos para ser o Seu povo; ele nos deu a circuncisão como um sinal e selo de que nós somos Seus filhos; ele fez um pacto conosco; ele prometeu nos enviar o Redentor do mundo. Assim, se considerarmos as misericórdias que Deus tem derramado sobre nós, certamente que temos sido abençoados e exaltados acima de todos os outros povos”. Aqui, Paulo magnifica a bondade de Deus para com eles (Rom 3:1-2). No entanto, mais tarde ele faz a mesma pergunta (Que vantagens possuem os Judeus?), porém, responde: “Nenhuma” (Rom 3:9-10). “Pois todos nós estamos debaixo da maldição de Deus. Se os Gentios estão para ser condenados, então nós estamos para ser condenados duas vezes mais, pois eles têm a desculpa da ignorância. Todavia, eles não podem escapar de Deus, mas perecerão apesar de jamais terem recebido qualquer instrução ou conhecimento de doutrina. Segue-se, então, que seremos condenados pela lei, porque Deus nos tem ensinado e ainda assim não paramos de pecar e transgredir suas justas leis, de modo que agora estamos mergulhados em grande e profunda condenação tanto quanto os Gentios e descrentes”, ele diz. Assim, os Judeus eram distintos dos Gentios – não por que fossem mais dignos ou mais justos, mas simplesmente por Deus os ter escolhido por Sua livre generosidade.

Da mesma forma, os filhos dos crentes não são melhores que os filhos dos Gentios, ou mesmo dos Turcos, quando se trata de sua natureza. Pois somos todos parte de uma massa corrupta e maldita a qual Deus tem condenado, de modo que nenhum de nós pode exaltar-se ou pensar possuir maior valor que nossos amigos. No entanto, Paulo declara que nossos filhos são santificados; que não estão manchados, assim como estão aqueles que nasceram de descrentes ou pagãos (1 Cor 7:14). Isto faria parecer que há alguma contradição aqui. Entretanto, tudo se encaixa muito bem, porque, por nossa natureza, todos estamos manchados e corrompidos, com uma única exceção [Cristo]. Todavia, há uma espécie de dom sobrenatural, isto é, um privilégio que Deus confere a fim de que os filhos dos crentes sejam dedicados a Ele, e os reconhece e aceita como Seus. É por isso que as crianças da igreja hoje são consideradas como povo de Deus e contadas entre o número dos eleitos, assim como sob a lei os Judeus foram separados do resto do mundo. Isto explica porque Paulo disse: “Nós somos judeus e não pecadores dentre os Gentios”. Por “pecadores”, ele queria dizer: aqueles que continuavam em suas imundícies, não tendo sido lavados pela graça de Deus. Na realidade, a circuncisão era, em si mesma, um sinal e testemunho do fato de Deus ter aceitado a familia de Abraão e a raça que descende dele, como sua própria família e povo especial. Nos velhos tempos, isto era o que distinguia os Judeus dos incrédulos, pois, embora fossem igualmente (equal status) filhos de Adão, Deus escolheu alguns e deixou outros de lado, como estranhos a Sua família. Se perguntamos o porque de isto ser assim, a resposta só pode ser puramente por causa da graça de Deus, desde que os Judeus em si mesmos não eram de alguma forma proeminentes.

Sigamos agora o argumento que Paulo está construindo aqui. Ele diz: “Sabendo que um homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo”. Ao dizer isso, Paulo demonstra que o quer que seja a graça, tinha que ser recebida de Deus; eles não tinham liberdade para confiar no homem ou em si mesmos como se merecessem isto de Deus. Não, pelo contrário, eles tinham que buscar refúgio na Sua livre generosidade, reconhecendo que a salvação está somente em Jesus Cristo, que veio para resgatar da perdição aqueles que já estavam perdidos. Isto é confirmado em outra passagem, onde diz que Ele “veio e pregou paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto” (Ef 2:17). Jesus Cristo é a paz, pois é através dele que Deus pode nos amar e receber em misericórdia. Isto não é verdade apenas para aqueles que estavam distantes, como os Gentios, mas também para os filhos de Abraão, apesar da dignidade e nobreza que já possuíam (por isso não ser deles por natureza). Paulo diz que os Judeus que haviam se convertido ao Cristianismo sabiam que não poderiam ser justificados pelas obras da lei, mas somente pela fé no Senhor Jesus Cristo, e faz uma comparação entre os dois com o objetivo de mostrar que não podemos ser justificados pela graça, a menos que renunciemos realmente todo mérito pessoal.

Isto é bem merecedor de nossa atenção, porque, na verdade, até os Papistas professam ser justificados pela fé, mas isso é somente meia verdade; o restante da pintura é o que a destrói por completo. Certamente, eles estão persuadidos do fato de que o homem não pode ser considerado justo diante de Deus a menos que Jesus seja o mediador e que esta pessoa descanse nele para a salvação. Os Papistas sabem disso muito bem, e ainda assim dizem freqüentemente: “Nós somos justificados pela fé, mas não pela fé somente”. Este é o ponto do qual eles tomam por encerrado, e esta é a questão principal sobre a qual diferimos. Paulo, entretanto, mostra a tolice deles quando diz: “mas pela fé”, pois essa expressão implica que tudo quanto os homens tragam para Deus para agradá-lo é rejeitado. A porta, portanto, está bem fechada para todo mérito, pois Paulo declara que o único caminho para se chegar até Deus é através da fé. Em breve veremos com mais clareza porque Paulo faz uma comparação com a lei como se aqui estivessem dois opostos. A lei pressupõe que se cumprirmos o que Deus requer de nós, seremos considerados bons servos e ele nos dará a recompensa que prometeu; fé, por outro lado, pressupõe que somos pobres e perdidas almas condenadas que encontraram em Jesus Cristo o que desesperadamente precisavam.

Tome isso como um exemplo: existem dois homens procurando comida e abrigo. Um tem dinheiro e deseja ser tratado de acordo com seus recursos. Ambos pedem algo para comer, mas o segundo homem é pobre e não tem um centavo, por isso ele implora por uma esmola. Eles têm algo em comum, pois ambos buscam por comida, mas o primeiro possui dinheiro para satisfazer seu anfitrião. Assim, após comer e beber bastante e ser cortezmente entretido, o anfitrião se alegrará em receber seu pagamento, não pensando, todavia, que seu convidado esteja de alguma forma em dívida com ele. Por quê? Bem, ele se satisfez e ainda ganhou algo com isto. Mas a vida do homem pobre, que pede esmolas, depende de alguém que possa lhe dar alimento e abrigo, sem receber nada em troca. Da mesma maneira, se buscarmos ser justificados pela lei, deveremos merecer esta justificação; pois então Deus receberá de nós e nós dEle de forma recíproca. É possível uma coisa dessas? De maneira alguma, como examinaremos em mais detalhes posteriormente. Devemos, portanto, concluir que não podemos obter justificação pela lei, e se cremos que podemos fazer de Deus nosso devedor, só provocaremos Sua ira. A única opção é nos aproximarmos como pobres mendigos, para que possamos ser justificados pela fé. Não como se a fé fosse uma virtude que procede de nós, mas devemos chegar humildemente, confessando que não podemos obter salvação, exceto como um dom gratuito. É por isso, então, que a lei é colocada em oposição à fé. Paulo está nos mostrando que todos que afirmam ser aceitáveis por Deus por seus méritos, estão virando as costas para a graça do Senhor Jesus Cristo. Estudaremos isso demoradamente daqui por diante.

Um homem pode levantar esta objeção: a lei foi dada por Deus, portanto ela não pode ser colocada em oposição à fé, a qual também procede de Deus. A resposta para isso é simples. Deus fez ambos, dia e noite, água e fogo, frio e calor. Certamente, o dia não está em oposição à noite, mas Deus em sua bondade e sabedoria dispôs para que eles aparecessem em uma ordem adequada; o homem tem o brilho do sol no qual faz seu trabalho durante o dia, e a noite o sol se esconde para que o homem possa descansar. Portanto, embora o dia difira da noite, não há desarmonia entre eles. O mesmo se aplica ao fogo e à água. Cada criatura tem sua função – e o fogo e a água completam um ao outro muito bem; no entanto, se tivéssemos de misturá-los, certamente entrariam em choque! Isto é verdade para a lei e o evangelho. Aqueles que acreditam que somos justificados pela lei, bem como pelo evangelho, confundem tudo; é como se estivessem colidindo o céu com a terra! Em suma, seria mais fácil misturar fogo e água do que dizer que somos merecedores de uma porção da graça de Deus e ainda assim precisamos da ajuda do Nosso Senhor Jesus Cristo. Se considerarmos o que a lei é e porque ela foi dada, descobriremos que não há discrepância para com o evangelho, ou para com a fé, mas que há perfeita harmonia entre eles. Esta objeção é tratada assim: Se dissermos que ambos, fé e lei, procedem de Deus, estaremos certos. Mas devemos pensar um pouco (como faremos em breve) na razão pela qual Deus instituiu a ambas.

Voltemos as palavras de Paulo – ele diz que só podemos ser justificados pela fé no Senhor Jesus Cristo. Quando ele fala em justificação, ele se refere a sermos considerados justos aos olhos de Deus. Esta expressão precisa ser entendida porque trata de todo o assunto de como somos salvos. Nós certamente seriamos criaturas miseráveis se, tendo vivido uma longa vida neste mundo, alguém viesse nos perguntar o caminho da salvação e nós não soubéssemos responder! Muitos tolos têm se deleitado como o pão de Deus sem saber como ser aceitável a ele. É por isso que devemos estar totalmente atentos ao que Paulo está nos dizendo aqui. Ele diz que somos justificados. Como? Já somos justos – estamos sem culpa? De maneira alguma, mas Deus nos aceita. A palavra “justificação” aponta para aquele favor de Deus, o qual recebemos quando nos tornamos seus filhos e ele nosso Pai. Você pode perguntar: por que as Escrituras usam a palavra “justificar”, quando isto parece tão inapropriada? Nós poderíamos dizer muito bem que Deus nos ama, que ele tem pena de nós, que deseja ser nosso Pai e Salvador – por que não usarmos essas expressões ao invés de falar de justificação? As Escrituras não se referem a ela sem uma boa razão.

Se analisarmos a salvação em seu sentido mais básico, diremos que somos salvos pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, isso não implica no conhecimento de nossa condição miserável por natureza ou do remédio que necessitamos aplicar. Pois, para colocarmos nossa confiança em Jesus Cristo, devemos reconhecer que pelo pecado de Adão, bem como por nossas próprias iniquidades, estamos totalmente perdidos. Já deveríamos ter descoberto isto por nós mesmos. Nunca entenderemos que nossos pecados nos condenam aos olhos de Deus, a menos que saibamos que precisamos ser justificados com ele. Em outras palavras, não estaremos cientes da justificação de Deus se simplesmente dissermos: “Somos salvos pela graça e pela fé”. Pois Deus não pode condenar a si mesmo algum dia, desde que ele é a personificação da justiça; ele é totalmente puro e perfeito e, portanto, detesta o que é mau. Todavia, somos totalmente corrompidos e só existe maldade em nós; segue-se, assim, que Deus tem que nos odiar. Portanto, se ele nos odeia, ai de nós, pois estamos condenados. É por isso que precisamos ser justificados antes que possamos ser agradáveis a Deus. Isto significa que devemos ser purificados de nossos pecados e transgressões; caso contrário, jamais poderíamos apreciar a misericórdia de Deus (como tenho dito). Se reconhecermos que somos pecadores, perceberemos que Deus odeia o pecado, e ainda bem que ele o odeia ou de outra forma jamais teria providenciado um meio para nos salvar – pelo perdão de nossos pecados e pela limpeza e purificação através do sangue do Senhor Jesus Cristo, que nos dá limpeza espiritual. Deus nos lava e purifica para que possa nos receber, e então compartilha do seu amor, para que possamos ter a certeza da nossa salvação. É por isso que as Escrituras usam a palavra “justificação”.

Os Papistas podem debater sobre seu significado como animais tolos. “O que!”, dizem eles, “justificados pela fé? A fé não faz uma pessoa perfeita – como, então, pode ela nos justificar?” Eles não percebem que a justificação, da qual a Escritura fala, se refere ao ato de Deus cobrir os nosso pecados (como tenho dito) e, em virtude de sua morte e sofrimentos, cancelando-lhes em nome, e pelo nome, do Senhor Jesus Cristo. O que quer que outros possam dizer, está escrito que somos considerados justos aos olhos de Deus quando ele cancela e perdoa os nossos pecados. De fato, Paulo fala disso no quarto capítulo aos Romanos, onde diz: “Assim como Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (Rm 4:6-7; Sl 32:1). Novamente, em outra passagem ele diz: “Pois ele o fez pecado por nós, aquele que não conheceu pecado”; (isto significa que ele recebeu toda a condenação devida a nós por nossos pecados), “para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Cor 5:21). Assim, nós, sendo ligados e unidos a sua pessoa e seu corpo, somos considerados justos, porque sua obediência era tão perfeita que foi suficiente para limpar e remover os nossos pecados. Temos tratado agora com o significado do termo “justificação”.

Voltando nossa atenção para a expressão “fé”, Paulo afirma aqui que eles Têm “crido” em Jesus Cristo. Se perguntássemos para um tolo o que ele considera ser fé, ele poderia muito bem dizer: “Crença”, mas ele não poderia entender claramente o que cada palavra significa. Estamos felizes de sermos tão ignorantes como tais tolos? Vamos, em primeiro lugar, salientar que o Senhor Jesus é o objeto de ambas, nossa fé e nossa crença. A salvação é pela fé? Sim, se cremos no Senhor Jesus Cristo. Vamos considerar por um momento o porque do Senhor Jesus Cristo ser colocado diante de nós como aquele em quem devemos descansar toda a nossa fé. É simplesmente porque encontramos nele tudo o que precisamos para nossa justificação. Já temos dito que somos considerados justos aos olhos de Deus quando ele perdoa nossos pecados e já não os leva em consideração. E como isso acontece, se não pelo sangue do Senhor Jesus Cristo que foi derramado para nossa purificação? Por sua morte e sofrimentos, pelos nossos pecados, ele satisfez e apaziguou a ira de Deus contra nós. Não devemos buscar por alguma outra coisa que possa ajudar no pagamento, além do sacrifício feito pelo Filho Unigênito de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é chamado Filho amado de Deus (Mt 3:17), para que então possamos ser amados nele; ele é chamado o Justo (Is 53:11), para que possamos participar de sua justiça; e ele é chamado o Santo (Lc 1:35), para que possamos ser santificados nele. É por isso que nossa atenção é atraída ao Senhor Jesus Cristo quando consideramos a “fé”.

No entanto, os Papistas formam suas próprias opiniões sobre o assunto, revelando por aquilo que afirmam que jamais experimentaram o que significa crer. “O quê?” Eles dizem, “é possível para um homem ser justificado pela fé somente, visto que até os próprios demônios crêem?” Isto é verdade, e Tiago usa este argumento (Tg 2:20); de qualquer modo, nós também o vemos desdenhar aqueles que em vão e frivolamente diziam ser cristãos e ter fé, e ainda assim não mostravam frutos. Os Papistas tem se afastado ainda mais, na medida em que dizem que fé significa acreditar em Deus, e que o tema da nossa fé é Deus, quando por fé eles quer dizer uma mera imaginação de que há um Deus em algum lugar que criou o mundo e que agora o controla. Eles permanecem neste ponto, dormindo em sua ignorância, e ainda não exitando em chamar a si mesmos bons cristãos e bons católicos, como dizem, apesar de serem completamente ignorantes. Portanto, não devemos nos surpreender se, desprovidos de discernimento ou inteligência, eles lutem contra a doutrina contida na Sagrada Escritura, ou quando negam, com incorrigível obstinação, que o homem é salvo pela fé somente. Quão cuidadosamente, entretanto, devemos prestar atenção as palavras de Paulo aqui, as quais nos dizem que se não olharmos para Jesus Cristo, não podemos saber o que a fé realmente é. Sem ele, não podemos conhecer a remissão de pecados, como nos aproximarmos de Deus, como colocarmos nossa confiança nele, ou recorrer a ele. Nem saberemos o que é ter paz de consciência, ou esperança de vida eterna. Tudo isto está além do nosso alcance até sermos apresentados a Jesus Cristo e até termos olhado para ele e nos lançado sobre ele. Este tipo de fé traz a graça. Quando reconhecemos que somos criaturas miseráveis e abomináveis aos olhos de Deus, buscando o remédio no Senhor Jesus Cristo. Temos de aceitar que ele se ofereceu por nós a fim de nos redimir da maldição sob a qual vivíamos, e que nos lavou em seu sangue. Pela sua obediência, ele cancelou todas as nossas transgressões, para que pudéssemos ter a garantia de que Deus nos aceita e recebe como seus filhos. É assim que podemos entender essa passagem.

Tendo declarado que ele, e todos os Judeus que haviam se convertido ao Cristianismo e sido salvos pela fé no Senhor Jesus Cristo, Paulo acrescenta o seguinte: “Pois pelas obras da lei nenhuma carne será justificada”. Temos ouvido isso antes, em aplicação aqueles de sua própria nação, mas aqui ele o proclama em um sentido mais geral para o mundo todo. Quando ele diz “nenhuma carne”, ele basicamente informa que não há diferença entre Judeus e Gentios quando se trata do caminho da salvação. Embora os Judeus tivessem sido circuncidados, escolhidos como a herança de Deus e santificados por ele, entretanto, não podiam ter esperança de salvação senão pela pura graça de Deus. Veja como eles são colocados no mesmo nível dos Gentios, possuindo o mesmo status. Paulo busca expelir todo orgulho que os homens possam ter acerca de suas próprias virtudes. Na verdade, muitos de nós reconhecemos ser tão depravados que é impossível atribuir qualquer honra a nós mesmos, como se não merecêssemos qualquer coisa da mão de Deus. Aqueles que são bêbados ou devassos, ou aqueles que têm se lançado sobre toda sorte de males, sentem-se envergonhados de mais para se elevarem ou vangloriarem de poder persuadir a Deus a salvá-los por seus méritos ou boas obras. De fato, eles se escondem até mesmo das outras pessoas por causa da vergonha de sua infâmia. Mas os fanáticos, que fazem um show de sua “santidade” perante os homens, são tão endurecidos que enganam a si mesmos pensando serem merecedores do paraíso – como se Deus estivesse em dívida para com eles! Esses hipócritas, embora totalmente depravados e cheios de ambição, avareza, perversidade e coisas semelhantes a estas, por causa de todas as suas manipulações e pretensões, crêem que Deus não vê nada de errado em suas práticas corruptas e até persuadem a si mesmos de que ele os aceitará por seus méritos! Aqueles que regularmente freqüentam a missa, correndo da cervejaria para a capela, comprando indulgências e coisas semelhantes, observam jejuns e dias de festa1 – eles estão cheios de orgulho vão e acreditam que Deus lhes deve algo. Ao dizer “nenhuma carne”, Paulo declara que é inútil nos separarmos uns dos outros aqui em baixo, como se um fosse justo e outro injusto. Devemos todos nos humilhar e julgar a nós mesmos, sabendo que todas as nossas virtudes são meros trapos de imundície aos olhos de Deus, até o melhor que possamos fazer. Pois mesmo que um homem fosse perfeitamente justo em nossa opinião, por nunca ter feito mal a ninguém, ou porque pudesse resistir toda sorte de males sendo casto e sóbrio – em suma, posto que fosse reputado como sendo um anjo – ainda assim, não haveria nada além de corrupção. Como isto é possível? Bem, nunca devemos julgar pela aparência, pois nem tudo o que reluz (como diz o provérbio) é ouro. Nunca podemos julgar o que é pecado ou virtude sem primeiro olhar para dentro. Pois se um homem não atribui a Deus o que por justiça é dele, não estará roubando a homens de suas honras, mas a Deus. Assim, embora muitos homens possam louvá-lo e elogiá-lo, estão cheios de orgulho e ambição, e nada os humilhará exceto vir a conhecer o Senhor Jesus Cristo.

Então, mesmo aqueles que apresentam uma boa aparência exterior de religiosidade, devem ser condenados diante de Deus. Por isso, Paulo pretende impedir os homens de confiarem em seus próprios méritos. Porém, existe algo mais ainda. Quando ele diz “nenhuma carne”, não está se referindo apenas aos homens a quem Deus tem reprovado, os que não foram renovados pelo Espírito Santo, mas ele também inclui os crentes. Pois, embora o Espírito de Deus habite em nós, após ter nos levado a um conhecimento do Evangelho e ter nos enxertado no corpo do Senhor Jesus Cristo – embora, eu diga, o Espírito de Deus habite em nós, estamos todos incluídos nessa palavra “carne” por causa do que nós somos por natureza. Assim, quando Paulo declara aqui que “nenhuma carne será justificada”, ele quer dizer que os incrédulos são condenados em Adão e permanecem condenados, e que os crentes, pelo fato de que serão sempre imperfeitos e possuírem muitos obstáculos e manchas, estão condenados tanto quanto os outros. Na realidade, esta condenação é geral, pois quem quer que busque ser justificado pelas obras da lei encontrará sempre a si mesmo na condição de culpado – sim, até a pessoa mais santa que já tenha existido. Vamos tomar Abraão como um exemplo de perfeição, ou Davi, que abundava em todas as virtudes, ou Noé, Jó e Daniel, a quem Ezequiel nomeia como sendo três homens justos (Ez 14:14). Eles todos caem na mesma categoria como homens que só poderiam ser justificados aos olhos de Deus através da graça.

Agora então, pergunto a todos vocês: onde nós estamos? Aqueles que dizem que serão justificados por seus méritos, ou “obras meritórias” como eles as chamam, não têm sido conduzidos ao orgulho excessivo pelo Diabo? Pois quem pode igualar Davi, ou Noé, ou Abraão, ou Daniel? Certamente, até aqueles que têm cursado bem a escola de Deus, e que foram incendiados por um verdadeiro zelo de entregarem-se a si mesmos totalmente para Deus, estão convencidos de que ainda estão longe de alcançar o padrão estabelecido por Davi, ou até mesmo Noé ou Daniel! Sabendo disso, portanto, podemos ver que o Espírito Santo está aqui derrubando aqueles que se exaltam demasiadamente, para nos convencer de que não possuímos nem a menor gota de justiça, para que busquemos tudo que diz respeito a nossa salvação na graça do Senhor Jesus Cristo. Agora entendemos o que implica a declaração, quando diz que “nenhuma carne será justificada”. É como se Paulo estivesse dizendo que, quando se trata de nossa natureza, somos sempre maus por dentro, apesar do que pareça apresentar o exterior. Podemos ser grandemente louvados e respeitados pelo mundo; podemos estar cercados de vã bajulação; mas até que Deus trabalhe em nós para nos mudar, estaremos cheios de imundície. Na verdade, todas as virtudes que os homens exaltam são nada menos que vícios que os levarão a destruição e os mergulharão no inferno. Pois até mesmo aqueles que foram renovados pela graça de Deus, e aprenderam a obedecer-lhe, fazendo as coisas que Deus ama e aprecia, até eles não podem trazer nada para Deus que possa liquidar suas contas com ele. Eles estarão sempre em débito por conta de todos os bons dons que têm recebido de Deus; até tais homens também estão corrompidos pelo pecado e a fragilidade. Assim, devemos nos despir de toda confiança em nossa justiça própria. Pois, desde o maior ao menor, estamos todos condenados. Se buscarmos justificação pela lei, estaremos grandemente enganados – nunca a encontraremos.

Agora podemos entender mais claramente a verdade do que tenho dito a respeito do Senhor Jesus Cristo como um refúgio para aqueles que estão convencidos de sua necessidade espiritual. Isto quer dizer que a única real preparação para crer em Jesus Cristo é ser tocado como uma real e vívida consciência de nossos pecados. É por isso que Cristo disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei... e achareis descanso para as vossas almas” (Mt 11.28-29). Em outra parte, a Escritura diz claramente que ele foi enviado “para pregar boas novas aos mansos... para proclamar libertação aos cativos, e abertura de prisão aos presos” (Is 61:1). Portanto, aqueles que têm prazer em seus pecados nunca virão ao Senhor Jesus Cristo. Eles podem se vangloriar de possuírem fé, pois muitos dos escarnecedores de Deus profanam esta palavra, santa como ela é. Todo mundo deseja ser visto como um cristão, e não importa quão depravados eles estejam, dirão que crêem tanto quanto qualquer outro. Mas quando um homem fala dessa maneira, é evidente o bastante que ele não têm uma única gota de fé. Quando verdadeiros crentes dizem “eu creio”, eles o expressam em grande fraqueza, sabendo que se Deus não tivesse se apiedado deles, até o pouco que eles tivessem seria tirado deles. Aqueles que espalhafatosamente ostentam possuir plena fé são nada mais que cães e porcos, que jamais provaram, nem ao menos uma vez, a verdadeira religião, nem o temor de Deus. O termo “fé” sempre será vergonhosamente contaminado por tais cães, que não fazem outra coisa senão desprezar a Deus. Eles não podem discernir entre o bem e o mal, e são tão tolos a ponto de chafurdar em seus próprios pecados. Tome um bêbado, por exemplo, que está sendo envergonhado; depois de beber em excesso, ele anseia por permanecer em seu estado de embriaguez. Há também os devassos, perjúrios, blasfemos e similares – os quais afirmam ter fé; mas, por tudo isso, é certo que eles não estão prontos para conhecer o Senhor Jesus Cristo.Por que não? Porque eles não percebem que só podem ser justificados pela graça. Lembremos-nos, contudo, que para sermos completamente convencidos de que não podemos ser justificados pela lei, devemos ter Deus diante de nós em seu trono de julgamento a nos convocar a sua presença todas as manhãs e noites, sabendo que devemos prestar contas de toda a nossa vida. Além disso, devemos perceber que seríamos enviados a sepultura cem mil vezes se Deus não tivesse piedade de nós e nos ressuscitasse em sua misericórdia. Então saberíamos que não podemos ser justificados pela lei, pois estamos todos debaixo da condenação cada vez que nos comparamos com Deus. Precisamos ter esse medo, que não podemos encontrar descanso até o Senhor Jesus Cristo nos ter salvado. Veja, portanto, quão bom é para nós estarmos sobrecarregados, isto é, para odiarmos nossos pecados e estarmos tão angustiados acerca deles, como se sentíssemos que estivéssemos rodeados pelas dores da morte, para que possamos então buscar a Deus para que ele possa aliviar o nosso fardo. Devemos, no entanto, buscá-lo sabendo que não podemos obter salvação, completa ou parcialmente, a menos que nos seja concedida como um dom. Paulo não está dizendo que podemos encontrar alguma coisa que nos falta em Jesus Cristo, e suprir o resto por nós mesmos. Ele diz que não podemos ser considerados justos por nossos próprios méritos ou obras, mas somente através da fé.

Entendamos, por tanto, que não há qualquer salvação fora de Jesus Cristo, pois ele é o começo e o fim da fé, e ele é tudo em todos. Continuemos em humildade, sabendo que só podemos trazer condenação sobre nós mesmos; portanto, precisamos encontrar tudo o que diz respeito a salvação na pura e gratuita misericórdia de Deus. Devemos ser capazes de dizer que somos salvos mediante a fé. Deus o Pai designou seu Filho, o Senhor Jesus Cristo, para que ele pudesse ser ambos, o autor e consumador da nossa salvação. Devemos negar a nós mesmos e nos doar-mos a ele total e completamente, para que todo o louvor pertença a ele.

Agora, vamos cair diante da majestade do nosso grande Deus, reconhecendo nossos pecados, e pedindo que ele nos faça cada vez mais conscientes deles, que possamos odiá-los mais e mais, e crescer em arrependimento (uma graça que precisamos exercer por toda nossa vida). Possamos aprender, portanto, a magnificar a sua graça, como ela nos é mostrada no Senhor Jesus Cristo, para que possamos ser completamente tomados por ela; e não apenas de lábios, mas colocando nossa inteira confiança nele. Que possamos crescer nesta confiança até estarmos recolhidos em nossa morada eterna, onde receberemos a recompensa da fé. Possa ele não somente nos conceder esta graça, mas para todos os povos, etc.

1 Dias santos comemorados pelo catolicismo [nota do tradutor].

(Tradução: Nelson Ávila; título original: “Justification is by Grace Alone”)

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