segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O PROGRESSO DA REVELAÇÃO (Geral e Especial): Um novo olhar sobre o Capítulo 1 da CFW.


Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal modo manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis, contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação; por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade; e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido fazê-la escrever toda. Isto torna indispensável a Escritura Sagrada, tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”.(CFW cap.1 seção1)

Esta seção da Confissão de Fé de Westminster (CFW) traça um paralelo digno de nota acerca da progressão da revelação de Deus no decurso da história. Os puritanos que a escreveram (sec. XVII), iniciaram seu texto abordando a questão da Revelação Geral e o modo como esta é capaz de manifestar “a bondade, a sabedoria e o poder de Deus” de modo que “os homens” fiquem “inescusáveis” diante dEle, “contudo”, esta revelação não é suficiente “para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação”, pois, como escreveu o pastor Kenneth D. Macleod, “o máximo que aprendemos sobre Deus por meio da criação é extremamente limitado [já que ela] não nos pode dar conhecimento sobre o livramento de nossa condição pecaminosa”1.

“No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gen 1.1) e por meio desta criação, a primeira da qual temos relato nas Escrituras, Ele providenciou um meio pelo qual pudesse ser conhecido e adorado. Esta revelação (Geral) era suficiente para estabelecer um relacionamento correto entre criatura e Criador, de forma que tudo o que o homem precisava saber acerca de Deus encontrava-se bem diante de seus olhos.

Lemos no livro de Salmos que “os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Sal 19.1); lemos ainda que “os céus proclamam a justiça dele” (Sal 50.6 a), de sorte que o simples ato de olhar para o céu já revela o Glorioso e Justo Deus, Criador de todas as coisas. O ex-presidente norte-americano Abraham Lincoln (1809 – 1865) expressou essa realidade com as seguintes palavras: “Acho impossível que um indivíduo contemplando o céu possa dizer que não existe um Criador”.

Paulo, escrevendo aos romanos acerca da Revelação Geral de Deus, declara que “os Seus atributos invisíveis, Seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles [os homens] são inescusáveis” (Rom 1.20). Todavia, mesmo cercado por esta grande obra revelacional de Deus, desde a Queda o homem tem se tornado insensível e incapaz de, “mediante as coisas criadas” (Revelação Geral), aproximar-se do Criador que o formou, “por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade”. Devido a situação corrupta em que o homem encontrou-se após Adão (morto em delitos e pecados – Ef. 2.1; cego – 2 Pe. 1.9; inimigo de Deus – Rm. 5.10; Filho da ira – Ef. 2.3; etc.), fez-se necessário não só um Salvador, mas um meio mais claro pelo qual pudesse chegar ao conhecimento de sua própria situação lastimável e da necessidade deste Salvador.

Gostaria de observar que embora falando em termos de necessidade (da parte de Deus), ou seja, de fazer-se necessária uma revelação mais completa (Revelação Especial), o prof. Hermann Bavinck explicou: “Essa necessidade deve ser entendida corretamente. Ela não significa que Deus foi obrigado ou forçado, seja internamente pela razão de Seu ser, seja externamente pelas circunstâncias, a revelar-se de uma forma especial. Toda revelação, especialmente aquela que vem a nós em Cristo, através das Escrituras, é um ato da Graça de Deus, um livre uso da Sua vontade, e uma manifestação de Seu imerecido favor. Portanto, nós podemos falar da necessidade ou da indispensabilidade da revelação especial somente no sentido de que tal revelação está indissoluvelmente conectada com o propósito que Deus em Si mesmo designou para sua criação”2. Talvez para evitar qualquer má compreensão, os autores da CFW preferiram utilizar a expressão: foi o Senhor servido” ao invés de fazer qualquer referência a necessidades, o que esboça a idéia de maneira mais excelente.

O fato é que chegamos a um ponto em que devemos considerar que “Se o prazer de Deus é restaurar a criação devastada pelo pecado e recriar o homem à Sua imagem e fazê-lo viver definitivamente na eterna bem-aventurança dos céus, então uma revelação especial é necessária. Para esse propósito a revelação geral é inadequada (...) Na revelação geral (...) o que Deus quer fazer através dEle é incitar o homem a procurá-lo, senti-lo e encontrá-lo (At 17.27), e, não o encontrando, ser indesculpável (Rm 1.20). Mas em Sua revelação especial Deus tem compaixão do homem que está extraviado e que por isso não pode encontrá-lo. Nessa revelação Deus procura o homem e Ele mesmo fala ao homem quem e o que Ele é. Ele não permite que o homem nem deduza e infira de um grupo de fatos quem Deus é. Ele mesmo fala ao homem nessas palavras: ‘Eu sou Deus’”3. É exatamente sobre isso que a CFW passa a tratar, fazendo uma apresentação, agora, da progressão da Revelação Especial de Deus e Sua conclusão nas Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

No curso de Sua Revelação Especial, o Senhor revelou-se “em diversos tempos e diferentes modos”, como está escrito em Hebreus 1.1,2: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho...” Bavinck ensinou a esse respeito que “A primeira expressão, ‘muitas vezes’, significa que a revelação [não] nos foi dada de forma perfeita e completa em um momento, mas através de muitos eventos sucessivos e percorreu um longo período histórico. A segunda expressão, ‘de muitas maneiras’, significa que as várias revelações divinas não foram dadas todas da mesma forma, e sim que, acontecendo em várias épocas e lugares, ela aconteceu também em diversos modos e foi dada em diferentes formas.”4 Podemos perceber estas “diferentes formas” de Deus revelar-se (de maneira “Especial”), no fato de que em algumas partes da Escritura “Ele freqüentemente aparecia a Abraão, a Moisés, ao povo de Israel no Monte Sinai, sobre o tabernáculo e no Santo dos Santos e nas colunas de nuvem e de fogo. Em outros momentos Ele transmite Sua mensagem através de anjos, especialmente através do Anjo do pacto, que traz Seu nome (Ex 23.21). Posteriormente Ele faz uso de outros meios pedagógicos para revelar-se a Israel (Pv 16.33), o Urim e Tumim (Ex 28.30). Algumas vezes Ele fala com uma voz audível, ou Ele mesmo escreve Sua lei nas tábuas do testemunho (Ex 31.18; 25.16).”5 Todas estas foram formas legítimas de Deus se revelar, mas “nestes últimos dias” Deus se utilizou de algo superior a todas as outras formas de revelação, de sorte que chegamos ao ápice da revelação divina. Tendo abandonado o uso de anjos e profetas e, portanto, cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo”, “nestes últimos dias a nós nos falou pelo Filho...”.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.” (Jo 1.1,14). Jesus, o logos (lógos –Verbo/Palavra) de Deus é a própria Palavra encarda do Pai. Ele é a grande revelação por meio da qual devemos viver, de forma que Toda a Bíblia Sagrada fora escrita com o único objetivo de revelá-lO a nós, para a honra e glória do Seu próprio nome. Quando Cristo veio ao mundo, a revelação plena daquilo que Deus quis que soubéssemos a Seu respeito tornou-se acessível, porém, ao cumprir as exigências da lei em prol de nossa liberdade (da maldição da lei, da escravidão do pecado e da punição eterna), fez-se necessário que Ele voltasse para junto do Pai, todavia, precisávamos viver de acordo com Seus ensinamentos (a grande Revelação Especial de Deus) e por isso Ele nos deixou a promessa: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador... Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (Jo 14.16,26). Surge então o questionamento: como o Consolador tem nos ensinado “todas as coisas” e nos feito “lembrar de tudo” quanto Jesus nos havia dito?

A resposta que a CFW nos dá é que “para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja (...) foi igualmente servido fazê-la escrever toda.” Semelhantemente ao modo como no passado o Espírito Santo inspirou os profetas e os levou a escrever o Antigo Testamento, no N.T. Ele inspirou os Apóstolos para nos deixar Seu testemunho infalível, autoritativo e inerrante. Como Paulo escreveu: “Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” Ao inspirar a mensagem dos apóstolos, bem como a dos profetas no passado (as quais são o fundamento da igreja – Ef 2.20), o Espírito/Consolador nos deu o único meio autorizado pelo qual podemos nos dirigir em nossa maneira de adorar a Deus. Lembremos que a oração de Jesus foi: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). Mas existem alguns ainda que, embora esteja o Canôn Sagrado fechado e completo, não acreditam ser a Escritura suficiente. Embora ela seja o meio pelo qual somos santificados, “e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.”, muitos em nossos dias insistem em que algo mais é necessário; novas revelações! A respeito destas novas revelações (presentes principalmente no movimento pentecostal/ neopentecostal/ carismático) cito agora a esclarecedora análise do prof. Moisés C. Bezerril:

“A pergunta à qual me disponho a responder é: Até que ponto as revelações pentecostais são verídicas, levando-se em conta que muitas “coisas” acontecem no meio pentecostal? É muito comum nós ouvirmos alguém contar certa história de adivinhação que um pentecostal realizou descobrindo “coisas ocultas” da vida de alguém. A reação mais comum de quem ouve tais histórias é acreditar sem ao menos desconfiar, por terem sido contadas por uma pessoa idosa, ou pastor, ou oficial, afinal “gente que não mente”. Devemos ter em mente que o “profetismo” pentecostal moderno difere do profetismo bíblico por este trata da história da redenção, e aquele trata da vida alheia. O profetismo bíblico fez surgir as Escrituras, o profetismo moderno a fofoca. O profetismo bíblico era autoritativo, o profetismo moderno é interesseiro. O profetismo bíblico era inspirado, o profetismo moderno é humano. O profetismo bíblico estava relacionado com o mistério da encarnação, o profetismo moderno manipula o social. O profetismo deu origem a todo o conhecimento de todo o mistério da encarnação de Cristo, o profetismo moderno deu origem à mais crassa ignorância que se abateu sobre a igreja cristã depois do catolicismo romano.

A VERDADEIRA BASE SOBRE A QUAL SE FUNDAMENTA AS REVELAÇÕES PENTECOSTAIS DOS NOSSOS DIAS.

1) A falsificação

Citarei aqui alguns casos interessantes, mesmo porque os pentecostais consideram válidas “histórias” em pé de igualdade com a Bíblia. Conheci um colega que estudava comigo, e começou a freqüentar a uma igreja pentecostal; esse rapaz teve uma mudança profunda em sua vida moral, e pelo o que pude acompanhar era uma pessoa sincera (no início) que estava em busca da verdade. Esse jovem nunca conseguiu até onde eu sei sua “a segunda bênção”. Ele me contava muito triste que não sabia mais o que fazer para obter seu batismo no Espírito Santo, aquilo que todo mundo recebia, menos ele. Freqüentei muito sua igreja e percebia que até as adúlteras da igreja falavam “línguas”, mas o meu amigo não conseguia. Ele se queixava disso, porque gente suspeita dentro do movimento era “abençoada” e ele não. Acompanhei seu drama viver freqüentando reuniões sete vezes por semana, e até três vezes por dia em certos dias. Como os dias iam passando, e a pressão era muita para que meu colega falasse em “línguas”, ele resolveu falsificar, imitando sons que já tinham dado para decorar e repetir; e assim, meu colega foi reconhecido como batizado pelo Espírito Santo. A realidade que acabei de citar acima é a realidade de milhares e milhares de pentecostais no mundo inteiro. Para eles serem considerados “espirituais” é questão de honra e sobrevivência de sua própria identidade manter uma falsidade a qualquer preço.

2) Histeria psíquica

Tive duas alunas pentecostais muito interessantes. Uma, a mais nova, tinha crises de “línguas” na igreja em que arrancava os cabelos com as mãos durante a sessão glossolálica; a outra falava em línguas à hora que bem quisesse, mas sempre precedida por uma boa crise de choro. Isso acontece com boa parte dos pentecostais.

3) Engano

Conheci duas pessoas que saíram do meio pentecostal, e que me asseguraram de terem passado certo tempo ali enganados, sem nenhum discernimento teológico, mas que abandonaram por perceberem mais tarde que o pentecostalismo é uma mistura explosiva de ignorância com fenomenologia psíquica humana. Algumas pessoas passam pouco tempo no pentecostalismo porque são sinceras e verdadeiras. Aos sinceros nada acontece; muitos, porém, ainda estão enganados achando que sua interpretação é verdadeira, mas seu conhecimento é muito limitado para descobrir a verdade.

4) A tradição

Em sua maioria os pentecostais se comportam como aquela lenda da roupa invisível do rei que somente conseguiam ver quem era sábio. Evidentemente, como ninguém queria ser taxado de ignorante, todos diziam que estavam vendo a roupa invisível do rei, que na verdade estava nu. Os Mórmons afirmam receber um ardor no peito para a confirmação de que Deus falou com eles testificando-lhes ser verdadeira a igreja mórmon. Nunca vi um mórmon dizer que não recebeu esse ardor no peito depois da oração pedindo tal confirmação. O que quero dizer é que essas religiões milagreiras criam tradições muito fortes, das quais ninguém quer se sentir fora delas porque tais tradições são marginalizadoras. Todas essas tradições rotulam, avaliam, e aferem todos os membros daquele determinado grupo. É evidente que para não ficar de fora do grupo dos “espirituais”, a tradição deverá ser mantida a preço de ignorância ou falsificação. A preço de ignorância, refiro-me àqueles anciãos e jovens menos estudados e menos conhecedores da bíblia (até porque eles condenam o estudo da Bíblia, dizendo que “a letra mata”), que sua interpretação é aquilo que eles querem (ou conseguem) ver. Para esses que não sabem que as línguas da Bíblia não são as mesmas do pentecostalismo moderno, eles estão condenados a continuar para sempre no erro. A preço de falsificação, refiro-me aos gritos dos famosos pregadores pentecostais da televisão e do rádio, e outros que repetem monossílabos decorados para fingir que estão falando línguas. Como esses mestres da mentira, muitos seguem imitando sons planejados e aprendidos, os quais já são considerados muito comuns no meio pentecostal como evidência de que o Espírito Santo está agindo no meio deles. Como tais modelos são estranhos às Escrituras, o fenômeno pentecostal é pura criação humana com intenção de enganar as pessoas. Um lingüista conhecido meu fez um estudo científico das línguas faladas no movimento pentecostal e chegou à seguinte conclusão: nenhuma “língua” pentecostal consiste de fato em um idioma; no máximo os sons pentecostais correspondem a monossílabos ou palavras soltas, desprovidas de sintaxe, repetidas muitas vezes, e sem nenhum sentido inteligível. Essa definição de um lingüista apenas confirma que as “línguas” pentecostais nada têm a ver com as línguas do Novo Testamento que eram idiomas (dialektô, At 2:11), sendo por esta razão que o dom de línguas era chamado de variedade de línguas (gene glossais, I Co 12:10). Como eram idiomas, as línguas de Atos e Corinto podiam ser interpretadas (hermeneuô, At 2:11; I Co 12:10). Como as línguas pentecostais modernas não correspondem a idiomas, não há e nunca haverá quem as interprete. Não conheço ninguém que tenha dito entender alguma coisa em uma sessão de línguas pentecostais dos nosso dias; aliás, nem mesmo existe entre eles o dom de interpretação porque não há nada para ser interpretado. A questão é que a ignorância já sacralizou o fenômeno como verdadeiro, e ninguém poderá fugir dele a menos que queira ficar fora da linha dos “espirituais”. Quem tentar mudar tal visão acabará por assinar sua própria certidão de apostasia.

O SUBJETIVISMO E A AUTO-SUGESTÃO: ARMAS PERIGOSAS DO ENGANO PENTECOSTAL

As duas armas mais perigosas dos pentecostais são o subjetivismo e a auto-sujestão. As histórias são contadas já com uma interpretação a priori concebida a partir da educação pentecostal que tiveram; as coisas que acontecem entre eles consistem daquilo que aprendem na tradição, aquilo que eles mesmos ensinam e acreditam; a auto-sugestão é o princípio regulador de seus “dons” espirituais. As profecias pentecostais não têm precisão. Eles não trabalham com datas nem com fatos comprováveis por todos. Nunca vi nenhum pentecostal profetizando coisas vistas por todos. O objeto da profecia pentecostal sempre é o oculto, aquilo que só eu sei, aquilo que pode ter várias interpretações; como tudo não passa de um chute no escuro, eles acabam acertando em algo sugerido por eles mesmos. O profetismo pentecostal nada mais é do que pronunciamentos subjetivos sobre questões inaveriguáveis ao público, dirigidos para um auditório que já foi preparado e está pronto para interpretar aquilo que eles querem ver. Essa é a principal razão por que é muito comum pentecostais abandonarem o pentecostalismo, mas é praticamente nulo um reformado se tornar pentecostal. Nunca um reformado deixou a fé em sola scriptura porque Deus revelou-se a ele, como dizem os pentecostais. As revelações só acontecem em ambiente pentecostal. Por que? Não é porque só eles crêem em Deus ou têm mais fé do que os reformados; e sim porque nada daquilo existe, os pentecostais não sabem o que é a profecia nem a revelação, bem como interpretam os fatos como eles querem ver. Um colega me perguntou como eu explicaria o fato de uma pessoa receber uma revelação de um pecado que só ele sabia. Eu não tinha palavras para o momento; porém mais tarde descobri que o pecado dele era algo que ele pensava que ninguém sabia, quando na verdade muita gente já sabia. A idéia que houve uma revelação de algo da vida de alguém que só ele conhecia é um dos grandes trotes pentecostais para enganar as pessoas. Na verdade o meio pentecostal é o meio onde as pessoas mais investigam a vida alheia para monopolizar o social por meio do religioso. Onde prevalece a mentira, sempre haverá a injustiça. Um outro elemento muito presente nessas revelações certeiras é que os “profetas” ou adivinhos pentecostais trabalham com sugestão a partir do quadro que eles vêem. Se um “profeta” pentecostal percebe uma jovem lá no canto da igreja, meio desanimada, ele dirá: “Minha serva, não desanimes! Estou contigo, e não te deixarei!” Se o “profeta pentecostal” tem pistas de que alguém está mal no casamento, ele dirá: “Filha minha, tenho grande vitória para o teu casamento”. Se uma “profetiza pentecostal” percebe que um rapaz está paquerando sua filha quarentona desejosa de um casamento, ela dirá: “Filho meu, eis que ponho no teu caminho jóia preciosa com quem te casarás.” Se um desses “profetas” percebe que alguém está doente, ansioso, aflito, deprimido, choroso, abatido, desanimado, desempregado, ou em qualquer outra situação crítica, suas profecias sempre serão interpretadas como certeiras por aqueles que receberam a palavra do tal profeta; isso porque já acreditam ser aquilo uma profecia ou revelação verdadeira. Profecia que tem sua origem numa sugestão não pode ser verdadeira. Podemos definir a sugestão humana como a verdadeira natureza do profetismo pentecostal moderno. Portanto, a garantia de ser verdade aquilo que é contado pelo próprio pentecostal é praticamente nula.

O VATICÍNIO É CONDENADO PELA PALAVRA DE DEUS

Como já discutimos a natureza da revelação pentecostal, é hora de perguntar-se se o modelo revelacional pentecostal é algo bíblico. Um único lugar no Novo Testamento onde encontramos uma pessoa revelando a vida dos outros é em Atos 16:16, quando uma mulher possessa por um espírito imundo fazia confirmação do ministério apostólico. Qual a garantia que eu tenho de que as pessoas que estão revelando os segredos alheios não sejam ministros de satanás para operar o erro dentro da igreja e no mundo, já que essa prática foi proibida tanto no Velho e quanto no Novo Testamento? “Porque estas nações que há de possuir ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor, teu Deus, não permitiu tal coisa.” (Dt 18:14) “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos.” II Co 5:7 Algo constatado no pentecostalismo é que as “verdades” pentecostais nunca fazem parte da vida dos mais sinceros; estes vivem depressivos, discriminados, e rechaçados como menos espirituais. Na verdade todos sabem que tudo é uma farsa, mas ir de encontro à tradição pentecostal é grave pecado. Portanto, tomando por base essa minha idéia, chego à conclusão de que, verdadeiramente, os “abençoados” são os mentirosos, e os sinceros são depressivos. ”6

Fica aqui o meu apelo para que não mais sejamos meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pela fraudulência dos homens, pela astúcia tendente à maquinação do erro” (Ef 4.14), mas apeguemo-nos fielmente a “palavra da cruz (...) loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Co 1.18)

Sola Scriptura!

Nelson Ávila.

1 MACLEOD, Kenneth D., Grande é o Senhor, Editora Fiel: São Paulo, 2010. (Texto traduzido por Wellington Ferreira; título original: “Great is the Lord”. Publicado originalmente no site da editora The Banner of Thruth. Todos os direitos reservados a Copyright.)

2 BAVINCK, Hermann, Teologia Sistemática, Editora Socep, Santa Bárbara d’Oeste: SP, 2001, p. 65.

3 Idem., p. 65, 70, 71.

4 Ibid., p. 71.

5 Ibid., p. 72.

6 Acessado em 12 de fevereiro de 2011 as 11h38min no endereço eletrônico: http://teologiaselecionada.blogspot.com/search/label/pentecostalismo?updated-max=2009-05-28T12:16:00-07:00&max-results=20 .

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